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Anabela Mateus

No documento Comunicação Empresarial (páginas 51-55)

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MK - O Congresso ultrapassou em muito as expectativas. Houve cerca de 600 inscritos, mais os convidados dos países participantes. Em relação às sessões temáticas, no âmbito do Soci- com, houve uma grande afluência. Só no GT em CO e RP houve 90 trabalhos a concurso, dos quais 40 selecionados para apresentação no Congresso. Em termos futuros, ficou decidida a rea- lização de 3 a 4 fóruns anuais, com a participação dos coordenadores e di- retores dos grupos representantes de cada país componente.

A Professora Margarida Kunsch assu- me a presidência do CONFIBERCOM no próximo ano, com uma reunião de traba- lho prevista para Kito (Equador). Entre- tanto, podemos anunciar que o próximo congresso, em 2013, será realizado em Portugal, na Universidade do Minho.

Segundo a organizadora, este foi “um marco histórico na valorização das Ciências da Comunicação em toda a Ibero-América”. Confirmamos a sua po- sição e incluímos Portugal, que ficará mais próximo do Brasil, país que “lidera a investigação neste campo”.

Não foi sem fundamento que deci- dimos iniciar um pós-doutoramento recolhendo informação junto de inves- tigadores especializados, precisamen- te em centros universitários do Bra- sil, como a USP, a PUC, a Metodista e outras. Sentimo-nos gratificadas pela participação em evento de tão alto nível,

com um trabalho de investigação na área da Comunicação Organizacional e RP, que estamos a realizar junto dos centros de investigação da ECA de São Paulo e do CEL da UTAD, patrocinado pela FCT e fundos comunitários.

Tratando-se ainda de uma fase in- termédia da nossa investigação, não deixamos, mesmo assim, de propor algumas considerações significativas da pesquisa iniciada há ano e meio. Foi nesse âmbito, aliás, que construímos o nosso contributo para o Congresso, intitulado “Comunicação Organiza-

cional e Relações Públicas. O Esta- do da Arte no Brasil e em Portugal: ensino vs aprendizagem – única língua, distintas abordagens”, do

qual apresentamos um apontamento. A investigação em curso recai em comunidades académicas com tradi- ções e estádios de evolução distintos (Brasil e Portugal) e compara as linhas de investigação em Comunicação Or- ganizacional e RP. Temos por objetivo verificar o grau de uniformidade entre quadros referenciais teóricos - campo empírico intrínseco aos trabalhos rea- lizados em conjunto com a dimensão da literatura científica produzida em ambos os países.

Partindo dos resultados já obtidos, pretendemos investigar o efeito que esta mais-valia terá no desempenho diário da actividade organizacional e o seu reconhecimento pelos gestores, com vista a uma sensibilização para o enriquecimento teórico da disciplina na Academia e sua aceitação no mun- do organizacional.

No Brasil, a pesquisa encontra-se sediada na USP, no Departamento de RP, Propaganda e Turismo da ECA, onde trabalhámos 6 meses, embora nos tivéssemos deslocado a unidades de observação directa noutros cen- tros. Seguiu-se aos resultados obti- dos com o estudo exploratório que, em conjunto com os conhecimentos de campo resultantes de mais de duas décadas de actividade docente e de investigação em Portugal, nos tra- çaram o caminho da pesquisa e que aqui prosseguiu com o apoio do CEL da UTAD.

A autora em entrevista à Professora Margarida Kunsch

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A INTERPRETAÇÃO DO PROCESSO DE BOLONHA

O reconhecimento e avaliação do es- tádio do conhecimento da CO im- pele-nos de imediato para os ban- cos da escola: o que se ensina e o que se aprende, ou antes, como se aprende. Numa perspetiva dinâmi- ca da atualidade, em que a tónica do conhecimento se encontra no de- bate ativo ensinoVSaprendizagem, cabe-nos introduzir as nuances que levam às distintas opções entre os países em análise. Interessa-nos dis- tinguir se a lógica educacional dos sistemas de ensino se encontra prefe- rencialmente centrada nos docentes ou centrada nos alunos. Ou seja, se os do- centes são mais do tipo racionalista ou comportamentalista, ou, ao invés, mais do tipo cognitivista ou construtivista, ou se, por outro lado, se assumem posições eclécticas ou mesmo neutras (Figueira, A. P. C. C. F., 2001) 1

Antes de tudo, há que perceber o conceito inerente a cada sistema de ensino, a situação económica e so- cial e seu estádio de evolução. E, caso o momento implique uma mudança radical ou considerável, como acon- teceu com as adaptações ao Processo de Bolonha, há que preparar as men- talidades para a sua aceitação. Mas há, sobretudo, que preparar recursos materiais e humanos à altura da nova oferta. Uma mudança não se faz com o estalar dos dedos, principalmente quando se fala em “pessoas”.

São as particularidades daí decor- rentes que nos impelem ao debate, ainda que sumário, dos modelos em que se concretizam as estruturas de ensino superior, sujeitos a recentes transformações na maioria dos países da UE, e que afectaram o ensino supe- rior em Portugal. Comparando com a opção tomada pela Academia brasileira, encontramo-nos perante distinta oferta em termos de estruturas, como tentativa de resposta mais flexível e imediata a uma sociedade mais versátil, mais tra- dicional mas consistente, que revela uma concepção e filosofia de caráter mais clássico do ensino superior.

O ensino superior encontra-se es- truturado, em Portugal, no âmbito do acordo firmado na Declaração de Bo- lonha entre os países da UE e definido na Lei de Bases do Sistema Educativo - lei nº 49/2005 de 30 de Agosto. Em Março de 20102, o Processo de Bolo-

nha encontrava-se implementado, de modo generalizado, num contexto de profunda reforma do sistema de ensi- no superior português.

Uma das mais-valias, talvez a maior, que o novo modelo trouxe consigo foi a implementação da in- vestigação e a estruturação dos pro- gramas de pós-graduação. A nova estrutura vem permitir, em alterna- tiva à realização de um estágio labo- ral para conclusão do 1º ciclo, a con- cretização de uma pesquisa mais ou menos profunda, mas nos moldes da preparação de uma dissertação para conclusão desse ciclo de estudos. Em teoria, quem pretende aprofundar-se academicamente, e não exercer di- retamente uma profissão, adquirirá logo aí preparação e experiência para a realização da tese, que fará parte do seu projeto a longo prazo, quando ter- minar o 2º ciclo de estudos.

O que tem ocorrido em Portugal, independentemente dos objetivos te- óricos da filosofia inerente a Bolonha e do próprio conceito do projeto - e só daqui podemos extrair as nossas observações -, é que a generalidade dos estudantes acaba por concluir os dois ciclos sem interrupção, in- dependentemente dos seus objeti- vos serem a carreira académica ou profissional: observam os dois ciclos como um continuum, à semelhan- ça da tradicional licenciatura, mais longa. O mestrado tomou o lugar da antiga licenciatura, quase a 100%. Ganha a grande produção científica, nomeadamente em número de dis- sertações de mestrado.

O ENSINO DA COMUNICAÇÃO EM PORTUGAL A NíVEL SUPERIOR Até há poucos anos, o campo cientí- fico da Comunicação não se encon- trava delimitado em programas de

pós-graduação. Era no âmbito de mes- trados e doutoramentos em Sociologia, Economia, Antropologia, e eventual- mente outros, que qualquer proble- mática respeitante à Comunicação era trabalhada.

Uma palavra particular é devida ao INP – hoje, Instituto Superior de No- vas Profissões: criado em 1964, foi o primeiro no país a oferecer um curso de Relações Públicas, então ligado ao Turismo. Pioneiro na área, só veria re- conhecido o seu estatuto de nível supe- rior, pelo então Ministro da Educação Nacional, a 28 de Junho de 1971.

No panorama da CO e RP, após a entrada em vigor do modelo de Bolo- nha, que segue as definições da lei Ba- ses do Sistema Educativo de 2005, o aspeto que ressalta é o grande aumento de cursos e estabelecimentos de ensi- no. Desse vasto número fazem parte dois tipos de estabelecimentos, com vocações distintas: Universidades e Ins- titutos Politécnicos originários de dois sectores – público e privado, onde se incluem as cooperativas se ensino - não muito distintos nas suas estruturas.

Nessas unidades encontramos li- cenciaturas e mestrados, nalguns casos também doutoramentos – estes apenas nas Universidades e públicas (excepção para a Fernando Pessoa, a única privada autorizada a ministrar o 3º ciclo desta área) - em convívio direto. É de ressaltar o grande aumento e diversificação dos Institutos Politécnicos.

O ENSINO DA COMUNICAÇÃO NO BRASIL A NíVEL SUPERIOR A educação superior no Brasil abarca um sistema complexo e diversificado de instituições públicas e privadas com diferentes tipos de cursos e programas, incluindo vários níveis de ensino, desde a graduação à pós-graduação.3 Apenas

entendemos referir a lei base da sua cria- ção, a LDBN/96, que também é regula- mentada por legislação complementar.

A Escola de Comunicação e Artes da Universidade de S. Paulo foi a primeira a criar um curso superior de RP, em 1967 (Kunsch)4. Em 1968, com a Reforma

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de pós-graduação e com eles a pesquisa científica passa a ter lugar destacado no meio académico (Kunsch)5.

Surge a CAPES, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, entidade ligada ao Ministério da Educação, que faz avaliação perma- nente dos programas dos cursos e susci- ta uma competição saudável em ordem a um aumento da qualidade contínua dos mesmos. A CAPES apresenta indi- cadores de avaliação anual e trianual dos programas.6

Suscitou-nos interesse a dicotomia ensino público/não-público a nível da gestão das Universidades, pelo que re- corremos a informadores qualificados7 a

fim de melhor entender a relação com os estabelecimentos de ensino e o próprio ensino superior.

Falamos de investigação, uma das responsabilidades a nível da pós-gra- duação e, no Brasil, segundo apurámos, pelo menos na área da Comunicação Organizacional e RP, o ensino superior público universitário dispõe de melhor qualidade pelas exigências em pesquisa, precisamente por ser público. O Ministé- rio da Educação tem exigido e fiscalizado com rigor a aplicação de recursos e o re- conhecimento das habilitações do corpo docente nos cursos das instituições de ensino superior privadas. Em princípio isso irá obrigá-las a investir em pesqui- sa e a elevarem os padrões de qualida- de, pois têm-se limitado a beneficiar do apoio concedido pelo Governo Federal para ampliarem o acesso ao ensino su- perior e potenciarem o lucro.

EM JEITO DE CONCLUSÃO…

Em Portugal, o Processo de Bolonha levou a um grande aumento da pes- quisa e à realização sobretudo de dis- sertações de mestrado. Também a um incentivo aos doutoramentos até por parte do corpo docente ativo, com os financiamentos que se geraram. Mas não podemos deixar de observar: essa grande produção, que se adivi- nha cada vez mais desordenada por falta de coordenação entre os centros de investigação, levará num futuro

Anabela Mateus apresentou o seu trabalho no GT em RP e CO, coordenado por Ivone de Lurdes Oliveira, Presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e Relações Públicas. Devido à elevada participação na área, realizaram-se, em simultâneo, outros dois GT - um sob a coordenação de Maria Aparecida Ferrari, Presidente de Relações Públicas da mesma Associação, e outro coordenado por Óscar Curros, colaborador pesquisador da USP

próximo à criação de Ciência com re- sultados conseguidos pela pesquisa, mas não suprirá as necessidades reais por falta de planeamento aquando da sua realização.

O papel da FCT tem-se revelado fundamental enquanto agente finan- ciador, mas não seria menos impor- tante a coexistência de um órgão pa- ralelo ou função interna à mesma, que tivesse a missão de analisar e definir as necessidades do país em termos de investigação, de modo a rentabilizar os recursos distribuídos, a vocação e objetivos dos centros de investigação e os projetos individuais.

Sentimos uma necessidade efetiva de um planeamento das necessidades de investigação, no caso em Comuni- cação, com vista à conciliação de inte- resses numa perspetiva de otimização de recursos.

Não nos pronunciaremos mui- to sobre o Brasil, pois ainda teremos de aprofundar. Verificámos, desde que surgiu a CAPES, que a produção científica a nível de pós-graduação em Comunicação Organizacional e RP é vasta e diversificada. Além do mais, encontra-se sistematizada e acessível on line na biblioteca virtual Dedalus, com informação das várias unidades e centros de investigação.

Curioso é que o conceito de pós- -graduação esteja a alterar-se no Brasil. Mesmo não tendo aderido ao Processo de Bolonha, apesar de dis- cussões nesse sentido, encontra-se grande produção científica no final do mestrado traduzida em dissertações, quando tal não estava previsto na es- trutura clássica. Para assim concluir- mos, ouçamos o Reitor da Universi- dade Federal da Bahía, ainda pouco habituado a esta nova realidade: “As- sim, poderemos integrar graduação e mestrado, diferenciando-os do douto- rado. Mestrado é educação em métodos, conhecimentos e práticas enquanto dou- torado implica formação em pesquisa e criação”.8

Anabela Mateus escreve segundo o novo acordo ortográfico

NOTAS:

1 FIGUEIRA, A. P. C. C. F. (2001). Das episte- mologias pessoais à das práticas educativas - estudo numa amostra de professores dos 3º ciclo e do ensino secundário, das disciplinas de Português, Matemática e Língua Estrangeira, do C. de Coimbra. Tese de doutoramento, não publicada, apresentada à Faculdade de Psicolo- gia e de Ciências da Educação, da Universidade de Coimbra. On Line

2 Bolonha em Portugal e a reforma do ensino superior 2010 www.mctes.pt

3 NEVES, Clarissa Eckert Baeta - A estrutura

e o funcionamento do ensino superior no Brasil – www.cfa.org.br

4 MARGARIDA, Maria Krohling K., org. – Re-

lações Públicas e Comunicação Organizacional: campos académicos e aplicados de múltiplas pers- petivas. Prólogo, Difusão editora, 2009

5 idem 6 idem

7 OSHIRO, Ana Lúcia - Docente Universitária, investigadora e consultora em Comunicação, S. Paulo, Br

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