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4 RESULTADOS E OBSERVAÇÕES INICIAIS

5.4 Analisando as unidades de análise

Os dois casos estudados - unidades de análise que compõem o caso estudado - serviram de base para a elaboração do modelo proposto. As principais características de cada um foram apresentadas na seção 3.2. É importante salientar que o modelo reflete a aproximação conjunta sobre os dois casos estudados, ou seja, a identificação dos conceitos de segunda ordem, bem como as categorias agregadas, não fizeram distinção entre eles. Dessa maneira, ambos podem ter suas próprias estruturações de inovação discutidas a partir do modelo. O que deve ser observado é que cada caso terá diferentes estruturas, esquemas interpretativos e especificidades que lhes garantem singularidade.

Os casos estudados são similares por representarem a atuação de atores que trabalham com inovação dentro de um mesmo grupo corporativo. Neste sentido, os esquemas interpretativos relacionados à visão corporativa da empresa e a sua orientação com relação à finalidade da inovação serão estruturados a partir de cargas simbólicas, normas e métricas ao menos parecidas. Neste sentido, reforçam a perspectiva do Estudo de Caso único estudado.

A estrutura da inovação tradicional está presente em ambos os casos. As falas 3, 4 e 6 (tabela 6) mostram essa similaridade, apontando que a inovação precisa trazer bons negócios para empresa e que ela serve para a manutenção / sobrevivência da mesma nos mercados onde ela atua. A unidade de negócio do caso 1 poderia ser considerada mais legitimada do que a área de inovação do caso 2, uma vez que seus produtos de inovação são, de fato, produzidos e comercializados. Isso representa, de maneira concreta, que os produtos de inovação do caso 1 desencadeiam mais práticas e atividades a partir deles próprios, uma vez que haverá práticas de industrialização, produção, negociação e comercialização envolvendo diversos atores sociais que não se limitam à área de inovação12. O caso 2, por tratar-se de uma área de inovação corporativa que atende outras unidades de negócios, não apresenta a mesma legitimação. Ainda que o desenvolvimento de uma inovação do caso 2 tenha êxito, será uma unidade de negócios diferente (e não

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a área de inovação corporativa) que irá produzir e comercializar tal produto. Essa diferença no nível de legitimação não altera o impacto da estrutura da inovação tradicional para ambos os casos. Essa diferença do nível de responsabilidade e aprofundamento na cadeia de valor, é chamada também de mediação. A unidade de negócio do caso 1 apresenta maior nível de mediação, uma vez que desenvolve suas inovações, produzem as mesmas em escala piloto e industrial e comercializam o produto da inovação. Já o caso 2 (unidade de inovação corporativa ligada à biotecnologia) desenvolve a inovação em escala laboratorial, apresentando, dessa maneira, menor nível de mediação.

Para a categoria da estruturação da inovação orientada para a sustentabilidade nota-se uma diferença que pode ser entendida pela essência das duas áreas de inovação. O caso 2, que está relacionado à biotecnologia, já apresenta aspectos de sustentabilidade na origem de seus desenvolvimentos. Isso está evidenciado pela orientação da consciência discursiva que emergiu das entrevistas, pontuando que a biotecnologia é sustentável por utilizar fontes renováveis e que suas métricas buscam a sustentabilidade (por exemplo, a fala 23). Por outro lado, o caso 1 apresenta alguns esquemas interpretativos relacionados à estruturação da inovação orientada para a sustentabilidade, respaldada pela legitimação do uso da ferramenta “A”, pela empresa e por seu principal produto que é direcionado a veículos de alta eficiência energética (fala 18, tabela 9). Em suma, para esta categoria, entende-se que o caso 1 traz uma leitura mais distante dos aspectos de sustentabilidade, muito mais ligados às experiências e visões de mundo dos indivíduos. Isso também é corroborado, pois eles trabalham com uma tecnologia específica (somente um tipo de produto) que já possui sua legitimação ao longo da cadeia de valor. Já no caso 2, como a biotecnologia é enxergada dentro da área de pesquisa como uma alternativa sustentável de fazer inovação, entende-se que a aproximação com os aspectos de sustentabilidade lhe seja mais facilmente acessada. Pode-se ainda agregar que o fato de o caso 2 não estar atrelado somente a uma tecnologia (como produto final), isso confere maior liberdade para se pensar e desenvolver estratégias de inovação de produtos e processos que possam abarcar princípios de sustentabilidade.

Com relação à categoria mais abrangente que é a de visão de mundo e construção de significados, não se vislumbram diferenças entre os casos estudados. Uma razão para essa similaridade pode estar relacionada ao fato desta categoria

estar mais voltada para o indivíduo. A visão de mundo e construção de significados, em relação à sustentabilidade, são plurais e se justificam pelas experiências de cada ator. Desse modo, a fala 42 (tabela 14) traz aspectos regionais de onde os indivíduos vivem (relacionados aos meios de transporte).

No nível de agência, todos os conceitos de segunda ordem estão presentes em maior ou menor nível nos dois casos. Uma posição interessante é o conflito na visão de agência entre eles. Enquanto no caso 1, majoritariamente, acredita-se que pessoas em maiores níveis (posição social hierárquica) são mais responsáveis pela promoção da inovação orientada para a sustentabilidade (falas 57, 58 e 59, tabela 17), no caso 2, observou-se que tal responsabilidade é mais depositada nas pessoas que conduzem os projetos (fala 60, tabela 17). Articulou-se que são essas pessoas que, através de suas práticas e agência, podem “convencer e demonstrar” as vantagens (“ganhos”) de uma abordagem de inovação sustentável. Evidentemente, a lógica econômica da inovação tradicional influencia a estruturação dessas práticas. No que tange à rigidez da estrutura, ambos os casos relataram fatores similares, ligados à mindset (mentalidade) das pessoas (falas 50 e 51) e a certa falta de conhecimento / consciência para aprofundarem a abordagem da sustentabilidade em inovação.

A tabela a seguir, traz uma breve compilação e comparação entre os dois casos estudados.

Tabela 18: Quadro comparativo entre os casos 1 e 2

Categorias Caso 1 Caso 2

Estruturação da Inovação tradicional

Fortemente presente/ Alto nível de mediação

Fortemente presente/ Médio nível de mediação

Estruturação da Inovação Orientada para a

sustentabilidade

Esquemas interpretativos  Presente (muito mais relacionado ao indivíduo / visão de mundo)

Esquemas interpretativos  Fortemente presente para a questão ambiental (ligado à biotecnologia) Visão de mundo e Construção

de Significados Similar Similar Agência Mindset (mentalidade) / Rigidez da estrutura Similares

Posição social / hierarquia  alto nível de barreira

Mindset (mentalidade) / Rigidez da estrutura Similares

Posição social / hierarquia  potencialização da agência