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2 PARÂMETROS ADOTADOS PELO STF PARA A SOLUÇÃO JUDICIAL DOS

2.2 Analise de casos concretos em face das demandas de medicamentos

A fim de verificar na prática a fundamentação dos pedidos de medicamentos e tratamentos ajuizados perante a Justiça Gaúcha, realizou-se uma breve análise em alguns casos, constatando-se durante a pesquisa que, o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, anteriormente a decisão do Supremo Tribunal Federal, já reconhecia a responsabilidade solidária dos entes, garantindo o dever prestacional, independente de quem figurava no polo passivo da demanda.

2.2.1 Caso Prático 1: Apelação Cível -Direito à saúde, Estatuto da Criança e Adolescente O primeiro caso que se analisa é uma Apelação Cível que leva o nº 70076295070- Originária do processo nº 023/5.17.0000336-8 que trata do atendimento fundamental à saúde de uma criança/adolescente ocorrido no ano de 2017, ajuizada em face do município de Rio Grande/RS e do Estado do Rio Grande do Sul, a fim de garantir o fornecimento de dois medicamentos ao infante, para tratamento do Transtorno Obsessivo Compulsivo, visto que, ao procurar o posto no município a genitora foi informada de que os medicamentos não seriam fornecidos, vez que, não integravam a lista dos medicamentos fornecidos pelo município, procurando a via judicial para ter o direito de seu filho garantido.

Em primeiro grau, teve seu pedido acolhido, ainda em tutela de urgência, obtendo a confirmação da antecipação de tutela na sentença, condenando ao Estado e ao Município o fornecimento dos medicamentos ao autor.

O município recorreu ao Tribunal de Justiça, alegando a ilegitimidade passiva e a responsabilidade unilateral do Estado em fornecer os medicamentos, não obtendo êxito, sendo a sentença mantida, de forma a condenar solidariamente o Estado do Rio Grande do Sul e o Município de Rio Grande a fornecer o medicamento solicitado.

Conforme fundamentação expressa no acórdão analisado:

Nos termos do artigo 196 da Constituição Federal está previsto que “a saúde é direito de todos e dever do Estado”, enquanto o artigo 23, inciso II, da Carta Magna determina que é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios “cuidar da saúde e da assistência pública”. (Grifo nosso)

E a decisão:

Assim, voto por manter integralmente a sentença, no sentido de condenar o ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL e o MUNICÍPIO DE RIO GRANDE, solidariamente, ao fornecimento das medicações [...], devendo ser observada a Denominação Comum Brasileira, conforme prescrição médica, enquanto perdurar a moléstia que acomete o menino [...]. (Grifo nosso)

Veja-se:

APELAÇÃO CÍVEL. ECA. DIREITO À SAÚDE – RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS ENTES PÚBLICOS. SENTENÇA INTEGRALMENTE MANTIDA.

Conforme prevê a Constituição Federal, bem como a legislação infraconstitucional, os entes estatais são solidariamente responsáveis pelo atendimento do direito fundamental da saúde, com prioridade absoluta quando se trata de criança/adolescente, não havendo razão para cogitar em ilegitimidade passiva ou em obrigação exclusiva de um deles, devendo ser assegurada a prestação dos serviços como corolário lógico. Apelação Desprovida (Apelação Cível, 70076295070)

Observa-se nessa decisão que os Desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul levaram em consideração o fato de que a existência da responsabilidade solidária advém do texto constitucional, quando em seu art. 23 determina que a todos os entes da federação incumbe a responsabilidade pela promoção e preservação da saúde da população.

2.2.2 Caso Prático 2: Apelação Cível – Responsabilidade Solidária- Desnecessidade da

O caso que envolve essa Apelação Cível nº 70079256871 decorrente da ação originária nº 008/1.14.0017224-7, ocorrido no ano de 2018 diz respeito ao fornecimento de um medicamento para tratamento contínuo de Alzheimer, na qual foi determinado que o Município, juntamente com o Estado se responsabilizasse pelo custeio do tratamento do paciente

Em primeiro grau, obteve-se a antecipação de tutela, garantindo o fornecimento do medicamento, sendo confirmada na sentença, garantindo que, caso não houvesse o fornecimento, deveria proceder-se ao bloqueio de valores na conta dos entes federados, garantindo assim, de forma indireta, o fornecimento do medicamento.

Insatisfeito com a decisão, o Município de Canoas apelou, pugnando pela reforma da sentença, condenando apenas o Estado a fornecer o medicamento, alegando que este não estava previsto na lista de medicamentos fornecidos pelo Município de Canoas, isentando-o da responsabilidade de fornecer o medicamento solicitado pela autora, não obtendo êxito, sendo a sentença mantida, conforme fundamentos abaixo expostos:

O parágrafo 1º do art. 198 da Constituição da República e a Lei Federal nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, disciplinam o Sistema Único de Saúde – SUS -, no sentido da conjugação de esforços materiais e humanos dos entes federativos envolvidos3.

Ainda, com relação à reserva do possível, a norma constitucional prescinde de interpositio legislatoris, isto é, não depende de previsão orçamentária, de programas a serem implementados ou mesmo de lei de hierarquia inferior. Possui o condão de assegurar aos cidadãos carentes o direito ao acesso universal e igualitário aos serviços de saúde.

Conforme ementa abaixo a decisão em Apelação Cível e Remessa Necessária do Tribunal de Justiça do RS:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. SAÚDE. RESPONSABILIDADE SOLIDARIA 3 Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:

(...)

1º. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes.

DOS ENTES FEDERATIVOS. DESNECESSIDADE DA PREVISÃO DO MEDICAMENTO EM LISTAS ESPECÍFICAS. I - O sistema de saúde é encargo de todos os entes federados, sem atribuições exclusivas e excludentes. Trata-se de responsabilidade solidária, e o cidadão pode demandar contra qualquer deles, conjunta ou separadamente. Arts. 198, § 1º, da Constituição da República; 241 da Constituição Estadual; e 7º, XI, da Lei Federal nº 8.080/90. Repercussão Geral nº 855.178/SE do STF.

II - O direito à saúde é direito social e dever do Estado - arts. 6º e 196 da CRFB/88 -, e está intimamente ligado ao direito à vida e à dignidade da pessoa humana; tem estatura de direito fundamental, seja no sentido formal, seja no sentido material, nos termos do art. 5º, §1º, da Constituição da República.

III - Desnecessária a previsão em lista de medicamentos essenciais ou especiais ou excepcionais da Administração, pois atos normativos não se sobrepõem à norma constitucional.

Precedentes jurisprudenciais. Apelação desprovida.

Como observa-se na decisão acima, apesar de seguir o entendimento de que todos os entes federativos possuem a responsabilidade solidária em prestação de saúde, o desembargador fundamentou sua decisão em legislação diversa, demonstrando assim, que apesar de tudo, o legislador fez questão de reconhecer a responsabilidade de todos na garantia de uma sociedade saudável.

Após descrever sucintamente dois casos que deixam evidente a posição do nosso Tribunal de Justiça e que as decisões caminham na esteira do que o Supremo Tribunal tem decidido nos últimos anos, apresenta-se os parâmetros utilizados pelo STF para julgamentos dos casos que envolvem a área da saúde, discorrendo sobre aspectos gerais da Repercussão Geral 793 e suas implicações.

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