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Capítulo 2 A oposição às teses dos múltiplos sujeitos

2.4. A analogia do ser

Se Deus não pode ser o sujeito no sentido estrito da filosofia primeira, Alberto intenta explicar o tratamento de Deus no interior da metafísica com base em argumentos racionais. Isto exigiu dele uma remodelação da lógica aristotélica. Alberto utiliza-se então do conceito de analogia, que para os intérpretes contemporâneos é uma das contribuições do dominicano para a metafísica medieval: “Além disso, as partes das quais muitas coisas são demonstradas nesta ciência, não são reduzidas a Deus como é aceito ao seu próprio predicado comum; é aceita a comunidade de gênero ou à de analogia” . 460

Deus é inserido no interior da metafísica por analogia ou comparação, pois esta ciência trata dele não como seu sujeito próprio, como o faria, por necessidade, a teologia revelada, mas apenas de um modo próprio à metafísica, que nesse sentido pode ser chamada de teologia filosófica. O Deus tratado no âmbito da metafísica seria então

460 Amplius, partes, de quibus multa demonstrantur in scientia hac, non reducuntur ad deum sicut ad commune praedicatum de ipsis, sive communitas generis sive analogiae accipiatur (Alb., Metaph. , I, 1, 2,

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análogo ao Deus tratado no âmbito da teologia. Esta forma de pensar pode ser justificada pela Sagrada Escritura . É preciso aprofundar a questão da analogia do ser 461 tratado na metafísica com o ser de Deus, enquanto questão na filosofia primeira, e sujeito na teologia.

Aristóteles visava refutar as objeções por ele mesmo criadas contra a ideia 462 de uma ciência única do bem e constituir uma ciência única do ser enquanto ser sem tomar alguma forma de platonismo. A leitura que Alberto faz da Metafísica IV, que para De Libera se assemelha com a de Averróis , faz referência ao ser (i) como único fim 463 464 ou como o uno e cabe às palavras ditas homônimas. Por outro lado, referencia o “ente” (ii) direcionado a um só sujeito ( ad unum subiectum ) ou à proporção ( proportionem , na versão grega, κατ᾽ ἀναλογίαν) e cabe relação analógica. Por fim, (iii) referencia o termo

461 Há ainda uma passagem do livro da Sabedoria completamente esquecido na bibliografia a respeito da metafísica medieval e que me parece de suma importância para a questão da “invenção da analogia”, que trataremos em pormenores mais adiante. Trata de Sabedoria 13,5, no qual se defende a ideia de que é a partir da grandeza e da beleza das criaturas que, por analogia, se conhece seu autor. Note-se que na versão grega utiliza-se a palavra ἀναλόγως, muito embora o termo desapareça na tradução latina. Entretanto, eu creio que esse trecho já estabelece a comparação ou analogias entre os seres criados e o ser de Deus, uma espécie de ensaio à analogia entre o ser enquanto ser e o ser por excelência. Verificou-se uma referência bíblica para a digressão sobre o motor imóvel na passagem de Mateus 19,17: “Somente Deus é bom” ( unus est bonus Deus ). O bem essencial de Deus estende bondade às criaturas. De um modo semelhante a Platão, Dionísio explica com a analogia da luz solar, a participação da criatura na essencial bondade divina. Outra frase da Sagrada Escritura que se tornou um lugar comum entre os filósofos do século XIII é Êxodo 3,4 ( ego sum qui sum ). A exegese desses trechos referentes à auto-revelação divina no Sinai, era trabalhada com um sólido aparato metafísico.

462 A concepção de metafísica implica na transformação da perspectiva dos Aetas Boetiana para uma nova forma de discurso ontológico. O processo ocorreu no século XIII como pode ser ilustrada nos textos de Alberto. Ele é uma figura-chave na recepção medieval de Aristóteles, sobretudo a questão da multiplicidade dos sentidos do ser e a possibilidade de uma ciência do ser enquanto ser. Para De Libera (2005, p. 104), este problema está diretamente relacionado com o acesso dos autores do século XIII à

Metafísica de Aristóteles e aos intérpretes árabes. Eis o excerto fundamental do filósofo grego: “O ser é dito de maneira múltipla, mas relativamente a uma unidade, a uma certa natureza única, quer dizer de maneira não homônima. Exatamente como todo que é dito são se diz relativamente à saúde, porque ela conserva, que ele a deu, que ela é o sinal ou que ela recebe; e o que é dito médico é relativo ao médico, aquele pelo que o ser é naturalmente apto, aquilo pelo ser obra da medicina [...] Dessa forma, o ser também se diz da maneira múltipla, mas tudo relativamente a um princípio unívoco” (Arist., Metaph., IV, 2, 1003a33-b5).

463 De Libera, 2005, p. 116.

464 Averróis interpreta o texto de Aristóteles do seguinte modo: “Hoc nomen ens, licet dicatur multis modis, tamen in omnibus dicitur ens, quia atribuitur primo enti substantiae et istae attribuitiones in unoquoque eorum sunt diversae. Praedicamenta enim attribuuntur substantiae, non quia est agens aut finis eorum, sed quia constituuntur per illam, et subiectum est eorum. Et universaliter non dicuntur entia, nisi quia sunt dispositions entis, et multi homines negant ea esse. Albedo enim non est, sed album” (Averr.,

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médio, que se refere ao uno ou ao único agente e cabe às palavras sinônimas. O acidente encontra seu ser na substância, mas também no acidente, pois este não tem outro ser senão aquele da substância. Não se pode falar então do acidente como uma qualidade concretizada na substância e que recebe o ser real ao entrar na substância, mas graças a ela garante seu caráter de qualidade. Dessa forma a substância não possui qualidades, mas é qualificada, não possui quantidades, mas é quantificada.

É o que Alberto defende na Metafísica ao fundamentar sua ciência do ser enquanto ser:

Então, diz-se ente segundo todos esses modos em virtude de uma dependência a um único sujeito, que é verdadeiramente ente, ao qual os outros conferem uma paixão, ou são modificações ou o que modifica é o ente verdadeiro ou é dito a título de disposição ou de medida ou de relação ou de hábito ou de ações deste que é verdadeiramente ente, ou são as intenções segundas tomadas à medida que reportam ao ente deste que é verdadeiramente ente ou de qualquer coisa que é atribuída ao sujeito deste ente, como o acidente que está para o sujeito. Por isso, alguns dizem que o acidente não existe, mas que ele significa certo modo de ser . 465

Nesse passo, Alberto segue a solução de Averróis a respeito da possibilidade de uma ciência una do ser enquanto ser, embora a bibliografia debata sobre a real fonte dele . Ele estabelece a primazia da substância em relação às demais categorias do ser. 466 465 Omnibus dictis modis dicitur ens per dependentiam ad subiectum unum, quod est vere ens, cui alia vel inferunt passiones, vel sunt transmutationes eius vel transmutantia ens verum, vel ad ipsum dicta sicut dispositiones vel mensurae vel respectus vel habitus vel actiones vere entis vel intentiones secundae acceptae circa ipsum esse vere entis vel alicuius quod dicitur ad ipsum ut accidens ad subiectum; propter quod etiam quidam dicunt accidens non ens, sed esse quodam esse et significare (Alb., Metaph. , IV, 1, 3, p. 164, 52-62). Para De Libera (2005, p. 119), Alberto adota a teoria de Averróis: “ele marcou sua preferência metafísica por Averróis na medida em que a teoria do ser enquanto ser é pensada por ele como uma redução da pluralidade das categorias à primazia ontológica da substância”.

466 De Libera (1989, p. 333) afirmava o seguinte trecho de Avicena como um estágio fundamental no processo que resultou na doutrina medieval de “analogia”: “Dicemus igitur nunc quod quamvis ens, sicut scisti, non sit genus nec praedicatum aequaliter de his quae sub eo sunt, tamen et intention in qua convenient secudum prius et posterius . Primum sutem est quidditati quae est in substantiam deinde ei quod est post ipsam. Postquam autem una intention est ens secundum hoc quod assignavimus, sequuntur illud accidentalia quae ei sunt propria, sicut supra diximus. Et ideo eget aliqua scientia in qua tractetur de eo, sicut omni sanativo necessaria est aliqua scientia” (Avic., Phil. Prim. , I, 5, p. 40, 46-53). Para Aertsen (2012, p. 97), Libera “exagera a importância histórica” desta: “nem as doutrinas da analogia fazem qualquer referência a este texto, nem as observações da Avicena desempenham um papel em sua concepção da metafísica”. Diferentemente da obra de 1989, De Libera (2005, p. 116.) afirma alguns decênios depois: “A coveniência aviceno-gazaliana não é ainda a analogia no sentido mais pleno do termo: o sentido ontológico”. É na metafísica de Alberto que a analogia entis é utilizada no âmbito da metafísica e não somente no da lógica. Aertsen (2012, p. 97-98) amplia sua refutação a De Libera

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Ele utiliza dos termos da analogia do ser ao referir-se ao ad subiectum unum , quod est vere ens .

O problema do ser e sua “resolução” através da invenção da teoria da analogia, ainda segundo De Libera , está também exposto na Suma de Teologia e na 467 Metafísica , obras mais tardias. Segundo ele, “a unidade da ciência do ser enquanto ser deixa-se pensar em Alberto em termos averroístas” . Para afirmá-lo, o intérprete 468 francês cita o seguinte excerto:

Esta ciência é então uma ciência una, porque embora ela trate uma multiplicidade de coisas, ela trata sobre elas todas na medida em que elas se relacionam ao ser à título de partes e que elas são consecutivas ao ser enquanto ser . 469

Aertsen seguiu a ideia de De Libera ao apresentar o comentário “Sobre 470 471 os cinco Universais de Porfírio” como a obra na qual Alberto inicia a invenção da analogia, mas Aristóteles permanece a fonte principal para o desenvolvimento da questão . Seu argumento parte da possibilidade levantada no livro I da Ética a 472 Nicômaco . Ao discutir a questão sobre se o bem é encontrado em todas as categorias, a hipótese de que o termo não seria então unívoco, mas homônimo ou equívoco, o

afirmando que Alberto não fundamentou sua argumentação em Avicena, mas em Algazel: Convenientia sunt media inter univoca et aequivoca, ut ‘ens’, quod dicitur de substantia et accidente. Non enim est sicut haec dictio ‘canis’. Ea enim quae appellantur ‘canis’ non conveniunt in aliqua significatione canis. Esse vero convenit substantiae et accidenti. Nec sunt sicut univoca. Animalitas enim aeque convenit equo et homini indifferenter et eodem modo. Esse vero prius habet substantia; deinde accidens, mediante alio. Ergo est eis esse secundum prius et posterius” (Algazel, Logica , p. 246). Alberto adota a divisão em cinco tipos de “nomes” da Lógica de Algazel, mas faz uma adição importante. Ele designa o que os árabes chamam de convenientia como “ análoga” que são ditos de acordo com uma proporção” (Alb., De V Praedicabilibus , tract. 1, 5, Vol. 1, p. 11).

467 De Libera, 2005, p. 107. 468 De Libera, 2005, p. 121.

469 Haec scientia una est, quoniam licet sit de multis, de omnibus tamen illis est, prout reducta sunt in ens ut partes et prout sunt ens consequentia in eo quod est ens” (Alb., Metaph. , I, 1, 3, p. 5, 61-42). 470 Aertsen, 2012, p. 73.

471 De Libera, 2005, p. 105.

472 Dois trechos da “Ética a Nicômaco” fornecem argumentos para a constituição do argumento albertiano: (i) na crítica aristotélica à ideia de bem atribuída a Platão acerca da unidade da noção de “bem”; (ii) depois da determinação da filosofia primeira como uma ontologia no Livro VI da Metafísica, Aristóteles expõe a ordenada multiplicidade de sentidos para o “ser”, uma exposição que leva à reflexão acerca da possibilidade de uma ciência geral cujo assunto principal seria o “ser” (Arist., Nic. Eth. , I, c. 4, 1096b 26–31).

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filósofo grego amplifica a objeção contra seu próprio argumento ao tratar da dificuldade de expor sobre a unidade na predicação humana do termo “bem”.

A fim de resolver o problema, ele apresenta três possibilidades: (i) algo é chamado de bem como proveniente de outra coisa; (ii) ou porque é ordenado em relação a outra coisa; (iii) ou por “analogia”. O exemplo dado por Aristóteles é que “assim como o olho está para o corpo, o intelecto está para a alma”. Ora, esta comparação permite entender que o termo significa uma equidade de duas proposições que envolvem ao menos quatro termos. Trata-se de uma proporcionalidade. A está para B assim como C está para D.

Interessante notar que Aristóteles na Ética reporta a solução do problema para uma ciência teórica que é a filosofia primeira . Diante dos axiomas que o “ser” 473 não pode ser um gênero e sua divisão em dez gêneros de categorias, Aristóteles pontua que o “ser” não pode ser um termo puramente homônimo como decorre do célebre e já citado excerto sobre os sentidos possíveis de “saúde” . Um desses significados, o que 474 trata de “médico” por ser relacionado à ciência da medicina. Os intérprete contemporâneos têm entendido essa frase como “significado focal” ( focal meaning ). 475 Mas os não denominados intérpretes medievais refutados por Alberto modificaram o sentido aristotélico ao argumentar que a unidade do termo se refere ao fim ou à causa eficiente do sujeito. O significado focal seria então a substância, a primeira de todas as categorias. Este tipo de união não genérica seria suficiente para garantir a unidade da ciência. O raciocínio de Alberto pode ser ainda justificado pela conclusão de Aristóteles: “Não só no caso do que é dito de acordo com uma noção, a investigação pertence ao domínio de uma única ciência, mas também no caso do que se diz em relação a uma natureza” . 476

Destarte, para Aristóteles, o ser não seria um termo puramente homônimo. Assim, na possibilidade de ser compreendido em relação ao “bem”, distingue entre homonímia no sentido estrito (por acaso) e três tipos de equivocidades em sentidos 473 Aubenque, 1989, p. 304.

474 Arist., Metaph., IV, 2, 1003a33-b5. Citado com tradução acima. 475 Aertsen, 2012, p. 73; Owen, 1979, p. 32.

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amplos. É justamente ao terceiro modo, aquele que estabelece proporção ou comparação, que Alberto nomeou com o termo grego transliterado para o latim “analogia” ao comentar o Sobre os cincos universais de Porfírio. Alberto, ao referir-se à objeção de Porfírio contra a ideia de que o ser seria apenas um gênero mais geral ( generum generalissimum ), afirmava que há algo maior e anterior do que a substância, ou seja, o ser ( ens ), pois para cada substância há um ser, ao passo que não há um ser para cada substância. Alberto acrescentou a esta objeção a ideia de que, assim como no caso do ser, há a possibilidade de aplicação a qualquer determinação que transcende o gênero ( genera transcendit ), como é o caso da res , do unum e do aliquid . Alberto não 477 hesita em fundamentar sua argumentação com a menção explícita dos intérpretes árabes

, o que denota a amplificação de horizontes própria do século XIII .

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Os pensadores árabes provaram o caráter não genérico do ser através de um argumento ontológico diverso do que havia sido apresentado por Aristóteles. O conceito de gênero é aplicável ao de espécie como ocorre no caso do “homem” que é uma espécie do gênero “animal”, que, por sua vez, é uma espécie do gênero “ser vivo”, que é uma espécie de ser “corpóreo”, e que, por fim, é uma espécie de “substância” (homem > animal > ser vivo > corpóreo > substância). Mas a cadeia se quebra no caso da substância que não é uma espécie do gênero ser, porque o ser sobrepassa a redução conceitual da ordem categorical, pois “a existência não pertence à estrutura essencial de alguma coisa” . Para Alberto o predicado ser não é simpliciter aequivocum, porque 480 para tudo que é absolutamente equívoco, é equívoco por acaso. Mas o conceito de ser apresenta uma multiplicidade ordenada, pois tudo que é dito do ser é relacionado a uma

477 Si quis autem instet et dicat quod substantia habet superius; ens enim est ante substantiam per intellectum, quia omnis substantia est ens, sed non omne ens est substantia. [...]; et similiter potest obici de quolibet quod genera transcendit, ut est res, unum et aliquid (Alb., Super Porphyrium De V universalibus , c. 3, p. 64.

478 Hic autem ad praesens hoc sufficiat, quod cum ens praedicatur de substantia, vel res vel unum vel aliquid, non praedicatur praedicatione generis, cum non sit una ratione praedicatum de his de quibus praedicatur, sed per prius et posterius; sed talia praedicantur praedicatione principii, non generis. Et hoc probant Avicenna et Alfarabius et Algazel et omnes Arabes sic (Alb., Super Porphyrium De V universalibus , c. 3, p. 64).

479 Aertsen, 2012, p. 47.

480 Esse vero accidentale est, non essentiale. Genus autem intelligitur quod est essentiale communius (Algazel, Logica , c. 3, pp. 249–250).

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única coisa, que é o ser no sentido próprio. O ser é analogum , é comum e, conforme uma certa proporção, é o meio termo entre o que é unívoco e equívoco . Em outras 481 palavras, a analogia albertiana também implica uma ideia de proporção que une duas coisas diversas mas que possuem algo em comum. O ser é primária e principalmente atribuído à substância, ao passo que, secundariamente, a um acidente, desde de que haja “algo desse ser” . O comentário de Alberto ao texto de Porfírio pode ser a primeira 482 teoria medieval sobre a analogia . Este texto, contudo, somente trata da analogia ao 483 nível de multiplicidade categorial e ainda não aborda a analogia “teológica”.

Antes de seu comentário ao corpus aristotelicum, Alberto já havia apontado para a questão da analogia ao criticar provavelmente Felipe Chanceler em seu comentário acerca de sua interpretação da analogia. No De bono , o dominicano pontua a relação do “bem” e do “ser” ao afirmar sua convertibilidade, mas com base em uma importante distinção : o “bem” poder ser anterior ao “ser”, porque esta relacionado a um fim. O 484 “ser” pode ser anterior ao “bem”, porque é o conceito mais simples e não pode ser resolvido em algo que seja conceitualmente anterior, ao passo que, nesse sentido, o 485 “bem” é conceitualmente posterior, pois adiciona algo ao “ser”. Na terceira forma podem ser conversíveis . 486

Uma seção na primeira questão, artigo 4, do seu comentário ao De bono lida sobre a generalidade do conceito de “bem”. Nela, é questionado se o “bem” pode ser dito do bem incriado e criado de acordo com conceito comum?”. Na segunda objeção, 481 Tamen quia in talibus respectus est ad unum quod est simpliciter ens, ideo non simpliciter est aequivocum. […] Et ideo totum simul ‘analogum’, hoc est commune secundum proportionem, vocatur, quod ‘medium est inter aequivocum’ - quod simpliciter, ut dicit Boethius, a casu et fortuna aequivocum est—, ‘et univocum’ (Alb., Super Porphyrium De V universalibus , c. 5, p. 69).

482 Analoga autem sive proportionaliter dicta sive, ut Arabes dicunt, ‘convenientia sunt media inter univoca et aequivoca’, quae sunt imposita diversis secundum esse et substantiam per respectum ad unum, cui proportionantur, ‘sicut ens, quod dicitur de substantia’ primo et principaliter ‘et de accidente’ secundario, quia est aliquid entis (Alb., Super Porphyrium De V universalibus , c. 5, p. 11).

483 Aertsen, 2012, p. 48; De Libera, 1989, p. 330.

484 Dicendum, quod bonum uno modo est posterius ente et secundo modo est ante ipsum et tertio modo convertitur cum ipso (Alb., De bono , I, q. 1, a. 6, n. 21, p. 11.

485 Convém descrever a noção de resolutio. Típica da abordagem de Aristóteles é o uso do método da “resolução”, isto é, a redução realizada pelo intelecto das coisas para um primeiro conceito, uma análise que chega em se termo a “ser”.

486 Intentio enim entis est intentio simplicissimi, quod non est resolvere ad aliquid, quod sit ante ipsum secundum rationem. Bonum autem resolvere est in ens relatum ad finem (Alb., De bono , I, q. 1, a. 6, n. 21, p. 11).

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Alberto desenvolve o seguinte argumento: a objeção afirma que a generalidade em questão não pode ser a de um gênero ou a de uma espécie, mas deve ser comum secundum analogiam . Contra esta afirmação, são apresentados três modos de analogia que, de acordo com a leitura de Alberto foi proposta pelo próprio Aristóteles no livro IV da Metafísica . Com efeito, realmente a distinção é baseada nos exemplos do Estagirita. O primeiro modo de analogia (i) é “de acordo com a referência ao sujeito”. Destarte, o “ser” pode ser dito analogicamente em relação à substância, esse é o sujeito de todo ser. O segundo modo (ii) é “através da relação com um ato”. Nesse sentido é dito de um médico e de um instrumento cirúrgico que eles “curam”. O terceiro modo (iii) é “através da relação com a finalidade”. Desta forma, “saudável” é dito analogicamente de um animal, de um remédio, de uma bebida e da urina . Em nenhum desses três modos de 487 analogia o bem é comum a Deus e às criaturas. Não pode ser no primeiro modo, (i) porque não há uma substância da qual um ser obtenha bondade, a não ser Deus. Não pode ser da segunda maneira, (ii) porque o bem criado e o bem incriado não estão relacionados ao mesmo ato. Além disso, o bem primeiro é bom por sua substância e não apenas em relação a um ato. Nem pode ser pelo terceiro modo (iii), porque não há uma