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Anatomia pathologica e pathogenia

No documento O rheumatismo articular agudo (páginas 35-42)

Como disse, o rheumatism o articular aeru­

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do, raríssimas vezes termina pela morte e por­ tanto raras teem sido as autopsias feitas no intuito de elucidar este ponto, d'ahi a diver­ gência entre os auetores sobre a anatomia pa­ thologica.

A descripção mais completa das lesões ar­ ticulares do rheumatismo agudo é a de Cornil e Ranvier; mas estes auetores reuniram na mesma descripção as lesões do rheumatismo articular agudo e as dos pseudo­rheumatis­ mos, de sorte que ainda existem duvidas a respeito dos caracteres particulares de cada um d'elles.

Os caracteres clínicos da arthrite rheuma­ tica fazem suspeitar que se trata de lesões de congestão. O liquido (pie se obtém funecio­ nando uma articulação compromettida, du­

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rante a vida do doente, é bastante fibrinoso, tem reacção alcalina, os elementos cellnlares tem lencocytos, grandes cellnlas cujo proto- plasma contém 11m on vários núcleos que, por sua vez, apresentam nucleolos de forma esplierica. O derrame articular, cuja colora- ção depende da quantidade dos elementos his- tológicos one contém, não se transforma em pus no rlieumatismo articular agudo.

Quanto á synovial, apresenta-se injectada, muito espessa, tendo os seus capinares muito dilatados, dando a conhecer pelo exame histo- lógico que as cellnlas estão em via de multi- plicação.

Além das lesões da synovial, a cartilagem também se encontra, modificada, ainda mesmo nas fluxões rheumaticas ligeiras.

C e s t a s lesões da cartilagem, as mais cons- tantes consistem em uma irritação nutritiva e uma proliferação das cellulas cartilaginosas.

E m conclusão, as modificações apresenta- das n'uma articulação são muito variáveis; algumas vezes não ha alteração alguma. De todas as lesões, a mais frequente, é a conges- tão que se manifesta pelo rubor que existe particularmente na synovial, mas que se ob- serva também na pelle, no tecido cellular e nos outros tecidos peri-articulares.

Se algumas vezes as superficies articula- res se apresentam sêccas, ordinariamente ha

hypersecreção e a articulação contém uma quantidade maior ou menor de serosidade.

O sangue que se obtém por uma sangria n'um rheumatico, forma, em pouco tempo, um coagulo envolvido por uma membrana resis- tente e de côr amarei] ada.

Os materiaes sólidos diminuem considera- velmente, bem como a hemoglobina e os gló- bulos vermelhos e ao mesmo tempo ha au- gmento de glóbulos brancos e de fibrina.

Este facto não se observa unicamente no rheumatismo articular agudo, mas também em muitas doenças agudas e constitue um argu- mento importante a favor da theoria micro- biana do rheumatismo articular agudo. A coa- gualibilidade excessiva da fibrina, independente do seu excesso, existe no mais alto grau no sangue do individuo atacado de rlieumatismo articular agudo ; este facto explica a frequên- cia das thromboses vasculares e das vegeta- ções fibrinosas do coração n'estes mesmos in- divíduos.

Pathogenia

Emqanto predominou na sciencia a ideia de que a causa determinante, única e exclu- siva do rheumatismo articular agudo era o frio seceo ou húmido, diversas theorias se le- vantaram tentando explicar a natureza do pro-

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cesso mórbido. Porém, desde que se conheceu a natureza microbiana do rlieumatismo arti- cular agudo, tudo foi posto de parte ; em todo caso passaremos em revista essas theorias.

l.° THEORIA C H I M I C A . — E s t a tlieoria ex- plicava o facto por uma intoxicação geral, um envenenamento devido á retenção no sangue dos materiaes qiie normalmente devem ser eliminados pela pelle e pelos rins ; sendo o frio que actuando sobre os nervos vaso-motores das glândulas sudoríparas, contraída os seus vasos, dando em resultado a diminuição da secreção do suor.

Os observadores trataram de ver quaes seriam os principios em retenção no sangiie; porém, como nunca chegassem a uma conclu- são satisfatória, abandonaram esta theoria.

2." THEORIA NERVOSA.—Esta theoria filia

o processo mórbido n'uma alteração do sys- tema nervoso; sendo o resfriamento o factor determinante que, actuando sobre a pelle e impressionando o systema nervoso, determi- naria por acção reflexa a sua influencia tro- phica, produzindo em diversos pontos arthri- tes comparáveis, debaixo do ponto de vista pathogenico, ás descriptas por Charcot na ata- xia locomotora e outras doenças do systema nervoso. Effectivamente, os auctorcs que sus- tentam esta theoria, invocam como argumento d'alto valor o facto da existência d'arthropa-

tinas de origem nervosa, como as que se dão nos casos de myélites traumáticas.

Ainda mais: — observando as manifesta- ções do rheumatismo, vendo a rapidez com a qual as articulações são atacadas e abandona- das, passando o processo rapidamente d'uma articulação para outra, analysando as lesões superficiaes que muitas vezes o rheumatismo determina, não terpidaram em pensar em uma acção puramente nervosa como causa de to- dos os phenomenos e assim filiaram a patho- genia do rheumatismo articular agudo ao sys- tema nervoso.

Friedlander, que foi um dos partidários da theoria nervosa, localisava no bolbo o se- gmento excitado do eixo cérebro espinhal. O centro bulbar das articulações estaria collo- cado proximo da origem do pneumogastrico e do glosso pharyngeo, e a proximidade do cen- tro do pneumogastrico explicaria a frequên- cia das complicações cardíacas.

Para outros auetores, o systema nervoso, actuando d'uni modo indirecto, determinava modificações profundas na vida cellular dos elementos, viciando a nutrição geral e, en- tão, a alteração dos humores produzida d'esté modo, seria a causa directa do rheumatismo agudo.

Mas, se é verdade que na symptomatolo- gia do rheumatismo articular agudo se não

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pôde desprezar a influencia do systema ner- voso na manifestação de certos phenomenos, também não lia razão suficiente para a con- siderar como representando um papel impor- tante na sua pathogenia.

3.° THEORIA CARDIO-VASCULAR.— Os defen-

sores d'esta theoria consideravam a endocar- dite como o primeiro plienomeno do rheuma- tismo e seria ella consecutiva á penetração de micróbios pela pelle e pelas glândulas sudorí-

paras. As arthrites seriam provocadas por em-

bolias capillares que, partindo do coração, iam ter ás articulações.

Actualmente, estas theorias não podem ser acceites e ninguém hoje contesta que o rheu- matismo é uma doença infecciosa, tendo por causa a introducção e desenvolvimento na eco- nomia d'um micro-organismo : é a

THEORIA INFECCIOSA OU MICROBIANA. — Cli-

nicamente o rheumatismo articular agudo tem todos os caracteres d'uma doença infecciosa: o modo como começa a febre, nem sempre em proporção com as manifestações articulares, a prostração notável em que fica o doente, o es- tado da lingua, saburrosa ou sêcca, etc., são caracteres que encontramos nas doenças in- fecciosas.

As complicações visceraes, a endocardite principalmente, as fluxões que se produzem

nas grandes serosas, na pleura, no pericárdio, nas meninges, são ainda provas clinicas em favor da natureza infecciosa do rheumatis- mo.

Friedlander referindo-se á propagação da doença pelo contagio, diz que este é tão ma-

nifesto que no Hospital1 de Leipzig creou-se

um serviço de isolamento para os individuos acommettidos do rheumatismo articular agu- do.

Jaccoud faz notar a transmissão do rheu- m a t i s m o da mãe ao feto observada por Scliœffer ; é facto que confirma a natureza in- fecciosa da doença.

O caso de Scliœffer refere-se a uma mu- lher de 35 annos que no fim da quinta gravi- dez foi acommettida de rlieumatismo articu- lar agudo; cinco dias depois vem á luz um feto vivo, de termo em perfeito estado de saú- de; no terceiro dia de vida extra-uterina o feto apresenta-se com todos os symptomas do rheumatism© agudo.

Desde ha muito que os auctores trabalham para descobrir o agente pathogenico do rheu- matismo articular agudo, e n'este sentido vá- rios trabalhos se teem feito, sem que fos- se possivel reconhecer essa casta de micró- bio.

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a resultados muito diversos e portanto pode-

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