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4. Animação

4.4 Animação e o papel das autarquias

É pertinente fazer referência ao papel das autarquias no que concerne à animação de idosos, visto que o estudo foi realizado em dois centros comunitários, sob tutela da Autarquia de Câmara de Lobos.

De acordo com Mendizábal e Cabornero (2004) em quase todos os países do mundo, a perspetiva de duração do ser humano aumentou bastante, causando um aumento da proporção de idosos na comunidade, o que provocou uma importante mudança social.

Se nos reportarmos ao trabalho das autarquias na área social antes do 25 de abril de 1974, as autarquias eram estruturas voltadas essencialmente para as questões administrativas, com funções de fiscalização nas áreas económicas, passagem de licenças e uma relação com as populações como organismo mais tutelar do que parceiro (Pereira e Bernardes, 2008). Após a Revolução do 25 de abril de 1974, abriram-se novos horizontes que permitiram o acesso da população à participação, aos bens culturais e ao ensino.

Pereira e Bernardes (2008) relatam que nos finais do século XX, as autarquias começaram a ter condições para assumirem os seus próprios planos de ação cultural.

Relativamente aos desafios que as autarquias devem assumir para o século XXI destacam-se (Pereira e Bernardes, 2008):

 a promoção de uma rede educativa de excelência;

 a intervenção ativa nas políticas sociais do concelho, dirigidas aos idosos e a outros segmentos da população;

 a criação de uma rede de agentes concelhios, com projetos de ação sociocultural.

Com a evolução natural dos tempos, a ocupação dos tempos livres, através de atividades de animação, tem vindo a assumir um papel de capital importância, quer no plano social, quer no plano pedagógico, traduzindo-se num dos principais meios de educação e de formação da população idosa.

O desafio do desenvolvimento local e comunitário reside no axioma “pensar global, agir local”, ou seja, é partindo da realidade social que devem ser encontradas

79 soluções participadas, integradoras e valorizadoras das gentes e dos recursos comunitários (Ander-Egg, 1999).

O Plano Gerontológico RAM (2009) refere que todas as autarquias da Região Autónoma da Madeira desenvolvem atividades regulares ou sazonais com idosos, apoiam atividades sociais com subsídios ou em espécie, dão apoios à adaptação ou recuperação de habitações degradadas, apoiam com ajudas técnicas e em articulação com os Serviços de Saúde e Segurança Social e ajudam as associações nas atividades e projetos locais.

De referir que as principais atividades promovidas pelas autarquias com idosos são: a ginástica de manutenção e atividades lúdico desportivas, como natação, hidroginástica, jogos, apoio ao ensino recorrente, iniciação à aprendizagem de novas tecnologias, expressão musical e dramática, bailes e aulas de dança, cursos de pintura, turismo, convívios, passeios e visitas temáticas (Plano Gerontológico da RAM, 2009).

É importante referir que os centros comunitários municipais são uma resposta social que visa a promoção de projetos e/ou ações de âmbito comunitário dirigidos a toda a população com especial atenção aos jovens e aos seniores e idosos. Estes são espaços de formação, informação, valorização pessoal, dinamização comunitária, cultural, desportiva, bem-estar e de lazer/animação.

Segundo Mendizábal e Cabornero (2004) referem que na área da formação e educação, as autarquias devem:

 fazer uso das pessoas de idade como transmissores de conhecimento, valores e cultura;

 disponibilizar programas de educação e formação para todas as pessoas de idade;

 promover a educação do público, em geral, sobre o processo de envelhecimento;

 proporcionar um acesso físico mais fácil a instituições culturais;

 adotar programas estruturados, com base na comunidade e dirigidos ao bem-estar das pessoas idosas;

 superar estereótipos relativos aos idosos;

 promover uma ampla informação às pessoas de idade sobre todos os aspetos da sua vida;

 capacitação de pessoas na esfera do envelhecimento, difusão de informação sobre os idosos;

80  criação de instituições especializadas no ensino da gerontologia e da

geriatria;

 envolver os idosos em intercâmbios de informação.

A animação e as autarquias têm percorrido um longo caminho, mas continuam a ter pela frente novos desafios (Pereira e Bernardes, 2008).

Orientado para questões mais abrangentes do conceito de qualidade de vida, encontramos o Programa “Envelhecer com Qualidade” desenvolvido em 2006 pela Autarquia de Viana do Castelo, com o objetivo de promover a qualidade de vida da população idosa, através da criação de mecanismos facilitadores do acesso às atividades culturais, recreativas e de lazer e do desenvolvimento de estratégias de participação e de sociabilização; e de promover o contacto social (quer entre indivíduos que, dentro da comunidade, vivem situações idênticas, quer com a camada mais jovem da população, numa perspetiva intergeracional). Ao fim de dois anos de aplicação deste programa, Torres e Marques (2008) procederam a uma avaliação com uma amostra aleatória de 9,4% das 723 pessoas inscritas no Programa, com idades entre os 55 e os 92 anos. Esta avaliação teve como propósito verificar em que medida os objetivos do programa foram atingidos. Verificaram que nas questões da integração social, o Programa revelou-se positivo: 75% dos inquiridos preferiu as atividades de lazer, em particular os bailes. Quanto às motivações para a participação indicaram: a animação propiciada pelas atividades de lazer (61,8%), as pessoas que encontraram (51,5%) e a quebra da solidão (sem referência percentual). Quanto à perceção sobre o impacto do programa na sua saúde e bem-estar consideram-se: mais participativos (50%), mais felizes (60,3%), mais ativos (47,1%) e mais saudáveis (28%). Também qualificaram o programa como excelente (60,3%). As autoras concluíram que as relações interpessoais e sociais têm grande importância nesta fase da vida dos indivíduos, propiciando um aumento do bem estar.

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