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4. Animação

4.3 O papel do animador

Não podemos falar de animação sem falar do animador. No entender de Jardim (2002) o animador é uma pessoa madura que se coloca ao serviço dos outros que querem caminhar sempre mais além. Portanto, o animador é um especialista em humanidade, pois gera vida nova à sua volta e qualifica a vida daqueles que com ele caminham através da descoberta conjunta do sentido da existência. Noutra perspetiva, e de acordo com Manes (2007), o animador é um líder, sendo responsável pelo processo de animação.

Como defende Quintana (1993) o animador deve começar por conhecer a população e analisar as suas condições de vida, as suas necessidades, expectativas e aspetos culturais, pois é de acordo com estas que partirá para a construção das atividades.

O animador, de acordo com Jacob (2007), deverá ser:  organizado;

 favorável ao trabalho em equipa;

 estar atento ao grupo (escutar ativamente não apenas aquilo que se diz verbalmente mas também aquilo que transparece nas atitudes e comportamentos);

 justo (ser imparcial, não favorecer, nem desfavorecer nenhum elemento);  compreensivo (promover a compreensão e a empatia, não fazendo juízos

de valor);

 confiante (dentro dos membros do grupo, deve respeitar as necessidades e preferências de cada um);

 atento e disponível (no desenrolar das atividades, sem ser omnipresente);  responsável (levar o grupo a atingir os seus objetivos, com audácia e

perseverança);

 bom observador (ver com clareza o que se passa ao nível da vida profunda do grupo e evitar a formação de subgrupos);

 paciente e socorrista (ajudar os membros em dificuldade, e encorajar o grupo);

 mediador (não exigir mais do que aquilo que o grupo consegue fazer, mas ajudando-o a progredir);

 devoto e interessado (estar centrado sobre as pessoas de um grupo mas também sobre as isoladas);

75  dinâmico e entusiasta e ter uma personalidade afirmativa (tomar decisões

quando necessário, ter autoridade sem ser autoritário).

Em termos deontológicos a relação entre o animador e o idoso recai na forma como o primeiro deve tratar o segundo, com respeito, como uma pessoa que tem direito a tomar decisões. Partindo da Declaração Universal dos Direitos do Homem, deve imperar o sigilo profissional, cuja aplicação potencia o idoso à manutenção da sua própria integridade moral (Fernandes, 2009).

De acordo com o autor supracitado, no desenvolvimento do trabalho do animador, este deve: preservar a participação ativa do idoso; considerar as suas crenças e desejos, reconhecer a dignidade do idoso e ter em conta toda a envolvente do idoso, nomeadamente os familiares e amigos.

Sobre esta temática Garcia (1975, citado por Lopes, 2006, p. 172) refere que:

O verdadeiro trabalho do animador é o fazer pensar, fazer falar e fazer atuar. Pouco a pouco, ele vai agindo de modo a que o grupo possa determinar por si mesmo, os seus objetivos e a escolher os meios mais adequados para os atingir.

Antes de iniciarmos um programa de animação deve-se ter conta o equilíbrio entre as limitações e as potencialidades da pessoa idosa. Daí a importância de abordar alguns aspetos ligados à capacidade funcional.

Pode-se considerar saúde na pessoa idosa como resultante da interação multidimensional de saúde física e mental, autonomia nas atividades de vida diária, integração social, suporte familiar e independência económica. Qualquer dessas dimensões, associada a outra ou não, quando comprometida, pode afetar a capacidade do indivíduo de viver de forma autónoma e independente, repercutindo, por consequência, na sua qualidade de vida (Oliveira, 2009).

De acordo com Silva (2009, p.35) a capacidade funcional é um conceito muito próximo do de saúde. Desde modo, a capacidade funcional é entendida como a manutenção plena das habilidades físicas e mentais alcançadas no trajeto da vida que é indispensável para a manutenção de uma vida independente e autónoma. A este respeito, o autor refere que:

A capacidade funcional do idoso inclui a habilidade em executar tarefas físicas, preservar as atividades mentais e a integração ao meio social.

76 Como já vimos anteriormente, os idosos são pessoas diferentes entre si, e não podemos tratar todos da mesma forma. Temos de conhecer cada um na sua individualidade, para assim sabermos qual a melhor forma de agir com eles. De acordo com Simões (2006), as diferenças individuais aumentam com a idade fazendo com que as pessoas mais velhas sejam mais diferentes entre elas do que noutras faixas etárias.

Pereira e Lopes (2009) acrescentam que é difícil apresentar de forma sintética as caraterísticas contidas na heterogeneidade e na pluralidade que apresenta a sociedade atual no grupo dos idosos. No entanto, revela-se pertinente dividir os idosos, tendo em conta três dimensões: idosos independente, idosos dependentes e idosos semidependentes.

A divisão supracitada está relacionada com as práticas de animação, pois sempre que possível é importante ter em conta o grupo e o seu grau de dependência, de modo a planificar e adequar as atividades aos idosos.

Refira-se que idosos independentes são pessoas saudáveis e empreendedoras que constituem um capital social, económico e cultural importante. Estes idosos não possuem qualidades físicas de um jovem de 30 anos, mas não necessitam de uma atenção especial (Pereira e Lopes, 2006).

Quando falamos em independência de um idoso referimo-nos à sua capacidade para realizar sozinho as atividades do dia a dia, sem necessitar da ajuda de terceiros. Um idoso independente consegue satisfazer de forma razoável as suas necessidades. O termo independência é geralmente entendido como a habilidade de executar funções relacionadas à vida diária, isto é, a capacidade de viver independentemente na comunidade com alguma ou nenhuma ajuda de outros (OMS, 2002).

Os idosos dependentes são um grupo também muito heterogéneo e amplo, abarcando todos aqueles que têm uma dependência limitada até aqueles que têm uma dependência total, concluem Pereira e Lopes (2006). Assim, quando nos referimos à dependência estamos a falar de um idoso que não é capaz de satisfazer as suas necessidades sem o auxílio de outras pessoas ou de equipamentos de adaptação.

A semidependência será então quando um idoso necessita de ajuda parcial para realizar alguma atividade específica. É necessário termos cuidado quando empregamos estes termos, porque a pessoa idosa pode ser dependente num aspeto e ser independente noutro. Exemplo disso será uma pessoa economicamente independente e fisicamente dependente (Jacob, 2007)

Um outro conceito, que se enquadra junto com os três abordados anteriormente, é o de autonomia. Assim sendo:

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Pode-se dizer que uma pessoa tem autonomia quando consegue se determinar, fazer as suas próprias escolhas, tomar decisões. Ela pode não ter independência em alguns aspetos, mas mantém a sua autonomia (Zimerman 2000, p.26).

Acrescente-se que a autonomia consiste na capacidade percebida para controlar, lidar com, e tomar decisões individuais, no âmbito da vida quotidiana e de acordo com regras e preferências pessoais (OMS 2002).

Um idoso com autonomia é aquele que vê as suas convicções pessoais serem respeitadas. Silva (2009) acrescenta que a autonomia no idosos refere-se à capacidade do idoso determinar e executar os seus próprios desígnios. O mesmo autor acrescenta que:

Qualquer pessoa que chegue aos 80 anos e seja capaz de gerir a sua própria vida e determinar quando, onde e como se darão as suas atividade de lazer, convívio social e trabalho certamente será considerada uma pessoa saudável (Silva, 2009, p. 36).

Para além de se falar do papel do animador, entendo que é fundamental abordar também o papel do educador sénior, visto que esta é a minha licenciatura de base. O papel do educador sénior complementa-se com o papel do animador.

A Universidade da Madeira, nomeadamente o Departamento das Ciências da Educação, foi pioneira na elaboração de uma licenciatura que procurou dar resposta a uma das questões sociais que atualmente mais preocupa os governantes do nosso país, o aumento quantitativo das pessoas seniores. Segundo Sousa e Fino (2005, p.15), a Licenciatura em Educação Sénior resultou das “novas exigências sociais geradas não tanto pelas questões da multiculturalidade, como também pelas alterações demográficas que têm vindo a ocorrer na Europa, e no nosso país e na Madeira, em particular.

Os mesmos autores supracitados mencionam que a elaboração de propostas úteis, de natureza educativa e cultural, torna-se necessária pelo facto de uma grande parte dos seniores e idosos ainda permanecem bem física e cognitivamente e possuí uma situação económica favorável que pode proporcionar um contínuo interesse por iniciativas de cariz cultural. Futuramente, estes indivíduos continuarão a ser em maior número, o que conduz à necessidade de atividades culturais e educacionais que lhes proporcionem a possibilidade de continuar a ter projetos de vida que lhes garantam bem-estar e qualidade de vida.

O educador sénior, em contexto institucional, tem por objetivo resgatar a autoestima dos seniores e idosos, fomentando a sua participação, inicialmente através de

78 um procedimento de recolha dos seus interesses, expectativas e ambições, de modo a definir os projetos que lhes ofereçam bem estar e qualidade de vida