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ANIMAÇÕES, VÍDEOS E INFOGRAFIA

As imagens em movimento que podem ser usadas nos textos digitais, são ainda mais ricas para acompanharem os textos em língua de sinais que também se desenvolvem no tempo do vídeo. Diferentes recursos podem ser explorados, sejam animações integradas com a interpretação, vídeos de fundo, vinhetas ou elementos gráficos animados para complementar o texto ou destacar alguma informação.

O motion design14 usado como recurso educacional para surdos na educação à distância foi estudado por Jesus (2013) que recomenda moderação no uso desse recurso, evitando excessos ou desviar dos objetivos. A pesquisa indicou uma boa aceitação das vinhetas de abertura e da interação intérprete/elementos gráficos, mas o autor recomenda que recursos de motion grafic design não substituam o texto em língua de sinais e que seja usado de forma complementar, não como elemento principal.

Os infográficos, que integram imagens e texto, são também um recurso muito útil para diferentes tipos de publicações já que podem ser estáticos, animados, interativos e mesmo utilizar bases de dados internas ou da web para construção mais dinâmica das informações visuais.

Lapolli (2013) na tese Visualização do conhecimento por meio de narrativas infográficas na web voltadas para surdos em comunidades de prática mostra a importância e eficiência dessas narrativas e destaca algumas características específicas que podem contribuir para os leitores surdos, em especial a presença dos textos em Libras, e mesmo de textos em Libras maiores, explicando o conteúdo visual:

Nesta pesquisa, todos os participantes surdos que acessaram as narrativas infográficas desenvolvidas assistiram aos vídeos em LIBRAS. Às vezes eles só olhavam o texto em português e as imagens, mas quando tinham dúvidas, eles recorriam aos vídeos. Por isso, os textos em português devem ser curtos e simples e a tradução para LIBRAS é essencial. Uma proposta para não poluir o ambiente com janelas de vídeo é colocar um pequeno link ao lado do texto em português que, ao ser clicado, abra o vídeo com o intérprete de LIBRAS. [...] Sobre a tradução dos vídeos, alguns surdos defendem que ela deveria ser um pouco mais extensa que os textos apresentados em português, explicando o conteúdo de forma mais detalhada (LAPOLLI, 2013, p.196).

14 Motion design14 que pode ser definido como design do movimento, engloba

todo e qualquer tipo de design para mídias com imagens em movimento (JESUS, 2013).

A autora recomenda que as informações sejam apresentadas de forma clara e concisa, permitindo que os estudantes consigam explorar o infográfico de forma intuitiva, focando naquilo que é relevante e sugere o uso de glossários e legendas, quando palavras muito grandes são soletradas. A presença de SignWriting, que mesmo tendo sido pouco utilizado pelos participantes da pesquisa, foi bem aceito para colaborar com sua difusão.

Ao longo deste capítulo identificamos vários elementos gráficos e ferramentas computacionais das interfaces de vídeos com textos na língua de sinais, procuraremos então compreender como podem ser planejados para propiciarem uma leitura significativa e confortável em Libras.

4 A LEITURA: DE TEXTOS ESCRITOS E EM LIBRAS

Neste capítulo observamos como alguns estudos sobre a leitura vêm sendo desenvolvidos procurando identificar o que pode contribuir para a leitura em Libras levando em consideração as especificidades dos textos em vídeos sinalizados e as características dos leitores surdos.

O conceito de leitura não se refere apenas à leitura de textos escritos tradicionais e vem se transformando ao longo do tempo para abranger outras definições de texto e outras formas de escrita. Também não se refere apenas à leitura do conteúdo verbal, e pode mesmo abarcar textos apenas visuais, por exemplo.

O próprio conceito de “leitura”, atualmente, ultrapassa os códigos da linguagem escrita tradicional para abranger também imagens, textos dinâmicos, ou ainda, mensagens em movimento e interativas. No âmbito das estratégias que almejam a eficácia da disseminação da informação, e considerando o termo “ler” no seu sentido mais amplo (de atribuir significado a uma informação, através de um código) encontram-se os leitores, vistos como o público-alvo essencial das mídias (BLEICHER; GONÇALVES; VELOSO, 2011, p. 251)

As línguas de sinais possuem sistemas próprios de escrita, como o SignWritting, mas no Brasil ainda são pouco utilizados e os textos geralmente são produzidos ou traduzidos para Libras. E esses vídeos com textos na língua de sinais foram se consolidando como uma forma específica de escrita. Ramos (2000) já adota o termo “leitor/espectador” e mostra que algumas característica do vídeo sinalizado configuram o texto em Libras como uma proto-escrita. Com a tradução de um texto escrito para a língua de sinais, temos um vídeo que pode ser reproduzido, arquivado, visualizado em momentos diferentes sem necessitar da presença daquele que fala.

No texto filmado em LIBRAS fica claro para o “leitor/espectador” que aquele texto tem um autor, naquele momento inacessível, já que o texto se articula em vários tipos de discurso, surgem personagens variados, o ritmo do texto apresenta diferentes nuances, e assim por diante. O texto apresenta-se com um início/meio/fim completo,

que pode ser interrompido pelo leitor/espectador, e, também, não responde a possíveis questionamentos do mesmo. Características exclusivas da língua escrita, portanto, estão presentes no texto em questão (RAMOS, 2000, p. 78).

Marques; Oliveira (2012) também propõem uma ampliação do conceito de escrita para incluir os vídeos registro em língua de sinais como forma de produção acadêmica dos surdos:

A evidência primeira das produções de vídeos em Língua de Sinais são constatações de uma modalidade de escrita disponível às pessoas surdas. Para isso propõe-se que, a partir das inovações tecnológicas, o conceito de escrita seja ampliado, considerando principalmente a diferença de modalidade da língua de sinais e o acesso ao conhecimento às pessoas surdas, de modo que os estudantes surdos possam produzir os textos acadêmicos que fazem parte de sua formação em Libras (MARQUES; OLIVEIRA, 2012, p. 2).

Os autores apontam que o reconhecimento da “vídeo-escrita” abre perspectivas para produções inovadoras de vídeo-artigos, vídeo- livros, vídeo-revistas, etc.

É importante considerar que a leitura não se dá da mesma maneira nessas distintas formas de textos e envolvem diferentes ações e diferentes modos de engajamento do leitor.

Os textos dinamizam relações entre conteúdo, forma e matéria, acionando diferentes códigos além daqueles linguísticos. Assim, a função para

ler não pode ser tomada de modo singular, mas

entendida como plural e complexa. Os movimentos e tendências que dinamizam a práxis do design editorial permitem observar sua forte relação com a sociedade, a cultura, a economia, a tecnologia etc., aderindo também a princípios ideológicos (GRUSZYNSKI, 2015, p. 574).

Os hipertextos e a hipermídia, com a convergência de informações multimodais (textos, imagens, sons, vídeos), os recursos para interação, customização, compartilhamento e o fácil o acesso à informações complementares ao texto, por exemplo, são possibilidades abertas pelos textos digitais e em rede que propõem outras atividades cognitivas relacionadas à leitura, propiciam outras atitudes do leitor e explicitam a complexidade envolvida nos estudos sobre a leitura.

Apesar da complexidade envolvida no ato de ler e da diversidade de suportes e formas de textos é possível estabelecer relações entre os estudos sobre a leitura procurando compreender o que faz com que o leitor mantenha uma atenção concentrada ao longo da leitura em busca de atribuir significados ao que lê. Nesta pesquisa, procuramos sistematizar esses estudos identificando os fatores que contribuem para a eficácia, eficiência e satisfação do leitor de textos em Libras.