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CAPÍTULO II – TRANSFORMAÇÕES TÉCNICAS E ECONÔMICAS DA

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. O sistema produtivo paulista de leite e suas peculiaridades na relação com

4.1.2. Caracterização do rebanho e da área voltada à pecuária de leite no

4.1.2.2. Animais em lactação em relação ao efetivo do rebanho

Outra questão de elevada importância para entender e discutir o segmento produtivo dentro do complexo agroindustrial do leite é a relação entre o número de vacas ordenhadas e o efetivo total do rebanho, que possibilita verificar a especialização da pecuária, ou seja, se com tendência para corte ou para leite.

Segundo CAMPOS & FERREIRA (2006), para a bovinocultura de leite, a composição do rebanho é uma ferramenta importante para uma avaliação do sistema de produção, visto que um baixo percentual de vacas em lactação, em relação ao número total de bovinos de diferentes categorias, certamente terá reflexo negativo na economia leiteira. No caso de rebanhos especializados para a produção de leite, um percentual adequado de vacas em lactação em relação ao total do rebanho deve ficar próximo a 42% (MANCIO et al, 1999). Esta referência é importante para configurar o índice de especialização do rebanho, ou seja, pode-se considerar que, quanto maior o percentual de vacas em lactação em relação ao total do rebanho, maior especialização para a produção de leite.

PIVA et al (1989) ao analisar dados do IBGE, na década de 1980, constatou que apenas 20% do rebanho nacional eram de finalidade leiteira, de modo que mais de um terço da produção total de leite no Brasil era originária de rebanhos de corte e misto. A parcela de produção oriunda de rebanho não especializado era significativa nos principais estados produtores como Minas Gerais (31%), São Paulo (30%), Rio Grande do Sul (20%) e Goiás (60%).

A Figura 6 permite-nos comparar a relação vacas ordenhadas/efetivo total do rebanho no Brasil e nos seis maiores estados produtores de leite, considerando o ano de 2010, no decorrer de 36 anos. Em 1974, em plena regulamentação do setor leiteiro, o número de vacas ordenhadas correspondia a 11,72% do efetivo total do rebanho. Deste período até 2010, com exceção de 1995/1996, o maior índice de crescimento ou

diminuição nesta relação foi de 2,78, ou seja, em 1993, dois anos após a desregulamentação do setor a relação vacas ordenhadas/efetivo total do rebanho passou de 13,28% para 12,91%. Tais dados indicam inexpressivas mudanças na composição do rebanho após a desregulamentação econômica do setor.

O mesmo não se aplica ao período referente a segunda metade da década de 1990, quando se observa quedas acentuadas na relação vacas ordenhadas/efetivo total do rebanho. Tanto no Brasil como entre os estados maiores produtores as quedas do número de vacas ordenhadas em relação ao efetivo total do rebanho foram significativas. 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 Período V ac as O rdenhadas /ef et iv o do r ebanho Brasil Goiás

Rio Grande do Sul Santa Catarina Paraná São Paulo Minas Gerais

Fonte: Pesquisa Produção Pecuária Municipal – IBGE.

Figura 6. Relação de vacas ordenhadas pelo efetivo do rebanho no período de 1974 a 2010, contendo os seis estados maiores produtores de leite e o total no Brasil.

Durante o período de valorização do Real, especialmente entre os anos de 1995 e 1996, o país apresentou relativa queda na relação entre o número de vacas ordenhadas em relação ao efetivo do rebanho, passando de 12,76% para 10,28%. Entre os seis estados que mais produzem leite atualmente, Goiás, Minas Gerais, Santa

Catarina e Paraná apresentaram, respectivamente, as maiores quedas, todas acima da média nacional. O Rio Grande do Sul, que já vinha em tendência ascendente teve uma queda pouco significativa e logo já retomou o movimento normal.

Ainda observando a Figura 6, ressalta-se o movimento do estado de São Paulo quanto à evolução de seu rebanho. O estado apresentou tendência de aumento do número de vacas em lactação até meados da década de 1980. Após esse período apresentou contínua queda. Outro detalhe importante para o entendimento da pecuária leiteira no estado é o fato que o mesmo foi o que apresentou menor queda relativa quanto ao índice estudado, no período de abertura comercial (1995/1996). A tendência à diminuição do número de vacas ordenhadas em relação ao total do rebanho já vinha ocorrendo dez anos antes do período em questão. Logo após o advento do Plano Real em 1995/1996, todos os demais estados também retomaram o crescimento do número de vacas ordenhadas em relação ao total do rebanho, tendo atualmente já ultrapassado a relação estabelecida durante o período de regulamentação econômica e mesmo anterior a 1995/1996, com atenção mais uma vez ao estado de São Paulo, que somente a partir de 2010 apresentou pequena tendência de aumento do número de vacas ordenhadas em relação ao total do rebanho paulista.

A Tabela 7 nos permite observar a evolução do número de vacas ordenhadas em relação ao efetivo do rebanho entre as mesorregiões do estado de São Paulo. Com exceção das mesorregiões de Marília, Presidente Prudente, Macro Metropolitana Paulista, Vale do Paraíba e Litoral sul, todas as outras diminuíram o efetivo do rebanho bovino. A região de Piracicaba manteve-se em patamares estáveis.

Quanto ao número de vacas ordenhadas, com exceção do Vale do Paraíba e do Litoral Sul, que a exemplo do efetivo do rebanho aumentaram o número de animais, todas as outras 13 mesorregiões diminuíram o número de vacas ordenhadas e, a única região que aumentou a relação entre o número de vacas ordenhadas pelo efetivo do rebanho foi o Litoral Sul paulista, mas que em importância relativa para a produção de leite, apresenta resultados inexpressivos.

Tabela 7. Efetivo total do rebanho e de vacas ordenhadas e percentuais de participação das vacas ordenhadas no total do rebanho bovino, por mesorregião do estado de São Paulo, médias trienais 1990-1992 e 2008- 2010.

Mesorregiões e estado de São Paulo (1990-1992) Participação (%) (2008-2010) Participação (%) Efetivo do rebanho Vacas ordenhadas Efetivo do rebanho Vacas ordenhadas Campinas 502.439 182.525 36 481.133 81.503 17

Vale do Paraíba Paulista 479.115 162.073 34 593.480 176.343 30 Macro Metropolitana Paulista 290.630 85.518 29 340.378 66.979 20 Ribeirão Preto 979.186 255.959 26 594.741 85.544 14 Metropolitana de São Paulo 36.983 9.271 25 30.946 8.496 27 São José do Rio Preto 2.204.176 532.028 24 1.945.115 397.504 20

Itapetininga 805.897 162.121 20 749.961 109.143 15 Araraquara 331.956 56.112 17 1.154.130 32.635 3 Piracicaba 284.566 46.246 16 284.563 34.376 12 Marília 558.713 75.365 13 663.652 27.134 4 Bauru 1.465.910 194.573 13 1.335.107 93.640 7 Assis 743.073 85.958 12 553.193 66.514 12 Araçatuba 1.399.181 146.674 10 1.154.130 95.211 8 Presidente Prudente 2.136.555 213.223 10 2.142.921 157.360 7 Litoral Sul Paulista 87.896 7.123 8 103.404 14.693 14 São Paulo 12.391.242 1.453.961 18 12.126.854 1.447.075 12 Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal

No que tange às diferentes mesorregiões do estado de São Paulo (Tabela 7), no triênio 1990-1992, os índices mostram relativa especialização dos rebanhos, com índices médios próximos aos 18%, considerando que o efetivo do rebanho abrange a pecuária de corte. A região de Campinas alcançava no período um percentual de vacas em lactação com relação ao total do rebanho de 36%. O Vale do Paraíba, índice participação de 34%. As mesorregiões Macro Metropolitana e Metropolitana de São Paulo, apesar de não apresentarem altos volumes de produção, apresentam índices de especialização relativamente altos. Com especial atenção à região Metropolitana de São Paulo que aumentou o índice no último triênio.

Ainda tratando de importantes bacias leiteiras, o Vale do Paraíba, uma das regiões com maior produção no estado, obteve um dos menores percentuais de queda das vacas em lactação em relação ao total do rebanho. Presidente Prudente e Araçatuba, apesar de serem importantes regiões produtoras de leite, apresentam baixo

índice de especialização, ou seja, as duas regiões são historicamente produtoras de carne e tem o leite como subproduto.

Das regiões mais especializadas, Ribeirão Preto foi a que apresentou relativamente maior queda no presente índice, como se pode observar na Tabela 7, o número de vacas ordenhadas diminuiu em 162.360 cabeças, o que representou queda de 36,56%.

As demais regiões que apresentaram diminuição significativa do número de vacas em lactação em relação ao total do rebanho, ou seja, as regiões Macro Metropolitana Paulista, Itapetininga, Marília e Bauru, não estavam inseridas entre as maiores bacias leiteira do estado de São Paulo, como configurava-se a Mesorregião de Ribeirão Preto.

A diminuição da relação entre o número de vacas ordenhadas e o efetivo total do rebanho no estado de São Paulo, de 18% para 12% pode ter uma ligação direta ao maior crescimento da pecuária de corte, que se especializou intensamente no estado nos últimos anos (ALEIXO & BACCARIN, 2011).