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Anos de 1990: a centralidade na reforma

Esse período constitui-se como fértil no que diz respeito à valorização da educação e, por sua vez, das variáveis que interferem na qualidade do processo de ensino e aprendizagem, incluindo a formação docente. Vale ressaltar que neste período o Brasil alicerçou as bases da educação no novo paradigma pro- dutivo, o que demandava requisitos diferenciados de educação geral e de qualificação profissional. De acordo com as autoras do livro Política educacional

O elevado grau de competitividade em escala planetária ampliou a demanda por conhecimentos e informações e, em decorrência, a educação foi eleita estratégica. Nessas

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circunstâncias, uma verdadeira avalanche de resoluções, leis, pareceres e, outros documentos nacionais e interna- cionais vêm operando um “transformismo” na educação contemporânea. Recomendações de agências multilaterais balizam esse processo.

(SHIROMA; MORAES & EVANGELISTA, 2002, p. 15).

A educação passa a ser considerada como instrumento de expansão neoliberal, como também, de garantia da cidadania. Esse ideário passa a se consolidar no Brasil por meio de diferentes documentos oficiais que foram desenhados no governo Itamar Franco e ganha expansão no governo de Fernando Henrique Cardoso. Momento em que ocorreu, conforme observa Maria de Fátima Abdalla (2012), a expansão neoliberal no país.

É preciso mencionar, ainda, que mesmo no contexto dos anos 90, considerada a “década da educação”, e atualmente, o que se nota é o aprofundamento das políticas neoliberais e os incontroláveis efeitos da globalização, gerando um cenário que, por vezes, torna mais complexo o mundo do trabalho dos profissionais da educação. Nesta perspectiva, princípios foram prescritos pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996), assim como foram sancionadas diferentes Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio e outras modalidades, sem contar as Diretrizes Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica (BRASIL, 2001), entre outros documentos. (ABDALLA, 2012, p. 2).

Diante do desafio de combater o analfabetismo e de garantir o acesso à educação básica a todas as crianças, jovens e adultos, a Conferência de Jomtien define para os países que dela participaram, como principal objetivo, assegurar educação básica para todos. E para o desenvolvimento desse objetivo são estabelecidas metas e compromissos para os anos subsequen- tes. Para alcançar as metas ali assumidas, inúmeras reformas são realizadas em nosso país, o que para alguns autores, a reforma passou a ser palavra de ordem no contexto educacional

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e, consequentemente, para as políticas educacionais dos anos de 1990 (SHIROMA; MORAES & EVANGELISTA, 2002).

Para Rui Canário (2006), essas reformas se espalharam pelos sistemas de ensino do mundo inteiro, porém, poucas respostas pertinentes foram dadas aos problemas recorrentes e variados, vivenciados pelos sistemas de ensino. Em meio a tudo isso, o autor afirma ainda que:

Nas ultimas quatro décadas as múltiplas e reiteradas reformas educacionais provocaram um sentimento generalizado e, por vezes, difuso de insatisfação [...] ocasionando o que se chama crise da educação, que por sua vez, pode ser entendida, como crise da escola.

(CANÁRIO, 2006, p. 11).

O grande ideário a ser assumido, era o de que a educação deveria realizar as necessidades básicas de aprendizagem, como sendo conhecimentos teórico-práticos e ainda:

Capacidades, valores e atitudes, indispensáveis ao sujeito para enfrentar suas necessidades em sete situações: sobrevivência, desenvolvimento pleno de suas capacidades, uma vida e um trabalho dignos, participação plena no desenvolvimento, melhoria da qualidade de vida, tomada de decisão e a possi- bilidade de continuar aprendendo.

(TORRES apud, SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2002, p. 24).

Devido a esse processo de reformas e, em alguma medida, em meio à importância que ganha a educação nos discursos governamentais e de organismos multilaterais, a formação de professores assume lugar de destaque, sendo apontada como uma das frentes de investimento, para o enfrentamento dos problemas educacionais mundiais. De acordo com Bernadete Gatti,

Nas duas ultimas décadas no Brasil, esforços foram concen- trados na área educacional [...] em suas várias instancias procurou-se: reorganizar aspectos do financiamento da educação, aumentar os anos de escolaridade da população, investir em infraestrutura, orientar os currículos da educação básica; ampliar as oportunidades no ensino superior; formar

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docentes por diversos meios, deslocar a formação docente da educação básica do ensino médio para o ensino superior. (GATTI, 2012, p. 424).

Há questões simples, porém, importantes, que precisam ser consideradas ao discutirmos a formação de professores no Brasil. Um exemplo disso é a problemática que envolve certo desencanto com a escola, ou com o que Canário (2006) chama de frustração com o que a escola não tem conseguido cumprir, o que denomina ainda como “hegemonia escolar”; pelo fato da escola ser considerada como único lugar onde se tem acesso ao conhecimento. O autor alerta que a hegemonia da forma escolar de conhecer, apontada como único ponto de referência de toda ação educativa, deve-se ao que designa por naturalização de algumas questões, as quais não podem ser naturalizadas. Dentre estas aponta:

O século XX é marcado por três atores principais: por um lado a hegemonia da forma escolar; por outro lado, a naturalização e a persistência da configuração organizacional do estabe- lecimento de ensino; por último, as mutações sofridas pela instituição escolar, que passou sucessivamente, de um modelo de certezas para um modelo de promessas e finalmente para um terceiro marcado pela incerteza.

(CANÁRIO, 2006, p. 13).

Esse panorama em torno dos rumos da educação nos últimos anos desencadeia uma reflexão a propósito de algumas questões, inclusive sobre a formação docente, tendo em vista que se discute o papel da escola e dos professores. E nesse último caso, em meio ao agravamento da crise educacional, desencadeia-se também a crise da profissão, a qual precisa ser reinventada. Canário aponta um caminho para repensarmos na recriação do ofício de professor, sobretudo de forma positiva:

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A recriação do ofício de uma identidade profissional positiva, passa pela construção de uma autonomia profissional, que supere a atual situação de exercício profissional tutelada, reorganizando o perfil profissional do professor em torno de algumas dimensões essenciais: como analista simbólico [...];

como artesão [...]; como profissional da relação [...] e ainda como construtor de sentido.

(CANÁRIO, 2006, p. 22, grifo da autora).

Nesse sentido, se as discussões apontam para a necessi- dade de transformações profundas e necessárias na educação e no papel a ser assumido por seus atores, é de fundamental importância que os rumos da formação de professores possam ser revistos, especialmente no que se referem às características dessa formação.

Sendo assim, é necessário e, ao mesmo tempo urgente, que o tema continue a assumir lugar de destaque nas produ- ções. Gatti (2012, p. 426), em estudo realizado sobre publica- ções referentes ao tema formação de professores pela Revista Brasileira de Educação (Rbed), compreendendo o período de 1998 a 2011, aponta que, de fato, a partir dos anos de 2000 há um considerável número de trabalhos sobre este tema. Esses trabalhos relacionam-se, sobretudo, à questão da qualidade da educação. Ou seja, discutir qualidade implica, necessariamente, refletir sobre a importância que tem a formação docente para o alcance da mesma.

Portanto, retomar o movimento que ocorre em torno da formação docente possibilita-nos perceber o movimento acerca do tema e, com isso, compreendermos as concepções que têm norteado as políticas voltadas para este fim e, ao mesmo tempo, as necessárias transformações que precisam ocorrer em relação ao processo de formação dos educadores.

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