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Elementos da participação no espaço escolar

O direcionamento da participação, tendo a escola como um dos espaços mais propícios para este processo, caracteriza uma prática que não foi concedida espontaneamente pelos governantes, nem pelos gestores escolares. Ela é fruto de um contexto de lutas e de busca por uma nova forma de se pensar a escola e da tomada de decisões a partir dos anseios da comu- nidade, portanto, consiste em uma conquista10 cujo principal

objetivo é a democratização da gestão escolar.

Entretanto, possui fundamento legal para sua efetivação especialmente na LDB nº 9.394/96, nos artigos 12 a 15, que destacam: a elaboração e execução da proposta pedagógica, a articulação com a escola e com a comunidade, a participação dos professores na elaboração da proposta político-pedagógica da escola, a participação da comunidade escolar e local nos conselhos escolares e a autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira da escola.

Como os aspectos elencados destacam a participação enquanto pré-requisito para o funcionamento da escola, a construção de uma educação de qualidade social exige a contribuição e o envolvimento da comunidade, portanto, um trabalho coletivo. Neste, todos os membros da comunidade escolar (gestores, professores, alunos, pais e funcionários) e a comunidade externa são considerados ativos neste processo. Assim, a participação

[...] requer o sentido da construção de algo que pertence a todos e que tem diretamente a ver com a qualidade de vida 10 Para um maior aprofundamento na ideia de participação como

conquista, ver Demo (2001).

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de cada um, seja no sentido da realização pessoal, seja pelos benefícios sociais que dela advém. O compromisso, que gera a participação, requer a repartição coletiva do sucesso, não apenas da responsabilidade.

(BORDIGDON; GRACINDO, 2000, p. 171).

Sendo, deste modo, fundamental na gestão democrática da escola, por implicar no rompimento dos muros existentes entre esta e a comunidade, pensando nas questões de acesso, na permanência com sucesso na apreensão dos conhecimentos e na construção de práticas cidadãs. O que só é possível com a garantia de condições de funcionamento dos principais elemen- tos participativos na escola: a) o Projeto Político-Pedagógico, e b) o Conselho Escolar.

a) O Projeto Político-Pedagógico – enquanto documento de planejamento das ações da escola, mesmo diante das políticas de descentralização que responsabilizam o local pelos resultados alcançados, situa-se como um dos prin- cipais elementos propiciadores da participação popular na definição das metas e estratégias para se melhorar os indicadores educacionais. Representando os desejos da sociedade no que se refere à função da escola na formação do homem, na visão que este possui do mundo e nas possibilidades de modificar a realidade que se apresenta. Tendo em vista o que representa, a elaboração do PPP está condicionada à participação da comunidade escolar e externa em sua construção. Compreendendo a dimensão polí- tica e pedagógica como processos permanentes de reflexão e debate sobre as dificuldades da escola, tal dimensão institui-se enquanto fundamental na consolidação da gestão democrática nas instituições públicas. Considerando a formação do cidadão e a efetivação da intencionalidade educativa, expressa, ainda, o trabalho dos sujeitos envolvidos no ato educativo, assegu- rando o compromisso de todos na organização da escola. Desta forma, os projetos são resultantes de práticas de participação,

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do trabalho coletivo, correspondem à natureza pedagógica e podem propiciar a consecução dos objetivos traçados para o bom funcionamento da escola (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOCHI, 2005).

b) O Conselho Escolar – deve ser considerado como instru- mento para construção de relações democráticas e, ainda, um espaço para o exercício da cidadania participativa. Desta forma, os mesmos não podem ficar restritos a processos decisórios formais, como a aplicação e análise das prestações de contas dos recursos repassados às unidades executoras, mas, com a participação de todos os segmentos da escola e da comunidade externa em sua gestão. Ou seja, sobre a organização do trabalho pedagógico, a escolha dos gestores e a condução das ações de uma forma geral, favorecem a aproximação dos centros de decisões políticas aos atores sociais da escola, delegando responsabilidades e o envolvimento da comunidade, gerando, dessa forma, a descentralização (VEIGA, 2007). Essa compreensão pode efetivar o que se pensa sobre o Conselho Escolar enquanto,

[...] – um colegiado formado por pais, alunos, professores, diretor, pessoal administrativo e operacional, bem como

outros membros da comunidade, para gerir coletivamente

a escola – pode ser este espaço de construção do projeto de escola voltado aos interesses da comunidade que dela se serve. Através dele, a população poderá controlar a qualidade de um serviço prestado pelo Estado, definindo e acompanhando a educação que lhe é oferecida.

(GADOTTI; ROMÃO, 1993, p. 66, grifos nossos).

A participação dos segmentos dentro dos Conselhos Escolares, portanto, coloca-se como de fundamental importância para a cidadania, contudo, a efetivação desse processo depende de uma reflexão coletiva sobre as funções que os Conselhos possuem; dos limites para o seu funcionamento, incluindo a participação de todos os segmentos existentes na escola e de membros da comunidade externa; e das possibilidades que

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podem trazer para uma mudança nos processos decisórios existentes nas escolas, em muitas situações ainda centradas nas pessoas que exercem a gestão.

Considerações finais

Uma aproximação com a forma que se constitui o ambiente político-administrativo do Estado brasileiro nos faz perceber que a perspectiva federativa, baseada na ideia de cooperação entre os entes federados, com o objetivo de consolidar um pacto de desenvolvimento social e econômico, tem no dilema centraliza- ção vs. descentralização o fio condutor de sua estruturação no território nacional. Nesta, a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, enquanto esferas do poder público propiciam ações correlacionadas cujo objetivo é promover a melhoria das condições de vida e de oferta dos serviços destinados à população, com destaque para os de saúde e de educação.

Em relação ao aspecto educacional, ponto central deste trabalho, é com a Constituição Federal de 1988, de cunho des- centralizador, que o mesmo se torna obrigatoriedade dos entes federados, com o objetivo de promover o acesso e garantir a permanência dos alunos na escola. Contudo, cabe ao município a maior responsabilidade com o atendimento desse objetivo, devendo promover uma maior participação da comunidade escolar e local na implementação de ações com a finalidade de construir um projeto de escola voltado para a sociedade.

Na perspectiva da construção deste novo projeto de escola, a partir das exigências de participação da comunidade escolar e externa, torna-se ponto importante a criação de estratégias, por parte dos órgãos gestores locais e da equipe gestora da escola, que viabilizem a materialização da dimensão partici- pativa, seja em espaços de decisões das políticas municipais ou das instituições de ensino da rede pública, tendo como principal direcionamento a melhoria da qualidade social da educação pública.

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A escola, portanto, torna-se um campo de debates sobre suas condições de funcionamento e sobre os anseios da comu- nidade para com os serviços oferecidos, sendo necessária a presença da comunidade na construção do Projeto Político- Pedagógico, enquanto documento estratégico que indica os caminhos da escola e de forma representativa no Conselho Escolar, enquanto instância que está acima da função dos gestores na organização e definição das estratégias de gestão da escola.

Porém, essas mudanças, mesmo respaldadas nas legisla- ções educacionais, têm gerado certo desconforto às instituições de ensino, historicamente centralizadoras, nas tomadas de decisões, ao trazer a comunidade para o centro do debate, para colaborar nas definições e implementação das ações da escola. Entretanto, consideramos que esta participação tem gerado uma ressignificação no papel da escola e melhoria, mesmo que limitada, naquilo que executa. Desta forma, é cada vez mais importante a participação de todos nas deliberações sobre os caminhos da educação pública, gratuita, obrigatória e universal, portanto, de todos para todos.

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