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Este texto discutiu a relação entre a educação, o Estado Capitalista e a sociedade, no contexto neoliberal. Partimos da seguinte questão: como se configura, a gestão de políticas e programas na educação brasileira, no contexto neoliberal? A análise nos demonstrou que a educação e a sua gestão agre- gam movimentos conflituosos, com potenciais de bloqueios e mudanças, por sofrer interferências da sociedade pautada na divisão de classes e na exploração de uma sobre as outras. Considerando-se esses aspectos, o trabalho discutiu a relação entre educação,estado e sociedade, especificando fundamentos que orientam essa relação no Estado Capitalista, no contexto neoliberal, assim como, demandas decorrentes que interferem na gestão da educação.

O ensaio nos fez perceber que o Estado é uma formação social concreta que sofre e exerce influências do espaço-tempo no qual se insere, e que a sua posição frente às contradições sociais e às suas próprias contradições, enquanto definidor de políticas públicas, é a de procurar administrar as contradições, suprimindo-as num plano formal, mantendo-as sob controle no plano real e colocando-se como elemento neutro, por não se definir como integrante, de uma classe ou de outra, mesmo sabendo-se que as suas intervenções submetem-se mais aos interesses gerais do capital.

Fez-nos perceber ainda, que a reestruturação produtiva do capital e o avanço técnico-científico, por meio de globa- lizações, conseguiram impor para o mundo a lógica de uma cultura economicista, hegemônica, racista, de socialização de problemas e misérias, e de concentração de riquezas por uma minoria, cada vez mais rica e privilegiada. Este fenômeno pode ser observado no início dos anos 1970, com uma crise que se

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instalou no espaço internacional e que trouxe sérias implicações para o mundo em termos de organização e redirecionamento de serviços públicos. O que isso significou? Em termos de orga- nização social, significou ter, como cenário, a própria crise que perpassava o modo de regulação das sociedades. As formas e as funções assumidas pelo Estado, a partir da década de 1970, foram postas em dúvida em função das crises enfrentadas, pelo modo de acumulação capitalista e dos rumos tomados para enfrentar a crise.

A partir de 1980, a intervenção do Estado e os destinos da democracia passaram a ser tratados, no Brasil, em outra direção e a partir de um conflito, ou seja, por um lado, a exigência da ampliação dos direitos sociais básicos e por outro, a lógica do capitalismo central que exigia o contrário. A saída encontrada foi aumentar a produtividade via competitividade e individualismo, o que significou fazer mais com menos ou estabelecer relações assimétricas, comprometendo a horizontalização nas relações de posse de direitos. Uma questão pertinente nesta direção é: como aumentar o acesso, diminuindo os recursos? Eis que surge e materializa-se o discurso do gerencialismo, modelo de gestão em que é preciso administrar melhor o recurso existente, individualizar e identificar responsabilidades. A assimetria dos discursos pretendia e pretende manter a sociedade desigual, sem garantias sociais, cujo vetor principal é a competição e individualismo exacerbados.

As orientações neoliberais para a gestão das políticas educacionais, no Brasil, têm como fundamento essa linguagem assimétrica e excludente. Por sua vez, trouxeram mudanças e questões para o debate, como por exemplo, as formas que deveriam assumir as políticas públicas de cunho social, como a educação. Sendo assim, a filosofia neoliberal – que encon- tra no campo da cultura e da ideologia o êxito de convencer que não existem alternativas para a organização de políticas sociais – trouxe para a centralidade a educação, surgindo daí

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a necessidade das reformas em todos os níveis e modalidades, principalmente em países em que são aumentados os finan- ciamentos no setor educacional com o intuito de atender às exigências dos patrocinadores das políticas, ou seja, o aumento da produção com menos recursos e sem garantias sociais, por meio da lógica do gerencialismo.

Essas exigências podem ser encontradas no conjunto das reformas implementadas na década de 1990, em todos os níveis e modalidades da educação, e por extensão, nas práticas desen- volvidas nas diferentes instituições educativas. Exemplifica a afirmação, os inúmeros programas e projetos vinculados à formação, à gestão do ensino, e ao modelo de avaliação adotado para regular e imprimir uma produtividade, que no contexto neoliberal é incompatível com as condições oferecidas. Como consequência dessa lógica configuracional, está a insatisfação dos trabalhadores da educação e um rendimento escolar e educacional que em pouco tem contribuído para a superação da dívida social, neste setor, em termos de inclusão com qualidade social.

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