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Anos de docência fundamental, anos de docência mediana

3 FORMAÇÃO DOCENTE: UM FATO MEMORIALÍSTICO

3.3 Form(ação) escolar e docente

3.3.3 Anos de docência fundamental, anos de docência mediana

Finda a graduação, em 2002, era hora abraçar a docência. Meu primeiro contrato de trabalho durou de 21 a 30 de junho de 2004: fui designada para substituir a titular da disciplina Biologia no ensino médio de uma escola estadual de Cachoeira Dourada, MG, cidade próxima a Capinópolis onde morei até 2004. Em 2005, tive duas oportunidades de exercer a docência: fui designada (por causa da prioridade como aprovada para a função em concurso público de MG) para lecionar Ciências a alunos do ensino fundamental na Escola

Estadual João Pinheiro, em Ituiutaba; depois surgiu uma oportunidade em escola particular, para lecionar Biologia a um grupo de adolescentes. Mesmo contratada para substituir o professor titular da disciplina faltando apenas um mês para o fim do ano letivo, desenvolvi todo o conteúdo programado de forma significativa, então fui convidada a continuar ali no ano seguinte. Em 2006, um dilema: ou continuava a lecionar Biologia ou Ciências na mesma escola particular, ou assumia a designação na rede estadual de ensino, até ser empossada. Optei pela segunda, pois esperava ser efetivada.

Lecionar Ciências para crianças e pré-adolescentes da Escola Estadual João Pinheiro por dois anos foi importante para meu crescimento profissional. Como minha experiência inicial foi uma substiutição rápida mas satisfatória, comecei nessa escola com muita expectativa: era a oportunidade de realizar meu sonho. As primeiras aulas foram tranquilas: apliquei dinâmica para conhecer os alunos e eles me conhecerem. Estabeleci, com eles, alguns acordos a serem cumpridos diariamente em sala de aula tendo em vista os objetivos no ano. Antes de começar o conteúdo da 6ª série, propus-lhes discutir para revisar assuntos estudados na 5ª série; o resultado seria o ponto de partida para cumprir o conteúdo programático da 6ª série. A discussão começou com questionamentos simples: qualidade e importância da água, sistema solar e outros. As respostas variaram: desde localização do aquífero Guarani até água como recurso inesgotável; de Plutão não ser mais um planeta do sistema solar até a Lua ser um planeta. As respostas variadas revelaram a heterogeneidade de conhecimentos dos alunos; e, graças à minha inexperiência, achei que conseguiria homogeneizar a aprendizagem. Daí veio a sensação de fracasso. O primeiro semestre foi frustrante: não consegui diminuir a defasagem de conhecimentos dos alunos; o rendimento deles era baixo. Para agravar mais a sensação de falta de base para atuar no ensino regular, as notas dos alunos da 6ª série em Ciências chamaram atenção nos gráficos da supervisora da escola: estavam abaixo da média. Então vieram cobranças da direção, pois o resultado das notas é importante: implica no quantitativo discente da escola, e perder alunos implicaria em redução de turmas, ou seja, em desemprego.

Empenhada em meu crescimento profissional, senti que precisava melhorar minha atuação; consciente de que, como novata, enfrentaria outros desafios, procurei alguns professores e professoras veteranos e propus uma reunião para compartilharmos práticas e estratégias. Expliquei minha situação de iniciante e pedi sugestões para melhorar minha atuação. O professor de Geografia, tido como o mais experiente, sugeriu-me que sempre avaliasse os alunos (pensei em avaliação diária, contínua): avaliá-los por bom comportamento (ficar quietos e sentados em filas), ter caderno completo (cópia do livro didático), participar da aula (ouvir o professor ou a professora em silêncio). Essa reunião me revelou como alguns

professores concebiam o ensino, a educação e como conduziam suas práticas. Ali me desmotivei, sobretudo por medo de não fazer um trabalho decente com os discentes, pois, entre nós docentes, parecia não haver objetivos comuns. Percebi que seria necessário apoio no ambiente escolar. Então procurei a Fundação Educacional de Ituiutaba e propus uma parceria com a escola. Por intermédio das coordenadoras do curso de Biologia e de Estágio Supervisionado, a fundação forneceu material didático e estagiários para auxiliar em aulas prático-experimentais. No segundo semestre, em parceria com os estagiários, apliquei uma metodologia que considerava a realidade, a faixa etária e o interesse dos alunos; consegui abordar os conteúdos de modo que pudessem entendê-los e assimilá-los.

Após essa experiência, continuei na escola, com turmas de 5ª e 8ª séries; e os resultados foram mais satisfatórios. Ministrei os Conteúdos Básicos Comuns (CBC) de 5ª e 8ª séries do ensino fundamental, selecionados em nível estadual pela Secretaria de Estado de Educação, com estratégias pedagógicas que relacionavam conteúdos científicos estudados com o cotidiano dos alunos. As atividades prático-experimentais realizadas com ajuda de estagiários foram significativas para a aprendizagem discente. Segundo relato verbal de alunos que as desenvolveram, tiveram uma opinião favorável a essa estratégia. A interação entre conteúdo estudado e o cotidiano deles lhes deu mais confiança para construir o conhecimento e mais capacidade de analisar problemas. Ainda disseram que o ensino de Ciências ficou mais motivador e lhes proporcionou visões inovadoras do conteúdo estudado. As capacidades desenvolvidas contribuíram, também, para prepará-los para a vida social, para uma cidadania crítica e responsável. Numa palavra, a formação num contexto prático e numa perspectiva de interação da ciência com a tecnologia, a sociedade e o ambiente é fundamental hoje, dado o impacto da ciência e tecnologia na sociedade atual.

Esse trabalho contribuiu intensa e significativamente para que eu refletisse sobre minha formação e atuação docente, no ensino básico e no superior, e concluísse que o docente tem um papel de responsabilidade porque medeia saberes e a formação para a vida social e profissional; porque é um sujeito ativo na história. Ele vive esse papel repleto de complexidades da vida humana, dele e dos alunos; e saber lidar com esse contexto requer reflexão e (re)criação constante em seu cotidiano.

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