• Nenhum resultado encontrado

Capítulo I – Informalidade e empreendedorismo: abordagens teóricas e contextos

1.2. Trabalho formal no Brasil e a cidadania regulada: a dualidade do mercado de

1.2.1. Anos 2000: neodesenvolvimentismo, ampliação do emprego formal e

Os anos 2000 inauguram um processo de mudanças com a chegada de Luis Inácio Lula da Silva à presidência da república e isso tem implicações relevantes sobre o trabalho. Nas palavras de BALTAR et al (2010):

É muito importante ressaltar que, mesmo numa conjuntura mundial especialmente favorável, o crescimento da economia brasileira nesse período relativamente curto não chegou a ser extraordinário, e seus impactos positivos sobre o mercado de trabalho podem ser vistos como o início de um processo, mais amplo e demorado, requerido para (i) reverter as modificações negativas sobre o mercado de trabalho e a estrutura de rendimentos resultantes das políticas econômicas e trabalhistas neoliberais, implementadas desde o início da década de 1990, e da consequente reestruturação produtiva, baixo dinamismo econômico e precarização do mercado e das relações de trabalho; (ii) reduzir os efeitos perversos provocados por 25 anos de estagnação do PIB per capita sobre o mercado de trabalho de um país subdesenvolvido; (iii) amenizar os problemas resultantes de uma estrutura ocupacional histórica e estruturalmente marcada pela informalidade, precariedade e baixos salários (BALTAR et al, 2010, p.18).

Segundo Carneiro (2016), neste contexto, a desvalorização do Real elevou a dívida pública em relação ao PIB e trouxe consigo a inflação. O aumento do preço do Dólar aumentou os custos da produção, e a privatização dos serviços de utilidade pública leva à indexação dos preços desses serviços ao Índice Geral de Preços.

De 1999 a 2003, a política macroeconômica adotada conseguiu, quando muito, conter o aumento da inflação, provocando um modesto crescimento do PIB, alcançado, principalmente, pelos impactos positivos do comércio com outros países. A moeda permaneceu desvalorizada ao longo desses cinco anos e o desempenho da economia mundial piorou em 2001, mas foi possível compensar o fraco desempenho do mercado doméstico com um aumento das exportações e da redução das importações, de tal modo que houve a reversão do saldo comercial deficitário da década de 90, logrando-se um expressivo superávit no ano 2002. Em todo caso, desde 2003, a situação da economia mundial melhorou para os países emergentes e, então, a continuidade das linhas básicas da política macroeconômica, implementadas desde 1999, levou a uma inflação menor e a um crescimento mais intenso do PIB, desde 2004 até a crise internacional em setembro de 2008 (BALTAR et al, 2010).

O Brasil, a partir de 2003, passa por um novo momento político, econômico e social: o neodesenvolvimentismo19. Para alguns autores, este seria um ponto chave que

marcaria o abandono das diretrizes neoliberais, que nortearam o Estado brasileiro durante a década de 1990 - destacadamente com o presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB - para outros este se configuraria como um modelo híbrido que combinou o modelo Nacional-desenvolvimentista20 com o Neoliberal.

Concordamos com Paccola e Alves (2019, p 269) quando afirmam que

Sem romper com os alicerces fundamentais do modelo neoliberal, durante os mais de 13 anos em que esteve no governo, o PT passou gradativamente a aglutinar as disputas entre duas correntes, o neoliberalismo, que permaneceu como projeto hegemônico na política brasileira, mas que passou a conviver com uma política menos rígida aos seus fundamentos, sintetizada no que convencionou chamar corrente neodesenvolvimentista21.

Singer (2012) afirma que os governos neodesenvolvimentistas optaram por uma espécie de desvio ou afrouxamento da hegemonia neoliberal implementada a partir dos anos 1990. Este desvio fez com que o neoliberalismo convivesse, em sentido contraposto, com políticas como o aumento real do salário mínimo e políticas de assistência social de impacto econômico.

Segundo Diniz (2011), a ascensão de governos de esquerda e de centro-esquerda em países como Brasil, Argentina, Venezuela, Bolívia, Uruguai e Chile, não foi fruto do acaso, senão o reflexo da frustração generalizada diante dos fracos resultados da execução da agenda neoliberal.

Para Boito Junior (2013) a chamada frente neodesenvolvimentista seria o modelo de desenvolvimento possível nos marcos de um país capitalista periférico, como o Brasil. Destaca que o neodesenvolvimentismo passou a acentuar a sua diferenciação

19 A estratégia neodesenvolvimentista adotada no Brasil é sustentada pela combinação de financeirização, crescimento econômico e políticas sociais compensatórias (MOTA, 2013). O termo faz referência ao paradigma desenvolvimentista que correspondeu ao período entre 1930 a 1980 no Brasil. Porém deste se difere por no contexto contemporâneo estar inserido na lógica do capitalismo neoliberal (BOITO JUNIOR; BERRINGER, 2013)

20 Programa que influenciou a economia dos países subdesenvolvidos no período de 1940 até a década de 1970 do século passado, sob as diretrizes da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL) (MOTA, 2013, p. 5).

21 Essa ascensão do neodesenvolvimentismo mostra que a política de Estado sob os governos petistas tem direção clara e visa ao desenvolvimento social sem, no entanto, romper com alguns pilares do modelo neoliberal – citemos a rolagem da dívida pública, que inibe a capacidade de investimento do Estado, e a abertura comercial, que mina a indústria interna (BOITO JR, 2013, p. 174).

frente ao modelo neoliberal apenas a partir de 2005, haja vista que, até então, o governo Lula havia dado continuidade à política econômica balizada pela prioridade ao superávit primário, juros altos e câmbio valorizado. Pós-2005 houve uma mudança nas frações de

classe22 do bloco no poder23(Poulantzas, 1977), que anteriormente era ocupado apenas

por frações de classe hegemônica do grande capital, sobretudo o financeiro. A fração que forma a frente neodesenvolvimentista, seria formada pela burguesia interna24, movimentos sindicais e populares.

De acordo com Boito JR; Berringer (2013), o neodesenvolvimentismo se configura como

o programa político dessa frente25 – a política de desenvolvimento possível nos marcos do capitalismo neoliberal. Os governos Lula e Dilma não romperam com esse modelo de capitalismo, mas introduziram, em decorrência das classes sociais que representam e nas quais se apoiam, mudanças importantes na economia, na política e na atuação internacional do Estado brasileiro (BOITO JR; BERRINGER, 2013, p. 31)

Para Paccola e Alves (2019) o conceito de bloco no poder não pressupõe um equilíbrio de forças entre as frações de classes, mas estabelece a existência de um conjunto de frações dentro da classe dominante, dentre as quais uma deve ocupar a posição hegemônica. Há entre elas o compartilhar de interesse comum de preservação do modo de produção capitalista, sustentado na exploração econômica e na dominação política por parte da burguesia.

Afirmam assim que o modelo neoliberal permaneceu na posição hegemônica na sociedade brasileira durante tal período, pois, apesar da intensificação das políticas neodesenvolvimentistas, a fração de classe que detém a hegemonia na

22 A espinha dorsal do novo bloco de poder no Brasil constituído na década neoliberal é formada pelo capital financeiro que possui vínculos orgânicos, com o agronegócio, empreiteiras, grandes corporações industriais, grandes empresas de distribuição e serviços de telecomunicações, inclusive fundos de pensões sob gestão estatal. Deste modo, o bloco de poder neoliberal constitui uma “oligarquia financeira” que encontra no aparato do Estado neoliberal, um veículo privilegiado de articulação sistêmica (ALVES, 2013).

23 O conceito de bloco no poder abrange a unidade contraditória da burguesia e o papel que o Estado assume na organização da dominação de classe da burguesia ao passo que promove a hegemonia de uma de suas frações.

24 Trata-se de uma nova burguesia nacional que se encontra entre a antiga burguesia nacional e a burguesia compradora. Assemelha-se em grande medida ao conceito de burguesia interna elaborado por Poulantzas (1977).

25 Esta frente política, embora tenha vínculos orgânicos com camadas, frações e categoriais sociais do bloco de poder neoliberal (a exemplo da burguesia produtiva interna), apresenta diferenças evidentes da frente política do neoliberalismo, das décadas de 1990, vinculada organicamente com a burguesia parasitária-especulativa (ALVES, 2013)

política brasileira continuaria sendo a burguesia financeira. Contudo, isso não significa que as classes “subalternas” estiveram totalmente excluídas do direcionamento político do Estado e muito menos, que durante os governos Lula e Dilma não tenha havido avanços, do ponto de vista dos direitos da classe trabalhadora, mediante reivindicações e resistências.

A partir do segundo mandato do Presidente Lula (2006), o governo adota algumas medidas em relação ao crescimento econômico, apesar da continuidade da política macroeconômica assentada nas metas de inflação, no superávit primário e na política de câmbio flutuante. O lançamento do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), a capitalização do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pelo Tesouro Nacional e a intensificação de sua atuação na articulação da formação de grupos empresariais nacionais e no apoio ao investimento das empresas estatais, refletem isso.

A nova postura do governo também fora refletida no enfrentamento a crise internacional de 2008, nas palavras de Baltar et al (2010)

o Banco Central diminuiu a taxa básica de juros brasileira (Selic); relaxou o depósito compulsório dos bancos; usou as reservas internacionais para garantir o financiamento das exportações; reduziu temporariamente o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos bens duráveis de consumo (automóveis, eletrodomésticos, materiais de construção, móveis e outros produtos); lançou um programa de construção de habitações populares (Minha Casa, Minha Vida); reduziu o Imposto de Renda da classe média; usou os bancos públicos para garantir o atendimento da demanda de crédito e incorporar instituições financeiras fragilizadas pela crise; garantiu crédito dos bancos ao segmento constituído pelas micro e pequenas empresas (BALTAR et al, 2010, p. 08).

Leone e Baltar (2008) afirmam que apesar da retomada do crescimento da economia, o desemprego alcançava consideráveis 7,1% em 2008. Além disso, do total da população economicamente ativa, 31,2% ainda estavam ocupados como trabalhadores por conta-própria, empregadores, trabalhadores não-remunerados, trabalhadores na produção agrícola para o consumo próprio e na construção da casa própria. Assim, o emprego assalariado não abrangia mais do que 61,7% da população economicamente ativa, sendo que, desse contingente, 33,7% eram empregados sem registro e 10,9% eram empregados no trabalho doméstico remunerado.

As mulheres neste contexto mantêm o quadro histórico de maior taxa de desemprego e o maior número de ocupações em trabalhos precários, com emprego assalariado não formalizado; trabalho não remunerado; emprego doméstico remunerado e produção agrícola de subsistência. A tabela abaixo demonstra como se encontrava este quadro em 2008:

Tabela 1 - Absorção da PEA por idade e sexo. Brasil, 2008.

Ocupação 15 a 24 25 a 54 55 e mais 15 e mais

Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher

Desemprego 11.9 20.5 3.5 7.4 1.9 2.4 5.2 9.6 Emprego Formal 37.0 32.6 47.8 38.7 21.5 18.1 42.1 35.2 Emprego sem CTPS 30.9 20.8 15.6 10.8 13.0 6.1 18.7 12.4 Doméstico com CTPS 0.1 1.2 0.4 4.6 0.3 2.9 0.3 3.7 Doméstico sem CTPS 0.4 9.6 0.4 11.0 0.9 9.6 0.4 10.6 Empregador 0.9 0.4 6.3 3.1 9.2 3.9 5.4 2.7 Conta própria 8.3 6.3 23.6 14.9 42.0 27.4 22.5 14.4 Não remunerado 8.1 5.7 1.0 5.2 1.3 9.0 2.6 5.7 Autoconsumo 2.2 2.9 1.3 4.3 9.5 20.5 2.6 5.7 Autoconstrução 0.2 0.0 0.1 0.0 0.4 0.1 0.2 0.0 PEA 100.00 100.00 100.00 100.00 100.00 100.00 100.00 100.00 Fonte: PNAD/IBGE, 2008

A tabela aponta que as mulheres estavam, em todas as faixas etárias, entre o maior número de desempregados, de empregados domésticos sem carteira assinada e no autoconsumo. São elas também que em maior número estavam no trabalho não remunerado, em detrimento dos homens que figuravam em maior quantidade no emprego forma, com garantias trabalhistas e previdenciárias.

Durantes os governos petistas foram barradas importantes reformas. Destacamos a retirada em 2003, do Projeto de Lei nº 134/2001 do Senado Federal que permitiria a prevalência “do negociado sobre o legislado”, o que aprofundaria as relações desiguais entre capital e trabalho. Assim como, a publicação da Portaria nº 143/2004 que revogou a Portaria nº 865/1995, que impedia a fiscalização das cláusulas constantes em contratos coletivos de trabalho, o que possibilitou maior fiscalização por parte do então Ministério do Trabalho e Emprego e maior democratização das relações de trabalho.

Em 2011, foi sancionada a Lei nº 12.506/2011, que ampliou o período do aviso prévio, em três dias para cada ano trabalhado. Dilma também sancionou a Lei 12.506/2011, que equalizava direitos para os trabalhadores que atuavam dentro e fora

das empresas, garantindo-lhes o pagamento de hora extra e adicional noturno. Instituiu ainda, a Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas, com a Lei 12.440/2011, com o objetivo de reduzir pendências trabalhistas, sendo assim indispensável o cumprimento da legislação trabalhista por parte das empresas, para concorrer a licitações públicas.

Ainda durante o governo Dilma, foi editada a Emenda Constitucional - EC nº 81/2014, que visava inibir o trabalho escravo no Brasil, prevendo expropriações de propriedades com exploração de trabalho escravo e a destinação de destes a reforma agrária. A implementação da Lei 13.257/2015 que atua na perspectiva das relações de gênero que amplia de cinco para vinte dias a licença-paternidade e a possibilidade de ausência dos pais do trabalho por até dois dias durantes a gestação, para acompanhamento em consultas e exames. E, ainda nesta perspectiva de gênero editou a EC nº 72/2013, que se tornou LC nº 150/2015 posteriormente, que ficou conhecida nacionalmente como a PEC das domésticas.

Do primeiro governo Lula até o término do segundo mandato, o Brasil passou por uma acentuada elevação do emprego com carteira assinada26, porém também presenciou uma tentativa fracassada de pactuação das reformas sindical e trabalhista27.

Até o ano de 2009, afirma Gonzalez et al (2009), o crescimento acumulado do PIB nos seis anos desse período (27,4%), trouxe consequências positivas para o mercado de trabalho, onde fora apresentado o aumento da ocupação de 2,8% a. a., reduzindo o número de pessoas desocupadas em aproximadamente 100 mil trabalhadores.

Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e do o Cadastro Geral de Emprego (CAGED), os quais evidenciam os números de empregos formais de 1995 até maio de 2014, existe uma diferença significativa entre os governos neodenvolvimentistas e de seu antecessor. Os governos do Partido dos Trabalhadores (PT) criaram cerca de 20 milhões e 435 mil empregos formais, em onze anos e cinco meses, perfazendo uma média anual de 1 milhão 789 mil empregos, aproximadamente três vezes mais que o governo do presidente FHC, com 5 milhões 17 mil vagas em oito

26 NUNES PEREIRA, Juliana. O neodesenvolvimentismo e a precarização do trabalho no Brasil, 2016. 27 O primeiro governo Lula instituiu o Fórum Nacional do Trabalho, no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, com o objetivo de discutir a Reforma Trabalhista. Neste Fórum, foram separadas as Reformas sindicais e trabalhistas, e apenas a primeira teve prioridade, culminando com uma Proposta de Emenda Constitucional e um Projeto de Lei sobre o modelo de organização sindical, negociação coletiva e formas de solução dos conflitos (GONZALEZ, 2009).

anos, com uma média anual de 627 mil empregos formais, por ano, dados apresentados na Tabela 2 abaixo:

Tabela 2 - Geração de empregos formais – RAIS – 1995 a 2014

Ano Nº empregos 1995 88.495 1996 74.576 1997 274.116 1998 387.207 1999 501.630 2000 1.235.364 2001 960.985 2002 1.494.299 Total anos FHC 5.016.672 Média anual FHC 627.084 2003 861.014 2004 1.862.649 2005 1.831.041 2006 1.916.632 2007 2.452.181 2008 1.834.136 2009 1.765.980 2010 2.860.809

Total anos Lula 15.384.442

Média anual 2.860.817 2011 2.242.276 2012 1.148.082 2013* 1.117.171 2014** 543.231 Total anos Dilma até 2014 6.763.495 Média anual 1.690.873 Total anos Lula/Dilma até 2014 20.435.202 Média anual Lula/Dilma 1.789.422 Fonte: CAGED, 2014

Apesar de expressivos aumentos quantitativos em empregos formais, autores de posicionamento mais críticos apontam que houve, em igual proporção, medidas que ampliaram a flexibilização e a precarização do trabalho nos governos neodesenvolvimentistas.

Quadro 1 – Alterações Regulamentação do trabalho (Governo Lula)

Normativo Síntese

Lei n° 11.196/2005 Permissão para contratação de

trabalho por meio de pessoa jurídica unipessoal, prestadora de serviços intelectuais, sem configuração de vínculo de emprego entre a prestadora e a tomadora

dos serviços.

Lei n° 11.603/2007 Autorização para o trabalho aos

domingos e feriados no comércio em geral, mediante convenção coletiva/acordo coletivo existente e com as normas do governo municipal.

Lei n° 11.718/2008. Acrescenta artigo à Lei no 5.889, de 8 de

junho de 1973, Permissão para contratação de trabalhador rural por prazo reduzido, sem anotação da carteira de trabalho.

Importante destacar que mesmo em períodos de aumento dos postos de trabalho formal, os contratos atípicos nunca foram reduzidos, havendo a permanência da flexibilidade já existente na regulação das relações de trabalho, com o objetivo de reduzir os custos do trabalho, com destaque para a contratação sem registro em carteira de trabalho e uso da terceirização, que facilita a dispensa arbitrária por parte do empregador, segmenta e esfacela a capacidade organizativa dos trabalhadores (KREIN, 2007).

Considerando apenas no ano de 2013, a movimentação dos contratos de trabalho que decorre de uma grande flexibilidade contratual, constatamos que a mesma foi intensa, com um número relevante de admissões e desligamentos, havendo 29,1 milhões de admissões durante o ano, mas 12 milhões desse total foram desligados durante o mesmo ano, o que implica que as contratações com carteira assinada, teriam impacto inferior, se considerarmos a rotatividade nestes postos de trabalho (DIEESE, 2015).

Segundo o DIEESE, o Brasil neste contexto é fortemente marcado pelo emprego de curta duração, que reflete outro indicador da flexibilidade contratual de trabalho. Entre os anos de 2002 e 2013, aproximadamente 45% dos desligamentos aconteceram com menos de seis meses de vigência do contrato de trabalho.

Se por um lado houve crescimento da economia, o fortalecimento do mercado interno, do emprego, dos níveis de consumo dos mais pobres, em contrapartida foram implementadas políticas no sentido inverso, principalmente no que tange aos direitos trabalhistas. Assim, os governos Lula se caracterizaram de forma ambígua, conforme afirma Gonzalez et al (2009, p. 133):

O balanço do governo Lula é, portanto, ambíguo. O crescimento econômico, acompanhado da geração de postos de trabalho e formalização dos empregos, sem dúvida contribuiu para diminuir a pressão do movimento de flexibilização do trabalho. Ao mesmo tempo, o governo não conseguiu produzir uma reformulação abrangente da estrutura sindical, e praticamente retirou este assunto da sua agenda. As medidas pontuais revelam uma oscilação entre flexibilização e medidas de reforço à regulação pública; porém, com exceção da política de valorização do salário mínimo, não há nenhuma medida de maior impacto.

No concernente ao trabalho informal, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) em 2013 existiam cerca de 14.053 milhões de trabalhadores sem carteira assinada. Cumpre destacar que a precarização, apesar de atingir um grande contingente da classe trabalhadora, ela tem intensidade maior em um dos sexos28. Isso por existir legitimidade social para o emprego das mulheres que perpassa pela necessidade de conciliação entre a vida familiar e a profissional, bem como o entendimento social de que o trabalho e o salário feminino são apenas complementares, com referência as necessidades de subsistência familiar (NOGUEIRA, 2011).

Diante do contexto foram instituídas políticas públicas do Governo Federal voltadas para reduzir a informalidade e combater sonegação. Mediante a complexidade da informalidade foram adotadas políticas diversas, voltadas para reinserir no mercado

28 A progressiva incorporação do olhar de gênero nos estudos sobre trabalho e desenvolvimento é desdobramento dos esforços feministas para incluir as determinantes de gênero também no campo acadêmico e na produção e interpretação de dados. O conceito e as teorias de gênero permitem a construção de um novo saber que transforma o pensar sobre as mulheres em termos teórico- epistemológicos e abre novas possibilidades históricas para a análise das transformações e da construção de alternativas à ordem vigente. Este saber também possibilita a desconstrução do pressuposto da neutralidade de gênero no saber e no pensar, e introduz a perspectiva das diferenças de gênero em um debate até então dominado pela categoria do “homem universal” (Hayzer, 1994).

de trabalho aqueles trabalhadores que perderam seus empregos em função das mudanças estruturais (destacam-se o Plano Nacional de Qualificação Profissional, Programas de Geração de Emprego e Renda, Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, Programa de Expansão de Emprego e Melhoria da Qualidade de Vida do Trabalhador); aquelas que visam ajustar a legislação trabalhista aos novos padrões de relação entre o capital e o trabalho (Programa de Proteção ao Emprego e o contrato por prazo determinado, entre outros ajustes, visam estimular a transição para um sistema mais flexível); e as que buscam garantir cumprimento da legislação e impor a formalização do vínculo empregatício (com destaque para o Plano Nacional de Combate a Informalidade dos Trabalhadores Empregados e o Plano Nacional dos Trabalhadores Rurais).

Os governos neodesenvolvimentistas também aumentaram o número de micro e pequenas empresas por meio do programa Super Simples, ou Simples Nacional. Com a Lei Complementar nº 123/2006, o Governo Lula implementou um regime tributário diferenciado para micro e pequenas empresas.

Uma das políticas de maior referência neste contexto foi a implementação do

Programa Empreendedor Individual, que visa a formalização29 de empreendimentos

econômicos que se encontravam na informalidade. A implementação do programa se deu através do estabelecimento de metas de formalizações anuais. Os empreendedores formalizados deveriam contar inicialmente com apoio contábil e assessoria para a formalização e orientações.

Contudo, verifica-se a precariedade de ambos os serviços, o que tem evidenciado a permanência destes empreendedores em condições de trabalho ainda precarizadas, além da existência de uma tendência para a efetivação da junção entre o formal e informal, mediante necessidade de enquadramento no valor máximo de faturamento anual – para não alteração de faixa –, e da tentativa de se manter no limite de contratação de apenas um empregado30 (NUNES PEREIRA, 2011).

Contudo, com as transformações ocorridas no Brasil, durante os governos neodesenvolvimentistas, verifica-se uma contradição profunda, no concernente ao crescimento econômico frente à redução das desigualdades sociais. As modificações