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concretizadas.

A reforma da instrução primária de D. António da Costa de 1870-08-16 (publicada no DG 194 de 1870-08-31 e anulada por Carta de lei de 1870-12-27) previa que a frequência de estabelecimentos de instrução primária fosse permitida a crianças desde a idade de 5 anos, ou seja, idade inferior à idade obrigatória de frequência deste grau de ensino, o que poderá denotar alguma preocupação com a educação das crianças antes da sua entrada para a escola primária:

“A instrução primária do 1º grau é obrigatória para todos os portugueses de ambos os sexos, desde a idade de sete a quinze anos. A frequência é permitida desde a idade de cinco anos.” (ARTIGO 29º).

A Reforma de Rodrigues Sampaio de 1878-05-02 (DG 110 de 1878-05-16) foi regulamentada por Decreto de 1881-07-28 (DG 169-174). Esta reforma reorganiza o ensino primário, atribui competências às autarquias na manutenção e funcionamento das escolas primárias e dos asilos de educação, passando aquelas a ser as principais responsáveis pela instrução primária, para além de definir a idade da escolaridade obrigatória desde os 6 anos de idade.

ARTIGO 5º — A instrução primária elementar é obrigatória desde a idade de seis até doze anos para todas as crianças de um e outro sexo…

anos de idade: 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 1872 - 1873 U Rodrigues Sampaio 1878 - 1881 U Rodrigues Sampaio (a partir de Meireles-Coelho, 2003c)

De destacar ainda a necessidade de criar instituições para crianças dos três aos seis anos de asilos de educação que preparem para a escola primária:

ARTIGO 68º — As juntas gerais do distrito e as câmaras municipais promoverão a criação de asilos de educação, como auxiliares da escola primária, para recolherem as crianças de três até seis anos. — § único. O governo proporá anualmente às cortes uma verba destinada a auxiliar estes estabelecimentos. Pelo que se encontra consignado na Lei podemos dizer que estes “asilos de educação” tinham uma função educativa uma vez que se destinavam a auxiliar a escola primária. Se na Lei de 1870-08-16 se preconizava a frequência da escola primária a partir dos 5 anos de idade, nesta Lei surge pela primeira vez

num documento legal a intenção de se criarem "asilos de educação, como auxiliares da escola primária, para recolherem as crianças de três até seis anos" o que, pode ser considerado como um primeiro passo para o aparecimento da função educativa da educação pré-escolar aliada à função de guarda e de cuidados, ou, como diz Ferreira Gomes, "já com intuitos mais pedagógicos que sociais". Se por um lado se verifica a preocupação por parte do governo com a educação das crianças antes do ingresso no ensino primário, por outro, verifica-se a preocupação de instituições locais em abrir asilos para a infância desvalida o que foi paulatinamente acontecendo ao longo do século XIX. A responsabilidade da criação destes asilos era das juntas gerais de distrito e das câmaras municipais devendo o governo disponibilizar anualmente verbas para esse efeito. Esta foi a primeira medida legislativa para integrar a educação de infância no sistema educativo português. Mas, apesar da publicação destes decretos, os resultados práticos foram nulos uma vez que a agitação política da época não permitiu que se efectivassem as medidas legisladas (Cardona, 1997: 27).

Apesar da instabilidade política, verifica-se grande preocupação em desenvolver a instrução popular e em criar instituições para as crianças mais pequenas, ampliando-se cada vez mais o problema da educação infantil, uma preocupação crescente de pedagogos e políticos da época.

anos de idade: 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

1880 - 1886 Bacharel

1888 Ciências U

Luciano de Castro A Letras U

António Augusto Aguiar Emídio Navarro

(a partir de Meireles-Coelho, 2003c)

Pela Reforma de Luciano de Castro em 1880-06-11 (DG 137 de 1880-06-19 que altera a carta de lei de 1878-05-02), surge pela 1ª vez a referência num texto legal a jardins de infância:

ARTIGO 2º — O estabelecimento dos cursos nocturnos e dominicais e dos asilos de educação, a que se referem os arts. 24º e 68º da Lei de 1878-05-02, será ordenado pelo governo nas localidades onde forem de reconhecida necessidade, quando as câmaras e juntas gerais de distrito não satisfaçam ao preceito da mesma lei. (…) — ARTIGO 18º — No orçamento geral do Estado será consignada anualmente uma verba para: (…) subsídios às câmaras municipais (…), e de asilos de educação; (…) auxílio à iniciativa particular e às associações para estabelecimento de jardins de infância (…).

Esta Lei, tal como a de 1870-08-16, atribui competências às câmaras municipais para a manutenção e funcionamento da instrução primária,

passando estas a ser as principais responsáveis pela instrução primária.

Com vista à prossecução dos objectivos decretados na Lei, o governo, por Portaria de 1880-12-09 (DG 282 de 1880-12-10), ordena aos governadores civis dos distritos que auxiliem a iniciativa particular e as associações para estabelecimento de jardins de infância.

Estando determinado no art.18º da lei de 11 de junho último, que no orçamento geral do Estado seja consignado anualmente uma verba que, além de subsídios às câmaras municipais e juntas de paróquia; e outras despesas da instrução primaria, é destinada a auxiliar a iniciativa particular e as associações no estabelecimento de jardins de infância, cursos de adultos, bibliotecas, escolas de desenho e outras instituições que tenham por fim o desenvolvimento da instrução popular, bem como na fundação de museus e exposições escolares, e devendo estas disposições começar a vigorar em conformidade com o art.24.° da mencionada lei no 1.° de julho de 1881: — Ordena Sua Majestade El-Rei que os governadores civis de todos os distritos administrativos do continente e ilhas adjacentes, de acordo com os respectivos comissários dos estudos, não só dêem a necessária publicidade a estas importantes disposições com que o legislador intentou estimular a iniciativa individual e colectiva no intuito de difundir o ensino primário, mas também diligenciem por si e pelos seus delegados organizar associações que se proponham criar alguns dos estabelecimentos indicados, às quais será oportunamente concedido o conveniente subsidio dentro da verba a esse fim aplicada (…)

Se a Portaria de 1880-12-09 (DG 282 de 1880-12-10) ordenava aos governadores civis para que "diligenciem por si e pelos seus delegados organizar associações que se proponham criar alguns dos estabelecimentos indicados”, a Portaria de 1880-12-11 (DG 284 de 1880-12-13), enviada ao governador civil de Lisboa, e a de 1880-12-21 (DG 292 de 1880-12-22), enviada ao governador civil do Porto, focavam a necessidade de se “acudir à educação das crianças na idade anterior à da obrigação de ensino”. Na Portaria de 1880- 12-11, dirigida ao Governador civil de Lisboa, José Luciano de Castro referencia que:

“Para que a instrução do povo assente sobre bases sólidas e produza verdadeiros benefícios, convém que as crianças antes de atingirem a idade da escola recebam uma educação própria e consentânea às suas faculdades físicas e morais."

Refere ainda os artigos 68º da Lei de 2 de Maio de 1878:

“que as juntas gerais e as câmaras municipais promovam a criação de asilos de educação, como auxiliares da escola primária, para recolherem as crianças de três a seis anos. A Lei de 11 de Junho de 1880 também no art.18.° determina que seja incluída anualmente no orçamento geral do estado um verba destinada a subsidiar o estabelecimento de jardins de infância, e de outras instituições que

tenham por fim o progresso da instrução popular.”

Recomenda ainda a criação de um asilo-modelo na capital que desempenhe a função educativa para as crianças que o frequentem e a função formativa para o pessoal que aí exerça funções.

“De todos os sistemas aplicados ao ensino das crianças o denominado de

Froebel é o que, derivado de princípios de sã filosofia e do conhecimento do que

é a natureza humana nos primeiros anos do seu desenvolvimento, oferece os mais lisonjeiros resultados na prática. São assaz conhecidas as imensas vantagens obtidas na Alemanha, Bélgica Itália, Suíça e América, da fundação a difusão dos asilos e jardins infantis. – Entre nós, esta instituição é inteiramente nova, e não poderá implantar-se com utilidade real, sem que haja pessoas instruídas e experimentadas no indicado método Froebel. Torna-se, pois, de alta conveniência e importância a criação de um asilo-modelo, onde se eduquem as crianças e se habilitem senhoras que possam dirigir os institutos de que se trata; e afigura-se-me que o meio mais fácil e profícuo de se chegar a este fim será mandar ao estrangeiro pessoa idónea aprender a organização dos asilos e jardins de infância, bem como os métodos de ensino neles adoptados, ou contratar ali professora distinta que venha a Portugal instalar e dirigir o instituto que se intenta”.

A Portaria de 1880-12-11, para além de referir a intenção da junta geral do Porto "de criar na cidade do Porto uma escola-modelo de instrução primária, regida por pessoa que tenha concluído com distinção o curso de uma escola normal de 1ª ordem na Suíça, Bélgica ou Alemanha, mostra quanto aquela ilustrada corporação se empenha pelos progressos do ensino (…)":

“Falta, porém, acudir à educação das crianças na idade anterior à da obrigação do ensino, e sem uma instituição que preencha esta lacuna mal poderá a escola- modelo satisfazer cabalmente aos fins para que é destinada. – Persuadido da necessidade de tal instituição, e levado pelo nobre exemplo e louvável iniciativa da junta geral desse distrito, rogo a V. Ex.ª que haja de empregar as diligências necessárias junto daquela corporação, assim como junto da câmara municipal, a fim de conseguir que se funde nessa cidade um asilo, ou jardim do infância, o qual poderá existir independente da escola-modelo, eu a ela anexo em curso especial, não só para ensino das crianças mas também para educação e preparação própria de jardineiros de infância, à semelhança do que se acha estabelecido nalgumas nações que mais se preocupam dos progressos da instrução popular. – O governo, apelando em ofício de 11 do corrente (Diário do Governo n° 284) para a esclarecida inteligência e patriótica dedicação da junta geral e da câmara municipal de Lisboa, acaba de conseguir que estas corporações resolvessem fundar na capital um jardim ou asilo-modelo para educação das crianças de três a seis anos de idade pelo método Froebel, mediante um subsídio que lhes será concedido dentro das forças do futuro orçamento geral do estado. Pelos mesmos meios espera alcançar que a junta geral e a câmara municipal do Porto se prestarão a criar o estabelecimento que deixo indicado, e cuja utilidade imediata para o instituto, que ali deliberou fundar

a junta geral, se me afigura notória e incontestável”.

Já em 1876-07-08 (Farpas XV) Ramalho Ortigão (1837-1915) fazia referência à necessidade de se criarem em Portugal jardins de infância como os da Suíça e Alemanha onde era utilizada a pedagogia Froebel:

“jardins-creches ou jardins de crianças como os que se estão usando na Suíça e na Alemanha, onde as crianças de três a sete anos aprendam praticamente as línguas com mestras estrangeiras e recebam as primeiras lições rudimentares das coisas, sem abrirem livro e conservando-se pelo maior espaço de tempo ao ar livre."

Este autor, em Maio de 1879, nas Farpas III, volta a referir-se aos jardins de infância e a Froebel num artigo sobre Caldas Aulete. Para Ramalho Ortigão,

“Ninguém mais próprio do que Caldas Aulete, pela sua doçura, pela sua dedicação afectiva, pela sua paciência, para iniciar em Portugal as lições de coisas, para fundar em Lisboa os jardins de crianças. Quando Froebel montou a sua primeira escola para as criancinhas de dois anos de idade, tiveram-no geralmente por um doido. • Isso, porém, não obstou a que os risonhos jardins de crianças devidos à sua iniciativa se vulgarizassem rapidamente e sejam hoje a primeira das glórias da educação alemã. Se Caldas tivesse tido em Portugal a mesma ideia tomá-lo-iam igualmente por um orate."

Em 1881-07-28 é publicado o regulamento para execução das Leis de 2 de Maio de 1878 e de 11 de Junho de 1880 (DG 169 de 1881-08-01; DG 170 de 1881-08-02; DG 172 de 1881-08-04; DG 173 de 1881-08-05; DG 174 de 1881-08- 06), porém, em 1890-02-27 é publicado um Decreto que altera os artigos 53, 101, 170, 178, 189, 259, 280 e 281 do regulamento de 28 de Julho de 1881 (DG 49 de 1890-03-03).

CAPÍTULO III — DAS JUNTAS ESCOLARES — ARTIGO 229º — Em cada cabeça de concelho haverá uma junta escolar de nomeação da câmara municipal e composta de três vogais escolhidos de entre os vereadores ou outros cidadãos (…) [que deverá:] - 8º Dar parecer à Câmara sobre a criação e colocação das escolas e asilos de educação.

No programa de pedagogia – metodologia, legislação relativa às escolas primárias (do primeiro ano do curso normal), encontramos na alínea Organização da escola uma referência a jardins de infância – asilos-escolas do primeiro e segundo grau. Podemos constatar que nesta legislação tal como em outras anteriores existe referência relativa a jardins de infância e asilos mas sempre integrados na legislação relativa ao ensino primário. Para além da referência a jardins de infância e asilos referidos nestes dois artigos encontramos ainda neste regulamento uma referência às conferências pedagógicas:

Artigo 236º — Na sede dos círculos escolares haverá todos os anos conferências pedagógicas, cujo objecto será o aperfeiçoamento dos métodos, modos e processos de ensino; a organização material e disciplinar das escolas; a estatística e todos os assuntos que especial e directamente disserem respeito ao desenvolvimento da instrução popular. — §único. Para as primeiras conferências pedagógicas que houver, em virtude deste regulamento, os programas serão apresentados aos professores de cada círculo pelos sub-inspectores, depois de aprovados pelos inspectores, seguindo o mais que dispõe o artigo antecedente quanto à publicidade.

As primeiras Conferências Pedagógicas realizaram-se, na Escola Normal do Porto, em Outubro de 1883. “Na sessão de 8 de Outubro, o presidente Manuel Vieira Valente, “apresentou uma proposta sobre o projecto do Programa para a Conferência do ano seguinte, 1884, a qual foi aprovada (…)” (Lopes, 1883: 114). O projecto de programa era composto por 7 pontos, o primeiro dos quais questionava o que era o ensino intuitivo, o que se entendia por lições educativas, lições de coisas, lições sobre objectos, ensino real (…). O segundo ponto tinha como título: "Escolas Infantis – Qual é o meio prático de estabelecer asilos de educação ou escolas infantis nas povoações rurais, urbanas e industriais?” (Lopes, 1883: 114).

As Conferências Pedagógicas do 1º círculo da 2ª circunscrição escolar realizaram-se de 3 a 9 de Outubro de 1884, na Escola Normal do Porto, sob a Presidência de António Simões Lopes, tendo-se cumprido o Programa proposto na sessão de 8 de Outubro de 1883 (Lopes, 1884: 511). Tal como ficara decidido nas primeiras Conferências Pedagógicas, na primeira sessão destas conferências realizada a 3 de Outubro de 1884, o programa seguido foi o seguinte: 1º - O que é o ensino intuitivo? 2º - Escolas infantis. 3º - Escolas do 1º grau ou elementares, dirigidas por um só professor. 4º - Escolas centrais. 5º - Disciplina dos alunos dentro e fora da escola. 6º - Programas e livros de ensino. 7º - Convém à boa organização pedagógica das escolas e ao aproveitamento literário e à educação dos alunos que os exercícios escolares sejam divididos em aula de manhã e aula de tarde? Nesta sessão a presidência nomeou as comissões que deveriam dar parecer sobre os diversos pontos. No que concerne ao segundo ponto – Escolas infantis – foram nomeados Adrião Augusto de Sousa Carneiro, António Ferreira de Jesus, Francisco António Vieira (relator), D. Elvira Baptista Ferreira e D. Efigénia Amélia Correia de Oliveira.

A 2ª Sessão da Conferência, realizada em 4 de Outubro, abordou no capítulo IV a escola infantil - ensino intuitivo.

“Antes do ensino intelectual na escola primária, a criança necessita colher uma quantidade de conhecimentos práticos, e é, portanto, indispensável ensinar-lhe tudo que for agradável e útil, durante os primeiros anos de existência. Para proteger a criança dos 3 aos 6 anos, de forma que ao sair da creche encontre logo quem lhe dirija sabiamente os passos vacilantes no caminho da vida, criaram-se as escolas infantis, que servem de preparação às escolas primárias; e oferecem um excelente recurso às mães, que ficam tranquilas sobre a sorte do entesinho que ali vive em boas condições higiénicas, é feliz, adquire a instrução necessária para mais tarde ser útil a si e à sociedade, e tem quem lhe vá formando o coração para a virtude” (Lopes, 1884: 19).

A 3ª Sessão da Conferência, realizada em 6 de Outubro, foi inteiramente consagrada à educação, à infância desamparada, à importância da escola infantil, ao meio prático de estabelecer asilos de educação ou escolas infantis nas povoações rurais, urbanas e industriais e algumas considerações finais sobre as escolas mistas, ao nível elementar e complementar (Lopes, 1884: 31- 40).

A Comissão, depois de algumas considerações genéricas sobre a educação ao abordar o item relativo à infância desamparada, faz um apelo à criação de creches, de escolas infantis e de escolas primárias:

“Acuda-se à infância, eduque-se, para que dela saiam cidadãos prestantes; (…) Com a fundação de creches, escolas infantis e aumentar o número de escolas primárias, cuja conveniência não é já hoje uma necessidade desconhecida, não só olhada pelo lado educativo, mas também pelo desamparo em que se vêem muitas crianças, que, recebendo a educação, concorrerão mais tarde para o bem-estar geral do país."

Sobre este assunto salienta ainda que:

«Acompanhando, pois, a criança, desde o berço à creche até aos 3 anos de idade, da creche à escola infantil aos 6, e da escola infantil à escola primária até completar o seu curso, temos satisfeito um dos maiores deveres» (Lopes, 1884: 33-34).

No que concerne à importância da escola infantil pode ler-se:

“É a escola infantil o verdadeiro templo da infância e um poderoso elemento de educação; nela, a criança há-de respirar saúde, moral e instrução, que lhe será ministrada folgando, sem esforço, sem cansaço, com meiguice, com carinho e melindre afectuoso, que só um ente privilegiado para esse fim poderá fornecer. Esse ente só pode ser a mulher, cuja natureza é toda amorável, bondosa e benéfica: dotes naturais da mãe, que é o seu principal destino sobre a terra… É, necessariamente, a escola infantil o lugar mais apropriado para desenvolver a criança, física, moral e intelectualmente, devendo sujeitá-la, todavia, a um certo regímen que lhe vá formando o espírito ao mesmo tempo que o corpo e o coração, habilitando-a assim a poder entrar na escola primária já com a inteligência desenvolvida, já afeita a uma certa regularidade escolar, não

desconhecendo a superioridade do professor, a convivência dos condiscípulos e podendo levar já sabidos os primeiros rudimentos da leitura, escrita, contar e desenho…

É, por consequência, de reconhecida vantagem o estabelecimento de escolas infantis por toda a parte: acompanhemos nesta cruzada a França, a Holanda, a Bélgica, a Alemanha, a Suíça e a Itália, pois é certo que, neste ponto, vai Portugal na retaguarda daquelas nações. Estudemos os conselhos dos sábios pedagogos Comenius, Pestalozzi, Froebel e Castilho, e sigamos o exemplo do Grande Mártir do Gólgota que, proclamando a igualdade de todos os homens, chamava a si os pequeninos.” (Lopes, 1884: 34-36).

A comissão era do parecer que:

“os asilos de educação ou escolas infantis deviam ser criadas nas

povoações rurais, urbanas e industriais e a iniciativa de os criar deveria ser oficial, particular, puramente individual ou de ligação de umas com outras. Nas iniciativas oficiais, seriam o Governo, as Juntas Gerais do Distrito, as Câmaras Municipais ou as Juntas de Paróquia as responsáveis pela sua construção. Na iniciativa particular, seriam as associações, as confrarias,

responsáveis pela sua construção e as verbas para as mesmas seriam realizadas através de espectáculos, bazares, subscrições e cotização dos operários

industriais ou de quaisquer outros indivíduos de diferentes profissões. Na iniciativa puramente individual, as verbas para a sua construção seriam provenientes de donativos e legados. No que respeita ao último caso, os responsáveis pela sua construção sairãodajunçãodeiniciativasoficiaiscom iniciativasparticularesousimultaneamente da união de todas as iniciativas anteriormente enunciadas." (Lopes, 1884: 36).

Segundo a comissão:

"Na impossibilidade de se poder estabelecer escolas infantis propriamente ditas, com professora habilitada, jardim, pátio, salas e utensílios indispensáveis, tanto para as lições ao ar livre, como dentro da escola, isto é, com todas as condições precisas para um bom estabelecimento desta ordem, ainda podemos recorrer ao meio seguinte: É certo que em todas as terras aparecem mulheres com carência de meios: pois estas mulheres, quando dotadas de bons costumes, podem, a troco de uma pequena gratificação, fornecida pelas Juntas Gerais, Câmaras Municipais, Juntas de Paróquia, Associações ou particulares, receber em casa as crianças pobres de 3 a 5 anos de idade, onde, brincando, estejam ao abrigo dos perigos, aprendam as primeiras orações do cristão, a obediência aos superior e se sujeitem a uma certa disciplina, a que muito importa acostumá-las." (Lopes, 1884: 37-38).

Tendo sido o 1º programa das Conferências Pedagógicas escolhido pelos sub-