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Ainda no século XVI, a área territorial denominada de sertão que se configurou na área ao norte da capitania das Minas Gerais, na qual se situaria o termo de Rio Pardo, teve sua

primeira incursão de caráter colonizador entre 1553 e 1554. A iniciativa de organizar essa expedição foi do governador Tomé de Souza, motivado pelas notícias da existência de pedras e metais preciosos nos sertões. Mas ela, efetivamente, pôs-se em marcha em 13 de junho de 1553, já no governo de Duarte da Costa. Partindo de Porto Seguro, os sertanistas, depois de muito andarem, chegaram ao rio Grande (Jequitinhonha), de onde subiram e alcançaram uma dilatada serra (Grão-Mogol, Itacambira, Almas). Depois, chegaram às nascentes do rio Pardo e seguiram até um rio caudaloso (São Francisco), de onde retornaram. Ao realizarem um percurso de 350 léguas, os conquistadores retornaram ao litoral. Eles não levaram minérios nem pedras preciosas, apenas informações sobre o sertão e sobre as prováveis riquezas existentes. Spinosa examinou os terrenos e encontrou indícios geológicos de ouro e de outros metais (FIG. 1).136

Reconhecida como a primeira incursão significativa nos sertões, a expedição de Francisco de Spinosa inaugurou uma série de buscas incansáveis pelas supostas minas sertanejas, mobilizando a organização de outras entradas. Da Bahia, expedições saíram do litoral, adentrando os sertões. Homens aventureiros e ansiosos, à procura de metais preciosos, valeram-se dos rios que davam acesso ao interior. Eles subiram os rios São Francisco, Paraguaçu, Grande, Verde, das Contas e navegaram o Jequitinhonha, o Pardo, o Doce e o Mucuri.137 Assim, dentre outros, o rio Pardo foi um dos eixos de expansão da colonização do litoral para o interior, a partir da ação de sertanistas, que chegaram pelo norte e pelo sul.

136 CARTA de João de Aspicuelta Navarro. Revista do Archivo Publico Mineiro, Belo Horizonte, ano VI, 1901.

p. 1.159-1.162. Cf., também: VASCONCELLOS, Diogo. História antiga das Minas Gerais. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1948. p. 12-19. Antonio Neves reproduziu cópia da carta de Navarro e a comentou (cf. NEVES, Antonino da Silva. Chorographia do município do Rio Pardo. Revista do Archivo Publico Mineiro, Belo Horizonte, v. 13, 1908, p. 365-381). Ângelo Carrara analisa o papel dessa expedição e de outras posteriores no processo de conquista e ocupação territorial no vale do rio São Francisco (cf. CARRARA, Ângelo Alves. Antes das Minas Gerais: conquista e ocupação dos sertões mineiros. Varia História, Belo Horizonte, v. 23, n. 38, p. 574-596, jul./dez. 2007).

137

COTRIM, Dário Teixeira. Ensaio histórico do distrito de Serra Nova. Rio Pardo de Minas, 2000, p. 18; TÔRRES, João Camilo de Oliveira. História de Minas Gerais. Belo Horizonte: Difusão Pan-Americana do Livro, [196-]. v. 1, p. 113-118.

FIGURA 1 – Mapa das Minas Gerais. Expedição de Francisco de Spinosa (1553) Fonte: TÔRRES. História de Minas Gerais. , v. 1.

A área de expansão via o rio Pardo, correspondeu à extensa área que conformaria o norte da capitania mineira e o sul da capitania da Bahia, por onde passava o rio. Outros rios que atuaram como eixos de expansão nessa área foram os rios Jequitinhonha, Verde, Arassuahy e São Francisco. Um caso de expedição expansionista entre territórios margeados pelos rios Pardo e Jequitinhonha foi o de Antonio Gonçalves do Prado. Em 1730, ele requereu da Coroa licença para fazer um descobrimento pelo rio Jequitinhonha, devido a notícias de

existência de ouro e para abrir um caminho das minas novas ao rio Pardo ou deste para os Maracazes. O argumento, que resultou na concessão da licença, era que desta diligência poderia resultar conveniências aos interesses da Coroa e de grande utilidade aos moradores, “franqueando-se e povoando aquele continente”.138

Um “continente” cuja área territorial era denominada de sertão. Sua definição até então conhecida pelos colonizadores portugueses era de espaço interiorizado, amplo, longínquo e desconhecido. Para a América portuguesa, à noção de sertão foi incorporado outro sentido. Sertão se referia também ao espaço não alcançado pela colonização, opondo-se ao litoral, termo que comportava também dois sentidos. Ou seja, a faixa de terra junto ao mar e o espaço conhecido e dominado pelo colonizador; “espaço da cristandade, da cultura e da civilização”.139

A região colonizada representaria o espaço ocupado pelo colonizador, figurando o “mundo da ordem” do império português, que era estabelecida pelas instâncias de poder da Igreja e do Estado. Como antítese dessa região, o sertão era visto como “território do vazio, domínio do desconhecido, espaço ainda não preenchido pela colonização”. Por isso, “o mundo da desordem, domínio da barbárie, da selvageria, do diabo”.140

Assim, a chegada de portugueses em áreas configuradas como de sertão e ocupadas pelos nativos foi resultado de demandas do processo de colonização. No caso dessa área em questão, ela era habitada pelos índios aimorés, conhecidos como botocudos, pelos mongoiós, pelos pataxós e pelos tapuias, dentre outros.141 Apesar da grande diversidade, as culturas desses povos foram generalizadas pelos contemporâneos. As designações impuseram uma unidade cultural que não existiu, camuflando-lhes a identidade e promovendo um processo de

138 ANNAES DO ARCHIVO PUBLICO E DO MUSEU DO ESTADO DA BAHIA. Salvador: Imprensa Oficial

do Estado, v. 6 e 7, 1920. p. 287.

139

AMADO, Janaína. Região, sertão, nação. Estudos históricos, Rio de Janeiro, v. 8, 1995, . p. 147-148.

140 MADER Maria Elisa Noronha de Sá. O vazio: o sertão no imaginário da colônia nos séculos XVI e XVII.

1995. Dissertação (Mestrado em História) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1995, p. 13.

141 OTT, Carlos. Pré-história da Bahia. Salvador: Publicações da Universidade da Bahia, 1958. NEVES. Revista

desconstrução de suas sociedades.142 As constantes investidas das frentes de expansão e de ocupação forçaram os povos indígenas a se deslocarem, na tentativa de garantir sua sobrevivência. Entretanto, os confrontos foram frequentes, intensificando-se à medida que os colonos se apropriavam das terras. Várias localidades foram fundadas pelos colonizadores, mediante a submissão de povos nativos. A passagem de bandeirantes por locais habitados por esses povos resultava em escravidão, expulsão e morte. Um exemplo foi o território que posteriormente conformou o arraial de Vitória da Conquista, pertencendo à freguesia de Rio Pardo. O nome escolhido para o lugar é alusão à vitória dos conquistadores sobre os índios que habitavam a localidade.

O português João Gonçalves da Costa foi um dos conquistadores que participaram do processo de conquista desse território. Natural da cidade de Chaves, região de Trás-os- Montes, ele nasceu entre 1717 e 1719 e veio para o Brasil com aproximadamente 16 anos. Ele se fixou na região de Minas Novas, então capitania da Bahia, e em 1744 já estava integrado à bandeira do mestre de campo João da Silva Guimarães.143 João da Costa fez parte de um grupo que, em busca do ouro, adentrou o sertão baiano. Nas buscas, ele travou sangrentas batalhas com os indígenas locais. Em uma das suas vitórias, ele fundou o arraial da Conquista em fins do século XVIII. Ao expulsar os índios que habitavam as margens dos rios Pardo, de Contas e dos Ilhéus, ele alcançou a fama de grande conquistador do sertão da Bahia. Em correspondência ao visconde de Anadia, o governador da Bahia, João de Brito, proprietário das terras da Casa da Ponte na região, demonstrou deslumbramento com a exploração das

142 Sobre o contato cultural entre nativos e portugueses nessa área territorial, cf. CHAVES, Edneila Rodrigues.

Culturas, conquista e ocupação na América portuguesa. Estudos de História, Franca, v. 13, n. 1, p. 209-231, 2006.

143 IVO, Isnara Pereira. O Anjo da Morte contra o Santo Lenho: poder, vingança e cotidiano no sertão da

margens do rio Pardo por João da Costa, que apresentou ao governador sua Memória

Summaria e compendiosa da conquista do Rio Pardo de 1807.144

As entradas empreendidas por esse conquistador, bem como por outros, atendiam diretamente aos interesses econômicos e políticos da administração colonial portuguesa. A conquista e a ocupação do interior decorreram da busca por metais e pedras preciosas, das expedições militares para o combate de grupos indígenas e da condução do gado para o interior. Com a ocupação, ocorreu a expropriação das terras dos nativos. No processo de conquista implementado por João da Costa, por exemplo, as terras dos indígenas foram tomadas por ele e por seus familiares, que se tornaram proprietários e criadores de gado na região.145

O empreendimento da colonização do sertão foi predominantemente privado. Depois de uma série de expedições de abertura de caminhos, no século XVI, o governo português relegou essa área, pois ela não se inseria em seus projetos de produção para exportação. Os colonos assumiram a tarefa de conquistar o território e estabeleceram-se, desenvolvendo atividades de pecuária e de agricultura. Nesse momento, apesar do interesse de garantir o território contra possíveis invasões estrangeiras, a administração colonial se limitou a doar sesmarias. O governo português se omitiu de intervir no sertão, mantendo sua jurisdição nos centros urbanos litorâneos. Assim, a ocupação do espaço sertanejo estava entregue à iniciativa de particulares, aonde a jurisdição régia dificilmente chegava. No entanto, houve participação

144 CORRESPONDÊNCIA do governador da Bahia, 1783-1807. Acervo do IHGB, Arq. 1.1.20. A cópia da

Memória Summaria e compendiosa da conquista do Rio Pardo por João Gonçalves da Costa pertence ao

IHGB na referência acima citada e ao e acervo da Fundação Biblioteca Nacional-Brasil, cuja referência é: Catálogo de Manuscritos, Loc. 06, 3, 019.

145 Sobre a ocupação dessa região no contexto da colonização portuguesa, cf. IVO. O Anjo da Morte contra o

Santo Lenho; SOUSA, Maria Aparecida Silva de. A conquista do sertão da Ressaca: povoamento e posse da

terra no interior da Bahia. 1998. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1998.

da administração colonial na procura de jazidas minerais nesse território, iniciando a partir do final do século XVII, uma atividade mineradora nele.146

No caso da ocupação por particulares da área territorial em questão, ela foi realizada por duas frentes de ocupação. Uma veio do Norte, da Bahia e de Pernambuco, e outra, do Sul, comandada por bandeirantes paulistas. O debate historiográfico na primeira metade do século XX sobre o assunto tratou da questão sobre a precedência de baianos ou de paulistas no seu processo de povoamento. Uma vertente de análise, defendida por Urbino Vianna, Caio Prado Júnior e Salomão de Vasconcellos, argumenta o pioneirismo de sertanistas da Bahia nesse movimento. Prado Júnior afirma que no século XVII criadores de gado povoaram a área, subindo as margens do rio São Francisco e alcançaram o afluente rio das Velhas. E antes da consolidação do povoamento, cujo maior contingente viria do sul, o território já se encontrava ocupado por baianos.147

Afonso Taunay toma parte desse debate trazendo uma análise contrária. Seu argumento é a favor da precedência dos paulistas na ocupação dessa área. Ele considera que os sertanistas paulistas foram pioneiros na ocupação colonial do vale do rio das Velhas, visto que quando lá chegaram encontraram apenas as numerosas tribos indígenas. Seu principal argumento fundamenta-se nas crises de fome nas áreas das minas do ouro, em 1698 e 1700. Se a população mineradora dispusesse de carne bovina do vale do rio das Velhas, o desabastecimento teria sido evitado.148 A questão de fundo desse debate era de perspectiva regionalista. Estudiosos ligados à historiografia de São Paulo, como Taunay, assinalavam o

146 Cf. SIMONSEN, Roberto Cochrane. História econômica do Brasil (1520-1820). 6. ed. São Paulo: Nacional,

1967, p. 77-93.

147

PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Brasiliense; Publifolha, 2000, p. 198 (1. ed. 1942); VIANNA, Urbino. Bandeirantes e sertanistas bahianos. São Paulo: Cia. Editorial Nacional, 1935; VASCONCELLOS, Salomão. Bandeirismo: estudo das bandeiras paulistas na descoberta de Minas Gerais. Belo Horizonte: Biblioteca Mineira de Cultura, 1944.

148 TAUNAY, Afonso D’Escragnolle. História das bandeiras paulistas. 3. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1975.

pioneirismo nessa área de sertanistas paulistas, enquanto historiadores da Bahia e de Minas, como Vianna e Vasconcelos, defendiam a precedência de exploradores vindos da Bahia.149

Estudiosos em trabalhos posteriores corroboraram a vertente de análise elaborada por Taunay. Mafalda Zemella afirma que a ligação entre a capitania da Bahia e as regiões auríferas foi anterior à descoberta do ouro e foi realizada por bandeiras paulistas no século XVII.150 Carla Anastasia contesta Caio Prado Júnior. A autora se baseia no documento

Informações sobre as Minas do Brasil e afirma que toda a área em questão foi originalmente

povoada por paulistas, aos quais se deveu também sua dinamização.151 Em trabalho bem mais recente, Márcio Santos aponta uma fonte documental que também valida a proposição de Taunay. Trata-se da descrição feita por Domingos Afonso Sertão da primeira rota existente de ligação entre a Bahia e as Minas Gerais. Sertão informa que no trecho do caminho paralelo ao rio São Francisco havia criação de gado bovino, mas esse fato não ocorria no vale do rio das Velhas.152

Não obstante a defesa de exclusividade de uma frente de ocupação ou de outra nessa área territorial e a comprovação documental em favor da frente paulista, estudos mais recentes para territórios dessa área avançam nessa questão historiográfica ao partirem da questão da ocupação pioneira para a da dinamização. Ao tomar o sertão do São Francisco como objeto de estudo, Carla Anastasia, originalmente, propõe o estudo dos elementos que proporcionaram sua dinamização econômica.153 Nessa linha interpretativa, Márcio Santos estuda a área territorial dos vales do médio superior São Francisco e do Verde Grande. O autor enfoca

149 Sobre esse debate historiográfico, cf. SANTOS, Márcio Roberto. Bandeirantes paulistas no sertão do São

Francisco e do Verde Grande – 1688-1732. Belo Horizonte: 2004. Dissertação (Mestrado em História) –

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2004, p. 50-56.

150 Z

EMELLA, Mafalda. O abastecimento da capitania das Minas Gerais no século XVIII. 1951. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1951.

151 A

NASTASIA, Carla Maria Junho. Vassalos rebeldes: violência coletiva nas Minas na primeira metade do século XVIII. Belo Horizonte: C/Arte, 1998, p. 61-63.

152

SANTOS, Márcio Roberto Alves dos. Fronteiras do sertão baiano: 1640-1750. São Paulo: Edusp, 2011, p. 169. No prelo.

elementos do processo de povoamento e de ocupação econômica colonial dessa área.154 Na abordagem dos antecedentes históricos de Rio Pardo, essa perspectiva de análise é aqui adotada também no sentido de verificar, para além da ocupação pioneira do seu território, outros processos históricos transcorridos.

A ocupação colonial do território onde se instalou Rio Pardo foi resultado da doação de uma sesmaria. Por meio de um levantamento de sesmarias, Felisbello Freire analisa o processo de ocupação na capitania da Bahia em História territorial do Brasil de 1906. Após a expulsão holandesa, a ocupação avançou da área litorânea da capitania para o norte (1654), para o centro (1671) e para o sul (1690). Nesse terceiro período que ele demarca para a ocupação ao sul da capitania, ele inclui as áreas territoriais das cabeceiras do rio Pardo, Doce, das Velhas, e o Alto São Francisco. Nesse período, verifica-se a doação de uma sesmaria que englobava o território onde se fundaria o arraial de Rio Pardo.155

Em alvará de 2 de março de 1690, a Coroa doou uma sesmaria ao tenente-general Matias Cardoso de Almeida e mais dezenove companheiros.156 A área da sesmaria situava-se entre as nascentes do rio Pardo e do rio Doce, de aproximadamente oitenta léguas. A doação foi uma recompensa à campanha militar liderada pelo tenente-general contra nativos do Ceará e do Rio Grande, empreendida entre 1689 e 1694. No grupo desses sertanistas paulistas encontrava-se o bandeirante Antonio Luís dos Passos, que estabeleceu sua morada na área de confluência entre o rio Pardo e o rio Preto em 1698, correspondendo ao território que lhe coube da doação.157 Lá fixou residência, instalando fazenda de criação de gado, e foi acompanhado depois de alguns poucos moradores que, a partir de então, chegaram ao local,

154

SANTOS. Bandeirantes paulistas no sertão do São Francisco e do Verde Grande – 1688-1732.

155 F

REIRE, Felisbello. História territorial do Brasil (1906). Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo; Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, 1998, p. 51 e p. 56-58.

156

FREIRE.História territorial do Brasil, p. 51.

157 ÂNGELIS, Newton de. Efemérides riopardenses. Rio Pardo de Minas, 1998, v. 2, p. 13; VIANNA, Urbino.

fossem atraídos pelo ouro dos ribeirões, fossem com o intuito de criar gado.158 Assim floresceu o arraial de Rio Pardo, na confluência dos dois rios.

Com a descoberta, em 1727, de riquezas auríferas no rio Fanado e no rio Arassuahy, onde se instituiu o arraial de São Pedro do Fanado e depois a vila de Minas Novas, Rio Pardo tornou-se território de passagem entre a capitania da Bahia e das Minas. A área territorial que compreendia Minas Novas e Rio Pardo pertencia à comarca do Serro Frio, que foi criada em 1721. Ela abrangia a extensa área ao norte, noroeste e nordeste da capitania das Minas (FIG. 2). A descoberta das minas novas foi feita por Sebastião Leme do Prado e outros companheiros paulistas. Sebastião Prado se pôs a caminho para avisar ao governador da capitania das Minas Gerais, D. Lourenço de Almeida, sobre o descobrimento. Entretanto, os irmãos Francisco e Domingos Dias Prado lavraram um termo, anunciando os descobertos ao vice-rei Vasco Fernandes Cesar de Meneses, que incorporou o território à capitania da Bahia.159 Em 1729, o arraial do Fanado foi elevado à categoria de vila, passando o arraial de Rio Pardo a pertencer ao termo da nova vila do Bom Sucesso das Minas Novas do Fanado e do Arassuahy.

Ainda que o termo da vila de Minas Novas se encontrasse incorporado à capitania da Bahia, a criação da vila ocorreu no movimento demográfico, verificado nas Minas Gerais com a descoberta do ouro em fins do século XVII. Esse descoberto foi bastante oportuno para Portugal, que enfrentava uma crise comercial desde o final do século XVI. Com a Restauração, fim da união com a Espanha (1580-1640), e a instituição da nova dinastia de Bragança, o país enfrentou mais dificuldades de ordem diplomática, militar e financeira. O ápice da crise comercial ocorreu em 1670, com a concorrência do açúcar antilhano.

158 ÂNGELIS. Efemérides riopardenses, p. 13; NEVES. Revista do Archivo Publico Mineiro, p. 471-472. 159

MATOS, Raimundo José da Cunha. Corografia histórica da província de Minas Gerais (1837). Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1981, v. 1, p. 189-191; SAINT-ADOLPHE, J. Milliet de. Diccionario

FIGURA 2 – Mapa da Capitania de Minas Geraes e a Deviza de suas Comarcas (Joaquim José da Rocha, 1778) Fonte: CASTRO, José Flávio Morais et al. Visualização cartográfica dos mapas de Minas Gerais dos setecentos e oitocentos. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE ESTUDOS URBANOS, 5, 2006, Belo Horizonte, p. 7.

A busca por metais preciosos na colônia, cuja descoberta era desejada desde o século XVI, foi uma das diretrizes do reinado de Dom Pedro II, (1683-1703).160 Em 1720, foram descobertas jazidas na Bahia, em Goiás e Mato Grosso. A extração do ouro, entre o período de 1700 e 1766, promoveu Portugal a um dos grandes centros comerciais da Europa.161 Já as minas do ouro foram descobertas em fins do século XVII. Foi encontrado ouro de aluvião ao longo da serra do Espinhaço, que é a mais antiga formação geológica do Brasil. Trata-se de uma cordilheira que atravessava a então capitania de norte a sul na direção de Ouro Preto e Diamantina, separando a bacia do rio Doce da bacia do rio São Francisco e seguindo em direção à Bahia e a Pernambuco.162 Desencadeou-se um processo histórico que promoveu transformações na colônia e na metrópole portuguesas. O ouro e posteriormente os diamantes, descobertos ao norte da capitania, atraíram legiões de pessoas de toda a colônia, de Portugal, especialmente da região Norte, e de outros países europeus.163 Internamente, a migração foi facilitada, também, pela crise em curso na lavoura canavieira do nordeste, com o deslocamento de contingentes de pessoas das áreas açucareiras para as áreas mineradoras. O fluxo populacional intenso levou a Coroa a impor medidas para controle do movimento demográfico.164

160

SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Conquista e colonização na América portuguesa. In: LINHARES, Maria Yedda (Org.) História geral do Brasil. 9. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000, p. 45.

161 Sobre dados do volume da extração do ouro na colônia, ver: ESCHWEGE, W. L. von. Pluto Brasiliensis.

Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1979, v. 1, p.197-206. A respeito da historiografia sobre o assunto, cf.: PAULA, João Antônio de. O Prometeu no sertão: economia e sociedade da capitania das Minas

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