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Anteprojeto aprovado na Subcomissão do Poder Judiciário e do Ministério Público

4. A APRESENTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL NA ASSEMBLEIA NACIONAL

4.3. Anteprojeto aprovado na Subcomissão do Poder Judiciário e do Ministério Público

Por fim, o resultado foi a aprovação pelos membros da Subcomissão do Poder Judiciário e do Ministério Público do anteprojeto remetido à Comissão da Organização dos Poderes e Sistemas de Governo, contendo o seguinte teor sobre o Supremo Tribunal Federal:

Este seria mantido como órgão de cúpula de todo o Judiciário; criar-se-ia, em sua estrutura, uma Seção Constitucional composta por doze juízes, sendo oito com mandatos temporários, originários dos três Poderes do Estado, possibilitando, dessa forma, a criação de um órgão ao mesmo tempo muito forte – já que integrado por juízes originários dos três Poderes, sintonizados com o seu tempo – porque periodicamente renovados; e

81 Jairo Carneiro, José Costa, Leite Chaves, Michel Temer, Moysés Pimentel, Nilso Sguarezi, Plínio

Arruda Sampaio, Plínio Martins, Raul Ferraz, Ronaro Correa, Vinicius Cansanção e Haroldo Sabóia.

82 Francisco Amaral, Maurício Corrêa, Paes Landim, Messias Góis e Adolfo Oliveira.

temperado pelo convívio entre juízes, trazendo para a Corte vivências diversas, essenciais à prestação da justiça. Ao lado desses oito juízes, estariam mais quatro vitalícios indicados pela Seção Especial, pelo período de seis anos, vedada a recondução (BRASIL, 1987o, p.3).

A Seção Especial seria composta por onze Ministros vitalícios, os quais seriam indicados pelo Presidente da República, reservando-se quatro vagas para membros da magistratura.

De forma sintética, o anteprojeto da Subcomissão trazia que o Supremo Tribunal Federal seria composto pelo total de dezenove Ministros, nomeados pelo Presidente da República, sendo onze vitalícios e oito com mandato de doze anos, todos bacharéis em Direito há pelo menos vinte anos, de notório saber jurídico e reputação ilibada, todavia, antes da nomeação, os Ministros deveriam ser submetidos à audiência pública para sua aprovação perante o Congresso Nacional.

Os Ministros com mandato deveriam ser indicados, igualitariamente, pelo Congresso Nacional e pelo Poder Executivo. A renovação dos Ministros seria feita pela metade a cada seis anos, sendo vedada a recondução. Durante o exercício do mandato, os Ministros gozariam das garantias e se sujeitariam às vedações próprias da magistratura e, ao final do mandato, fariam jus à aposentadoria correspondente aos vencimentos do cargo. Quanto à legitimidade para a propositura da ação de inconstitucionalidade, o anteprojeto previa a participação das seguintes partes: o Presidente da República; as Mesas do Senado Federal, da Câmara dos Deputados, das Assembleias Estaduais e das Câmaras Municipais; os Tribunais Superiores e os Tribunais de Justiça; o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; os partidos políticos devidamente registrados e os Promotores-Gerais.

Apenas pela análise do trabalho realizado na Subcomissão do Poder Judiciário e do Ministério Público, ainda na arena inicial dos debates sobre a criação do Tribunal Constitucional, antes mesmo de o anteprojeto seguir regimentalmente para a Comissão da Organização dos Poderes e Sistemas de Governo, percebe-se que a proposta da Ordem dos Advogados do Brasil não logrou êxito, motivo pelo qual o nosso recorte analítico ficou reservado apenas a

essa subcomissão, com o objetivo de entendermos quais foram os fatores decisivos para a rejeição de tal proposta.

Entretanto, necessário pontuarmos que a proposta da OAB seguiu em sua essência até o parecer do relator da Subcomissão do Poder Judiciário e do Ministério Público, o qual havia acolhido as sugestões da proponente, significando que sua “rejeição” e mudança de rumos aconteceram na fase de apresentação de emendas e debates, por meio de uma negociação que visava a ter elementos para a aprovação de uma proposta capaz de satisfazer os anseios da sociedade e não fosse, ao mesmo tempo, tão progressista a ponto de não ter aceitação pela maioria conservadora da Assembleia Nacional Constituinte.

Mesmo após essas fases, deparamo-nos ainda com um recorte do jornal Estado de S. Paulo84, de 17/07/1987, relatando que Ulysses Guimarães (PMDB/SP) havia solicitado à Ordem dos Advogados do Brasil, na pessoa de seu Presidente, Marcio Thomaz Bastos, que fosse elaborado um texto constitucional, não com a intenção de substituir o trabalho da Comissão de Sistematização, mas apenas para servir de subsídio aos constituintes. Nessa ocasião, Marcio Thomaz Bastos adiantou que a OAB iria propor a criação do Tribunal Constitucional, justificando que este seria necessário para o cumprimento das decisões as quais deveriam ser incluídas na Constituição, admitindo que essa atribuição até pudesse ser exercida pelo Supremo Tribunal Federal, desde que esta fosse sua função exclusiva.

No dia 20 de agosto de 1987, o jornal Folha de S. Paulo85 ressalta que Ulysses Guimarães (PMDB/SP), ocupando interinamente a Presidência da República, recebeu o Presidente do Conselho Federal da OAB, para que este fizesse a entrega de um projeto de reforma do Poder Judiciário, cujo teor propunha a transformação do Supremo Tribunal Federal em Corte Constitucional, com dezesseis ministros, sendo que os onze do atual STF passariam para a nova Corte, com a garantia da vitaliciedade de que gozavam, ficando os demais ministros com mandatos temporários de oito anos. À medida que os onze juízes vitalícios se aposentassem ou falecessem, seriam substituídos por novos ministros, mas com mandatos com prazo determinado.

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“OAB atende Ulysses e redigirá projeto próprio”, jornal Estado de S. Paulo, 17/07/1987.

Ao lado dessa Corte, seria criado o Tribunal Superior de Justiça, com a função de ser a terceira e última instância para todos os casos que não envolvessem diretamente questões constitucionais. Essa proposta foi assinada por Marcio Thomaz Bastos, por José de Mello Junqueira, presidente em exercício da Associação dos Magistrados Brasileiros, e por Antonio Araldo Ferraz Dal Pozzo, presidente da Confederação Nacional do Ministério Público.

Em matéria do dia 29 de agosto de 1987, no Jornal de Brasília86, Marcio Thomaz Bastos, confessou que o projeto de Constituição de Bernardo Cabral (PMDB/AM) contemplava em parte o desejo da OAB, quando previa a transformação do Supremo Tribunal Federal em Corte basicamente de temas constitucionais, com o aumento de onze para dezesseis ministros.

No jornal O Estado de S. Paulo87, em 18 de outubro de 1987, Dalmo de Abreu Dallari afirmava que a resistência para a criação de um Tribunal Constitucional vinha do Supremo Tribunal Federal, o qual temia perder seu prestígio. De outro lado, Oscar Correia, do STF, discordava, sustentando que não havia necessidade, pois o Supremo Tribunal Federal possuía todas as competências de uma Corte Constitucional, defendendo que esta Corte não julgava a favor da União, nem que seus membros estivessem vinculados ao Presidente da República.

Por fim, após a promulgação do texto constitucional, constatamos a manutenção do Supremo Tribunal Federal, bem como do Superior Tribunal de Justiça, que ficou responsável pelas matérias de cunho não-constitucional. Nesse sentido, Vieira (2002, p.38) enfatiza que a Constituição de 1988, no que tange ao Supremo Tribunal Federal, o revestiu de poderes de um autêntico Tribunal Constitucional, todavia, o manteve com atribuições de órgão do Poder Judiciário.

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“OAB gostou do projeto”, Jornal de Brasília, 29/08/1987.