5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.4 Antibiograma Staphylococcus aureus
De acordo com o gráfico 1 podemos destacar que 88% das cepas são resistentes a
oxacilina e 0% a Sulfametoxazol Trimetoprim.
Gráfico 1. Perfil de resistência a antimicrobianos em cepas de Staphylococcus aureus
obtidos no processamento de linguiça artesanal
Observou-se que todas as cepas apresentaram resistência a pelo menos um dos
antibióticos testados. A cepa que foi isolada da matéria prima, carne de sol, foi a única
11% 11% 11% 22% 22% 88% 11% 22% 0% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
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que obteve resistência a 7 antibióticos dentre eles a cefoxitina, clindamicina, eritromicina,
gentamicina, oxacilina, tetraciclina e tobramicina.
Os antibióticos são compostos naturais ou sintéticos capazes de inibir o
crescimento ou causar a morte de fungos ou bactérias. A descoberta de antibióticos
eficientes no tratamento de infecções bacterianas proporcionou um grande avanço na
medicina pois reduziu o número de mortes causadas por infecção. Porém, o aumento
crescente do uso de antibióticos tem potencializado a seleção de cepas de bactérias
resistentes a esses medicamentos. Essa resistência bacteriana refere-se à capacidade das
bactérias multiplicarem-se na presença de concentrações de antibióticos mais altas que as
que contêm em doses ministradas em pacientes. Trata-se de um processo biológico natural
que surgiu com a utilização desses fármacos no tratamento de infecções e, que devido ao
uso irracional e indiscriminado desses em humanos e animais, tem aumentado cada vez
mais (GUIMARÃES et al., 2010; LIMA et al., 2014).
O Staphylococcus aureus resistente a meticilina (MRSA) surgiu após 2 anos da
introdução da penicilina, o mecanismo é baseado na alteração de proteínas ligadoras de
penicilina (PBP) e codificada pelo gene mecA. A presença da proteína ligadora de
penicilina modificada faz com que os compostos tenham baixa afinidade na ligação com
a parede celular da bactéria o que impede que o antibiótico tenha efeito sobre o
microrganismo (LAKHUNDI; ZHANG, 2018).
Hachemi et al. (2019) avaliaram 230 embutidos cárneos coletados em diversos
municípios da Argélia, em sua pesquisa encontraram 83,33% de cepas de Staphylococcus
aureus resistente a pelo menos um antibiótico testado. Entretanto, desses isolados apenas
36% obtiveram resistência a oxacilina e 58% a tetraciclina. Além disso, foi aplicado um
check list para 440 consumidores desses embutidos e 22% das pessoas revelaram que
sofreram intoxicação alimentar após o consumo do embutido cárneo.
Essa contaminação e risco de patogenicidade por parte do Staphylococcus aureus
é uma preocupação mundial. A presença dessa bactéria não está só associada a leites e
derivados, mas pesquisas recentes mostram que em carne também há uma incidência.
Campbell et al. (2013) avaliaram a sobrevivência do Staphylococcus aureus resistente a
meticilina durante o processo térmico dos embutidos e observaram que houve uma
redução significativa em 70°C quando comparado com os controles que não sofreram
processamento térmico.
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Uma vantagem para esses alimentos processados e/ou embutidos é essa alternativa
de passar pelo processamento térmico antes de consumidos pois durante sua produção há
um manuseio intenso da matéria-prima até o produto final (LIMA et al., 2014).
5.5 Caracterização molecular Salmonella sp.
Das 75 cepas coletadas de tubos contendo meio LIA e TSI sugestivas para
Salmonella sp, 49 isolados apresentaram coloração gram negativa, cepa em formato de
bastonete e sorologia positiva. Dessas, 34 isolados apresentaram o gene invA especifico
para a espécie Salmonella sp. como representado na tabela 6.
Tabela 6. Perfil genotípico de cepas de Salmonella sp isoladas de linguiça artesanal
Amostra Origem invA Genes de virulência
S1
Massa de sabor
carne de sol
Positivo sipA, sipB, sifA, sopB, sipD, sopD
S2 Positivo ssaR, sipB, sopB, sifA, sipD, sopD
S3 Positivo sipB, sopB, sifA, sipD
S4 Positivo ssaR, sipB, sopB, sifA, sipD, sopD
S5 Massa sabor
carne de sol
Positivo sipA, sipB, sopB, sifA, sipD
S6 Positivo ssaR, sipB, sopB, sifA, sipD
S7 Massa sabor
carneiro Positivo ssaR, sipB
S11 Linguiça sabor
carneiro
Positivo sopB, sifA, sipD
S12 Positivo sipB, sopB, sifA, sipD
S13 Massa sabor
nordestina
Positivo sipA, sipB, sopB, sifA, sipD, sopD
S14 Positivo ssaR, sipA, sipB, sopB, sifA, sipD
S15
Massa sabor
nordestina
Positivo sipA, sipB, sopB, sifA, sipD
S16 Positivo sipB, sopB, sifA, sipD
S17 Positivo sipA, sipB, sopB, sifA, sipD, sopD
S18 Positivo ssaR, sipA, sipB, sopB, sifA, sipD,
sopD
S19 Positivo ssaR, sipB, sopB, sifA, sipD, sopD
S20
Linguiça sabor
nordestina
Positivo sipA, sipB, sopB, sopD
S21 Positivo sipA, sopB, sifA, sipD, sopD
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S23 Positivo sipB, sifA, sipD, sopD
S24 Massa sabor
carne de sol
com queijo
Positivo sipB, sopB, sifA
S25 Positivo sopB, sifA, sipD
S26 Positivo sopB, sifA
S27 Massa sabor
carne de sol
com queijo
Positivo sopB, sifA
S28 Positivo sipB, sopB, sifA
S29 Positivo sipB, sopB, sifA
S35
Carne de sol Positivo sipB, sopB
S36 Positivo sipA, sopB, sifA, sipD
S37
Carne de sol Positivo sipB, sopB, sifA
S38 Positivo ssaR, sipB, sopB, sifA, sipD, sopD
S40 Massa carne de
sol com queijo Positivo sipB, sopB, sifA, sipD
S41 Linguiça sabor
carne de sol
com queijo
Positivo sipB, sopB, sifA, sipD
S43 Positivo sipB, sopB, sifA, sipD
S44 Positivo sipB, sopB, sifA, sipD
O gene invA (gene de invasão) é um gene que se apresenta em quase todos os
sorotipos de Salmonella devido ser um gene de invasão as células intestinais, por esse
motivo é muito importante sua utilização para determinação desse microrganismo.
Ed-dra et al. (2017), analisaram 156 amostras de embutidos cárneos oriundos de empresas
em Meknes, Marrocos. Dessas amostras, isolaram 34 cepas de Salmonella e observaram
que todas as cepas foram positivas para o gene de invasão (invA).
No presente estudo podemos observar que todas as cepas de Salmonella isoladas
apresentaram, pelo menos, dois genes de virulência, onde 32 cepas apresentaram o gene
sopB, seguido por 31 cepas com gene sifA, 28 com sipB, 22 cepas com sipD, 11 com
sopD, 10 com sipAe 8 com ssaR. Outro fato importante é que a maioria das cepas foram
oriundas da massa antes de embutir e da linguiça pronta, o que indica que a contaminação
ocorreu no preparo do produto que requer uma manipulação intensa.
O gene sopB é uma proteína de Salmonella que apresenta atividade de
fosfoinositida fosfatase e um domínio de ligação à GTPase. Além disso, tem papel no
nicho intracelular como a ativação da proteína serina quinase. Esse gene encontra-se
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localizado no Sistema de Secreção do Tipo III (SSTIII) na ilha de patogenicidade SPI-5
e apresenta atividade de ativação de canais de cloreto na membrana epitelial da célula
alvo, conduzindo a secreção de cloro e perda de fluido para o lúmen intestinal resultando
em diarreia (GIACOMODONATO et al., 2014).
Esse resultado é preocupante visto que das 34 cepas isoladas 32 apresentam o gene
sopB em seu genótipo provando assim que são bactérias causadores de doenças
transmitidas por alimentos. O resultado nos indica que se faz necessário mais atenção na
manipulação das linguiças, bem como na fiscalização desde a matéria prima até o produto
final.
Os genes sipA e sipB são proteínas codificadas pelo SPI-1, o primeiro provoca
rearranjo na actina da célula alvo causando uma translocação das proteínas. O segundo
gene é responsável pela ativação da caspase-1 que causa indução do apoptose em
macrófagos (FARDSANEI et al., 2017).
Outro gene de destaque na pesquisa é o sifA, ele é responsável por invadir células
epiteliais e alongar o vacúolo das mesmas. Os genes sipDe sopD são proteínas ligadas e
que interagem com o complexo translocon, o que causa uma transferência de fatores de
virulência para células hospedeiras. Esse fato é preocupante pois está relacionado a
variedade de doenças que esse microrganismo pode causar como as gastroenterites e a
febre tifoide (TARABEES et al., 2017; GLASGOW et al., 2017).
No documento
CARACTERIZAÇÃO GENOTÍPICA DE Staphylococcus aureus E Salmonella sp. ISOLADAS DE LINGUIÇA ARTESANAL
(páginas 42-46)