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Comumente denominados de fármacos anticolinérgicos, os fármacos antimuscarí- nicos bloqueiam os receptores muscaríni- cos, causando inibição das funções musca- rínicas. Além disso, bloqueiam os poucos neurônios simpáticos excepcionais que são colinérgicos, como os que inervam as glândulas salivares e sudoríparas. Como não bloqueiam os receptores nicotínicos, os fármacos antimuscarínicos têm pouca ou nenhuma ação nas JNMs ou nos gân- glios autônomos.

Atropina: é um alcaloide amino-ter-

ciário da beladona com alta afini- dade pelos receptores muscaríni- cos. Liga-se competitivamente à ACh e impede sua ligação a esses receptores. A atropina atua central e perifericamente. Em geral, seus efeitos duram cerca de 4 horas, ex- ceto quando é aplicada topicamente no olho, onde seu efeito pode durar dias. Os órgãos neuroefetores têm sensibilidade variável à atropina. Os efeitos inibidores mais intensos ocorrem nos brônquios e nas secre- ções de suor e saliva. A atropina tem ações no:

Olho: a atropina bloqueia toda a

atividade muscarínica no olho, resultando em midríase persistente

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(dilatação da pupila), ausência de resposta à luz e cicloplegia (incapacidade de focar a visão para perto);

Trato gastrintestinal (TGI): A

atropina (na forma do isômero ativo, l-hiosciamina) pode ser usada como antiespasmódico para reduzir a atividade do TGI. Atropina e escopolamina (abordada em seguida) são provavelmente os antiespasmódicos mais potentes disponíveis. Embora a motilidade gástrica seja reduzida, a produção de ácido clorídrico não é afetada de forma significativa. Portanto, a atropina não é eficaz no tratamento da úlcera péptica (a pirenzepina, um antagonista muscarínico M1, reduz a secreção gástrica em doses que não antagonizam outros sistemas);

Sistema cardiovascular: a atropina

produz efeitos divergentes no

sistema cardiovascular, dependendo da dose. Em doses

baixas, o efeito predominante é a diminuição da frequência cardíaca. Esse efeito resulta do bloqueio dos receptores M1 nos neurônios pré- juncionais (ou pré-sinápticos) inibitórios, permitindo o aumento da liberação de ACh. Dosagens mais altas de atropina causam aumento

progressivo na frequência cardíaca pelo bloqueio dos receptores M2 no nódulo sinoatrial.

2) Escopolamina: A escopolamina – outro

alcaloide amino-terciário de origem vege- tal – produz efeitos periféricos similares aos da atropina. Contudo, a escopolamina tem maior ação no SNC (ao contrário da atropina, onde os efeitos no SNC são ob- servados em dosagens terapêuticas) e du- ração de ação mais longa.

Ações: A escopolamina é um dos

fármacos anticinetóticos (fármacos que previnem a náusea e vômito) mais eficazes disponíveis. Ela também tem o efeito incomum de bloquear a memória de curta duração. Ao contrário da atropina, a escopolamina produz sedação, mas, em doses mais elevadas, pode produzir excitação. Ela pode causar euforia e é sujeita a abuso;

Usos terapêuticos: o uso

terapêutico da escopolamina é limitado à prevenção da cinetose (enjoo causado por movimento [p. ex., andar de carro]) e de náuseas e êmeses pós-cirúrgicas. Contra a cinetose, está disponível como adesivo tópico, eficaz por até 3 dias.

32 3) Ipratrópio e tiotrópio: ipratrópio e tio-

trópio são derivados quaternários da atro- pina. Esses fármacos são como broncodi- latadores para o tratamento de manuten- ção do broncoespasmo associado com a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). O ipratrópio também é usado no tratamento agudo do broncoespasmo na asma. Ambos são administrados por inala- ção. Devido às suas cargas positivas, esses fármacos não entram na circulação sistê- mica e nem no SNC, isolando seus efeitos no sistema pulmonar. O tiotrópio é admi- nistrado uma vez ao dia − sua principal vantagem sobre o ipratrópio, que requer dosagens de até quatro vezes ao dia.

4) Darifenacina, fesoterodina, oxibuti- nina, solifenacina, tolterodina e cloreto de tróspio: esses fármacos tipo atropina (i. e.,

sintéticos) são usados no tratamento da doença da bexiga superativa (ou hipera- tiva, causada pela vontade emergente de urinar). Bloqueando os receptores musca- rínicos na bexiga, diminui a pressão intra- vesical, aumenta a capacidade da bexiga e diminui a frequência de suas contrações. Os efeitos adversos desses fármacos in- cluem xerostomia, constipação e visão turva, o que limita a sua tolerância se forem usados continuamente. A oxibutinina está disponível como sistema transdérmico (adesivo cutâneo), que é mais bem tole- rado porque causa menos xerostomia do que as formulações orais.

Bloqueadores ganglionares

Os bloqueadores ganglionares atuam es- pecificamente nos receptores nicotínicos dos gânglios autônomos simpático e pa- rassimpático. Alguns também bloqueiam os canais iônicos dos gânglios autônomos. Esses fármacos não mostram seletividade pelos gânglios parassimpático ou simpá- tico, não sendo eficazes como antagonis- tas neuromusculares. Assim, esses fárma- cos bloqueiam completamente os impul- sos do SNA nos receptores nicotínicos. Com exceção da nicotina, os demais fár- macos desta categoria são antagonistas competitivos não-despolarizantes. A res- posta dos bloqueadores não-despolari- zantes é complexa e, na maior parte, im- previsível. Por isso, o bloqueio ganglionar raramente é usado em terapêutica, mas com frequência serve como ferramenta na farmacologia experimental.

Nicotina: um componente da fumaça do

cigarro, a nicotina é considerada um ve- neno com várias ações indesejadas. Ela não tem benefícios terapêuticos e é preju- dicial à saúde. Dependendo da dose, a ni- cotina despolariza os gânglios autônomos, resultando primeiro em estimulação e de- pois em paralisia de todos os gânglios. O efeito estimulante é complexo e resulta do aumento da liberação do neurotransmissor devido ao seu efeito nos gânglios simpáti- cos e parassimpáticos. Por exemplo, o

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pinefrina pode ser associado com prazer e com supressão do apetite. A resposta final de um sistema fisiológico é a soma dos efeitos estimulantes e inibitórios da nico- tina. Os efeitos incluem aumento da pres- são arterial e da frequência cardíaca (de- vido à liberação do transmissor dos termi- nais adrenérgicos e da suprarrenal) e au- mento de peristaltismo e secreções. Em doses mais elevadas, a pressão arterial cai devido ao bloqueio ganglionar, e a ativi- dade na musculatura do TGI e da bexiga cessa.

Para tentar contornar o vício do cigarro, é possível utilizar agonistas parciais da nico- tina. A varenicline, por ser um agonista parcial, produzirá menos efeitos colaterais que o cigarro comum e ainda poderá man- ter uma sensação de prazer razoável para o tabagista. Com a diminuição da quanti- dade de agonistas nicotínicos ingeridas durante o tratamento, o paciente consegue se livrar do vício gradualmente.

Curiosidade: o ator Christian Bale, para

assumir o papel de protagonista no filme O

Operário (2004), precisou perder aproxi-

madamente 30 quilos, ficando apenas com 54 quando iniciou as gravações. Ele conta que precisou fazer o uso de cigarros, mesmo não sendo fumante, para tentar di- minuir a sensação de fome.

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