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3. Outras abreviaturas

2.1. As catequeses: «O amor humano no plano divino»

2.1.4. A antropologia adequada

O corpus das catequeses é-nos apresentada muitas vezes como uma reflexão sobre a família e o matrimónio, mas o que encontramos no texto é uma antropologia teológica, no contexto de uma teologia do corpo, pois a reflexão sobre a corporeidade é a única capaz de dar início à resolução dos problemas do matrimónio e da família.

Mas que entendimento tem São João Paulo II, sobre essa antropologia adequada? Na Catequese nº 13 o Santo Padre afirma que a antropologia adequada «procura compreender e interpretar o Homem naquilo que é essencialmente humano»293. E que esta interpretação do Homem determina o princípio de redução294.

290 Cf. R. BUTTIGLIONE, Introduzione al sesto ciclo, in GIOVANNI PAOLO II, Uomo e donna lo

creó, catechesi sull’amore umano (Roma: Città Nuova Editrice 2011) 449.

291 ROCCO BUTTIGLIONE, Introduzione al sesto ciclo, 450. 292 ROCCO BUTTIGLIONE, Introduzione al sesto ciclo, 451. 293 TDC 13: 2, 117-178; AUPD, 141.

294«O conceito de “antropologia adequada” foi explicado no próprio texto como “compreensão e

interpretação do Homem naquilo que é essencialmente humano”. Este conceito determina o princípio de redução, próprio da filosofia do Homem; indica o limite deste princípio, e indirectamente exclui que se possa transpor este limite. A antropologia “adequada” apoia-se na experiência essencialmente “humana”, opondo ‑se

59 E referindo-se às palavras de Cristo, afirma: «As palavras de Cristo têm um explícito conteúdo antropológico; referem-se àqueles significados perenes, através dos quais é constituída a antropologia «adequada». Estas palavras, mediante o seu conteúdo ético, constituem, simultaneamente, essa antropologia e exigem, por assim dizer, que o Homem entre na sua plena imagem»295.

Tendo por base estas afirmações Carlo Caffarra identifica a necessidade de clarificar quatro conceitos essenciais para poder entender a sua noção de «antropologia adequada»: redução; integridade da pessoa humana; experiência essencialmente humana; significados permanentes296.

No que se refere à noção de «redução», Carlo Caffarra afirma que existe uma estreita relação entre a noção de «redução» e «antropologia adequada»297, por São João Paulo II ter afirmado: «Este conceito [antropologia adequada] determina o princípio de redução, próprio da filosofia do Homem». Karol Wojtyła explica o termo na sua obra Pessoa e Acção: «Não se entenda equivocadamente o termo 'redução'; neste lugar não se trata de uma redução entendida como diminuição ou limitação da riqueza do objecto experimentado. Trata-se, melhor dizendo, de extrair as suas consequências; a exploração da experiência deve ser um processo cognoscitivo em que se realiza de maneira estável e homogénea o desenvolvimento da visão original da pessoa na acção e através da acção. Visão que deve ser aprofundada e enriquecida ao longo de todo o processo»298.

Este processo de redução parte da indução, que entendemos como o «processo por meio do qual a inteligência acolhe, intui a substancial identidade e unidade do significado na multiplicidade e na complexidade dos fenómenos experimentados»299. Mas a indução «exige tornar-se redução, no sentido em que só com o processo da redução existe uma visão adequada do objecto»300 tornando-se possível dar razões daquilo que é essencialmente humano.

à redução de tipo “naturalista” que acompanha muitas vezes a par e passo a teoria evolucionista quanto aos inícios do Homem» (TDC 13: 2, 117-178; AUPD, 141).

295 TDC 25: 2, 182; AUPD, 180.

296 Cf. C. CAFFARRA, Introduzione Generale, in AUPD, 77-83. 297 Cf. C. CAFFARRA, Introduzione Generale, 78.

298 K. WOJTYŁA, Persona y acción, 49. 299 C. CAFFARRA, Introduzione Generale, 79. 300 C. CAFFARRA, Introduzione Generale, 80.

60 Quanto ao conceito de «integridade da pessoa humana», que diz respeito ao objecto da antropologia adequada, é constituído, segundo Pessoa e Acção, por duas dimensões: a complexidade e a unidade. A integridade significa então a unidade das partes, ou seja, da dimensão somática, psíquica e espiritual, para formar um todo. O qual tem que possuir um «centro activo de unificação», que reside em São João Paulo II no facto de o Homem se auto- possuir e auto-dominar. O Homem pode autodeterminar-se por meio da sua acção (actus homini) a partir da qual, por meio da indução e redução de que falámos, terá acesso ao

humanum integrum301.

Se por um lado desejamos captar o integrum humanum, essa indução deverá realizar- se a partir de uma «experiência essencialmente humana». Carlo Caffarra encontra dois significados fundamentais: em primeiro lugar a qualidade da experiência, que se deve verificar sem reducionismos de carácter sensível, psíquico ou espiritual; e em segundo lugar, o objecto da experiência, de modo a que não seja menos que o integrum humanum302. Isto não significa que o objecto experiência seja a pessoa na sua ipseidade, mas aquilo que é experimentado pela pessoa, por meio do seu actuar303.

E por último, o conceito a reter para entender o significado de «antropologia adequada» que é o de «significados permanentes». Carlo Caffarra explica primeiramente o conteúdo de significado, afirmando que deve envolver uma «plena consciência do ser humano»304 juntamente com uma «experiência efectiva»305 da realidade que significa. O conteúdo destes «significados», partindo das palavras de São João Paulo II, apresentam-se como realidades constitutivas do ser Homem. Essa noção de Homem pode conhecer-se no que diz respeito ao próprio ou em relação à natureza da qual todos os homens participam306, sempre por meio da consciência de si mesmo307. «Desta forma, o acto da pessoa auto- consciente torna-se interpretado e compreendido enquanto revela a natureza no seu

301 Cf. C. CAFFARRA, Introduzione Generale, 80-81. 302 Cf. C. CAFFARRA, Introduzione Generale, 81.

303 Cf. C. CAFFARRA, Introduzione Generale, 80-81; Cf. ST, I , q. 87, a.1. 304 TDC 31: 5, 213; AUPD, 199.

305 TDC 31: 5, 213; AUPD, 199.

306 Cf. C. CAFFARRA, Introduzione Generale, 82. 307 Cf. C. CAFFARRA, Introduzione Generale, 82.

61 significado universal e, portanto, permanente, que como tal não diz apenas quem sou eu mas também quem é o Homem»308.

Em suma, podemos dizer que a «antropologia adequada» é aquela antropologia que «compreende e interpreta o Homem naquilo que é essencialmente humano, colhendo os significados permanentes da existência humana mediante a experiência (entendida na sua verdade inteira), naquilo em que se expressa a pessoa humana (actus humani), actualizando o princípio da redução»309.

2.2. A imago Dei na origem do Significado Esponsal do