• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 2: Revisão de Literatura

3. Considerações gerais

3.1. Antropologia da Imagem

A imagem também faz parte da comunicação não-verbal. Ela apóia e esclarece uma informação. Em determinados contextos, ela fala por si só. CURADO (2002) relata que isso acontece quando a imagem transmite de maneira simbólica um fato. Salienta, no entanto, que são raros esses momentos, e os considera geniais, pois captam a síntese da informação. Para este trabalho, parece relevante escrever, mesmo que sucintamente, sobre a antropologia da imagem e descrever a linguagem desta. Nesta parte, entretanto, será adotada a cronologia baseada na evolução da imagem em movimento, e não na publicação de livros e pesquisas, pois isto prejudicaria a exposição dessa evolução.

A imagem em movimento, como muitos já sabem, nasceu da fotografia. Em junho de 1878 na Califórnia, Edward Muybridge fotografou a primeira de uma série de imagens seqüenciais em movimento (cinematografia). O objeto dessas fotografias era um cavalo em trote, que pertencia ao governador Stanford, para provar uma teoria (biomecânica) de que um cavalo em trote tinha uma fase de balanço, quando nenhuma pata tocava o chão. Para provar essa teoria, ao longo de uma pista de corrida de cavalos, Muybridge coloca em linha reta, uma ao lado da outra, em intervalos regulares, 24 câmeras fotográficas.

Ele comprovou a teoria e pela primeira vez tem-se o registro da decomposição do movimento (ORTIZ, 2005).

Etienne Jules Marey, um fisiologista e pesquisador contemporâneo de Muybrigde, estuda a locomoção do animal – a investigação científica do movimento animal é a base sobre a qual se ergue a construção de complexos aparatos tecnológicos no final do século XIX. Este cientista dedicou-se a registrar o movimento, criando variados aparelhos, mas foi através da cronofotografia que ele se sobressaiu como um dos precursores do cinema.

Braun (1983) opina que as fotografias de Marey e os produtos de seu método gráfico foram criados e desenvolvidos para capturar a representação da realidade que não pode ser percebida a olho nu. “Como signos do invisível inscrito nelas mesmas, elas marcam, no século XX, o começo da incursão dentro do invisível." (p.18).

Em 1895, com a criação do Cinematógrafo dos irmãos Lumière – Louis e Auguste, industriais franceses –, o cinema nasceu.

“A vida real em seu tempo e movimento se projetou nas telas. Trens chegando à estação, operários saindo da fábrica, pedestres e ciclistas nas ruas, crianças brincando na neve e saltando sobre o mar. O movimento e o tempo real eram o espetáculo; os seres humanos em suas vidas cotidianas, a essência desses primeiros filmes” (MENDES, 2003, p.1)

George Mélliès, talvez pela sua experiência como encenador e diretor de teatro, contribuiu, assim como outros, para que a partir da virada do século XX o cinema começasse a crescer como entretenimento. Considerado o introdutor

da trucagem5 e do cenário no cinema, começa a delinear a linguagem cinematográfica, que até então não existia. Termos como atores, cenografia teatral, cenas ensaiadas e pequenas histórias ficcionais são exemplos dessa linguagem criada por Méliès, que realizou mais de 500 filmes. Este parisiense foi o primeiro a enxergar a importância daquilo que os irmãos Lumière acreditavam que era apenas uma invenção que chamava a atenção do público, chegando até a afirmar que não tinha nenhum futuro ou maior utilidade o que faziam com o cinematógrafo. Os filmes de Méliès diferenciam-se dos demais pela sua mobilidade no enquadramento filmado, e por abordar os temas clássicos; isso se deve ao fato deste grande precursor ter compreendido o significado do cinematógrafo e ter introduzido a qualidade, o espetáculo e o humor no cinema. Sua vivência teatral auxiliou na montagem de cenários, nos temas escolhidos juntamente com a técnica, e também na noção de espaço (FRANCO, 1997)

Segundo ORTIZ (2005), o cinema dos irmãos Lumière e de Méliès abrange um grande público, quando empreendedores como Charles Pathé e Louis Gaumont resolvem abraçar esse novo mundo do entretenimento.

David Griffith é um dos personagens mais importantes e que mais influenciou o cinema. Introduziu e desenvolveu inovações profundas na forma

5 Trucagem é “a ação de modificar imagens previamente filmadas ao vivo, tanto em sua forma (cor e tamanho) como na ordem de sua projeção (congelamento, aceleração, inversão). São possíveis também a superposição de letreiros, a fusão (técnica de escurecer uma cena ao mesmo tempo em que outra vai surgindo, provocando a sobreposição de uma sobre a outra) e outros efeitos especiais. O equipamento utilizado é a truca". Conceito retirado do site:

de fazer cinema. Seus filmes revolucionaram a linguagem cinematográfica de forma irreversível e são um marco para o cinema tal como o conhecemos hoje. Antes de chegar ao cinema, trabalhou como jornalista e balconista em lojas e livrarias. Griffith iniciou-se no cinema em 1908, com os chamados curtas- metragens, que duravam entre 15 e 18 minutos. É o primeiro a utilizar dramaticamente o close, a montagem paralela6, o suspense e os movimentos de câmera (travelling7 – uma de suas inovações). Em 1915, com Nascimento de

uma Nação, realiza o primeiro longa-metragem americano, tido como a base da

criação da indústria cinematográfica de Hollywood.8 ( PEREIRA, 2005)

A partir de 1917, o cinema passa a ser um instrumento de difusão dos ideais revolucionários. Em 1918, Dziga Vertov vai para Moscou trabalhar no Comitê de Cinema como redator e montador do primeiro cinejornal do regime, o

Kino-Nedelia (cinema semanal).

Entre 1921 e 1931, o movimento da renovação cinematográfica se desenvolve, e neste período os filmes têm um caráter abstrato e de crítica à sociedade. A forma de expressão vai além da narrativa do cinema clássico, os

http://www.eba.ufmg.br/midiaarte/quadroaquadro/glossario/princip1.htm Acesso em: 08 jun. 2006.

6 Montagem paralela é a alternância de duas ou mais linhas de ação, e o “last minute rescue” (salvamento de último minuto) são duas formas de construir o suspense, e foram exploradas exaustivamente por David Griffith. http://pt.wikipedia.org/wiki/David_Griffith Acesso em: 08 jun. 2006.

7 A câmera fica em cima de um carrinho e este se movimenta aproximando ou afastando, tanto na lateral quanto na diagonal ou frontal.

8 Informações sobre histórico, cronologias e pioneiros do cinema, em: http://fr.wikipedia.org.wiki/Histoire_du_cinema/;

cineastas fazem uso de artifícios técnicos de enquadramento, montagem e ritmo; a luminosidade e a plasticidade da pintura impressionista são fonte de inspiração.

Na década de 1920, há uma recusa na representação objetiva da realidade difundida nas artes plásticas e essa negação atinge os alemães. Destruída pela guerra, a Alemanha mostra ao mundo uma concepção cinematográfica sombria e pessimista que vai ao encontro de suas angústias, temores vividos e destroços materiais. Os filmes ecoam esse clima por meio de cenários tortuosos e violentos contrastes de luz e sombra.

Em 1922 o grupo Kinoks (cine-olho) é fundado pelo cineasta Dziga Vertov, introdutor do conceito câmera na mão. Dele fazem parte sua esposa, Elizavela Svilova, e seu irmão, Mikhail Kaufman, seu cameraman. Este grupo também é conhecido como o Conselho dos Três, e passa a trabalhar no Kino-

Pravda (cinema-verdade), viajando pelo país em um vagão de trem

transformado em laboratório de cinema e alojamento, produzindo mais de duas dezenas de edições de cinejornal. Vertov faz documentários do cotidiano soviético, sem a presença de atores ou de estúdios, as filmagens são ao ar livre e têm montagem cuidadosa. Sua obra, A sexta parte do mundo, antecipa o cinema-verdade da década de 1960. Ele pertencia ao grupo de cineastas que repugnava o cinema drama e defendia o documentário em detrimento da ficção (ORTIZ, 2005).

O objetivo das linhas escritas anteriormente foi revelar um pouco da evolução da imagem, a partir de quê ela surgiu e de que forma ela se configurou. É bem verdade que muitas informações foram omitidas, pelo fato de não ser pertinente aprofundar sobre o tema nesta pesquisa, mesmo que este seja extremamente interessante e fonte de conhecimento inesgotável. ORTIZ (2005) relata que o cinema nasce registrando o dia-a-dia, cenas banais, mostrando personagens anônimos, e o documentário, como cinema, é o gênero certo para gravar e mostrar lugares e testemunhos vivos da história cotidiana.

“Os primeiros cinegrafistas a captar curtos registros da realidade, como os contratados pela empresa Lumière, viajaram pelo mundo flagrando guerras, filmando acontecimentos sociais e políticos, tragédias, monumentos, expressões culturais as mais diversas e foram, junto a outros precursores, os pais dos filmes de atualidades, de exploração, de reportagem, autênticos cineastas do real. Suas imagens de não ficção se converteriam em documentos históricos sobre a memória e a cultura de povos e sociedades.” (ORTIZ, 2005, p.105)

Paralelamente às descobertas conhecidas e aplicadas no cinema, muitos outros cientistas estudavam, pesquisavam e faziam descobertas que corroborariam de modo acelerado para a grande invenção do século XX, a televisão.

Nomes como Jakob Berzelius (1817), químico sueco que contribuiu com novas formas de utilizar a energia elétrica; Samuel Morse (1838), pintor, editor e inventor americano que idealizou o telégrafo – aparelho que envia mensagens através de fios, por meio de códigos de sinais, e que se tornou padrão

internacional; Joseph May (1873), telegrafista irlandês, que procurando melhorar as transmissões telegráficas, desenvolveu o princípio fundamental da célula fotoelétrica, que viria a ser uma das bases do sistema de transmissão de TV; Thomas Edison (1879) e sua equipe de Nova Jersey criaram uma lâmpada incandescente, durável e simples, e que com o tempo evoluiu para as válvulas de rádio e televisão; Guglielmo Marconi (1901) descobre o princípio do rádio, constrói um aparelho que codifica as ondas em sinais elétricos através de antenas receptoras; Vladimir Zworyskin (1923), russo naturalizado americano, inventa o iconoscópio9, até hoje é o olho da TV; todos eles merecem destaque por suas contribuições (PATERNOSTRO, 1999)

Quatro anos mais tarde, Zworyskin conquista um fato inédito: transmitir imagens a uma distância de 45 quilômetros pelo iconoscópio. Nessa época ele trabalhava para a Radio Corporation of America.

John Baird, na Inglaterra, nesse mesmo período faz uma exposição de transmissão de imagem, e a BBC (British Broadcasting Corporation) o contrata para fazer transmissões regulares do tipo experimental.

Na década de 1930 a televisão já era realidade. Em 1931, a RCA (Radio Corporation of America) já tem sua antena e os estúdios da NBC (National Broadcasting Corporation) têm sua sede no último andar do Empire State, em

9 Engenho, um tubo a vácuo com uma tela de células fotoelétricas, capaz de converter imagens em sinais elétricos passíveis de serem usados para produzir uma imagem de televisão.

Nova York, e em 1935, na França, sua antena é construída em cima da Torre Eiffel; em 1936, na Inglaterra, a BBC transmite a coroação do

rei Jorge VI colocando suas câmeras na rua; em 1939, nos Estados Unidos, a NBC divulga a inauguração da Feira Mundial de Nova York. (PATERNOSTRO, 1999).

Apesar da televisão ser real, ela ainda apresentava problemas na imagem emitida. Não demorou muito, Zworyking resolveu essa deficiência criando a válvula orthicon (tubo de raios catódicos muito sensível), assim, a válvula adaptada à câmera equilibrava a luz e melhorava a qualidade técnica da imagem. Em 1940, a TV se consagra como um equipamento que funciona a partir de um sistema totalmente eletrônico (PATERNOSTRO, 1999).

Durante a Segunda Guerra Mundial, o desenvolvimento da tecnologia da TV ficou estagnado, mas depois da década de 1940 voltou a busca pelo aperfeiçoamento de sua emissão. Nesse período, a televisão invade quase todos os países e se firma como veículo de informação e meio de comunicação de massa (PATERNOSTRO, 1999).

Documentos relacionados