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A antropometria trata das medidas físicas corporais humanas, ou seja, da mensuração sistemática e análise quantitativa das variações dimensionais do corpo humano. Essas medidas são utilizadas na concepção ergonômicas de instrumentos, equipamentos, máquinas ou postos de trabalho para se adequarem ao ser humano.

Teve origem na antiguidade, uma vez que a arquitetura grega buscava a harmonia e perfeição divina a partir da relação entre cada segmento da edificação com as dimensões do corpo humano.

Segundo Panero e Zelnik (2002), essa relação, denominada de Seção Áurea ou número de ouro, é a proporção, definida por Euclides, no ano 300 a.C. na Grécia, derivada

das divisões de uma linha de forma que, a linha completa é, em relação ao maior segmento, o que o maior segmento é para o menor.

Essa relação, encontrada do corpo humano e aplicada conscientemente nas construções com objetivo estético, deu origem a mais completa reflexão sobre arquitetura e estudos da proporção humana, o tratado De architectura libri decem, escrito pelo arquiteto teoricista Vitrúvio, no século I a.C.

No século XVI Leonardo Da Vinci criou a famosa figura humana, do homem em duas posições sobrepostas inscritas em um círculo e em um quadrado (Figura 1 - esquerda), símbolo da simetria básica e do redescobrimento das proporções matemáticas do corpo humano.

Figura 1 Homem vitruviano de Leonardo da Vinci (esquerda) e o Modulor de Le Corbusier (direita)

Fonte: Panero e Zelnik (2002)

Guimarães (2004), Panero e Zelnik (2002) afirmam que a preocupação com a antropometria, como fator decisivo no processo projetual, teve impulso a partir da década de 40, quando das exigências da produção em massa e da necessidade de conciliar as capacidades humanas com a sofisticação tecnológica do equipamento militar, uma vez que a possibilidade de erro humano deveria ser eliminada, os equipamentos operados com a eficiência máxima sob as mais adversas circunstâncias.

Em 1948 o arquiteto franco-suíço Le Corbusier desenvolve um sistema de proporções, também baseado na proporção áurea, o Modulor (Figura1 - direita), com o objetivo de contribuir com a normatização necessária para a produção em série, racional e eficiente de elementos pré-fabricados, e de projetos de habitações econômicas que preservassem conforto, qualidade e funcionalidade.

Com a globalização e a necessidade de se atender aos critérios de qualquer mercado, a indústria necessita dos padrões antropométricos de várias populações. Assim, a preocupação, até os anos 50, em estabelecer padrões nacionais antropométricos, transformou-se na necessidade de se estabelecer os padrões mundiais para a produção de produtos universais, adaptados aos usuários de diversas etnias. (IIDA, 2005)

Panero e Zelnik (2002) acrescentam ainda que, apesar das inúmeras variáveis e da terminologia médica intimidarem arquitetos e designers, é necessária a tomada de consciência dos dados antropométricos disponíveis para aplicação em projetos espaços, mobiliários e equipamentos.

Relativamente aos padrões antropométricos, é essencial o entendimento das variáveis que interferem não só no tamanho dos membros dos grupos populacionais, mas na proporção entre as diferentes partes do corpo, como as diferenças em função das variações étnicas, do gênero e da idade e de fatores socioeconômicos, como melhores hábitos alimentares, atenção à saúde e prática de esportes.

Além disso, Guimarães (2004) acrescenta as diferenças entre os tipos físicos ou biótipos, pois as diferenças nas proporções de cada segmento do corpo existem desde o nascimento e tendem a acentuar-se até a vida adulta. São três os tipos básicos do corpo humano: endomorfo, de forma física arredondada e macia, mesomorfo, de forma física vigorosa com ângulos bem marcados e músculos aparentes e ectomorfo, de forma física esguia, com um mínimo de gordura e definição muscular.

Fonte: Guimarães (2004)

Um levantamento antropométrico é uma atividade dispendiosa economicamente, demorada e complexa, pois exige uma equipe treinada para o desenvolvimento de procedimentos específicos e instrumentos de precisão, além de um plano amostral, onde são considerados o tamanho, a seleção e representatividade dos elementos da amostra.

Segundo Panero e Zelnik (2002), a maior parte das pesquisas é relativa ao setor militar, restringindo a amostra quanto ao gênero e idade, sendo poucos os estudos civis antropométricos realizados. Além disso, a maioria das tabelas disponíveis trata da antropometria estática, poucas trazem dados da antropometria dinâmica. No Brasil ainda não existem medidas normalizadas da população, apenas pesquisas parciais.

As dimensões corporais podem ser medidas com o corpo parado em posições padronizadas, definida como antropometria estática ou estrutural, ou com o corpo em posições de trabalho, durante um movimento associado a determinada tarefa, definida como antropometria dinâmica e funcional, medindo o alcance dos movimentos corporais.

Fonte: Panero e Zelnik (2002)

De acordo com Guimarães (2004), os dados coletados de um levantamento antropométrico são ordenados de forma a indicarem a frequência da ocorrência, e utilizados na construção de diagramas. O padrão de distribuição, apesar das variações, é bastante previsível, se assemelhando a chamada distribuição gaussiana (Figura 4), onde a maior porcentagem de distribuição está localizada graficamente em torno da área central, e diminui à medida que se aproxima dos extremos nas duas pontas da escala.

Figura 4 Padrão de distribuição dos dados antropométricos

É inviável a adequação de qualquer projeto para 100% dos usuários, uma vez que os poucos indivíduos que estão nas extremidades da curva podem ser tão extremos que a execução torne-se fisicamente grande ou financeiramente inviável. (DREYFUSS, 2005)

Expresso em percentis, que indicam a porcentagem de pessoas dentro da amostra que possui uma determinada dimensão corporal, os dados antropométricos utilizados em projetos de equipamentos e postos de trabalho comumente consideram a adequação para 90% da população, adotando os percentis entre 5 e 95, ou para 95% da população, adotando os percentis entre 2,5 e 97,5.

Panero e Zelnik (2002) recomendam que tais dados, mesmo sendo tão precisos, não devem ser utilizadas como única fonte de informação para o desenvolvimento de projetos de ambientes, mobiliário ou equipamentos, uma vez que novas informações estão sendo constantemente produzidas. Assim, os elementos do processo criativo, como bom senso e sensibilidade sempre devem ser utilizados em conjunto com os dados disponíveis.