• Nenhum resultado encontrado

Metodologia Ergonômica para o Ambiente Construído – MEAC

3.3 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

3.3.1 Metodologia Ergonômica para o Ambiente Construído – MEAC

A ergonomia do ambiente construído relaciona-se com a forma como as pessoas interagem com o ambiente a partir dos aspectos sociais, psicológicos, culturais e organizacionais. Uma análise ergonômica completa deve se basear não somente nos aspectos físico-ambientais preliminares mas, sobretudo, incluir uma apreciação antropométrica, com avaliação fisiológica, biológica, psicossocial. Enfim, uma análise global das necessidades laborais do ser humano (VILLAROUCO, 2007).

Portanto, a realização de uma apreciação ergonômica do trabalho no ambiente construído requer a utilização de uma metodologia específica, de modo a possibilitar a análise das atividades laborais produzidas no ambiente. Neste sentido, a Metodologia Ergonômica do Ambiente Construído (MEAC) vislumbra-se como suficiente para produzir a radiografia dinâmica da relação atividade versus ambiente construído ocupado.

A MEAC, desenvolvido por VILLAROUCO (2007) tem como base a Análise Ergonômica do Trabalho (AET) e divide a pesquisa em 05 etapas que consideram, além dos aspectos físicos do ambiente construído, a percepção do usuário em relação ao espaço, quais sejam: Análise Global do Ambiente, Identificação da Configuração Ambiental, Avaliação do Ambiente em Uso no Desempenho das Atividades, Percepção Ambiental pelo Usuário e Diagnóstico Ergonômico do Ambiente e Recomendações.

As três primeiras etapas consistem na análise das características físicas do ambiente, quais sejam:

Nesta etapa o ambiente é analisado através da observação do local da pesquisa e entrevista informal com funcionários e usuários, objetivando o entendimento, numa abordagem macro, do sistema ambiente/homem/atividade e identificação das prováveis demandas ergonômicas.

2. Identificação da Configuração Ambiental

Consiste no levantamento do ambiente em função das características relativas ao dimensionamento, iluminação, ventilação, ruído, temperatura, fluxos, layout, deslocamentos, materiais de revestimento e condições de acessibilidade e segurança.

Para tanto, o pesquisador deve estar familiarizado com a tipologia do ambiente analisado a partir do conhecimento de legislações e/ou normas que estabelecem critérios de uso e funcionamento desse espaço.

Esse levantamento, feito através de entrevistas com usuários e funcionários, elaboração de fluxogramas, observação sistemática (check-list) e realização de medições (iluminação, temperatura e distâncias percorridas) tem como objetivo o conhecimento da tarefa realizada e das características desejáveis dos postos de trabalho, equipamentos e tecnologia utilizadas.

3. Avaliação do Ambiente em uso no Desempenho das atividades

Aqui a observação do ambiente acontece quando em uso, para se analisar sistematicamente a execução do trabalho, e identificar a interferência dos condicionantes espaciais no desempenho e produtividade do usuário.

Assim, recorre-se à aplicação da Antropometria para verificação da compatibilidade entre o posto de trabalho e necessidades fisiológicas do usuário, que pode facilitar ou não o desenvolvimento das atividades.

Concluída a caracterização física do ambiente, inicia-se a fase que analisa a percepção dos usuários sobre o espaço que utiliza.

4. Percepção Ambiental

Segundo VILLAROUCO (2007), o ponto chave da avaliação do ambiente construído é a percepção do usuário, pois este é o elemento que mais sofre com todas as sensações que o ambiente pode gerar.

Portanto, nesta etapa é necessária a utilização de ferramentas da psicologia ambiental (mapa mental, mapa cognitivo, poema dos desejos, constelação de atributos, entre outros) para identificar variáveis cognitivas e perceptivas, ou seja, para entender como

o usuário percebe o ambiente e quais fatores estão relacionados mais fortemente aos aspectos motivacionais.

Assim, pela facilidade apresentada na utilização da ferramenta em trabalhos de grupos de usuários, o método da Constelação de atributos vislumbra-se como mais adequado nesse processo.

Idealizada por MOLES (1968), o método permite a compreensão da consciência psicológica do usuário frente ao espaço que ocupa, ou segundo Schimidt (1974) nas palavras de Villarouco (2007), “uma separação da imagem estereotipada de um espaço, de sua imagem subjetiva, através do método dos atributos induzidos”.

Para a obtenção desses qualificativos, são feitas duas perguntas, propiciando a análise de duas esferas do ambiente construído, quais sejam a conceituação do espaço ideal, com a associação de ideias voltadas para as características espontâneas, e outra, que define o espaço real, com a associação de ideias a partir de características induzidas. Com esses dados, são gerados dois gráficos: um para o ambiente ideal e outro para o ambiente real.

Ainda segundo a autora citando Schmidt (1974), a técnica permite uma representação gráfica de fácil interpretação das respostas, pois permite agrupar sintética e ordenadamente uma grande quantidade de variáveis (atributos) enumeradas pelos participantes.

De acordo com os significados e afinidades das respostas, estas são classificadas por categorias, e as “distâncias psicológicas” calculadas a partir da frequência em que essas variáveis aparecem.

Assim, inicialmente determina-se a probabilidade relativa da associação de um atributo de acordo com a seguinte fórmula:

Em seguida, aplica-se esse resultado numa função logarítmica, que resulta na distância psicológica do atributo aplicando o cálculo a seguir:

Para construção do gráfico, o objeto de estudo (ambiente) é colocado no centro, de onde partem as conexões com os atributos. A distância do centro para os atributos (distância psicológica) determina a importância, maior (mais próximo) ou menor (mais distante), desse atributo na percepção do objeto, conforme a Figura 7 a seguir:

Figura 7 Modelo de um gráfico da Constelação de Atributos

5. Diagnóstico Ergonômico do Ambiente

Nesta última etapa deve-se confrontar os resultados encontrados ao final de cada etapa para gerar um diagnóstico ergonômico da situação estudada. A identificação dos aspectos positivos e negativos da relação ambiente/usuário/tarefa permite ao pesquisador sugerir melhorias ou correções, bem como estabelecer parâmetros para projetos futuros.