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3.3 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

3.3.3 Aplicação de dados antropométricos

Ao dimensionar um produto ou posto de trabalho e evitar incompatibilidade física entre este e o usuário, deve-se buscar referências nas dimensões do corpo humano (dados antropométricos) de forma comparada.

Para sugerir recomendações ou correções específicas para o posto de trabalho a fim de minimizar tais incompatibilidades, a aplicação dados antropométricos apresenta-se como uma ferramenta auxiliar do processo.

Para Quaresma (2001) uma das maneiras mais fáceis e práticas de se usar os dados antropométricos é a utilização de manequins antropométricos bidimensionais dos usuários extremos. Esses manequins são desenhos que representam o homem e a mulher dos percentis extremos (maior e menor) da população usuária, construídos a partir das medidas interarticulares do corpo humano em conjunto com os volumes do tronco e dos membros.

Assim, o dimensionamento do produto ou posto de trabalho pode ser conformado e arranjado aos usuários extremos para que nenhum dos dois seja prejudicado, a partir do posicionamento dos manequins na estação de trabalho, permitindo a análise das relações dimensionais entre usuário e posto de trabalho, bem como a identificação das incompatibilidades existentes no conjunto que possam interferir no conforto, usabilidade do produto e segurança do usuário e do sistema, como por exemplo, os requisitos de visibilidade e ângulos biomecânicos de conforto.

Para tanto, Quaresma (2001) sugere um procedimento elaborado em função do confronto entre procedimentos e instrumentos utilizados mundialmente, para conformação e dimensionamento de estações de trabalho e mobiliários, a partir da aplicação dos dados antropométricos, quais sejam:

1. Estabelecer requisitos e necessidades

Nesta etapa, são definidos os requisitos necessários ao funcionamento do produto e ao correto desempenho de uma tarefa, através da observação da interação usuário-produto, a partir da verificação do ambiente (estrutura e restrições onde o produto será utilizado), bem como da análise da tarefa (importância, localização, frequência e sequencia de uso dos componentes).

2. Identificar dimensões relevantes

Para a correta aplicação dos dados antropométricos num projeto, é necessário o reconhecimento de qual dado deve ser utilizado para resolver um determinado problema de design. Assim, esta segunda etapa trata da identificação das dimensões corporais que interagem diretamente com o produto, através de checklist, que relaciona o requisito da tarefa com a dimensão relevante para sua realização.

3. Definir a população usuária

Antes de se aplicar os dados antropométricos num projeto, é necessário identificar quais pessoas irão utilizar o produto, em função do gênero (masculino e/ou feminino), idade (crianças, adultos ou idosos) e nacionalidade.

4. Selecionar a porcentagem da população a ser acomodada

Um projeto que acomode 100% dos usuários torna-se inviável por condicionantes financeiros ou físicos (certos detalhes tornam-se muito grandes ou muito pequenos). Assim, deve-se projetar para que o maior número de usuários possa utilizar o produto de forma segura e confortável.

Com a definição dessa porcentagem, geralmente de 90% a 95%, define-se também os percentis extremos para cada uma das dimensões corporais.

5. Escolher o levantamento antropométrico mais adequado

Nesta etapa, é selecionado o levantamento antropométrico que mais se aproxime com as características da população em estudo (se possível, o levantamento antropométrico da própria população), mesmo que seja de outro país.

Alguns fatores devem ser observados para evitar a inadequação do levantamento escolhido com a população usuária, tais como: gênero, idade, etnia e raça, tipo de atividade, nível sócio-econômico, bem como a idade desse levantamento.

6. Construir esquemas e/ou manequins antropométricos

De posse das dimensões corporais relevantes ao desempenho da tarefa e do levantamento antropométrico mais adequado, nesta etapa são construídos, em programas de modelagem virtual, como o AutoCAD, os esquemas ou manequins antropométricos dos percentis extremos. Estes podem ser desenhados nas três vistas (lateral/sagital, superior/cranial e frontal/coronal) ou diretamente em três dimensões.

Nesta etapa, avalia-se a necessidade de acréscimos nos valores dos dados antropométricos pelo uso de roupas ou equipamentos específicos para realização da tarefa, já que estes podem significar restrição de movimentos do usuário, ou mesmo ocupar parte do espaço utilizado para sua acomodação.

8. Estabelecer parâmetros de projeto

Para a concepção do projeto, são estabelecidos, nesta etapa, critérios fundamentais para adequação do produto aos requisitos visuais (ângulos de visão e movimentação da cabeça e raios de focalização), requisitos acionais (ângulos biomecânicos de conforto entre as articulações do corpo), além da identificação do usuário limitante para aquele requisito (maiores percentis para determinação das dimensões mínimas e menores percentis para determinação das dimensões máximas).

9. Construir os parâmetros de projeto

Neste passo são acrescentados aos esquemas ou manequins dos percentis extremos, os parâmetros de projeto (campo de visão e área acional). Em seguida, faz-se a compatibilização dos dois, alinhando-os em pontos verticais e horizontais (articulações e/ou dimensões corporais) fundamentais para a execução da tarefa.

10. Desenhar e dimensionar o projeto

A partir da compatibilização dos percentis extremos com os parâmetros de projeto (campo de visão e área acional), é que o novo produto começa a ganhar forma.

Aqui, devem aparecer detalhes de projeto que não são compatíveis aos dois percentis extremos, sendo necessária a possibilidade de ajuste. Para tanto, deve-se utilizar os dois percentis em conjunto para determinar a variação desse ajuste, do menor ao maior, privilegiando aquele que poderá sofrer maiores danos

11. Construir modelos

Para avaliar o produto quanto ao atendimento às necessidades do usuário, deve-se construir um ou alguns modelos de teste em escala real.

Nesta etapa, esses modelos de teste ergonômico, feitos em papelão, fita crepe e sarrafos de madeira, são utilizados para verificação da relação entre a forma e as dimensões do produto com a acomodação, visualização e manipulação dos componentes pelo usuário.

12. Preparar requisitos para teste

Neste momento, são definidos os condicionantes de teste do modelo construído na etapa anterior, quais sejam: quantidade e características dos sujeitos utilizados, quais

aspectos de observação, bem como quais instrumentos, equipamentos de apoio e pessoal necessários.

13. Testar e avaliar o modelo

Consiste no teste e avaliação do modelo, com os potenciais usuários do novo produto, e em seu local de trabalho, a partir de registros fotográficos ou em vídeo para verificação do correto funcionamento, do conforto e segurança do produto.

14. Ratificar ou retificar o projeto

Com o resultado da análise do teste, volta-se aos passos anteriores para realizar correções necessárias ao atendimento correto dos requisitos.

A autora ainda alerta que antes de dar início ao processo, deve-se atentar para alguns cuidados:

 As medidas de produtos similares não devem ser utilizadas, já que podem apresentar incompatibilidade quanto às necessidades do novo produto;

 Para dimensionar um produto, não utilizar as medidas do próprio corpo ou o homem médio, nem padrões médios ou medidas preestabelecidas para alguns produtos;

 Sempre utilizar dados antropométricos de percentis extremos.

Com a aplicação dessa metodologia, esperamos congregar dados, informações e elementos suficientes para atingir os objetivos propostos, contribuindo para a facilitação dos projetos para ambientes de laboratórios de ensino, com maior adequação e usabilidade.

4 ESTUDO DE CASO