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APÊNDICE A TEXTOS DO FOTOLIVRO “A NUVEM INVISÍVEL”

Prefácio

Este livro, resultado de um trabalho de conclusão de curso, é um reflexo das minhas experiências pessoais com a depressão.

Tenho depressão desde os 18 anos de idade. No entanto, levou um tempo até entender o que eu tinha. Eu não entendia que tudo que eu sentia eram sintomas de uma doença, acreditava que havia algo errado comigo, e, na maior parte do tempo, sentia que minha vida estava nublada, como se houvesse uma nuvem na minha cabeça.

Foi a partir do contato pela internet com outras pessoas que tinham a doença que eu comecei a entender o que se passava comigo. Quando entendi que estava doente, eu passei a procurar a ajuda necessária para melhorar.

Buscar ajuda para lidar com a depressão não é um caminho fácil. Essa doença se manifesta de uma forma muito individual para cada pessoa: os sintomas podem ser diferentes, assim como os modos mais adequados para se tratar.

Foram diversas trocas de remédios antidepressivos e também de psicólogos. Foram muitas as brigas que tive com pessoas queridas que não entendiam o que eu tinha. Todo o processo de melhora da doença, para mim, consistiu em muita frustração, muito choro, e diversas crises emocionais sobre se haveria um jeito de sair disso ou se para sempre eu sentiria todo aquele desespero e falta de vontade de viver. Porém, apesar de ter sido um processo cansativo e difícil, ele valeu muito a pena; hoje enxergo propósito pela minha vida, e não sinto toda a incapacitação que a depressão causava em mim. Foi uma longa jornada de autoconhecimento, mas hoje sou uma pessoa funcional e feliz no que faço.

Assim como eu melhorei, eu desejo que quem sofre como eu sofri seja incentivado a ir atrás da ajuda que precisa. Foi esse pensamento que me guiou para a construção

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deste livro: eu desejo ajudar de alguma forma as pessoas que têm depressão, assim como eu fui ajudada.

Neste livro, eu ilustro minha depressão em quatro estações: outono, inverno, primavera e verão. Cada qual corresponde a uma fase da doença em minha vida.

A narrativa começa com o surgimento dos primeiros sinais da depressão e passa pelos sentimentos ruins produzidos por ela, para depois mostrar o processo de melhora, que é o maior objetivo deste livro.

Eu consegui melhorar de uma depressão severa, mas não vou dizer que estou curada, porque um pedaço da nuvem sempre vai estar comigo. No entanto, ela não domina mais a minha vida.

Espero que as pessoas que sofrem de depressão consigam se identificar com meu relato, e vejam que sim, existe a possibilidade de melhorar da doença, e é preciso ir atrás de ajuda especializada para lidar com ela.

Outono

1. É difícil saber quando começa.

Não tem como saber em que ponto você começa a quebrar. Mas em algum momento você começa a deixar de ser você.

2. Algo está errado. Será?

Por que estaria?

Não tenho motivos pra sofrer.

Só que o que eu amo deixa de me interessar. E o vazio dentro de mim só cresce.

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Não importa quantas horas você dorme.

Nada é capaz de descansar uma mente inquieta.

4. Eu sou ruim?

Por que não quero existir? Será ingratidão?

Minha cabeça pesa.

É como se tivesse uma nuvem sobre mim.

Inverno

5. Me sinto o ser mais inútil do mundo. Não consigo fazer nada certo. Qual é meu propósito?

Por que eu existo?

Se a vida é um dom, por que a sinto como maldição? 6. Sair da cama é uma tarefa extremamente árdua. Não por causa do sono ou do cansaço,

mas porque no momento que você pisa fora dela, você volta a fazer parte do mundo,

e deve agir como a pessoa funcional que você já não é. O sono se torna a melhor escapatória.

Dormir é como pausar a vida.

7. Me sinto como uma xícara quebrada. Por mais que se tente colar os pedaços, quando se despeja chá tudo descola. É como não conseguir servir ao propósito que deveria ter.

8. Falar com alguém talvez ajude. Mas quem?

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Tudo que ouço de retorno é:

“Você não tem motivos para estar assim” “Muitas pessoas tem a vida pior que a sua” “Tudo está na sua cabeça”

As pessoas acham que sofrimento pode ser medido Se alguém sofrer mais que você,

seus sentimentos não serão válidos. É como gritar para o nada….

9. ​Para de chorar. Mas e a minha dor? ​Para de chorar. Não consigo. ​ Para de chorar. Me ajuda! ​ Para de chorar. Não dá…. 10. Você é nada. Você merece nada.

Não existe nada lá fora destinado a você.

11. Sua vida é sua prisão.

A existência se torna solitária.

É difícil manter um vínculo com outras pessoas. Se nem você entende o que se passa dentro de você, como os outros vão entender?

Sua companhia mais constante é essa nuvem que te acompanha para todos os lados, querendo ou não.

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Primavera

12. Depressão! Isso tem nome

O que eu tenho é uma doença. Depressão.

Saber o nome do demônio pode não matá-lo, mas talvez agora tenha como enfrentar.

13. Quem sou eu?

O que é meu e o que é da doença? Existe um eu fora da depressão? É tão presente como uma parte minha Se tirar ela, vai sobrar algo?

14. Não estou só, não sou a única assim.

Existem outros como eu, que lutam diariamente contra si mesmos. E achar alguém para te dar a mão no meio da tormenta.

Torna mais fácil atravessar esse caminho de dor.

15. Existem remédios.

Mas não são pílulas mágicas da felicidade. Existe terapia.

Mas ninguém vai te contar o segredo da vida. Eles te guiam, te ajudam a voltar ser funcional. E as coisas começam a ser um pouco mais leves. E a nuvem começa a se dissipar.

Verão

16. Não é um caminho fácil sair. Você está num labirinto.

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E vai ter que testar várias rotas até achar a que funciona melhor. São altos e baixos.

Conquistas e decepções. É como reaprender a andar.

17. Não sei se há cura para depressão.

De certa forma, ela sempre vai ser parte de mim.

A nuvem ainda vai estar lá, mesmo que não tão perceptível como antes. Mas você aprende a lidar com ela.

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