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APÊNDICE B — RECEITA FEDERAL

No documento Coleção jovem jurista 2018 (páginas 121-124)

Profissão: Delegado titular da Delegacia de Maiores Contribuintes Segmento do mercado: Receita Federal

Duração da entrevista: 53 minutos e 03 segundos Data: 09 de abril de 2018

Apesar da gravação da entrevista, o áudio restou prejudicado por problemas com o gravador. Por esse motivo, consta apenas de protocolo resumido, con- forme abaixo:

A primeira pergunta direcionada ao representante da Receita Federal re- feriu-se ao panorama de mudança de posicionamento da Receita Federal quan- to aos incentivos fiscais aos investidores não residentes. O representante da Receita Federal afirmou que a única mudança ocorrida foi a forma com a qual lidou com os supostos ilícitos: “A lei sempre deixou muito claro que se destina ao investidor não residente.” Para o representante, as reuniões realizadas com as instituições financeiras foi uma forma de alertá-las de que estavam sendo pouco diligentes, e tal atuação poderia resultar na tributação do imposto de renda sob a alíquota de 35%. Declarando ao final que “não estamos alterando em nada a tributação do mercado financeiro e de capitais”.

Nessa linha, o representante comenta da obrigação imposta pela IN RFB nº 1.634/2016 de identificar em todas as cadeias societárias o beneficiário final que, na opinião do representante, apenas reafirmou posicionamento já existen- te. Afirma que “a informação já era obrigatória, mas só o mercado achava que não”. A IN RFB nº 1.634/2016, portanto, afirmaria apenas o entendimento da Receita de que instituições financeiras devem ter maior diligência na identifica- ção dos investidores não residentes, uma vez que a RFB “se preocupa com as informações para garantir sua solidez”.

Para o representante da Receita Federal, as pessoas tendem a confundir o instituto da IN RFB 1.634/2016. Afirma que tal instrução é apenas uma obri- gação registral, de nada tem a ver com a tributação ou o regime jurídico do Investidor Não Residente em específico. É apenas uma obrigação para facilitar a fiscalização e eventuais autuações.

Para o representante as instituições financeiras têm grande responsabili- dade, uma vez que são a porta de entrada dos investidores não residentes. De acordo com o representante, as instituições financeiras devem ter “cuidado maior na identificação dos não-residentes”, posto que essas “não pedem (nem) uma conta de telefone” para reconhecer os investidores não residentes: “Não podem fingir que não tão vendo”. As instituições financeiras estariam ignoran-

do as “fraturas expostas”. Para o representante, as situações chegavam a ser tão gritantes que haviam endereços que constavam com 280.000 (duzentas e oitenta mil) empresas cadastradas em um único endereço.

De acordo com o representante da Receita Federal a fiscalização da Re- ceita Federal tem, nesse contexto, como único objetivo encontrar investidores residentes no Brasil que constituem fundos não residentes com fins claramente ilícitos, o que ele denomina de “investidores residentes travestidos”.

Questionado se todo e qualquer beneficiário residente no Brasil estaria impedido de utilizar-se do benefício fiscal concedido aos não residentes, o re- presentante da Receita Federal respondeu que “não dá para analisar de forma genérica”, apenas aqueles casos constituídos por residentes no Brasil que efe- tivamente são constituídas como “estruturas artificiais” devem ser tributados.

Ao final, as possíveis mudanças legislativas tomaram foco. Como explici- tado, há projeto de lei para tributar todo e qualquer fundo fechado, que seriam aqueles mais utilizados fraudulentamente por investidores residentes no Brasil. Apesar de acreditar que impedir os benefícios fiscais a esses fundos diminuiria fraudes e simplificaria a fiscalização da receita, acredita, que além de diminuir possíveis investimentos, não seria necessário, bastava que as instituições fi- nanceiras fossem mais diligências. Se as instituições financeiras conseguissem identificar aquelas com as quais há notórias “fraturas expostas”, as que são de fácil observação, um enorme montante de residentes travestidos de investi- dores não residentes já estariam sendo tributados. Contestado com casos no qual as evidências não são tão obvias, o representante da Receita Federal foi incisivo: “na dúvida, tributa”.

Para o representante o caso parece simples: o mercado ignora a exigência de informações complementares e a consequência foi o aumento crescente de investidores residentes travestidos de fundos de investimentos não residentes. Para solucionar esse cenário de ilicitude, a Receita comunicou as instituições financeiras, em uma mudança de comportamento, ou seja, comunicar antes de autuar, de seus deveres perante os órgãos públicos. Dessa forma, as institui- ções financeiras, exerceriam, de fato, sua competência de responsável fiscal e, a Receita Federal, poderia atuar caso-a-caso na verificação de simulação. A ação realizada pela Receita Federal, portanto, teve como escopo “induzir con- formidade nas instituições financeiras.

Questionada se sua ação, no modo como me descreveu, afetaria o mer- cado de investimentos, o representante da Receita Federal acredita que não, pois os fundos fechados de investimento no mercado financeiro e de capitais consta de parcela muito pequena. A maior parcela de “dinheiro novo” no Brasil seriam os fundos soberanos e, estes, não seriam atingidos por tais ações da Receita Federal.

O representante foi perguntado sobre a possibilidade de medida legisla- tiva de vetar benefícios tributários aos beneficiários finais residentes no Brasil. Posicionou-se contra, para o representante, além de restringir muitos fundos “reais” de investirem no Brasil ao serem englobados pela medida, ainda criaria inaplicabilidade prática, isso porque, seria muito difícil identificar tanto para o fundo, quanto para a Receita federal quem é o beneficiário final. “O problema não é todo e qualquer beneficiário final residente no Brasil” e, sim, as estruturas artificiais construídas. “Se for real não vai sofrer qualquer sanção por parte da receita”.

O representante da Receita Federal afirma que o ônus de provar nos casos que não há fraude explícita é do Fisco. Na análise de caso a caso não haveria “receita de bolo” para a análise do que seria considerado as estruturas traves- tidas. “Não tem como falar, aá investe em apenas dois países, ou áa tem um ou dois sócios. Isso será visto na análise do caso concreto”.

No documento Coleção jovem jurista 2018 (páginas 121-124)