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APELAÇÃO CÍVEL AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS VÍCIOS CONSTRUTIVOS INSURGÊNCIA DOS AUTORES PRETENSÃO DE RESSARCIMENTO EM

DOBRO DOS VALORES COBRADOS A TÍTULO DE CONDOMÍNIO. IMPOSSIBILIDADE. MÁ-FÉ NÃO CONFIGURADA. REPETIÇÃO DO INDÉBITO QUE DEVE SE DAR DE FORMA SIMPLES. PRECEDENTES. PEDIDO DE RESTITUIÇÃO DOS VALORES GASTOS COM A ELABORAÇÃO DE LAUDO TÉCNICO PARTICULAR. NÃO ACOLHIMENTO. LIBERALIDADE DOS AUTORES.

DANO MORAL CONFIGURADO. VÍCIOS DE CONSTRUÇÃO DEVIDAMENTE APURADOS EM PERÍCIA TÉCNICA. CONSTATAÇÃO DE INSALUBRIDADE DO IMÓVEL E NECESSIDADE DE DESOCUPAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DOS REPAROS. ABALO SOFRIDO QUE ULTRAPASSA A ESFERA DO MERO DISSABOR. SENTENÇA REFORMADA. REDISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS SUCUMBENCIAL. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (TJPR - 8ª C. Cível - 0073265-79.2017.8.16.0014 - Londrina - Rel.: Desembargador Marco Antonio Antoniassi - J. 05.05.2020). (TJ-PR - APL: 00732657920178160014 PR 0073265-79.2017.8.16.0014 (Acórdão), Relator: Desembargador Marco Antonio Antoniassi, Data de Julgamento: 05/05/2020, 8ª Câmara Cível, Data de Publicação: 07/05/2020).

Portanto, as demais despesas arroladas pelo autor (item 6 a 10) são passíveis de restituição imediata por parte da ré, vez que seus gastos estão devidamente comprovados nos autos, e relacionam-se diretamente aos danos ocorridos no imóvel.

Assim, entendo que merece prosperar, em parte, o pleito autoral indenizatório a título de danos materiais, dentro do que os gastos correlacionarem-se com os gastos despendidos pelo autor para reparar os vícios em seu imóvel.

7. Dos Danos Morais

Ao último tópico deste decisum resta mais que evidente que a situação narrada nos autos e demonstrada pelo conjunto probatória supera o mero aborrecimento cotidiano, vez que o autor teve a sua justa expectativa frustrada quando passou a morar em condições altamente desfavoráveis, periculosas e salubres, convivendo com inúmeros vícios de construção no seu apartamento diariamente.

Destarte, o quantum compensatório deve sujeitar-se às peculiaridades de cada caso concreto, levando-se em conta o sofrimento causado pelo dano, as condições pessoais e econômicas das partes envolvidas, de modo a não ser por demais gravoso a gerar o enriquecimento sem causa dos ofendidos, nem tão insuficiente que não proporcione uma compensação pelos efeitos dos danos.

Este juízo, na esteira de julgados do STJ, tem utilizado do método bifásico, que analisa inicialmente um valor básico para a indenização, considerando o interesse jurídico lesado, com base em grupo de precedentes que apreciaram casos semelhantes. Em um segundo momento, analisa-se as circunstâncias do caso para fixação definitiva do valor.

Na segunda fase do método, o juiz pode analisar a gravidade do fato em si e suas consequências; a intensidade do dolo ou o grau de culpa do agente; a eventual participação culposa do ofendido; a condição econômica do ofensor e as condições pessoais da vítima. O método é mais objetivo e adequado a esse tipo de situação, evitando decisões incoerentes e desiguais.

Conforme lição do Ministro Luis Felipe Salomão, conforme REsp 710879 e REsp 1152541, eis os motivos da opção da utilização de tal método por este juízo:

“Realmente, o método bifásico parece ser o que melhor atende às exigências de um arbitramento equitativo da indenização por danos extrapatrimoniais, uma vez que minimiza eventual arbitrariedade de critérios unicamente subjetivos do julgador, além de afastar eventual tarifação do dano”.

considerando o interesse jurídico lesado, a julgar pelo fato de tratar-se de autor que sempre buscava acionar a construtora para sanar o problema, que, conforme aduz a preposta da ré, jamais impedira a construtora de ingressar no seu apartamento, que sofreu por anos a reiteração dos vícios da construção, e que encontrou-se num ambiente perigoso tanto à sua saúde quanto à saúde da sua família, com base em grupo de precedentes que apreciaram casos semelhantes, fixo o valor da reparação em R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Na sequência (segunda fase), analisando-se as circunstâncias do caso e atentando-se ao caráter compensatório e punitivo da condenação, bem como o cunho pedagógico da condenação indenizatória, tendo em vista o período em que a ré se manteve inerte a respeito dos vícios apresentados por não saber a origem do problema, tendo em vista a intenção de buscar desconstituir as alegações de vícios quando das vistorias in loco, ao invés de repará-los, assim como em razão do fato de que usara de materiais inferiores aos que constam no seu memorial descritivo, bem como de métodos de reparo paliativos que não lograram em solucionar as patologias da construção – apesar de reiteradas oportunidades, pelo menos entre os anos de 2015 e 2017 –, entendo que a majoração da indenização para a importância de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) se encontra dentro dos parâmetros da proporcionalidade e razoabilidade.

Ante o Exposto, JULGO PROCEDENTE EM PARTE o pedido formulado na inicial, com fundamento no art. 487, I, do CPC/2015, para reconhecer a falha na prestação de serviço da ré, bem como para DECLARAR rescindido o contrato de compra e venda do imóvel objeto desta demanda e, por consequência, CONDENAR a construtora ré a RESTITUIR o autor no valor pago pelo financiamento do imóvel, de R$ 280.000,00 (duzentos e oitenta mil reais), devendo desta quantia ser abatidos alugueis fixados em R$ 900,00 (novecentos reais) devidos pelo período em que o autor permaneceu no imóvel, correspondente de Agosto/2015 até a sua efetiva saída do apartamento; a desocupação do imóvel dar-se-á após o depósito judicial do valor da condenação por parte da ré, ocasião em que será deferido o levantamento do respectivo montante; ainda, para condenar a ré a INDENIZAR o autor a título de danos morais na importância de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais); bem como na importância de R$ 1.465,00 (mil quatrocentos e sessenta e cinco reais) a título de danos materiais.

O valor total a ser restituído para o autor será corrigido pelo INPC desde as datas dos pagamentos efetuados e juros de mora de 1% ao mês desde a citação.

A indenização a título de danos materiais também será devidamente corrigida pelo INPC e juros de mora de 1% ao mês, ambos a partir da citação

A indenização a título de danos morais será acrescida de correção monetária pelo INPC, a partir da data do arbitramento (data da sentença), e juros de mora 1% a.m. (um por cento ao mês), contados desde a citação (responsabilidade contratual).

Oportunamente, com o retorno do status quo ante, após a desocupação do imóvel, expeça-se o mandado necessário ao fiel cumprimento desta sentença para que a construtora ré retorne ao posto de titular proprietária da unidade nº 403 do Residencial Mar Mediterrâneo, localizado na Rua Salgado, nº 122, Loteamento nº 10, Quadra nº 78, no Bairro de Intermares, nesta comarca de Cabedelo/PB.

Condeno, ao final, a ré nas custas e honorários, estes arbitrados em 10% do montante da condenação, nos termos do parágrafo único do art. 86 do CPC/2015, em razão de o autor haver decaído na parte mínima do pedido.

Cabedelo/PB, 18 de Março de 2021.

Antônio Silveira Neto – Juiz de Direito

Assinado eletronicamente por: ANTONIO SILVEIRA NETO 18/03/2021 21:11:57

http://pje.tjpb.jus.br/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam

ID do documento: 38580958