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Aperfeiçoamento na prevenção e combate aos incêndios

Mapa 8: Mesorregiões Paraná (2004)

3 AS “AÇÕES REMEDIADORAS” DO DESASTRE: O ESTADO, A POPULAÇÃO

3.2 O incêndio na Indústria Klabin

3.2.1 Fogo nos pinhais

3.2.1.1 Aperfeiçoamento na prevenção e combate aos incêndios

O incêndio de 1963 se tornou um divisor de águas no que diz respeito à prevenção e combate a incêndios. Após sua ocorrência o Índice de Perigo de Incêndio se tornou uma ferramenta indispensável para auxiliar no planejamento e supervisão das atividades de controle de incêndios florestais.

Dentre as medidas preventivas, a utilização de um índice de perigo confiável é fator fundamental para o planejamento mais eficiente das medidas de prevenção e para a adoção de ações rápidas e efetivas nas atividades de combate aos incêndios florestais, visando a redução das perdas e dos prejuízos financeiros advindos da ocorrência de eventos catastróficos (NUNES; SOARES; BATISTA, 2006, p. 75).

Os índices de perigo de incêndios foram introduzidos pela primeira vez no Brasil em 1963. Devido à dificuldade de obtenção de informações básicas, inclusive algumas variáveis meteorológicas, os índices sugeridos naquela oportunidade foram os de Angstron e Nesterov, que apenas requerem temperatura, umidade relativa do ar e precipitação para seus cálculos. (SOARES, 1998).

120 Em 1972, o professor Ronaldo Viana Soares desenvolveu o primeiro índice de perigo de incêndio do Brasil, a Fórmula de Monte Alegre (FMA) (TETTO, 2012). Ela é estruturalmente muito simples, requer apenas duas variáveis meteorológicas, umidade relativa do ar e precipitação para ser calculada, e pode ser usada em praticamente em todo o país, fazendo-se as devidas adaptações na escala de perigo quando e onde necessárias, ou pelo menos nas regiões onde a umidade relativa é o parâmetro mais relacionado à ocorrência dos incêndios (SOARES, 1998, p. 89).

A Fórmula de Monte Alegre (FMA) é um índice cumulativo que requer valores diários de umidade relativa do ar e quantidade de precipitação, além do número de dias sem chuva, para seu cálculo. A FMA foi desenvolvida por meio de dados meteorológicos e de ocorrência de incêndios da Fazenda Monte Alegre, município de Telêmaco Borba, durante 7 anos (1965 a 1971). Sua equação básica pode ser representada pela seguinte fórmula (SOARES, 1998, p. 89):

FMA = Fórmula de Monte Alegre

H = umidade relativa do ar (%), medida às 13 horas n = número de dias sem chuva

A ocorrência e a propagação dos incêndios florestais estão fortemente associadas às condições ou fatores climáticos. A intensidade de um incêndio e a velocidade com que ele avança estão diretamente ligados à umidade relativa, temperatura e velocidade do vento (NUNES; SOARES; BATISTA, 2006). A primeira FMA65 não considerava a velocidade do vento em seus cálculos. Tendo em vista que a utilização de dados meteorológicos e climáticos precisos é vital para o planejamento de prevenção e combate aos incêndios florestais, houve- se a necessidade de alterar a FMA.

A inclusão de uma variável que permita à Fórmula de Monte Alegre avaliar também o potencial de propagação do incêndio foi de grande importância para seu aperfeiçoamento,

65 A Fórmula de Monte Alegre (FMA) é um índice de perigo baseado em variáveis meteorológicas e enfatiza o aspecto da probabilidade de ignição, ou seja, indica a possibilidade de um incêndio ter início, desde que haja uma fonte de fogo (SOARES; NUNES; BATISTA, 2006, p. 76).

121 tornando-a mais eficiente, tanto na prevenção quanto no combate aos incêndios que estejam ocorrendo. A velocidade do vento é uma variável meteorológica que possui grande influência na propagação de um incêndio florestal, e a sua inclusão na FMA tinha o objetivo de torná-la mais eficiente (SOARES; NUNES; BATISTA, 2006).

A forma geral da Fórmula de Monte Alegre Alterada, referenciada como FMA+, passou a ter a seguinte representação geral (SOARES; NUNES; BATISTA, 2006, p. 76):

FMA+ = Fórmula de Monte Alegre

H = umidade relativa do ar (%), medida às 13 horas n = número de dias sem chuva maior ou igual a 13,0 mm v = velocidade do vento em m/s, medida às 13 horas e = base dos logaritmos naturais (2,718282)

Entre todas as utilidades desempenhadas pelo Índice de Perigo de Incêndios podemos destacar:

o estabelecimento de zonas de risco, possibilitando um melhor planejamento das atividades de prevenção contra incêndios florestais, a definição da estação de incêndios, a permissão para queimadas controladas em períodos menos perigosos, a previsão do comportamento do fogo visando a adoção de técnicas mais efetivas de combate e a advertência pública do grau do perigo, fator importantíssimo nos programas de educação ambiental, informando à população por meio dos veículos de comunicação, para que sejam adotadas medidas preventivas e, em casos extremos, limitando o acesso a áreas de riscos e proibindo o uso de fogo em locais próximos às florestas ou outras formas de vegetação (NUNES; SOARES; BATISTA, 2006, p. 76).

Após 1963, a Fazenda Monte Alegre passou a ser citada por técnicos brasileiros e estrangeiros como modelo de sistema de prevenção e combate a incêndios florestais. Pois além de passar a utilizar o índice de perigo de incêndio, as outras ferramentas também foram aperfeiçoadas

122 com eficientes e modernos equipamentos, que incluem torres de observação, carros- pipa, máquinas e ferramentas, talvez o que ela tenha de mais importante, dentro do sistema de proteção, é uma preocupação constante, não só do corpo administrativo, mas de todas as pessoas envolvidas no projeto, preparadas para, a qualquer momento, evitar, enfrentar e debelar o fogo florestal (SINAL VERDE, 1982, p. 11).

Essa necessidade de aperfeiçoar os métodos de combate e prevenção é devido a frequência da ocorrência de incêndios no território da Fazenda Monte Alegre e o medo das proporções que o fogo tomou em 1963.

Anualmente, nos períodos das grandes secas a Fazenda Monte Alegre vive sob o alerta de fogo. Os dados dos postos de observações meteorológicas passam a ser periódicos e cuidadosamente analisados. Grandes mostradores coloridos, colocados em pontos estratégicos, anunciam diariamente, o índice de inflamabilidade e o risco de incêndios calculados por um método desenvolvido para a área (FMA e FMA+). Consideradas como tarefas de rotina, com o início do período crítico para incêndios florestais alguns cuidados são redobrados, como a limpeza, conservação e manutenção de aceiros (SINAL VERDE, 1982, p.11).

Os vigias das torres de observação redobram a atenção. Sua carga horária de trabalho pode ser aumentada caso a seca se prolongue. A observação da floresta passa a ser feita no período de 9 às 22 horas, ou pode entrar em regime de plantão. As torres de vigilância possuem uma altura que varia entre 17 e 25 metros, de acordo com as condições topográficas do terreno. As cabines são equipadas de telefone ou rádio e um goniômetro, aparelho por meio do qual o vigia da torre encontra as coordenadas para localizar os pontos do incêndio (SINAL VERDE, 1982).66

A vigilância móvel se tornou outro elemento fundamental para a prevenção do incêndio florestal. São pessoas que fazem a vigilância de determinadas áreas, utilizando veículos ou cavalos. Seu trabalho é fundamental, principalmente em dias de névoa seca, quando a observação, por meio da torre, se torna bastante dificultada (SINAL VERDE, 1982, p. 11).

Dependendo da intensidade do fogo, as equipes de combate utilizam bombas-costais, com capacidade para 19 litros de água, motosserras e até tratores de esteira e moto niveladoras. Como estrutura de apoio fundamental, foram construídos pontos de captação d´água, num total de 17 dentro da área da fazenda, para reabastecimento dos carros-pipa e

66 Apesar da referência utilizada ser do ano de 1982, nos dias de hoje a Fazenda Monte Alegre utiliza essa metodologia nos períodos críticos.

123 bombas-costais. Eles podem ser hidrantes, barragens de terra ou rios, todos com acesso por meio de caminhos transitáveis e sinalizados (SINAL VERDE, 1982).

Ainda como medidas de rotina, a Fazenda Monte Alegre adotou, para prevenção e incêndios, as “cortinas de segurança”. Elas são faixas de terras plantadas com espécie de maior resistência ao fogo, como eucalipto, nas áreas de maior perigo, com as áreas limítrofes da fazenda e nas margens das estradas são cercadas por cancelas, onde, nos dias de grande perigo de incêndio, determinados pelas condições meteorológicas, guardas de segurança param e alertam todos os transeuntes para os cuidados que devem tomar, especialmente com fósforos e pontas de cigarros.

Conforme já mencionado em 1963, a Fazenda Monte Alegre já possuía um equipamento de prevenção, com torres, rádios e o mínimo necessário para se controlar um incêndio. Mas por qual motivo os incêndios ocorridos naquele ano não foram minimamente controlados?

A resposta mais coerente foi dada por Luiz Cordeiro, responsável pela Seção de Vigilância e Proteção Florestal da Klabin na década de 1980, e que em 1963 morava a 100 quilômetros da região mais atingida (SINAL VERDE, 1982, p. 11):

O que parece que todo o setor florestal não tinha, na época, era uma noção exata da proporção que os incêndios florestais poderiam adquirir. Os prejuízos em todo os níveis, que poderiam trazer. Então, por exemplo, tinha-se um sistema de rádio, que na hora H não funcionava. Havia uma torre, onde o vigia de vez em quando dava uma cochilada. Ou seja, ninguém imaginava que realmente pudesse ocorrer um incêndio florestal e que pudesse ter um resultado tão catastrófico. O incêndio de 63 no fundo foi um grande alerta e, para quem interessa, ele foi uma lição inesquecível.

O controle e a prevenção de incêndios se tornou um tema obrigatório após os incêndios. Modernizaram-se os métodos e intensificaram-se os estudos referentes ao assunto. O Paraná não suportaria outro 1963.