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Mapa 8: Mesorregiões Paraná (2004)

4 O COTIDIANO DE UM DESASTRE

4.1.3 O fogo no Centro Ocidental e Norte Pioneiro

O fogo estava consumindo vidas e ameaçando cidades. Os incêndios que devastaram diversas áreas do interior paranaense assumiram com o passar dos dias aspectos gravíssimos, comprometendo a segurança individual.

No início do mês de setembro, as informações oriundas do município de Curiúva ganharam destaques nos jornais. No dia 3 de setembro, o Última Hora noticiou a morte de 8 pessoas e o ferimento de outras 9. O fogo que queimou pastagens, plantações, fazendas, povoados, homens e animais, teve início às margens dos rios São Francisco e do Peixe, atingindo primeiramente as Colônias Santas e Barro Preto, a primeira no município de Curiúva e a segunda em Tibagi:

Toda uma família de colonos foi dizimada na Fazenda Boa Vista, em Barro Preto: Antônio Rochait (60 anos), sua esposa Carmelita e seus filhos João, Jair e Durecídio Rochait, cujos cadáveres semicarbonizados foram reconhecidos por vizinhos no braseiro que ficou reduzido a sua casa.

O fogo devastou uma extensão de 30 mil alqueires com prejuízos incalculáveis em pastagens, madeira de lei, gado, ranchos e queima de serrarias na região do Norte Pioneiro, formada pelos municípios de Jundiaí do Sul, Conselheiro Mairink, Abatiá, Ribeirão do Pinhal e Joaquim Távora (GAZETA DO POVO, 3.Set.1963)

Um forte incêndio assolou no início do mês de setembro Vassoural, distrito de Ibaiti no Norte Pioneiro. Três pessoas morreram carbonizadas, não sendo possível realizar suas identificações. Dezenas de feridos esperavam por socorros urgentes, que eram dificultados pelas precárias condições de acesso à região que ficou cercada pelas chamas. As comunicações com aquela localidade ficaram interrompidas em virtude da queda dos postes telegráficos e telefônicos79 (ÚLTIMA HORA, 3.Set.1963).

78 Apesar de não serem mesorregiões limítrofes, estamos usando a mesma divisão que os jornais analisados utilizaram ao se tratar de suas regiões. As notícias de uma mesorregião parecem complementar a da outra. 79 Diversas cidades do interior do Paraná durante os meses de agosto e setembro ficaram isoladas. O fogo queimou as pontes de acesso, fios de transmissão de energia e comunicação. O acesso pelas estradas se tornaram perigosos, pois em várias regiões os incêndios lavraram em ambos os lados da pista, impossibilitando a passagem.

147 Diversas notícias publicadas pelo jornal Última Hora sobre o Norte Pioneiro pareciam histórias de horror pela forma como os textos eram redigidos, conforme podemos observar na reportagem do dia 5 de setembro:

Após devastar quase toda zona rural de Bandeirantes, Santa Mariana, Andirá, Cambará, os incêndios motivados pela prolongada seca que assola esta região, estão se estendendo como enormes lençóis de fogo por todo o Norte Velho. Na região compreendida entre Jacarezinho e Venceslau Brás, o fogo tem provocado prejuízos incalculáveis. As primeiras notícias de vítimas humanas da catástrofe, ainda não confirmadas são precedentes de Siqueira Campos, onde, segundo informa, grande número de populares está vasculhando o resto de uma mata próxima à procura do corpo de dois rapazes que teriam sido surpreendidos pelo fogo enquanto caçavam. [...] Irrompido na madrugada de anteontem na fazenda Cordeiro, distante 5 quilômetros desta cidade, um incêndio já atingiu o cemitério municipal de Jacarezinho e ameaça propagar-se pela zona urbana. Até o momento tem sido inúteis todos os esforços para debelar o sinistro. As labaredas atingem a 10 metros de altura e levadas pelo vento atravessam com facilidade os aceiros escavados para deter sua marcha.

A cidade de Jacarezinho teve sua área urbana ameaçada por fortes incêndios ocorridos em seu território. Na zona rural:

Várias fazendas e propriedades menores foram totalmente arrasadas. Na Fazenda Cordeiro, foram destruídos 40 alqueires de cana de açúcar, apesar do esforço de 500 homens. A Fazenda Flora teve uma máquina de café inteiramente destruída, com cinco mil sacas do produto beneficiado, além de 5 residências. Na Fazenda Garcia os prejuízos calculados em 8 milhões de cruzeiros, entre casas, criações e lavouras destruídas. Além destas, foram ainda duramente queimadas as fazendas do Paraíso, Pinhalzinho Grande, Ouro Verde, Zizo Nogueira e outras propriedades menores. Um incêndio que se originou ontem no Engenho Monjolinho, propaga-se rapidamente em direção à cidade de Joaquim Távora, tendo já destruído aproximadamente 30 quilômetros quadrados de matas e plantações (ÚLTIMA HORA, 6.Set.1963).

Na segunda quinzena do mês de setembro começaram a circular notícias de que o fogo estava sendo controlado em todo o Estado. Embora mais brando, mas ainda implacável, o fogo continuou no interior do Estado e alastrou-se para novas regiões. Em Jacarezinho, o fogo carbonizou mais de dezoito vidas em duas fazendas e o os incêndios continuaram consumindo as lavouras.

Um incêndio iniciado na fazenda de Zico Nogueira, atingiu a fazenda vizinha de Renato Pavan e consumiu grande quantidade de madeira de lei, no valor de 4 milhões de cruzeiros, além de 36 alqueires de plantação e 16 cabeças de gado. A única solução era a vinda das chuvas, porém as previsões eram desanimadoras (ÚLTIMA HORA, 10.Set.1963).

148 Considerada como uma das cidades mais sinistradas do Norte Pioneiro, a cidade de Ribeirão Claro teve 80% de sua zona rural consumida pelas chamas. O fogo provocou a morte de três pessoas, ferindo outras 20, além de queimar dezenas de casas, paióis e tulhas. As chamas queimaram seis pontes recém-construídas que davam acesso ao município.

Nesse meio tempo, o fogo cessou nos munícipios de Joaquim Távora, Siqueira Campos e Jacarezinho, mas continuou nos distritos de Platina e Conselheiro Zacarias, entre Jacarezinho e Santo Antônio da Platina ameaçando enormes extensões de matas secas.