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Mapa 8: Mesorregiões Paraná (2004)

3 AS “AÇÕES REMEDIADORAS” DO DESASTRE: O ESTADO, A POPULAÇÃO

3.1 As políticas públicas criadas pelo Estado

3.1.1 A Operação Sementes

As políticas públicas desencadeadas pelo Governo se misturaram à necessidade de prover os agricultores com sementes e outros insumos necessários para que eles pudessem retomar seus trabalhos na lavoura. A Operação Semente elaborada pelo Governo do Paraná por meio da Secretaria de Agricultura e pela Café do Paraná tinha a intenção de atender a produção agrícola do Paraná, visando atender as demandas de sementes diversificadas.

Por essa campanha os agricultores obtiveram financiamento parcial ou total para a aquisição de sementes de diversas culturas, e os financiamentos concedidos tiveram prazos que foram do plantio à colheita.

Para financiamentos totais, foram beneficiários os proprietários, arrendatários, parceiros e meeiros, de áreas de até 20 alqueires. Os primeiros deveriam fazer prova dessa qualidade e os demais deveriam apresentar aqueles como avalistas. Neste caso, os interessados deveriam provar também que os respectivos bens foram destruídos pelos incêndios (FOLHA DE LONDRINA, 17.Set.1963).

Para os financiamentos parciais as condições foram as seguintes: a) pagamento à vista do valor correspondente a 20% das sementes adquiridas; b) emissão de notas promissórias, a favor do Grupo Executivo de Racionalização da Cafeicultura correspondente aos 80% restantes; c) ser proprietário, arrendatário, parceiro e meeiro de propriedades entre 21 e 50 alqueires, desde que provassem que as respectivas propriedades haviam sido assoladas pelo fogo; d) apresentação da prova dessa qualidade; e) apresentação do proprietário como avalista do arrendatário, parceiro ou meeiro (FOLHA DE LONDRINA, 17.Set.1963).

A comissão da Operação Sementes estipulou, também, limites aos fornecimentos de sementes aos agricultores. Para propriedades de até 20 alqueires, seriam fornecidas sementes para plantio de até 8 alqueires; e para propriedades de 21 a 50 alqueires, a Operação forneceria sementes para plantio de até 30 alqueires. Os prazos dos financiamentos correram do período do plantio ao da colheita e nenhum deles poderia ter vencimento após 30 de julho de 1964 (FOLHA DE LONDRINA, 17.Set.1963).

93 A previsão do Estado, para fornecimento de sementes financiadas aos agricultores, de acordo com as diretrizes da operação, apresentava o seguinte quadro de disponibilidade (FOLHA DO NORTE, 18.Set.1963):

 Algodão – 600 mil sacas  Milho Híbrido – 60 mil sacas  Milho Azteca – 10 mil sacas.  Feijão – 20 mil sacas

 Arroz – 20 mil sacas  Amendoim – 15 mil sacas  Soja – 20 mil sacas  Mamona – 10 mil sacas  Batata – 10 mil caixas

Para que a execução da Operação Sementes tivesse êxito foram mobilizados 55 agrônomos, 300 funcionários administrativos e 120 viaturas. Para a racionalização dos serviços de distribuição de sementes e para que todas as unidades rurais do Estado tivessem pleno atendimento, o Estado foi dividido em 11 regiões de atendimento: Curitiba43, Ponta

Grossa44, Irati45, Guarapuava46, Pato Branco47, Cambará48, Londrina49, Maringá50,

43 Faziam parte da jurisdição de Curitiba: Cerro Azul, Rio Branco do Sul, Guaraqueçaba, Bocaiuva do Sul, Campina Grande do Sul, Colombo, Almirante Tamandaré, Campo Largo, Araucária, Balsa Nova, Porto Amazonas, Campo do Tenente, Antonio Olinto, Rio Negro, Piên, Quitandinha, Mandirituba, Agudos do Sul, Tijucas do Sul, Guaratuba, São José dos Pinhais e Lapa.

44 Palmeira, Castro, Piraí do Sul, Tibagi, Ipiranga, Reserva, Ortigueira, Cândido de Abreu, Ivaí e Imbituva, eram os municípios que compunham a região de Ponta Grossa.

45 A região que tinha como sede Irati compreende os municípios de Teixeira Soares, Rebouças, Rio Azul, São João do Triunfo, Mallet, Paulo Frontin, União da Vitória, Cruz Machado, Bituruna, General Carneiro e Prudentópolis.

46 A região de Guarapuava abrangia os municípios de Manoel Ribas, Pitanga, Palmital, Guaraniaçu, Laranjeiras do Sil, Catanduvas, Cascavel, Corbélia, Toledo, Palotina, Matelândia, Medianeira, São Miguel do Iguaçu, Foz do Iguaçu, Marechal Rondon, Guaíra e Formosa do Oeste.

47 Ficaram sob a jurisdição de Pato Branco os municípios de Vitorino, Marianópolis, Clevelândia, Renascença, Marmeleiro, Francisco Beltrão, Coronel Vivida, Mangueirinha, Chopinzinho, São João, Dois Vizinhos, Barracão, Santo Antônio, Ampére, Pérola do Oeste e Capanema.

48 Andirá, Itambaracá, Bandeirantes, Jacarezinho, Ribeirão Claro, Abatiá, Santa Amélia, Ribeirão do Pinhal, Jundiaí do Sul, Joaquim Távora, Carlópolis, Quatiguá, Conselheiro Mayrink, Siqueira Campos, Santa Ana do Itararé, Tomazina, Wenceslau Bráz, Pinhalão, Jaboti, Japira, Ibati, São José da Boa Vista e Santo Antonio da Platina, fizeram parte da região de Cambará.

49 A região de Londrina abrangeu os municípios de Ibiporã, Cambé Rolândia, Arapongas, Apucarana, Califórnia, Araruva, Bela Vista do Paraíso, Faxinal, Curiúva, Sapopema, São Jerônimo da Serra, Congoinhas, Santa Cecília

94 Paranavaí51, Cruzeiro do Oeste52 e Cianorte53 (PARANÁ, 1964, p.81). A comissão executiva da Operação Sementes forneceu a cada uma das regiões quantidades de sementes que deveriam ser distribuídas entre os municípios sob suas jurisdições.

Tabela 7: Quantidade de sementes distribuídas por região

Curitiba: 1.000 sacas de milho azteca; 15.000 sacas de milho híbrido; 500 sacas de feijão; 500 sacas de arroz; 500 sacas de amendoim e 2 mil sacas de soja.

Ponta Grossa: 500 sacas de milho azteca; 2 mil sacas de milho híbrido; 500 sacas de feijão; 500 sacas de arroz e 500 caixas de batatas.

Iratí: 500 sacas de milho híbrido e 500 caixas de batata.

Guarapuava: 500 sacas de milho azteca; 4 mil sacas de milho híbrido; 1 mil sacas de feijão; 1 mil sacas de arroz; 4 mil sacas de soja e 1 mil caixas de batata.

Pato Branco: 1 mil sacas de milho azteca; 38 mil sacas de milho híbrido; 1 mil sacas de feijão; 1 mil sacas de arroz; 1 mil sacas de soja e 1 mil caixas de batata.

Cambará: 15 mil sacas de algodão; 6 mil sacas de milho híbrido; 1 mil sacas de feijão; 1 mil sacas de arroz e 1 mil sacas de amendoim.

Londrina: 130 mil sacas de algodão; 25 mil sacas de milho azteca; 17 mil sacas de milho híbrido; 6 mil sacas de feijão; 5 mil sacas de arroz; 35 mil sacas de amendoim; 3 mil sacas de soja; 3 mil sacas de mamona e 500 caixas de batata.

Maringá: 100 mil sacas de algodão; 12 mil sacas de milho híbrido; 2 mil sacas de milho azteca; 6 mil sacas de feijão; 5 mil sacas de arroz; 7 mil sacas de amendoim; 7 mil sacas de soja; 1 mil sacas de mamona e 1 mil caixas de batatas.

Paranavaí: 100 mil sacas de feijão; 500 sacas de milho azteca; 15 mil sacas de milho híbrido; 1 mil sacas de feijão; 1 mil sacas arroz; 1 mil sacas de amendoim; 5 mil sacas de soja; 1 mil sacas de mamona; 5 mil caixas de batata.

do Pavão, Santo Antonio do Pari, Nova Fátima, São Sebastião da Amoreira, Alvorada do Sul, Porecatu, Florestópolis, Miraselva, Cambira, Borrazópolis, Ivaiporã, Primeiro de Maio, Sertanópolis, Sertaneja, Rancho Alegre, Leópolis, Santa Mariana, Cornélio Procópio, Uraí, Jataizinho, Nova América da Colina e Assaí.

50 Municípios sob a jurisdição de Maringá: Lobato, Florida, Mandaguaçu, Ourizona, Paissandu, Marialva, Mandaguari, Ivatuva, Floresta, Itambé, Jandaia do Sul, Bonsucesso, Marumbi, Kaloré, São Pedro do Ivaí, São Jorge, Sabáudia, Astorga, Iguaraçu, Munhoz de Mello, Santa Fé, Jaguapitã, Guaraci, Nossa Senhora das Graças, Centenário do Sul, Lupionópolis, Cafeara, Colorado, Santo Inácio, Santa Inez e Itaguagé.

51 A 9ª região era composta por Querência do Norte, Santa Cruz do Monte Castelo, Loanda, Santa Izabel do Ivaí, Nova Londrina, Itaúna do Sul, Planaltina do Paraná, Amaporé, Guairacá, Terra Rica, Mirador, Paraíso do Norte, Tamboara, Santo Antônio do Caiuá, Inajá, Porecatu, Cruzeiro do Sul, Uniflor, Atalaia, Nova Esperança, Alto do Paraná, São Carlos do Ivaí, Floraí, Paranacity e Nova Aliança do Ivaí.

52 Icaraíma, Xambrê, Maria Helena, Cidade Gaúcha, Rondon, Guararema, Umuarama, Tuneiras do Oeste, Moreira Saltes, Alto Piquiri, Goioerê, Iporã e São Tomé, eram os municípios sob jurisdição de Cruzeiro do Oeste.

53 Os municípios que compuseram a região de Cianorte foram: Jussara, Terra Boa, Engenheiro Beltrão, Peabiru, Araruna, Campo do Mourão, Barbosa Ferraz, Fênix, Iretama, Mamburê, Roncador, Campina da Lagoa e Ubiratã.

95 Cruzeiro do Oeste: 130 mil sacas de algodão; 1 mil sacas de milho de azteca; 8 mil sacas de milho

híbrido; 2 mil sacas de feijão; 2 mil sacas de arroz; 2 mil sacas de amendoim; 1 mil sacas de mamona e 500 caixas de batata.

Cianorte: 35 mil sacas de algodão; 1 mil sacas de milho azteca; 4 mil sacas de milho híbrido; 1 mil sacas de feijão e 1 mil sacas de arroz.

Fonte: Paraná, 1964, p. 82.

O secretário Paulo Pimentel, da Secretaria da Agricultura, determinou a mobilização de todos os recursos para a execução do plano de distribuição, aos agricultores, de sementes de algodão, feijão, milho, arroz e outras leguminosas e cereais, a fim de possibilitar uma recuperação imediata da economia paranaense. Para melhor atendimento dos lavradores o secretário determinou, ainda, que nenhum município poderia ficar sem um posto de distribuição de sementes (PARANÁ, 1964, p. 84).

Onde não havia Casa Rural ou Posto Rural foi instalado um novo posto, mesmo que em caráter precário. Recrutaram o pessoal necessário, com a cooperação das associações rurais e administrações municipais.

Foto 4: Aspectos do posto de venda de sementes de soja, amendoim e arroz. 21/11/1963. Foto: Armínio Kaiser.

96 A Operação Sementes foi bem saudada na imprensa. Os periódicos concordavam que tal ação do governo era fundamental para a recuperação da economia agrícola paranaense, uma vez que facilitava a aquisição de sementes oferecidas aos agricultores e principalmente por lograr a diversificação da cultura:

A Operação estava cumprindo importantes finalidades. Em primeiro lugar, era o propósito de propiciar a renovação das lavouras dizimadas. Em segundo, evitar o êxodo rural. E, em terceiro, o propósito de dar início ao plano de diversificação das culturas, justamente na região cafeeira mais sujeita às geadas (PARANÁ, 1964, p.88).

Outro aspecto da Operação Sementes enfatizado pela imprensa além das facilidades oferecidas aos agricultores na aquisição de sementes, era o seu caráter voltado à diversificação agrícola. A cotonicultura paranaense, que naquele período estava em sua fase de ascensão, foi contemplada com prioridade, por motivos econômicos justificáveis, mas as outras culturas foram paralelamente incentivadas (PARANÁ, 1964, p. 86).

As autoridades paranaenses acreditavam que a Operação Sementes poderia acarretar benefício para a economia do Estado. Na década de 1960, o Paraná cultivava cerca de 41 produtos agrícolas. Os estudiosos acreditavam que isso dava uma falsa impressão de policultura, pois à medida que se examinava a distribuição das áreas e o valor da produção, verificava-se uma forte tendência monocultora. Desses 41 produtos, os cereais participavam em 37% das regiões cultivadas, seus sucedâneos em 15,4% e o café em 40,5%. Esses três tipos de cultivos totalizam 92,9% da área cultivada e 89,5% do valor da produção. Por este motivo a intensão era modificar um panorama que era considerado prejudicial à economia: policultura diversificada e desequilibrada, agricultura de subsistência, orientada para a cerealicultura e monocultura típica e intensa representada pela cafeicultura (PARANÁ, 1964, p. 89).

Nesse sentido, o objetivo principal era racionalizar a agricultura do Paraná dentro de um moderno padrão. Os estudiosos defendiam o estabelecimento de uma política equilibrada de produção, equidistante dos excessos de monocultura absorventes, como também das policulturas desordenadas.

Assim, dividindo o Estado em três regiões - Leste com suas terras mais pobres, fracas e ácidas; Oeste, mais ou menos uniformes, de fertilidade média; Norte, de terras férteis – foi fixado a ação governamental, de acordo com as peculiaridades de cada zona e objetivando (PARANÁ, 1964, pp 89-90):

97 1. Estimular a culturas por meio de assistência creditícia, assistência técnica, mecanização, garantia de preços mínimos compensadores e garantia de armazenamento e escoamento da produção.

2. Desestimular as culturas tradicionais ou pioneiras, antieconômicas, pela retração das medidas propostas para as culturas prioritárias.

É importante ressaltar que a Operação Sementes foi um reflexo da política de erradicação e racionalização da agricultura adotada pelo GERCA. Nesse sentido, a diversificação agrícola deve ser tomada como uma ação racional e planejada, e não necessariamente como uma reação ao momento da tragédia dos incêndios. A efetivação da Operação Sementes deve ser entendida como uma política pós-desastre inserida no contexto de racionalização que visava a modernização da agricultura paranaense, que pode ser claramente verificada nos anos posteriores.

Porém as demandas da população atingida pelos incêndios não ficaram limitadas em soluções econômicas, elas se estenderam para os diversos setores que regulam a vida em sociedade – saúde, educação, moradia, alimentação e emprego. Essas outras demandas ficaram a cargo de uma ampla rede solidariedade privada, que buscou auxiliar as famílias mais carentes que perderam seus bens materiais e pessoais para o fogo.