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Apesar da diversidade de paisagens criadas, na maioria dos casos, não passam de um disfarce para tipos de organização racionalista sendo “a

Cooper, 1997, pp 450 Ficheiro separado

anos 90 perspectiva actual que adopta a retórica da sustentabilidade, e admite que, o turismo de massas

5. Apesar da diversidade de paisagens criadas, na maioria dos casos, não passam de um disfarce para tipos de organização racionalista sendo “a

sua aparência mais resultado de escolhas arbitrárias do que da tradição”.

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A intenção de transformar o turismo numa actividade sustentável, nas estâncias balneares de sol e praia, deve incluir, de acordo com o modelo de Weaver, a utilização de modelos de arquitectura vernácula, que constituem, quanto a esse académico, os que mais favorecem o desenvolvimento sustentável, como defende o novo urbanismo e foram utilizados em empreendimentos tão paradigmáticos para o citado movimento, como Seaside (1981), Playa Vista (1989), Laguna West (1990) ou Riviera Beach (1991), todos localizados na Flórida (Weaver, 2000, pp. 218; Katz, 1994, pp. 2, 18, 134 e 178; ver capítulo 2.3.4), quer para reabilitar espaço tradicionais, quer na concepção de novas estâncias. No entanto, deve ser evitada uma estetização que se sobreponha aos seus objectivos iniciais, acabando por se transformar em mais uma forma de promover as vendas no sector imobiliário. Relph denomina os ambientes criados (ver quadro 2.5.17) com o objectivo de responder ao marketing imobiliário, por espaço peculiar e vê neles uma ameaça, porque é uma forma de integrar, quase tudo o que signifique diferenças visíveis, acabando por destruir, desse modo a essência do projecto pós moderno (Relph, s.d., pp.224-227).

Nas estâncias turísticas que cresceram em função da procura de massas do período “Fordista”, seria economicamente ineficaz e socialmente inaceitável abandonar os investimentos anteriores, em “facilities” turísticas (Bramwell, e Shearman, 2000, pp. 20). Estas novas tendências do planeamento e da gestão turística dos destino, que permitem atingir um desenvolvimento sustentável do turismo de massas, exigem, porém, organizações turísticas competentes, para assegurar quer a sua coordenação, quer um processo flexível de gestão participada (Godfrey e Clarke 2000, pp.62).

Países como a Espanha, a França, a Itália e a Inglaterra têm vindo a adoptar tipos de planeamento e gestão, que tanto facilitam a reconversão dos locais nos quais se desenvolveu um turismo de massas não sustentável, como envolvem a criação de produtos não apenas complementares mas também alternativos do sol e praia, como o agro e o eco turismo, o cultural, o de saúde e o desportivo (ver quadro 2.5.18).

Quadro 2.5. 18 - A grelha de oferta

Produto Existente. Mudança do produto. Melhoria.

Diversificação. Relançamento. Atracção de mercados

específicos. Mudança de mercado e

diversificação.

O Plano DIA, (Plan de Desarrollo Integral del Turismo en Andaluzia), contava, entre os seus planos operativos, com alguns especificamente orientados para as actuações territoriais, como o Programa de Ordenamento Turístico do Território, o Plano Global da Melhoria da Oferta, Plano Piloto de Recuperação das Zonas Saturadas, Melhoria do Meio Envolvente, entre outros. A intenção deste tipo de programas de acção era incrementar os impactos positivos do turismo atenuando os negativos, sobre as comunidades receptoras. O plano DIA foi optimizado, do ponto de vista turístico, e no que concerne e competitividade, pelo Plano Futures (1992), para a Competitividade do Turismo Espanhol, realizado pela Secretaria-geral do Turismo.

No caso das estâncias balneares, como Torremolinos e Benidorm, onde se podiam encontrar todos os malefícios do crescimento do turismo de Sol e Praia e em que a perda de qualidade e de competitividade era mais acentuada, preparou-se um plano de choque, que incluía a reabilitação de edifícios, paisagens, espaços urbanos e infra-estruturas, de acordo com as configurações dos novos modelos territoriais. O plano Futures foi aplicado, logo nesse ano, de 1992, nas Baleares, em Calvià. Os seus objectivos eram os seguintes (Williams e Shaw, 1998, pp.66).

Recuperação ambiental dos espaços costeiros.

Melhoria da qualidade, da promoção, e da profissionalização. Cooperação, coesão social e participação dos cidadãos.

O plano Futures estimulava um turismo que se distinguisse pela qualidade, em oposição ao antigo modelo quantitativo. O seu sucesso foi tão grande que deu origem ao II Plano Futures (1996-1999) que continuava a procurar atingir o objectivo de definir um novo modelo de política de turismo, para melhorar a coordenação, a sensibilidade e a com responsabilização de todos os agentes envolvidos.

A crise em Espanha, que se estendeu de 1989 a 1992, altura em que o rendimento do turismo decresceu cerca de 28%, a estadia média e os gastos diários diminuíram, como referimos no ponto 1.5, foi vencida a partir de 1993. A melhoria fez-se sentir quer em termos numéricos quer em de receitas provenientes do turismo, como se pode verificar através da consulta dos quadros 2.5.19 e 2.5.20 (Pearce, 1996, pp. 126 in Valenzuela, 1998, pp. 43).

Quadro 2.5. 19 - Visitantes em Espanha 1990-1995

1990 52.044.056 1991 53.494.964 1992 55.330.716 1993 57.263.351 1994 61.428.034 1995 63.255.000 Fonte: Valenzuela, 1998, pp. 4

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Para manter os níveis de actividade alcançados todos os implicados – administração pública, empresários, população local e turistas - devem partilhar as responsabilidades e, embora as suas prioridades, a curto prazo, possam não ser coincidentes, instaurar um dialogo eficaz e um conjunto de acções concertadas como está expresso no V Programa da União Europeia, em matéria de ambiente (Mugica, 1994, pp. 81). Em consonância com essas directivas comunitárias, o Plano Estratégico para o Turismo, elaborado em 1995, veio não só consolidar o processo de reabilitação do turismo espanhol, mas também propiciar o desenvolvimento sustentável, utilizando uma metodologia inspirada na utilizada em Calvià, no âmbito da aplicação da Agenda 21 (Monfort Mir e Baidal, 2001, pp.35).

Quadro 2.5.20 - Receitas do turismo (em US$, milhões)

1990 18.593.00 1991 19.004.30 1992 22.180.80 1993 20.445.90 1994 21.410.30 Fonte: Valenzuela, 1998, pp. 45

No entanto as muitas acções empreendidas ou em fase de implementação, podem vir a revelar-se ineficazes, mesmo quando se utilizam as políticas e acções mais correctas. O estudo de Knowles e Curtis, baseado nas estâncias balneares espanholas, dos anos 50 e 60, locais em fase de pós estagnação, ou seja, para além do declínio (de acordo com as etapas do ciclo de vida de Buttler), vem chamar a atenção para a possibilidade de todos estes processos puderem vir a ser colocados em causa, porque este rejuvenescimento, na opinião daqueles investigadores, apenas impede uma evolução mais rápida em direcção à inevitável senilidade, se não se actuar sobre várias causas interrelacionadas (Knowles e Curtis, 1999, Knowles, Diamantis e El-Mourhabi, 2001, pp. 15-17).

As causas mencionadas pelos citados autores estão relacionadas com a incapacidade para quebrar a dependência dos operadores turísticos estrangeiros, nomeadamente ingleses e alemãs, que influenciam ainda muito as escolhas dos turistas, a competição muito intensa entre os destinos de sol e praia e o constante aparecimento de novos concorrentes. Neste cenário, afirmam, apenas os mais bem posicionados e os mais esclarecidos possuem condições para sobreviver, a longo prazo, pelo que a própria fase de pós estagnação e sobretudo as suas estratégias devem ser reformuladas, de modo a procurar minimizar os referidos pontos fracos (Knowles e Curtis, 1999, pp. 45).

2.6 - Conclusão

Neste capítulo pretendeu-se inventariar os elementos mais distintos da pós modernização – pós modernismo e Pós-”Fordismo” - estabelecendo, simultaneamente, os contributos dados para e recebidos do turismo. Deu-se relevo, na elaboração do capítulo, como já fora preocupação do anterior, a uma metodologia que para além das relações de diferença, em relação ao anterior modelo modernista “Fordista”, dentro dos limites temporais em que o actual paradigma se tem desenvolvido, buscasse de modo holístico, as analogias entre as áreas temáticas da pesquisa. A cultura urbana actual, como se demonstra no ponto 2.3, encontra as suas referências na democratização da educação e da cultura, na especificidade do consumo cultural, nas mudanças conceptuais, no domínio do desenho da cidade e do planeamento urbano. As referidas alterações manifestam os valores culturais e simbólicos de uma época que enaltece a tradição, a cultura local e os bairros históricos, apreço esse que propiciou novos modos de intervenção distintos dos defendidos e implementados pelos urbanistas modernistas, particularmente nos centros históricos. Essas zonas das cidades são tanto mais procuradas pelos novos turistas quanto revelem os referidos valores, como desejamos demonstrar no capítulo 3, dedicado às relações, no âmbito do novo paradigma, entre centro histórico, cultura e turismo.

A nova economia urbana com base no conhecimento, que se sobrepôs à produção industrial de massas, pelo menos nos países mais desenvolvidos, ganha muita da sua visibilidade através do trabalho cultural, como se patenteia no ponto 2.4. Este labor, por norma circunscrito ao centro da cidade, local que se transforma, desse modo, num meio criativo (“criative milieux”) especializado em bens e serviços com elevada carga simbólica. O meio criativo, por sua vez, constitui num factor de afirmação da imagem das cidades, a nível nacional e internacional, que ajuda a fixar outras actividades, porventura igualmente inovadoras. Essa aliança que favorece o encontro, nessa zona da cidade, entre economia dos fluxos, mais globalizada e economia local, tem vindo a revelar-se altamente favorável à internacionalização da segunda, com uma mediação activa dos turistas, tema que com mais detalhe no capítulo 3, sobretudo no ponto 3.6, dedicado aos bairros culturais.

O turismo, como actividade que se enquadra, tanto na economia dos fluxos, como na de base local, como se explica no ponto 2.5, pode não só colaborar com a divulgação externa do património e dos produtos culturais locais, mas também, através dos consumos realizados, no centro histórico das cidades do país receptor, durante o período de permanência proporcionar o incremento da produção.

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Este contributo dos turistas, nos países do sul da Europa parece-nos dever ser pouco passível de negligência, porque os do norte têm envidado todos os esforços para o incentivar e ampliar, como o demonstra os exemplos muito conhecidos das antigas cidades industriais britânicas. Nos países receptores de turismo de sol e praia do velho continente, os novos turistas podem ajudar a alargar um mercado frágil, com menos procura, devido ao menor capital cultural dos seus habitantes. A nova classe média cultural apresenta, tal como a antiga aristocracia de sangue e de dinheiro, estilos de vida idênticos, (ver pontos 1.2 e 1.3. e 2.3.2) em que a cultura localizada quer ao nível da produção, quer do consumo, desempenha um papel fundamental na economia dos centros históricos. Para os destinos turísticos, de sol e praia, em fase de maturidade, esta nova procura representa, também, uma oportunidade a não desprezar de diversificação da oferta, com base em recursos locais. Desse modo se associaria regeneração do centro histórico com requalificação do turismo balnear como se defende no capítulo 3.

3 - O turismo como propiciador da regeneração urbana