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Charles Jencks O passado é utilizado de forma

2.4.1 Aspectos comuns de um processo dual

A realização de um ponto acerca das novas formas de produção Pós-”Fordista”“, principalmente sobre os modelos localizados dos centros históricos, proporcionou-nos uma compreensão mais profunda da importância da produção cultural, das características das empresas do sector e da utilidade da sua presença nessa área da cidade, quer em termos de economia, quer de imagem da cidade, quer ainda como atractivo turístico, embora esta dimensão seja avaliada, com maior rigor no ponto 3.5.

A prossecução da nossa dissertação exigia que se contemplasse no seu modelo teórico, um espaço dedicado ao Pós-”Fordismo”“ e aos modos de produção associados, nomeadamente no que concerne a incidência local da nova economia cultural. Os países do sul da Europa, incluindo Portugal, possuem uma larga experiência dos modos de produção flexível, que perpassam a indústria cultural. O modo de produção da industrial italiana é, por certo, o mais bem sucedido, neste espaço meridional, mas existem também outras experiências, sobretudo as ligadas ao turismo, que se mantêm vivas e podem servir de base de suporte e inspiração ao desenvolvimento das indústrias culturais. No nosso país, a presença dessas actividades começa a ser estudada, embora poucos tenham sido os investigadores que se dedicaram a este tema. A pesquisa permite-nos garantir a sua presença, na capital do país, na zona que se

estende do Chiado ao Bairro Alto, núcleo que ganha a forma de um futuro bairro cultural, questão como referimos no ponto 4.2.3.4. Nada impede que, com o aumento do consumo cultural dos portugueses, não exija a formação de um maior número de zonas produtivas, em centros históricos. No Algarve a presença de turistas com perfil de nova classe média pode ajudar a desenvolver essa produção (ver ponto 6.2).

A teoria Neo-Schumpeteriana constitui um dos suportes do pós-”Fordismo” ao apoiar-se na análise cíclica e no capitalismo empreendedor. A história económica dos últimos 200 anos demonstra com base nas teorias Kondratiev (Kondratiev, 1926, in Mela, 1999, pp. 62) e Schumpeter (Schumpeter, 1939, pp. 63) que o desenvolvimento se deve a “um andamento cíclico” de ondas largas, com uma duração média de 50 anos, acompanhadas de períodos de inovação tecnológica, que não se sucedem de forma contínua, em termos temporais, mas sob a forma de vagas, com momentos de intensificação e outros de estagnação. A última etapa da época industrial que teve início em 1940, e terminou em 1990, embora a sua crise se tivesse iniciado nos anos 70, caracterizava-se pela produção de massas do tipo “Fordista”, que se analisou no ponto 1.3 (Mela, 1999, pp.62-63). Os ciclos de inovação podem ser descritos dividindo cada onda em quatro fases, da seguinte forma (Mela, 1999, pp. 63).

A fase inovadora em que se inicia o novo ciclo coincide, muitas vezes, com um período de estagnação económica. Algumas firmas procuram então superar essa fase crítica, através de um aumento do investimento na investigação na busca de inovações do produto (relativas aos bens) ou nas formas de organizar a produção (inovação de processo). As empresas que atingem estes objectivos, conseguem relançar-se e realizar grandes lucros.

A fase expansiva, caracteriza-se pela adopção da inovação por parte das empresas, a ritmo acelerado, favorecendo a revitalização dos mercados, conjuntura que facilita o relançamento da economia. A fase da maturidade corresponde à difusão máxima da renovação tecnológica, à sua fase de apogeu, com influência profunda nas economias mais desenvolvidas, mas em que o ritmo de crescimento abranda, em relação à etapa anterior.

A fase da estagnação marca o início da inversão da tendência precedente. A tecnologia que permitiu o desenvolvimento torna-se obsoleta e a sua geral aceitação conduz ao abaixamento do valor dos produtos, o que, por sua vez, conduz à recessão económica. Esta ao colocar em perigo as empresas incita ao início de um novo ciclo.

As questões da criatividade e da inovação, sobretudo da inovação tecnológica fundamentam a teoria Neo

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Schumpeteriana, porque alicerçam a mudança, após um período de crise. A actual economia Pós-”Fordista”“ depende, fortemente, da articulação mais ou menos harmónica entre criatividade e inovação porque constituem as novas formas de actuar ou de transformar em realidade o imaginado (criatividade), e o modo como são aplicadas (inovação), situações em que os dois termos, não podem, na prática, ser diferenciados (ver quadro 2.4.1). A riqueza, na nova economia, resulta, sobretudo, dos fluxos de inovação e não da optimização dos existentes, o que significa que as vantagens de aperfeiçoar o que se conhece é menos determinante do que procurar configurar, conquanto que de forma imperfeita, a evolução futura (ver Hall e Landry, 1997, pp.93-107; Landry, 2000, pp. 55-556; Howells, 2002, pp. 871-883;

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Daniels e Bryson, 2002, pp. 977-991). Os especialistas nas áreas da sociologia da arte, da cultura e do conhecimento desempenharam um papel fundamental no abandono de conceitos de criatividade e inovação, vistos como produto de um momento especial de inspiração de um criador solitário, para considerarem que resulta de uma intensa interacção social (Becker, 1974, 1976, 1982; Barnes, 1974; Barnes, 1996; Bourdieu, 1983; Crane, 1992; Marnnheim, 1952; Mulkey, 1972; White, e White, 1965; in Scott, 2000, pp. 37).

A cidade de Huddersfield tem vindo a desenvolver, desde 1995, um programa com apoio comunitário, através do denominados Projectos-piloto Urbanos (Urban Pilot Projects), com o objectivo de aumentar a criatividade dos residentes, através de formação, The Creative Town Iniciative (ver quadro 2.4.1), que abrange, entre outros instrumentos de actuação, aulas de pensamento criativo.

Quadro 2.2.1 - Huddersfield – O ciclo de Criatividade Urbana

O Ciclo de Criatividade Urbana foi desenvolvido por Landry, nele se apoiando o crescimento

sustentável da inovação e resulta da evolução da noção de Porter de cadeia de valor. O seu autor procura explicar o modo como as ideias se desenvolvem, evoluem, podem ser fruídas e gerar as condições para o surgimento de novas ideias criativas. O ciclo tem 5 fases:

1º Fortalecer as capacidade de gerar ideias de Huddersfield - com o estímulo inicial, fornecido

pelos fundos comunitários, as pessoas podem ser incentivadas a pensar de forma criativa e gerar novas ideias.

2º Transformar as ideias em realidade - em pouco tempo as melhores ideias devem receber

apoio para se transformarem em aplicações práticas inovadoras.

3ª Circulação e Marketing das Ideias - vital para criar uma massa crítica de inovadores ou

“criative milieu”, com o qual o crescimento desponta de uma combinação de competição e colaboração.

4º Plataformas de distribuição – a inovação exige uma contextura em que possa emergir e uma base a partir da qual possa crescer. Carece de espaços empresariais com rendas económicas, incubadoras e locais de exposição e demonstração.

5º Disseminação e Distribuição – finalmente a inovação exige que os produtos atinjam o seu mercado, o seu utilizador. À medida que a procura e as recompensas crescem outros têm a inspiração de seguir o mesmo caminho – oferecendo o estimulo para mais pensamento criativo e geração de ideias dando origem a um novo ciclo.

Fonte: http://www.Creativetown.

A produção de bens de consumo duráveis em fase de maturidade, como os automóveis, diminuiu, obedecendo apenas a uma lógica de substituição dos abatidos, enquanto nas áreas de grande inovação, onde o desenvolvimento é acentuado, a oferta de bens e serviços, com base na recolha e elaboração de informação, como os serviços informáticos, os financeiros, os de marketing, as telecomunicações e os culturais, tem vindo a aumentar de forma sistemática (Mela, 1999, pp. 78-79).

O quadro 2.4.2 tenta salientar o modo como se relacionam e interagem num processo definido pela sua dualidade as suas componentes globais e locais pelo que nos servirá de guia e suporte na elaboração deste ponto.

Quadro 2.4.2 - O Pós-”Fordismo”

Fonte: Síntese própria a partir de Amin, 1991, pp.111-120; Aniello, 2001, pp. 517-535; Bancks, 1999, pp.4; Becattini, 1994 pp.20-23; Berg e Brau, 1999, pp. 987-999; Berranger e Meldrum, 2000, pp. 1828-1830; Bloomfield ,1994, 91-92; Bonink e Hitters, 2001, pp. 229; Bovone, 1999, pp. 3; Caborn, 1999, pp. 12Castells, 1996, pp. 61; Castell, 1997, pp.323; Garofoli, 1994; pp. 36-37; Hall, 2000, pp.640;Harvey, 1989, pp. 56 303; Howells, 1999, pp. 79; Leontidou, 1993, pp. 956, 1996, pp. 186; Lever, 1999, pp. 1029-1044; Milestone, 1999, pp. 1; Mommas e Heijningen, 1999, pp. 6; Norcliffe, 1993, pp. 197; Pratley, 1994, pp. 241; O’Connor, 1999, pp. 2-3; Rogerson, Fidlay, Paddison e Morris, 1996, pp.35; Sauvage e Warde, 1999, pp. 264-278; Scott, 2000, pp. 10, 115-172; Shearman, 1997, pp. 107, 111; Soja, 1989, pp.180-193; Storpe, 1990, p. p. 431-34; Wilson, 1996, pp. 112-122

d Glocalização Intensamente Global. Intensamente Local. Temas Comuns Inovação. Criatividade Produção Flexível. Subcontratação. Pós Industrial/Pós-”Fordista”. Da Informação. Do Conhecimento. Global/Local. Global Economias de globalização. Empresas globais. Reforço das grandes concentrações financeiras.

Mobilidade. Facilidade de transferência de

interesses comerciais e financeiros. Empresas globais de produção (sucursais, subsidiárias, “joint

ventures”).

Empresas globais de distribuição (capital intensivo e normalização). Alianças/Redes Internacionais Eurocities,Telecities,Teleregiões Arco do Atlântico. Local Economias de localização e e aglomeração. Factores de localização não

económicos. Competências, Conectividade,

Conceitos, Comunidade. Pequenas e micro empresas.

Empresários por conta própria. Formas de trabalho pré e pós con ). industriais. Coordenação formal e informal (relações de fiança,” impannatori” Contratos, alianças estratégia a nível local e

internacional.

Investimento Negociação entre finança internacional e/ ou burocratas

europeus e poderes locais. Estratégias para obter

investimento. Crescimento económico. Fundos públicos nacionais e da

Comunidade Europeia. Programa Urban, Capital da

Cultura etc.

Modelos de economia localizada

Terceira Itália, cidades e áreas rurais dos países desenvolvidos.Produção cultural (serviços e produtos culturais)

em centros históricos.

Produtores com elevado capital cultural e social. Carreiras com base em projectos.

Gosto por correr riscos. "“clusters”" culturais. Formas de financiamento especiais. Necessidade de planear a acção de forma integrada.

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O sucesso dos países, na nova economia do conhecimento, depende da capacidade individual e colectiva de explorar a informação, disponível de modo a recriar inovando produtos e serviços (Woods, 1999, pp. 11). A substituição do modelo de produção industrial pelo pós- industrial não é, contudo, aceite por todos os académicos. Alguns, como Soja, acreditam que as sociedades podem ter atingido a fase Pós-”Fordista”“ sem se transformarem em pós industriais (Soja, 1989, pp.180-193).

Por outro lado, a redução do significado das ligações entre grandes empresas deu maior ênfase, aos factores de localização discretos e aos factores de localização não económicos como a amenidade do clima, as condições ambientais favoráveis e uma elevada qualidade de vida, medida em termos de facilidades de educação e bem-estar social e cultural (Rogerson, Fidlay, Paddison e Morris, 1996, pp.35). As questões mais frequentemente colocadas pelos investidores, prendem-se não apenas com o facto de saber se aquele é o melhor local para os operadores de capitais mas também para viver, consumir bem e sentir-se em segurança, num mundo em mudança (Harvey, 1989, pp. 303).

Edward Soja (Soja, 1999, 180-193) ao descrever a área metropolitana de Los Angeles defende que a sua complexidade a transforma numa cidade Pós-”Fordista” mas não necessariamente pós industrial. A urbe conta com tecnopólos, tecnoburgos e parques da ciência, com funcionários, muito bem pagos, maioritariamente brancos, assim como zonas industriais, muito dinâmicas, dependentes de mão-de-obra hispânica e asiática. Esta visão de Soja opõe-se a outros como Julius Wison (Wilson, 1999, pp. 112-122) e Mike Sauvage e Alan Warde (Sauvage e Warde, 1999, pp. 264-278, Manuel Castells, 1989; 1994; Saskia Sassen, 1991), porque não concorda com a opinião daqueles autores, quando afirmam que os empregos industriais se mudam para os países do terceiro mundo, no período Pós-”Fordista”, afirmações corroboradas por Carreras (Carreras, 1994, pp. 105).

O estudo realizado por Rozenblat e Pumain, com base na escolha de localização de 300 sucursais das 300 empresas de maior dimensão da Europa, revelou que se a maioria prefere estar representada nas grandes cidades europeias, enquanto as que desenvolvem actividades especializadas de investigação, os tecnópolos e as de turismo manifestam uma ligeira preferência pelas cidades de pequena e de média dimensão (Rozemblat e Pumain, 1993, pp.

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Numa época de declínio dos poderes do estado nação, sobre as multinacionais e sobre o seu poder económico, o investimento, na União Europeia, toma a forma de negociação entre a finança internacional ou entre os burocratas de Bruxelas e os poderes locais, fazendo estes últimos todos os esforços para acentuar a atracção do local, como engodo para o desenvolvimento capitalista (ver quadro 2.4.2). Os estudos recentes, sobre as áreas de competição na Europa, revelam que as cidades desenvolvem esse tipo de estratégias, com o objectivo de obter investimento móvel, crescimento económico capital humano, fundos públicos, quer a nível nacional, quer da União Europeia, como acontece com o Programa URBAN ou o associado à Capital Europeia da Cultura (Lever, 1999, pp.1043; ver também capítulo 3.5). Estes dois programas são muito cobiçados devido a oferecerem oportunidades de desenvolvimento da economia cultural local e captação de fluxos de turistas (Pratley, 1994, pp. 241).

Na verdade à medida que os estados nacionais perdem importância nas sociedades europeias, maior peso ganham as cidades, especialmente as que se encontram envolvidas em redes e alianças, como as Eurocities, as Telecities, as Teleregiões e o Arco do Atlântico. Mas ao mesmo tempo que a globalização empurra as cidades para estas alianças internacionais, valoriza a qualidade e o espirito de inovação das pessoas, as suas aptidões, os talentos e as instituições locais (Shearman, 1997, pp. 107, 111).

Desta forma os factores que influenciam a mudança competitiva estão cada vez mais dependentes do local, pelo que as cidades que se quiserem desenvolver devem preencher critérios que podem ser sintetizados em três C’s – Competências, Conectividade Conceitos, a que adiciona um quarto – Comunidade (ver quadro 2.4.2). Existe pois uma ligação muito forte entre cultura, tecnologia e economia, que associadas à criatividade e à inovação reforçam a importância da dimensão local (Shearman, 1997,pp. 112, 119).

A criatividade associada às características históricas de algumas cidades europeias, como Manchester ou Bolonha permitiram que fossem reconhecidas como urbes de elevado desenvolvimento cultural e económico. Os geógrafos da economia e os economistas regionais há muito que assinalam a importância da localização e da aglomeração da economia regional na criação de dinâmicas de inovação e de crescimento industrial e económico.

Na verdade se as grandes concentrações não deixam de crescer, as empresas de pequena e média dimensão, tem vindo a ganhar um enorme peso, como tem sido amplamente comprovado e representa uma mudança em relação aos anos 70 e ao paradigma industrial anterior. As empresas com menos de 500 empregados constituem 60% de todo o emprego do Reino Unido, situação que a OCDE verificou ser extensível a muitos dos países membros da organização (OCDE, 1998).

As micro empresas têm a vindo a aumentar não apenas em sectores tradicionais de tecnologia reduzida, mas também, nos de alta tecnologia. Em Barcelona, as novas empresas de serviços, localizadas no centro de negócios da cidade, ligadas à gestão de negócios, consultoria, publicidade, informação e tecnologias da informação, serviços técnicos como os estudos arquitectónicos e de planeamento urbano ou os logísticos e operacionais ligados à organização de feiras e congressos, são pequenas empresas. Um terço delas possui entre 3 e 5 empregados, 24,2%, entre 5 e 10 empregados e apenas 9,6% mais de 50 (Baró e Soy, 1993, pp. 27). Mas o trabalho realizado em casa e os serviços informais ganharam, igualmente, grande dimensão mesmo em países onde alguns deles faziam parte dos sistemas tradicionais de entre ajuda, como as amas, os serviços de lavandaria, de limpeza, de pequenos arranjos vários, os quais, em alguns casos deram lugar a empresas (Harvey, 1989, 268).

O reconhecimento do importante papel da produção de base local conduziu a uma série de “modelos e conceitos que envolvem o processo de inovação, em contexto local tais como os distritos (Marshall, 1961), as economias de aglomeração (Weber, 1909; Florance, 1948; Isard, 1956; Townroe e Roberts, 1980), as aglomerações de inovação e os ciclos de vida do produto (Hund, 1959; Lichtengurg, 1960; Vernon, 1960; Thompson, 1965; Howels, 1983 e Markusen, 1985), os novos distritos industriais e de especialização flexível (Brusco, 1982; Amin e Robins, 1990; Becattini, 1991), os meios inovadores (Aydalot1986; Aydolot e Keeble, 1988), os distritos

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tecnológicos (Stoper, 1992). Embora muitos procurem atribuir a origem destes arquétipos a Marshall (Marshall, 1932), e ao que ficou conhecido por distrito Marshalliano, na realidade existem outras fontes semelhantes, embora com diferenças e antecedentes que se alimentam umas às outras, como as leis do crescimento industrial (Burns, 1943), os pólos de crescimento (Perroux, 1955; Thomas, 1975), e a teoria (Marshall, 1887) das ondas longas” (Howells, 1999, pp. 79).

Um dos desafios mais importantes que se colocam aos políticos é a ligação de funções económicas orientadas de forma global, com uma sociedade e uma cultura com raízes locais. Se existe algo que tem vindo a ser mencionado como reverso da globalização é exactamente o renascimento das formas, de autonomia, de administração, de política, e de economia com base local, de modo que, este processo dual, é denominado, por glocalização (Bonink e Hitters, 2001, pp. 229).

A nível macro económico, a mudança de paradigma, para a nova economia caracteriza-se pelos atributos que constam no quadro 2.4.3 (O’Connor, 1999, pp. 2-3; Berg e Brau, 1999, pp. 987-999).

Quadro 2.4.3 – Características da economia pós-”Fordista”

Flexível- O velho sistema de produção de massas foi substituído por produtos com elevado retorno produzidos para um mercado volátil, de nichos, altamente especializado, e uma produção “em cima da hora” em que predomina a informalidade dos vínculos de trabalho. Da Informação – A emergência dos sistemas da nova economia, baseiam-se no processamento da informação, na geração do saber e na manipulação dos símbolos comerciais, signos e imagens, que constituem a denominada economia sem peso.

Global - O desenvolvimento da economia mundial é conduzido por fluxos de riqueza e de informação, entre uma rede de cidades mundiais devido à emergência de marcas globais, verdadeiros ícones culturais. Este processo é porém acompanhado por outro, que se caracteriza pela diversidade e pela distinção dos locais.

As relações de trabalho entre a empresa e o trabalhador também mudaram, sendo actualmente marcadas pela flexibilização ou seja, abrandamento de laços que agravam o mercado de trabalho, maior facilidade em admitir e despedir, possibilidade de aumentar ou diminuir salários, expansão de empregos com contrato a prazo a tempo parcial mudança mais frequente de trabalho de empresa e de sede (ver quadro 2.4.2).

Quando se fala de sistema de produção flexível, uma das características da economia actual, que se opõe ao pesado sistema “Fordista”/Taylorista menciona-se formas de produção caracterizadas por uma habilidade bem desenvolvida para mudar de um processo e/ou de uma configuração para outra (dynanic flexibility) ou ainda para ajustar as quantidades rapidamente no sentido do aumento ou da diminuição, sem grandes efeitos de eliminação dos níveis da

eficiência (static flexibility). A flexibilidade dinâmica implica a mobilização e organização correctas de firmas de dimensões variáveis, em que a divisão do trabalho entre as empresas e a interacção entre os diferentes produtores, definem as possibilidades de inovação do produto e dos processos de produção. Os dois tipos de flexibilidade têm vindo a ser obtidos através de uma série de características interrelacionadas do sistema de produção, enquanto a subcontratação constitui uma das formas mais generalizadas de divisão do trabalho, do novo modelo, para que o sistema de produção se transforme numa rede de produção (Aniello, 2001, pp. 517-535; Amin, 1991, pp.111-120; Becattini, 1994 pp.20-23; Garofoli, 1994; pp. 36-37; Storpe, 1990, p. p. 431-34).

Os casos da indústria do mobiliário em Los Angeles, e da alemã, demonstram que esta nova configuração do trabalho tem o seu preço e que, para obter sucesso, tem de possuir uma estratégia competitiva correcta.

O fracasso da industria do mobiliário em Los Angeles e o sucesso da alemã

Gertler (Gertler, 1988 in Norcliffe e Milne, 1993; Milne, 1990), interroga-se sobre a extensão da difusão da produção flexível e até que ponto pode ser considerado um novo modo de produção, universalmente aceite, enquanto Amin e Amin e Robbins (Amin e Robbins, 1990), sugerem que esse é um processo altamente variável, que se expressa com uma grande variedade espacial. Já Dunford e Benko construíam um modelo sinóptico que designam por produção Pós-”Fordista” e inclui cinco modelos de produção: sueco denominado o kalmarismo, o alemão ocidental, o toyotismo japonês, o califórniano e o neo taylordista. Os primeiros quatro envolvem, ao nível social negociação com a força de trabalho, o sector, a empresa e o indivíduo, respectivamente, modelos que, por sua vez, dão lugar a variações a nível sub regional (Dunford e Benko, 1993). A questão que se deseja acentuar é a necessidade de adoptar uma perspectiva local, uma vez que os próprios modelos arquétipos de desenvolvimento – o “Fordista” de Detroit e o flexível de Silicon Valley, são eles próprios modelos muito localizados (Norcliffe, 1993, pp. 197).

Em 1950 trabalhavam nessa indústria, na cidade, operários sindicalizados, bem pagos e predominantemente de raça branca. Já nos anos 90, era dominada por outra, constituída a 72% por não brancos, dos quais 57% são emigrantes hispânicos, muitos deles ilegais, com baixos salários e, por essa razão, sem qualquer força sindical ou política. A estratégia competitiva adoptada tem por base os salários reduzidos e a baixa qualidade dos produtos. A produção alemã, no sector do mobiliário, pelo contrário, ao utilizar de forma extensiva o computador, no processo de produção e programas intensivos de aprendizagem e formação profissional demonstra que esta é a melhor forma de competir numa economia global (Scott, 2000, pp. 71-