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2 GOVERNOS LULA COMO CONTINUIDADE IRRESTRITA DO MODELO

5.2 APLICAÇÃO DA TEORIA NA ANÁLISE DA BIBLIOGRAFIA

Os governos Lula representaram um momento ímpar na história do Brasil, porque foi a primeira vez que as classes dominadas tiveram um representante, oriundo do movimento operário, eleito para a Presidência da República. O fato de ter um dirigente operário na posição de Presidente da República abriu, não obstante, tanto na política quanto no pensamento acadêmico de esquerda, uma grande polêmica que leva adiante as controvérsias em torno de qual a representação política exercida de fato por Lula - a despeito da origem de classe – e se houve alteração dessa representação ao longo dos oito anos em que este governou o país. Em síntese, os governos Lula teriam representado as classes e frações de classe dominantes ou dominadas?

Um representante que tenha origem no movimento sindical governando um Estado capitalista, de fato, para as classes dominadas apareceu em alguns autores como um contrassenso, um absurdo. Enquanto que para outros, esse mesmo fato é viável, mas acontece como uma contradição - ao menos na aparência. As teses, portanto, se dividem. Temos que dos seis autores analisados, nesta pesquisa, três defendem que os governos Lula exerceram uma representação das classes dominantes e três autores defendem que houve uma representatividade das classes dominadas.

Nessa seção, a nossa análise a respeito das teses avaliadas será exposta e extrairemos delas diversos conceitos elaborados pelos autores. Pretendemos fazê-lo por dois caminhos concomitantes e que se cruzam: um comentário sobre a coerência interna às teses dos autores que já foram apresentadas e um confronto das teses pesquisadas com o nosso arcabouço teórico, que foi desenvolvido por Poulantzas (1975; 1977).

No exame das teses que expusemos, no primeiro capítulo, percebemos o fato que leva aqueles autores a caracterizarem os governos Lula como um bloco no poder com hegemonia neoliberal e, portanto, como governos de continuidade neoliberal. Isso ocorre, porque tais autores não operam com a diferenciação entre o modelo econômico e a política econômica para a qualificação da hegemonia. Braga (2012) e Paulani (2012)

tomam o modelo econômico como representativo das políticas econômicas, apagando, assim, as alterações que nelas foram inseridas entre os anos de 2003 – 2010, e que foram motivo de destaque nos autores das seções seguintes.

A ausência dessa distinção metodológica é fundamental para a conclusão a que chegam Braga (2012) e Paulani (2010). Ao bem da verdade, é preciso reconhecer que essa conclusão é um tanto quanto oscilante, não só nos dois autores selecionados para esta dissertação, como em vários outros que classificamos dentro do campo em que situamos Braga e Paulani como, por exemplo, Reinaldo Gonçalves, Valério Arcary e Plínio Arruda Sampaio. A oscilação a que nos referimos se dá entre as ideias de que os governos de Lula deram continuidade às medidas de FHC e a de que tais governos aprofundaram as medidas de FHC.

Dessa maneira, independente da ideia que julgamos prevalecer nessas teses, o que fica evidente é que ambas convergem por uma defesa de que os governos Lula passaram ao largo da tentativa (intencional ou não) de mudar a correlação de forças em detrimento da hegemonia neoliberal, seja em benefício de outra fração dominante, ou de uma fração dominada. É isso que traz como consequência outra conclusão a que os autores referidos chegaram: os governos Lula não são governos que criaram ou reproduziram uma política polarizada. Ou seja, a ideia de uma polarização política não cabe nesses autores, justamente por consequência da leitura de que os governos Lula são governos de conciliação de classes que domesticaram os movimentos populares69, em favor da manutenção do modelo econômico neoliberal, em detrimento do projeto político das classes dominadas (PAULANI, 2016).

Parece-nos que, de fato, a chave da possível diferenciação entre os governos do PSDB e do PT, por exemplo, é distinguir o modelo econômico neoliberal das políticas econômicas levadas a cabo por eles. Os modelos econômicos podem ser sustentados por décadas, mas podem comportar grandes variações na política econômica ao longo do mesmo período. Dentro do mesmo modelo econômico desenvolvimentista, que vigorou entre as décadas de 1930 e 1980, houve grandes variações entre as políticas econômicas aplicadas por Getúlio e aquelas implementadas por Juscelino Kubistchek, por exemplo. O primeiro dava ênfase ao capital estatal, enquanto o segundo ao capital internacional. Dessa maneira, quando tratamos do período em que vigora o modelo econômico

69 Esse ponto é importante e traz novamente as políticas sociais ao centro do debate. André Singer (2012), por exemplo, argumentou em sentido contrário ao defender que se formava uma polarização diferente e não uma despolarização. Como não se trata de uma nova polarização decorrente da disputa pelas políticas econômicas, não se trata de polarização entre burguesia e operários, mas entre ricos e pobres.

neoliberal, avaliamos que os governos de Lula teriam conciliado os interesses das classes antagônicas e dado continuidade a esse mesmo modelo econômico neoliberal, mas moderado as políticas econômicas neoliberais e inserido políticas sociais de maior efeito que a dos governos anteriores.

Um tema que ganha importância e, portanto, merece destaque é a questão da hegemonia política nos governos Lula. Os dois autores que analisamos, ao longo do primeiro capítulo, endossaram, não obstante suas diferenças entre si, a tese elaborada por Francisco de Oliveira, segundo a qual houve o estabelecimento de uma hegemonia às avessas ao longo dos governos de Lula. Isso significa, em síntese, que a classe dominada exerceu a hegemonia moral da sociedade em nome dos interesses econômicos das classes dominantes (OLIVEIRA, 2010). Embora esse autor tenha escrito bem pouco sobre a questão - de modo até que nos parece mais uma hipótese de trabalho do que uma tese - muitos autores difundiram essa ideia como se ela fosse um grande estudo sistemático sobre a matéria. Na tese de Braga (2012), a ideia de Oliveira (2010) parece ser aceita como correta, embora haja algumas ponderações. Já na tese de Leda (2010), a ideia aparece mais elaborada, uma vez que para ela os governos Lula significaram a combinação da hegemonia às avessas com o Estado de emergência econômica.

Já apontamos isso no capítulo dois - que se refere à reforma no modelo neoliberal - no qual identificamos uma ambiguidade a esse respeito na obra de Singer (2012). Entretanto, vale o resgate da ideia de que esse autor oscila de posição, ao longo da tese que defende em seu livro. Assim, aparecem duas possibilidades sobre tal questão: ora ganha força a argumentação de que houve nesses governos, uma hegemonia do subproletariado; ora entra em destaque a defesa de que os governos Lula foram governos bonapartistas, ou seja, de que houve uma crise de hegemonia (MARX, 2014). Dessa maneira, diante da contradição interna na argumentação de que há uma hegemonia das classes dominadas, ao mesmo tempo em que sugere uma ausência de hegemonia – crise de hegemonia -, a única solução teórica que encontramos para que a obra de Singer (2012) mantenha uma coerência interna é que, em determinado momento de seu livro, o autor coloca o governo bonapartista no campo da tática, ou seja, Lula teria usado da sua habilidade política para administrar o Estado burguês acima das classes dominantes (bonapartismo) e assim realizar o projeto do subproletariado, o projeto de uma fração de classe dominada.

Desse modo, se admitirmos que o bonapartismo possa ser uma opção tática – e que no caso brasileiro decorre da capacidade política de Lula - e não uma consequência

das contradições decorrentes dos conflitos e das lutas de classe em determinada conjuntura, admitimos também que não há uma contradição interna à tese de Singer (2012), uma vez que o bonapartismo é usado intencionalmente por Lula, como meio de realizar o programa do subproletariado, que é sua nova base social. Contudo, ao seguirmos essa linha de pensamento, acreditamos que Singer (2012) tenha cometido um erro (quando aponta o bonapartismo enquanto opção tática), já que a dedução possível é que os governos Lula não são, portanto, a expressão concreta da luta de classes, mas a expressão da capacidade política de um grande líder que organiza os interesses das classes e frações de classe de maneira a privilegiar sua base social.

A luta de classes é sobreposta pela figura do grande líder estrategista, que controlando a conjuntura e produzindo uma crise de hegemonia durante os oito anos ao longo dos quais governa, leva adiante as pautas de sua base social de apoio. Tese que não conseguimos admitir, uma vez que o bonapartismo, em nosso entendimento, é ausência de uma fração de classe que esteja com capacidade e força social suficiente para angariar a hegemonia do bloco no poder e não uma tática para alcançá-la, justamente por ser consequência de uma situação em que há uma crise de hegemonia; além disso, é uma situação de grande instabilidade política que tem, geralmente, um período relativamente curto (MARX, 2014).

Aqui, cabe uma comparação dessa leitura da atuação pessoal do presidente Lula com a leitura que aparece na obra de Braga (2012), já que em seu livro tal autor adota o conceito weberiano de liderança carismática, como ficou explícito na citação que fizemos na página 42 desta dissertação. Nesse seu parágrafo, para nós, a utilização de tal conceito é simbólica e sintomática, porque tem consequências significativas em sua tese pelo fato de demonstrar que o autor dá uma ênfase excessiva na trajetória pessoal e na atuação política individual do ex-presidente Lula. Não só na análise histórica que faz do sindicalismo, como também na construção da nova hegemonia (às avessas, segundo o autor) nos períodos de governos petistas ao ponto de cunhar a expressão “regulação lulista”.

Ainda sobre o bonapartismo, temos outra diferença em relação à questão da caracterização dos governos Lula enquanto tal, na medida em que no livro O 18 de Brumário, quando Marx (2014) diz que Napoleão 3° representa os interesses dos camponeses, ele está sempre se referindo à representação política num sentido abstrato e não no sentido literal do termo. Em momento algum, Marx (2014) diz explicitamente que Luís Bonaparte representa os interesses objetivos dessa fração dominada, ao

contrário, o pensador enfatiza que não o faz, pois que Napoleão 3° não dá o retorno material da concretização prioritária das pautas econômicas da fração camponesa, dentro do bloco no poder. Em síntese, ele não realiza o programa dessa fração de classe. Nossa conclusão é, por conseguinte, de que falta a Singer (2012), na leitura que faz de Marx, a distinção conceitual desenvolvida por Poulantzas (1977), entre classe apoio e hegemonia. Seguindo a linha de pensamento proposta por Marx (2014), caso admitíssemos os governos Lula como governos bonapartistas e quiséssemos fazer uma paráfrase de sua obra, teríamos que assumir que Lula teve no subproletariado a sua classe apoio, e não a classe hegemônica, uma vez que não realizou o programa do subproletariado. Ou seja, não realizou a hegemonia dessa fração de classe, dentro do bloco no poder brasileiro. De qualquer maneira, caso acolhêssemos a ideia de que os governos Lula concretizassem a hegemonia política do subproletariado não poderíamos, portanto, encará-lo como um governo bonapartista, já que a caracterização desse conceito é exatamente a ausência de uma fração de classe com capacidade de exercer a hegemonia do bloco no poder (MARX, 2014).

Ademais, ainda sobre a questão da hegemonia, Singer (2012) parece misturar o que são governos de coalisão com os governos bonapartistas e esquecer o conceito de equilíbrio instável de compromisso (POULANTZAS, 1977). O fato dos governos Lula terem sido governos que concederam a outras classes e frações de classe, que ele não representava diretamente, confirma-nos apenas que ele deve governar prioritariamente para a fração de classe hegemônica, mas precisa satisfazer de maneira desigual, parte dos interesses das outras classes e frações de classe que integram o bloco no poder. A propósito, Singer (2012), também deveria levar em consideração que o presidencialismo brasileiro funciona sobre a pressão de dezenas de partidos de patronagem70 - o que pode trazer a impressão de que há um governo que paira sobre as classes e frações de classe social, quando se trata apenas do pragmatismo da política de governança71.

Em síntese, poderíamos propor de maneira esquemática que, na verdade, são três as teses de Singer (2012); sendo que a terceira funciona como elo entre a primeira e segunda : a) os governos Lula representaram o subproletariado; b) os governos Lula foram governos que arbitraram entre as classes e c) o subproletariado é classe apoio que

70 O conceito de patronagem foi desenvolvido e utilizado pelo sociólogo alemão Max Weber.

71 Os dois últimos parágrafos foram inspirados em ideias desenvolvidas por Armando Boito Jr. em disciplina ministrada no curso de graduação em Ciências Sociais no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp no segundo semestre de 2016.

permite que os governos Lula sejam governos que regulam os conflitos entre as classes e frações de classe.

A despeito da hegemonia dentro do bloco no poder brasileiro, passaremos agora à questão da contradição principal nas obras dos autores. Esta também é uma questão importante para uma melhor compreensão e avaliação das teses consideradas na presente dissertação. A nosso ver, o autor clássico que melhor desenvolveu uma metodologia para analisar essa questão, e que nos ajudou, por isso, a chegar a uma melhor compreensão foi Mao Tsé-tung em seu texto Sobre a Contradição (1999). Segundo tal autor, a importância da identificação da contradição principal nos processos políticos de cada formação social concreta se dá, pois:

Em primeiro lugar, as contradições das diferentes formas de movimento da matéria assumem todas um caráter específico. O conhecimento da matéria pelo homem é o conhecimento pelas suas formas de movimento, e o movimento da matéria assume sempre formas determinadas. Ao nos debruçarmos sobre cada forma de movimento da matéria, devemos dirigir nossa atenção para aquilo que ela tem em comum com as demais formas de movimento. E, o que é o mais importante ainda, o que serve de base ao nosso conhecimento dos fenômenos é notar aquilo que essa forma de movimento tem propriamente de específico, isto é, aquilo que a diferencia qualitativamente das outras formas de movimento. Só desse modo, pode-se distinguir um fenômeno de outro. Toda forma de movimento, contém em si suas próprias contradições específicas, as quais constituem aquela essência específica que diferencia um fenômeno dos outros. É essa a causa interna, a base, da diversidade infinita dos fenômenos no mundo. Existe na natureza uma imensidade de formas de movimento: o movimento mecânico, o som, a luz, o calor, a eletricidade, a dissociação, a combinação etc. Todas essas formas de movimento da matéria estão em interdependência, mas se distinguem umas das outras na essência. A essência específica de cada forma de movimento é determinada pelas suas próprias contradições específicas. Isso é assim não para a natureza, mas também para os fenômenos da sociedade e do pensamento. Cada forma social, cada forma de pensamento, contém as suas contradições específicas e possui a sua essência específica. (TSÉ-TUNG, 1999, p. 42-43)

A principal contradição, no interior da classe dominante, aparece nas obras de Singer (2012) como o conflito que ocorre entre a fração rentista da burguesia - que ele denomina coalisão rentista - e a fração produtiva da burguesia - que ele chama de coalisão produtivista. A principal consequência dessa leitura, é que a contradição principal, dentro do bloco no poder, delimitada pelo fracionamento entre capital produtivo e capital rentista apaga, na análise desse autor, a possibilidade dos diagnósticos da política externa e da disputa que há entre o capital imperialista e o capital interno, ou seja, entre o capital externo e o que possui bases de acumulação interna às fronteiras do Brasil. Em outras palavras, a contradição principal, dentro do

bloco no poder apontada por Singer (2012), apaga parte da contradição principal do processo político – restando apenas a parte interna dela que é traduzida na contradição entre ricos e pobres.

Uma apreciação diferente é feita por Boito Jr. (2012a), em sua tese, na qual, a contradição principal do bloco no poder aparece instalada nos conflitos entre o capital interno e capital estrangeiro, de maneira que essa análise – ao contrário de Singer (2012) - dá ênfase às contradições entre o capital que acumula internamente e o capital imperialista. Portanto, partindo da contradição principal do bloco no poder nas obras dos autores, percebemos que os tipos de fracionamento escolhidos por eles são distintos - como o próprio Singer (2015) reconhece em um texto em que trata de realizar um balanço dos governos Lula e, em especial, do primeiro governo Dilma.

Essas aparentes contradições, que decorrem do tipo diferente de fracionamento adotado por cada autor para analisar a política econômica, também nos ajudam a compreender o pano de fundo de outra discordância entre os autores analisados no primeiro capítulo (BRAGA, 2012; PAULANI, 2010) e aqueles que analisamos no segundo capítulo (BOITO JR., 2012a; SINGER, 2012). O reconhecimento do fracionamento das classes dominantes parece possibilitar uma análise mais detalhada sobre os governos, pois permite um enfoque que também enquadra uma relação de representação com uma fração específica da burguesia e não com uma plataforma burguesa única e ampla (BOITO JR., 2012a). Isso ocorre, porque foi uma parcela específica da burguesia brasileira que viu seus interesses econômicos serem atingidos pelas políticas implantadas, prioritariamente, pelo Estado nos governos neoliberais precedentes.

Devido à utilização do fracionamento regional, adotado por Boito Jr. (2012), em suas análises, esse autor conclui que os governos Lula têm uma relação de representação política com a burguesia, como os autores do primeiro capítulo. Mas, mais especificamente, uma relação de representação política com a grande burguesia interna e cumpre, por isso, prioritariamente o programa econômico desta. Essa fração de classe reconhece os governos Lula enquanto seu representante, e os governos Lula se reconhecem enquanto representantes dessa fração de classe (BOITO JR., 2012a).

O interesse da grande burguesia interna, nessa representação é, portanto, a defesa de seus interesses econômicos. A constatação desse fato significa que para Boito Jr. (2012a), o interesse da grande burguesia interna nos governos Lula não é a ideia difusa da existência de um interesse genérico da burguesia, como aparece nos autores que

estudamos no primeiro capítulo (BRAGA, 2012; PAULANI, 2010). Nestes, a burguesia seria, portanto, homogênea em seus interesses e veria os governos Lula como governos positivos a ela, na medida em que existiria a expectativa de que o referido presidente, por ser sindicalista e ligado aos movimentos sociais, acalmaria o número e a intensidade das mobilizações dos movimentos populares (BRAGA, 2012; PAULANI, 2010). Já na tese de Singer (2012), o tratamento que esse autor faz da classe burguesa e da representação de classe dos governos Lula, aparece como uma espécie de contínuo fracionado72, em que teríamos numa ponta a burguesia industrial e na outra a burguesia financeira. Todas essas frações, no entanto, são consideradas industriais e financeiras, na medida em que não há um setor de investimento prioritário. Essa régua serviria, então, para mostrar a maior ou menor propensão ao apoio de pautas provenientes do capital produtivo ou as pautas que são provenientes do capital especulativo.

Desenvolvendo as análises sobre a questão da representatividade de classe dos governos Lula, pudemos perceber uma divergência sobre a cena política, os partidos e sua representatividade nos autores analisados. O PT como partido do governo e o PSDB como a oposição parlamentar mais cristalizada aos governos de Lula da Silva fazem parte de um aparente consenso. Entretanto, a posição assumida por Singer (2012) é, para nós, resultado de um descuido em sua análise, uma vez que o PT seria, na tese desse autor, o partido que representa os interesses do subproletariado, enquanto o PSDB corresponderia à oposição que representa os interesses da classe média na cena política. O descuido está no fato de que essa conclusão deixa as frações da grande burguesia interna e a burguesia associada sem representatividade expressiva na cena política e partidária. Quando posta dessa maneira, a tese de Singer (2012) faz com que o autor coloque a contradição principal do modo de produção capitalista na formação social brasileira - entre a burguesia e o proletariado - em segundo plano no enigma da luta de classes no Brasil. Assim, realoca, portanto, a luta de classes para um plano em que a polarização principal, na cena política brasileira, se dá entre a classe média e o subproletariado, duas frações secundárias nesse modo de produção. Sobre essa ideia

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