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2.1 História da Cartografia Geotécnica

2.1.3 Aplicação de cartas geotécnicas em gestão territorial

Os estudos desenvolvidos para a gestão territorial são, principalmente, direcionados para o planejamento e gestão de áreas urbanas. No entanto, existem cartas apresentadas em escala regional e de semi-detalhe, voltadas a gestão do terreno com diferentes finalidades (planejamento estratégico de infra-estruturas, planejamento ambiental, gestão de recursos hídricos, etc.).

Com base na descrição de instrumentos e mecanismos de gestão ambiental, Vedovello (2000) apresenta uma proposta de utilização de cartas geotécnicas para a gestão territorial regional. A partir das cartas geotécnicas elaboradas compartimentadas em Unidades Básicas de Compartimentação – UBCs , são apresentadas propostas para o plano de manejo de um parque estadual e de um plano diretor municipal.

Em áreas urbanas as cartas geotécnicas podem subsidiar instrumentos legais, tais como: plano diretor municipal, lei de uso e parcelamento do solo urbano, plano de defesa civil, código municipal de obras e também, a gestão ambiental municipal (PRANDINI et al., 1995 e RIDENTE, 2000).

ETAPAS DO DETALHAMENTO

PROGRESSIVO

ESTUDOS REALIZADOS CARTOGRÁFICO MATERIAL UTILIZADO ENSAIOS Quantificação 1ª FASE (GERAL) 2ª FASE (SEMI-DETALHE) Dados de Superfície – Perfis Típicos das Unidades. Avaliação da necessidade de realização de ensaios. 3ª FASE (DETALHE)

Estudo geológico-geotécnico para elaboração da carta de risco

Planta de detalhe (1:1.000 a 1:5.000) com o projeto executivo. Realização de ensaios se necessário. Fonte: (ZAINE 2000)

Figura 2.2 - Seqüência dos trabalhos do método do detalhamento progressivo, mostrando as etapas descritas e os trabalhos realizados em cada etapa.

Estudos de detalhe Carta de risco Mapas temáticos regionais Mapa topográfico 1: 50.000 Estudos locais Bacias hidrográficas Legislação ambiental

Levantamento das Áreas degradadas

Mapa de suscetibilidade natural dos terrenos Avaliação da necessidade Compartimentação do terreno em unidades Geológico, geotécnico, geomorfológico e pedológico Áreas de proteção e problemas ambientais

Avaliação da necessidade e seleção de áreas para semi-detalhe

Aerofotos 1: 25:000 Mapa topográfico 1: 10.000 Imagens aéreas de detalhe

Para o plano diretor municipal, em conjunto com a lei de uso e parcelamento do solo urbano, a carta geotécnica é um instrumento de planejamento que pode estabelecer um conjunto de diretrizes, como a escolha de áreas de especial interesse social, definição de vetores de expansão municipal, delimitação de áreas de preservação, traçado de áreas de proteção, planejamento do traçado viário em áreas de expansão, definição de locais para a instalação de equipamentos públicos, entre outros (SALOMÃO, 1994 e CANIL, 2000).

Como instrumento de auxílio a um plano municipal de defesa civil, a carta geotécnica é utilizada para a identificação da vulnerabilidade e riscos a processos geológicos e hidrológicos. São identificadas as áreas de encostas mais íngremes com risco de escorregamentos, os terrenos mais suscetíveis à erosão, os fundos de vale onde ocorrem as enchentes, entre outros processos. A carta geotécnica de planejamento territorial em um município possibilita a identificação de áreas críticas e de risco que devam ser alvo de estudos detalhados, monitoramento e gerenciamento (CERRI et al., 2004 e CANIL et al., 2004).

No código municipal de obras, a carta geotécnica possibilita a definição de tipos de obras padrão, para cada compartimento do meio físico. Estes tipos de obra podem estar relacionados à fundação, padrões construtivos de moradias, drenagem, pavimentação, etc. (RIDENTE, 2000). Salsa (2002) apresenta um exemplo do código de obras de um município sendo aplicado na Gestão Ambiental do mesmo, tendo como base de estudos levantamentos do meio físico, biótico e social.

A carta geotécnica é um importante instrumento para a gestão ambiental municipal, possibilitando a identificação dos limites de áreas de preservação, áreas degradadas ou com potencial de contaminação, áreas contaminadas ou com potencial de contaminação, de locais para a implantação de aterros sanitários, etc. Também é possível a implantação de políticas de monitoramento ambiental de áreas de expansão, gestão das áreas degradadas, licenciamento ambiental de empreendimentos, entre outras (IPT, 2000a e VEDOVELLO, 2000).

Agena (2005) apresenta uma proposição de carta geotécnica direcionada ao planejamento de uso das terras rurais. A elaboração da carta tem como base o mapeamento pedológico. O mapeamento pedológico foi realizado com base na declividade dos terrenos e na interpretação das fotografias aéreas e é apresentado em perfis de solo e seções típicas de cada uma das vertentes. O resultado da pesquisa é a definição da potencialidade de cada uma das unidades mapeadas.

Na gestão territorial de unidades de conservação (parques e áreas de proteção ambiental, etc.), as cartas geotécnicas são instrumentos na definição de políticas preservacionistas e de uso e ocupação do solo. A identificação de áreas com diferentes potencialidades, atreladas à legislação ambiental em vigor, possibilita a gestão dos procedimentos de fiscalização e controle dos limites das unidades de conservação, por meio da sua consideração no plano de manejo. Também, é uma ferramenta para a aplicação de uma política de desenvolvimento sustentável, por meio da proposição de usos específicos em determinados domínios e restrições de uso em domínios de menor potencialidade produtiva e com maior potencialidade de impactos ambientais (IPT, 1991; LOPEZ et al., 1995; VEDOVELLO 2000).

Para as bacias hidrográficas, a utilização das cartas geotécnicas é realizada para a aplicação na gestão dos recursos hídricos. As cartas para a gestão dos recursos hídricos podem combinar a análise das águas e terrenos superficiais com a análise das águas subterrâneas. As cartas devem identificar os limites de áreas de preservação, degradadas contaminadas ou com potencial de contaminação, de locais para a implantação de aterros sanitários, etc. É interessante que as unidades homogêneas identificadas indiquem a suscetibilidade natural à erosão, para a adoção de políticas de prevenção ao assoreamento dos corpos d’água. Algumas cartas ainda apresentam os níveis freáticos, a potencialidade hídrica dos recursos subterrâneos e a potencialidade à contaminação desses recursos (IPT 1999a, IPT 1999b, IPT 1999c, IPT 2000b, IPT 2000c).