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ANÁLISE FINAL

3.3 Aplicação do modelo Ambitec-Ciclo de Vida

O modelo proposto foi aplicado na avaliação de uma inovação de produto. A seguir, está descrito como foram realizadas a seleção da inovação e da tecnologia de comparação, a seleção das unidades produtivas e de descarte de resíduos relacionadas às etapas do ciclo de vida das tecnologias e a coleta dos dados.

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3.3.1 Seleção da inovação e da tecnologia de comparação

Como as inovações de produto envolvem inovações de processos, ao se avaliar novos produtos também se está aplicando a ferramenta a diferentes processos. Assim, foi selecionada uma inovação de produto, dentre as disponíveis no banco de dados de inovações da EMBRAPA Agroindústria Tropical, por ser considerada de grande impacto no setor agroindustrial: o “substrato de coco verde” (SCV). Esse produto é obtido a partir do processamento da casca de coco verde, um problemático resíduo resultante do consumo industrial e “in natura” da água de coco verde (ROSA et al., 2002).

A escolha da tecnologia existente de comparação dos dados foi realizada em entrevista junto à equipe de desenvolvimento e transferência da inovação, buscando-se uma tecnologia que desempenhasse a mesma função e tivesse características físicas e físico- químicas semelhantes às da inovação, sendo um produto substituto à inovação no mercado. A tecnologia existente escolhida na avaliação comparativa de desempenho ambiental proposta foi o “substrato de coco seco” (SCS).

3.3.2 Definição da função, unidade funcional e fluxo de referência

Para identificar a função do SCV no agronegócio e de sua unidade funcional, foi realizada pesquisa na literatura sobre SCV, além de entrevistas aos pesquisadores e equipe de transferência de tecnologia da EMBRAPA Agroindústria Tropical responsável pelo desenvolvimento da tecnologia, visando identificar o principal uso do SCV.

Definida a unidade funcional, calculou-se o fluxo de referência, ou seja, avaliaram-se as necessidades de matéria-prima (cascas de coco verde e seco) e produto (SCV e SCS) para atender a unidade estabelecida, possibilitando que a cada etapa do ciclo de vida, os valores dos indicadores fossem ajustados a essas medidas. As necessidades de matéria- prima e produto foram determinadas com a realização de um balanço de massa nas unidades produtivas escolhidas nesse estudo para conhecimento desses valores.

Realizaram-se balanços de massas nas unidades produtivas, com três repetições, para o levantamento das quantidades de produto, resíduos e energia referentes a uma massa conhecida de matéria-prima. O valor atribuído aos indicadores foi a média aritmética obtida

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em três coletas. Atribuiu-se a uma dada massa de produto, toda a massa de matéria-prima, volume de água, quantidade de energia e massa de resíduos gerada no processo.

3.3.3 Seleção das unidades produtivas e de disposição final e identificação das bacias hidrográficas

A avaliação de desempenho ambiental proposta, ao longo do ciclo de vida de uma inovação, requereu a visita a unidades produtivas representantes de cada etapa da avaliação. Nessas unidades, foi conduzido o levantamento dos dados referentes aos indicadores de desempenho ambiental estabelecidos.

As unidades produtivas analisadas foram escolhidas considerando-se os seguintes critérios: volume de produção, para refletir a representatividade do processo produtivo empregado pela empresa na etapa do ciclo de vida do produto, além da aceitação da empresa para realização dos levantamentos de dados.

Para identificação das bacias hidrográficas onde cada unidade produtiva ou de descarte, integrante da análise do ciclo de vida dos SCV e SCS, foram levantadas as coordenadas geográficas dessas unidades pelo uso de GPS (Global Positioning System) e posicionadas no mapa contendo a delimitação das bacias hidrográficas estaduais da ANA (2006), utilizando-se o software ArcView 9.0.

A Tabela 8 apresenta as unidades produtivas e de descarte onde foram realizados a coleta de dados de desempenho ambiental, assim como as bacias hidrográficas onde cada unidade está inserida. Nessas bacias foram coletados os dados de vulnerabilidade ambiental, conforme descrito no item “3.3.5 Coleta dos dados de vulnerabilidade ambiental das bacias hidrográficas”.

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TABELA 8 – Unidades de Produção e de Descarte visitadas e suas respectivas bacias hidrográficas ETAPA 3a - Uso na produção de mudas ETAPA 3b - Uso na produção de rosas Substrato de coco verde (SCV) Unidade de Produção ou descarte visitada Descarte de cascas de coco SECO - Fazenda Lagoa das Mercês Produção do SCV - Cooperativa Jangurussu Uso do SCV na produção de mudas de rosas Carola - Cearosa Uso do SCV na produção de rosas Carola - Cearosa Descarte do SCV após uso na produção de rosas Carola - Cearosa Bacia Hidrográfica para avaliação da vulnerabilidade Metropolitana (CE) Metropolitana

(CE) Parnaíba (CE) Parnaíba (CE) Parnaíba (CE) Substrato de coco seco (SCS) Unidade de Produção ou descarte visitada Descarte de cascas de coco VERDE - Aterro Asmoc Produção do SCS - Recicasco Uso do SCS na produção de mudas de rosas Carola - Cearosa Uso do SCS na produção de rosas Carola- Cearosa Descarte do SCS após uso na produção de rosas Carola - Cearosa Bacia Hidrográfica para avaliação da

vulnerabilidade Litoral (CE)

Baixo Mundaú

(AL) Parnaíba (CE) Parnaíba (CE) Parnaíba (CE) ETAPA 4 - Descarte final ETAPA 3 - Uso ETAPA 1 - Matéria-prima ETAPA 2 - Produção

3.3.4 Coleta dos dados de desempenho ambiental nas unidades de produção e descarte

O levantamento dos dados em unidades industriais, agrícolas e de disposição de resíduos ocorreu mediante a aplicação de questionários (Apêndice A) junto aos responsáveis pelos estabelecimentos e realização de balanços de massa, conforme descrito no item “3.3.2 Definição da função, unidade funcional e fluxo de referência”.

Utilizou-se, nas medições, balança disponível na unidade de produção ou descarte, para as medidas de massa, hidrômetros padrão CAGECE para as medidas de volume de água e baldes calibrados para as medidas do volume de efluentes, além de cronômetro para as medidas de tempo.

Os efluentes líquidos foram coletados, conforme a sistemática descrita na American Public Health Association (APHA, 1998). Foram realizadas pelo menos três coletas dos efluentes, em dias diferentes. Cada coleta foi composta ao longo do dia ou período de lançamento do efluente. As análises foram realizadas no Laboratório Integrado de Águas de Mananciais e Residuárias (LIAMAR) do Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará (CEFET/CE), seguindo os métodos apontados na Tabela 9.

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TABELA 9 - Variáveis, metodologias analíticas e referências para análise de efluentes

Variáveis Métodos Referências

Condutividade Elétrica - CE

(µS/cm ou dS/m) Condutivimétrico

Sólidos Suspensos Totais - SST (mg/L)

Filtração a vácuo com membrana de fibra de vidro 0,45µm de porosidade – Secagem a 103°C – 105°C

Óleos e Graxas -OG (mg/L) Gravimétrico com extração em sohxlet

com hexano Demanda Bioquímica de

Oxigênio - DBO5 (mg/L)

Frascos Padrões – Iodometria Demanda Química de Oxigênio

- DQO (mg/L)

Digestão por refluxação fechada - Dicromatometria

Fósforo Total - FT (mg/L) Espectrofotométrico – Ácido Ascórbico

APHA et al. (1998)

Nitrogênio Total Kjeldahl – NTK (mg/L)

Espectrofotométrico – Digestão /

Destilação em Macro-Kjeldahl seguida de Nesslerização Direta

APHA et al. (1989), APHA

et al. (1998)

A seguir, serão detalhados os processos produtivos utilizados em cada unidade de produção ou disposição de resíduos analisada e as especificidades no levantamento dos dados nas unidades em estudo.

3.3.4.1 Aterro Sanitário Metropolitano Oeste de Caucaia – ASMOC

O ASMOC, em operação desde 1998, ocupa uma área total de 123 há, sendo 78,47 há a área destinada às células de disposição de resíduos (Figura 19). Cada célula possui,

em média, 7.000 m2 e comporta 230.000 t de lixo (Figura 20). Segundo informações da

Ecofor – empresa responsável pela gestão dos resíduos sólidos urbanos de Fortaleza - fornecidas em 2007, em torno de 8% do lixo da cidade de Fortaleza, Ceará, é constituído de cascas de coco verde, representando, em média, 7.221 t por mês de casca de coco verde que são encaminhadas ao ASMOC.

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FIGURA 19 – Entrada do ASMOC FIGURA 20 – Célula para disposição do lixo, com

canaletas para coleta do chorume

A Figura 21 mostra o fluxo das atividades que ocorrem no aterro. A casca de coco verde que chega ao aterro vem misturada com outros resíduos, sendo o lixo pesado e encaminhado às células de disposição em caminhões compactadores ou caçamba. Após ser despejado, um trator com rolo compactador distribui e compacta o lixo na área da célula, até formar uma camada de 60 a 80 cm de altura. Essa camada de lixo compactado é então revestida com 20 cm de solo argiloso, para evitar odores e proliferação de urubus e outros animais.

ENTRADAS (materiais e energia)

PROCESSO SAÍDAS