• Nenhum resultado encontrado

2 METACOGNIÇÃO, TRANSFERÊNCIA LINGÜÍSTICA E COMPREENSÃO EM LEITURA: OS ELOS DE UMA ALIANÇA EMPÍRICA LEITURA: OS ELOS DE UMA ALIANÇA EMPÍRICA

2.7 Aplicação dos instrumentos e procedimentos específicos

Desenvolveu-se um teste piloto para simular a aplicação dos instrumentos de compreensão leitora a serem utilizados. Dessa forma, testou-se a validação dos instrumentos, observando se os mesmos respondiam às inquietações da pesquisa. Ressalta-se também que os instrumentos principais utilizados nesta dissertação foram revisados em seu conteúdo pela orientadora e co-orientadora desta dissertação, sendo que o instrumento em inglês também foi revisado por um professor de inglês falante nativo do idioma.

O teste piloto foi realizado individualmente com três sujeitos de 23 e 24 anos, provenientes de três áreas de estudo diferentes, um da área de Letras, outro da área de Educação Física e outro da área de Publicidade e Propaganda. Previamente, foi verificada a proficiência leitora em inglês como L2, sendo, portanto, os participantes submetidos à seção de leitura do TOEIC. Ambas as testagens, uma com o instrumento de compreensão leitora em português brasileiro e outra com o instrumento de compreensão leitora em inglês, foram realizadas no mesmo dia, sendo que dois sujeitos-piloto realizaram inicialmente o teste de compreensão leitora em inglês e depois o de português e um realizou essa seqüência ao contrário.

A partir do teste piloto, ficou evidente a necessidade de que a aplicação dos instrumentos de compreensão leitora em português brasileiro e em inglês fosse realizada em duas sessões, já que os sujeitos ficavam muito cansados no segundo instrumento, o que fazia com que não apresentassem um bom resultado no segundo teste, escrevendo pouco sobre o seu processamento leitor ou evidenciando estafa ou desatenção nas respostas.

Além de se verificarem eventuais problemas do instrumento, também se fez uma simulação da análise de dados a ser realizada nas respostas dos sujeitos nos instrumentos de compreensão leitora em português brasileiro e em inglês, caracterizada pela classificação e comentário das estratégias leitoras empregadas a partir da classificação inicial empregada de O´Malley e Chamot (1993). A pontuação obtida junto ao teste TOEIC pelos sujeitos do teste piloto e essa análise de dados individual está disposta no ANEXO G.

As respostas dos sujeitos-piloto evidenciaram estratégias leitoras cognitivas e metacognitivas, que podem ser mapeadas em termos de seu uso diferenciado nos instrumentos em português brasileiro e em inglês. Assim, decidiu-se dar início à etapa de produção de dados da pesquisa.

Os sujeitos aprovados no TOEIC foram chamados para a segunda parte da pesquisa de acordo com a disponibilidade de tempo de cada um, sendo as testagens dos acadêmicos do curso de Letras e de Administração realizadas concomitantemente. Em cada grupo de sujeitos, metade iniciou a realização das atividades de compreensão leitora pelo instrumento em português brasileiro e a outra metade pelo instrumento em inglês, para que houvesse controle de uma eventual alteração dos resultados em função da língua e do cansaço decorrente das tarefas, do conhecimento da temática dos textos e da estrutura dos testes, o que é chamado de efeito de treino (bias effect).

Ambos os instrumentos são auto-instrutivos quanto ao seu modo de realização; entretanto, foram fornecidas oral e pessoalmente para todos algumas orientações complementares quanto à tarefa de compreensão leitora, tais como:

- Não se preocupe com a ortografia. Preste atenção na forma como você pensa o texto e as questões;

- Neste teste não há respostas corretas. O que interessa é a sua forma individual de ler; - Preste atenção ao que você está fazendo. Não se apresse, trabalhe com calma.

O objetivo dessas orientações, respectivamente, era que o sujeito não deslocasse sua atenção do processamento leitor para a reflexão sobre a escrita correta, que o sujeito reportasse os pensamentos que lhe ocorrerem da maneira mais fiel possível, sem uma preocupação avaliativa, e que o sujeito realizasse o instrumento com atenção e boa vontade; já que os instrumentos demandam que se esteja atento ao próprio processamento cognitivo.

A aplicação dos instrumentos foi realizada em duas seções, uma referente ao instrumento em português brasileiro, outra referente ao instrumento em inglês. Ao término da primeira sessão, o sujeito assinava o “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido” e preenchia o “Formulário de perfil leitor e conhecimento lingüístico em L1 e L2”. As sessões foram realizadas individualmente ou em grupos de até quatro sujeitos no laboratório de informática do Mestrado em Letras da UNISC. O tempo de realização das tarefas variou bastante entre os sujeitos, sendo que o tempo médio de cada sessão foi de uma hora e meia.

Em alguns momentos, os sujeitos questionavam sobre como escrever algo em inglês ou faziam perguntas sobre a técnica do protocolo escrito, para certificarem-se de haver entendido a proposta do instrumento. Nesse tipo de questionamento, a pesquisadora intervinha respondendo às dúvidas dos sujeitos. Já quando os sujeitos perguntavam sobre aspectos do texto como dúvidas de vocabulário, por exemplo, solicitava-se que os mesmos reportassem isso no protocolo escrito.

As seções seguintes descrevem o processo de análise de dados e a apresentação e discussão dos resultados, contemplando aspectos como a classificação utilizada, distinções adotadas, e resultados evidenciados.

2.8 Procedimentos de análise de dados

No tocante ao tema do estudo empírico, ressalta-se que a investigação da metacognição, da transferência lingüística e da compreensão leitora impõe dificuldades metodológicas, já que o acesso aos processos mentais envolvidos se dá apenas de forma indireta. Tendo em vista que o foco é investigar estratégias metacognitivas de compreensão leitora em L1 e L2, o protocolo verbal é um dos métodos de pesquisa mais adequados, já que investiga o processamento leitor, que se realiza também mediante estratégias leitoras. Pensando-se em aplicar uma variação do método do protocolo verbal, escolheu-se realizar o protocolo escrito, conforme já apresentado, por meio de um programa que conteria os instrumentos de compreensão leitora desta dissertação, em que as respostas dos sujeitos ficam armazenadas no próprio banco de dados do programa. Além disso, optou-se por um protocolo escrito em que a elicitação verbal acontece após a leitura de cada parágrafo presente nos textos dos instrumentos de compreensão leitora, sendo uma tentativa de simular o protocolo verbal a partir de marcadores, descrito por Brown e Rodgers (2002) na seção 1.5.6.

Ressalta-se que na compreensão em leitura, segundo Gabriel e Moraes (2008), tem-se consciência do produto das atividades cognitivas realizadas durante a leitura, porém não do processo. A metodologia do protocolo escrito é uma tentativa de observar o processo, como toda metodologia, sujeita a limitações. Além disso, ressalta-se que cada pesquisador estabelece o alcance dos seus critérios de julgamento, e a análise de dados de modo geral, especialmente a classificação de estratégias, é caracterizada por certo grau de subjetividade. Assim sendo, a análise de dados aqui apresentada é uma das possibilidades de explicitação do processo de cognição leitora.

Pode-se julgar que o protocolo escrito ao longo da leitura de questões induza as estratégias leitoras a serem utilizadas. Quando se solicita um resumo, o sujeito pode apresentar a estratégia de síntese, mas também, ao invés disso, pode apresentar, por exemplo, uma opinião sobre o texto vinculando o mesmo a informações prévias. Semelhantemente, pode-se dizer que o protocolo escrito após a leitura dos parágrafos obriga o sujeito a sempre reportar o seu processamento leitor, o que de certa forma direciona o relatório oral que o sujeito realiza de seu pensamento, já que ele poderia simplesmente nada comentar sobre um

determinado parágrafo. Mesmo com essa característica, essa é uma forma de se obter dados sobre a compreensão leitora, em que se espera observar estratégias leitoras.

Os dados obtidos através dos instrumentos de compreensão leitora em português brasileiro e em inglês foram analisados e comparados quantitativa e qualitativamente, verificando-se o tipo e a freqüência de uso e a transferência de estratégias de compreensão leitora em português brasileiro na compreensão leitora em inglês e vice-versa, assim como a utilização de estratégias metacognitivas de compreensão leitora por alunos do curso de Letras Português/Inglês e do curso de Administração. Esses resultados serão apresentados por etapas, seguindo a ordem dos instrumentos.

Na classificação dos dados, em algumas circunstâncias, fez-se necessário adotar distinções sutis para diferenciar procedimentos semelhantes, como no caso das estratégias leitoras e dos níveis de resumo. Outras vezes determinados comportamentos exigiram uma análise qualitativa específica, a fim de se observar padrões de respostas e, portanto, estipularem-se algumas categorias como no caso da questão sobre a transferência lingüística. Nas seções seguintes, portanto, inicialmente será feita uma breve descrição de como as estratégias foram analisadas de modo geral, seguida pela apresentação dos resultados obtidos nas diversas partes do instrumento e respectivas formas de classificação.

3 METACOGNIÇÃO, TRANSFERÊNCIA LINGÜÍSTICA E COMPREENSÃO EM