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Aplicação da estratégia

No documento BIOINSETICIDA E GAFANHOTOS-PRAGA (páginas 97-101)

CAPÍTULO 5: ESTRATÉGIA DE CONTROLE DO GAFANHOTO DO

5.3 Aplicação da estratégia

5.3.1. Vigilância das populações de gafanhotos

A estratégia preconizada por Miranda et al. (1966) se baseia, portanto, em ações preventivas tornadas possíveis pela evidência da característica local das pululações e o conhecimento dos biótopos dos gafanhotos, onde a espécie reproduz-se e onde formam-se os bandos de ninfas.

As áreas a serem prospectadas inicialmente são os biótopos de reprodução. Essas áreas foram cartografadas e esses mapas podem constituir-se em documentos estratégicos muito úteis para a condução das operações de vigilância e de tratamentos preventivos. Em cada propriedade ou comunidade, pode-se dispor de um mapa do problema do gafanhoto no seu ambiente imediato

e fazer o balanço das principais áreas, geralmente não cultivadas, onde os gafanhotos podem reproduzir-se livremente durante a estação das chuvas antes de invadir as culturas, tanto na fase de ninfa na estação das chuvas quanto na fase adulta durante a estação seca.

Uma vigilância dessas áreas de reprodução pode ser encarada facilmente em nível local, pelos próprios agricultores ou pelos agentes do MAPA. Os bandos de ninfas localizados poderão então ser tratados imediatamente.

Contudo, como para a maior parte das espécies, as pululações de gafanhotos do Mato Grosso não são contínuas. Depois de muito tempo, anos calmos e anos com pululações parecem suceder-se a um ritmo rápido. Provavelmente, isso esteja relacionado com um maior ou menor impacto de alguns fatores abióticos em pontos bem precisos do ciclo biológico do gafanhoto. Conseqüentemente, fases de pululações intensas alternam com períodos de remissão.

Recentemente, os dois períodos de pululações mais intensas e bem documentados ocorreram de 1983 a 1988 e de 1992 a 1993. No passado, as fases de pululações mais severas ocorreram no fim do século 19 e início do século 20, seguidamente por volta dos anos 1907-1914, 1944, 1947-1952. Esses dados não podem ser considerados muito precisos ou definitivos, pois as informações - saídas de uma região então pouco povoada e quase inexplorada - estão muito fragmentadas (LECOQ e PIEROZZI JUNIOR, 1995a). No entanto, eles mostram efetivamente o retorno do fenômeno, que tem-se tornado um problema desde a introdução de práticas agrícolas nessa região.

Ainda que a importância econômica do problema tenha diminuído após 1993, populações gregárias importantes mantiveram-se localmente até 1999, com numerosos, densos e grandes bandos de ninfas. Em contrapartida, a partir do ano 2000 as populações gregárias diminuíram, ficando raras em 2001, ou mesmo inexistentes em 2002.

Nessa recente redução populacional, o desenvolvimento da agricultura desempenhou um papel de redutor das superfícies favoráveis à reprodução gafanhoto. Contudo, tal baixa do nível das populações de gafanhotos não é nova. Sem dúvida, outras reduções existiram no passado. Além disso, os meios propícios para o desenvolvimento do gafanhoto ainda existem apesar do desenvolvimento da agricultura. É o caso de todas as reservas indígenas e de todas as áreas de reserva legais intactas dentro das fazendas que representam uma considerável parte da superfície de vegetação natural. Trata- se naturalmente das áreas menos propícias para as culturas mas também, em geral, das mais favoráveis à reprodução gafanhotos.

É provável que essa recente remissão ou ausência ou extrema redução populacional seja conseqüência de más condições ecológicas no início da

estação das chuvas. Por exemplo, um início muito tardio das chuvas em 2002 que pode ter causado forte mortalidade embrionária e ninfal das populações de gafanhotos. A Chapada dos Parecis conserva bem intacto o seu potencial, devendo ocorrer novas pululações no futuro favorecidas por condições ecológicas propícias.

A experiência mostra que os problemas com gafanhotos são caracterizados por tais sucessões de períodos de pululações e de remissão. A probabilidade de recrudescimento é evidentemente desconhecida, mas convém estar alerta. A estratégia de gestão de problema com gafanhotos deve por conseguinte considerar a alternância entre remissão e pululação. Os interesses em jogo, os atores em questão e a sua motivação, as ações desejáveis e possíveis não são os mesmos para cada um dessas fases. Isto reflete-se igualmente sobre as ações de vigilância como também sobre a condução das operações de tratamento.

5.3.2. A prática das operações de combate As ações no período de remissão

A periodicidade das pululações de gafanhotos pode ter conseqüências nefastas. Durante os períodos de remissão, o problema freqüentemente é esquecido e a vigilância é atenuada. É no entanto durante estes períodos que uma vigilância permanente poderia detectar precocemente os inícios de aumentos populacionais e intervir rapidamente sobre os primeiros bandos de ninfas. É o princípio do combate preventivo, citado anteriormente, que é praticado sobre outras espécies de gafanhotos pragas.

Contudo, é necessário encarar a realidade prática. Os bandos de ninfas estão no meio de áreas imensas de vegetação natural de cerrado e campo-cerrado, pouco ou não freqüentadas. No período de calmaria, ninguém irá perder tempo em procurar e tratar esses eventuais bandos de ninfas que não representam, para os agricultores, nenhum perigo imediato, ainda que estes bandos estejam situados em áreas de vegetação natural das fazendas.

Durante estes períodos de remissão, os produtores geralmente não estão motivados, a ameaça não é tão evidente. Uma vigilância eficaz pode ser mantida apenas pelo MAPA no âmbito de uma estratégia de vigilância e de prevenção a longo prazo. Para tanto, deve-se manter a vigilância, prospectar regularmente as áreas passíveis de pululações, conduzir observações periódicas sobre alguns sítios-chave, recolher informações junto aos habitantes locais e observar regularmente a situação das populações de gafanhotos. Trata-se, portanto, de não deixar-se surpreender no caso de aumento populacional e de poder realizar intervenções precoces quando necessário. Tais intervenções, fora de qualquer período de emergência, poderiam ser extremamente vantajosas se realizadas com micopesticida.

O período de remissão dever ser também a ocasião, graças à uma vigilância regular, de se construir gradualmente uma base de dados históricos sobre o nível das população, condições ecológicas (chuva principalmente, inclusive durante a estação seca). Esses referenciais são indispensáveis para um acompanhamento racional da população de gafanhotos. A longo prazo, tais referenciais poderiam permitir o aumento do nível de compreensão dos acontecimentos e realizar prognósticos sobre a evolução das populações. Trata- se de uma vigília mínima, pouco dispendiosa, que só o MAPA está em condições de realizar na ausência de pululações de importância econômica.

As operações de combate preventivo dirigidas contra os bandos de ninfas podem ser realizadas durante o desenvolvimento das ninfas, de novembro a abril, de acordo com as seguintes etapas :

- Identificação, na vizinhança das culturas a serem protegidas, das áreas onde possam conter populações de ninfas, isto é, áreas de vegetação natural em solos arenosos e arredores; estas áreas são, conforme a região, mais ou menos ligadas à rede hidrográfica. Os mapas dos biótopos favoráveis aos gafanhotos publicados pelo projeto Embrapa/Cirad sobre a ecologia do gafanhoto do Mato Grosso poderão ser muito úteis, mesmo que depois de sua edição as áreas de culturas tenham aumentado. - Vigilância das áreas de reprodução. A partir do mês de novembro e durante

toda a estação das chuvas, prospecção regular das áreas onde a presença de bandos de ninfas são prováveis.

- Tratamento preventivo dos bandos de ninfas detectados nas áreas de vegetação natural e, eventualmente, nas culturas se for o caso; cada bando descoberto deverá ser tratado imediatamente. Os bandos de ninfas são geralmente pequenos - ainda menores se localizadas precocemente. No entanto, as prospecções e os tratamentos, sobretudo no período de remissão, somente serão viáveis caso disponha-se de equipamentos leves e baratos, como atomizador UBV à pilha ou à bateria, ou pulverizador de jato direcionado.

- Realização de tratamentos complementares, se necessário, ao fim da estação das chuvas e durante toda a estação seca contra enxames.

Ações no período de pululação

Durante os períodos pululação espera-se que a evidência do problema motivará os produtores a realizar os tratamentos sobre as suas culturas e manter vigilância das áreas de cerrado próximas das culturas. A aplicação de tais medidas de combate constitui de resto uma medida preventiva de curto prazo para proteção dessas culturas.

Conforme já mencionado, as investigações recentes mostraram que os enxames de gafanhotos não vêm de muito longe mas geralmente das zonas

de cerrado próximas das fazendas. Portanto, no caso de pululações severas deve-se proceder vigilância e controle no interior das propriedades.

No passado, os produtores, persuadidos que os enxames de gafanhotos vinham de zonas remotas e que não podiam fazer muita coisa, não tinham muita motivação para empreender ações de controle. Evidentemente, agora convém que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento sensibilize os produtores sobre o seu papel na implementação de combates curativo nas culturas e preventivo nas áreas de vegetação natural próximas. Além disso, como em período de remissão, o combate na estação das chuvas deve ser enfatizado. Assim, convém:

· procurar, assinalar e tratar bandos de ninfas nas áreas de vegetação natural na vizinhança das lavouras, distantes 100 metros a cerca de 1 quilômetro. Se possível, utilizar um micoinseticida;

· tratar bandos de ninfas nas áreas de lavouras com um inseticida químico, ou com micoinseticida no caso de agricultura biológica ou em áreas onde um inseticida químico acarretar problemas.

Na estação seca, deverão ser feitas inspeções, sinalizações e tratamento dos enxames de gafanhotos. Estes tratamentos serão realizados, sempre que possível, sobre enxames em repouso pela manhã ou à noite. A razão para essa hora de aplicação é que a superfície a ser tratada é cerca de dez vezes menor que a superfície de enxames em vôo. Isto representa economia de tempo e quantidade de inseticida a ser aplicado. Meios aéreos devem ser evidentemente previstos no caso de fortes pululações e de enxames grandes.

5.4. O lugar do micoinseticida na estratégia de luta contra o gafanhoto

No documento BIOINSETICIDA E GAFANHOTOS-PRAGA (páginas 97-101)

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