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Combater bandos de ninfas ou enxames?

No documento BIOINSETICIDA E GAFANHOTOS-PRAGA (páginas 95-97)

CAPÍTULO 5: ESTRATÉGIA DE CONTROLE DO GAFANHOTO DO

5.2 Fundamentos da nova estratégia de controle do gafanhoto do Mato

5.2.2 Combater bandos de ninfas ou enxames?

Convém justificar a escolha da opção de tratamento contra as ninfas. A lógica seria privilegiar a ação contra os bandos de ninfas. Os bandos são bem menores do que os enxames e mais sensíveis aos inseticidas. Portanto, as doses a serem utilizadas são menores e as operações de tratamento deveriam ser menos dispendiosas, sendo os bandos mais fáceis de destruir pois não há risco de que levantem vôo com a aproximação dos equipamentos de pulverização. Sob esta ótica, o período mais favorável para os tratamentos é aquele que se inicia imediatamente após as eclosões das ninfas, a partir do mês de novembro, e termina entre março e abril.

Os enxames, ao contrário, ocupam uma superfície muito maior que a superfície ocupada pelos bandos de ninfas. Por exemplo, um bando de ninfas

jovens que ocupa uma área aproximada de 1.000 m² vai gerar o nascimento de um enxame que durante o dia, em vôo, ocupará uma superfície que pode ir até à 20 ou 30 hectares. Os adultos são mais resistentes aos inseticidas e necessitam uma dosagem de princípio ativo por hectare mais elevada. Por último, os adultos são capazes de fugir quando da aproximação dos equipamentos de pulverização e escapar à aspersão do produto. Consequentemente, pode haver necessidade de aplicações noturnas. A opção que consiste em privilegiar o combate aos bandos de ninfas é a que tinha sido tomada inicialmente pelos responsáveis pelo combate aos gafanhotos, no início dos anos 80. Contudo, a luta contra as ninfas se tornou muito árdua, ou mesmo impossível. As ninfas são mesmo difíceis de localizar na imensidade das áreas de campo e campo-cerrado, tanto à pé, quanto por automóvel ou via aérea. Os bandos de ninfas ficam camuflados na vegetação e é quase impossível percebe-los à distância. Eles são detectados apenas a alguns metros, ou poucas dezenas de metros de distância. Além dessas dificuldades de localização, acrescentam-se as dificuldades de deslocamento durante a estação das chuvas, a imensidade das superfícies a serem supervisionadas, a falta de estradas, a abundância e a freqüência das precipitações. Tais precipitações reduzem o tempo disponível para a realização dos tratamentos e podem lavar os insetos, retirando o produto imediatamente após sua aplicação, limitando severamente a sua eficácia. As dificuldades de tratamento na estação das chuvas são tais que anulam as vantagens já mencionadas. A ponto de, quando das últimas grandes pululações nos anos 80, os responsáveis pelo controle considerarem o período de ocorrência de adultos, de maio a outubro, a época mais adequada para tratamento visando a redução do nível das populações de gafanhotos. Enxames de gafanhotos podem então facilmente ser localizados por prospeção em helicóptero. Estes enxames constituem, devido à sua grande dimensão, um alvo ideal para tratamentos aéreos, praticados essencialmente no início da manhã ou no final da tarde, enquanto os gafanhotos estão pousados e são pouco ativos (COSENZA et al., 1990; CURTI, 1987a; CURTI e BRITTO, 1987). Além disso, quando os gafanhotos atingem a fase adulta, a maior parte das colheitas já foi feita, sendo esse o momento ideal para pulverizações aéreas destinadas a diminuir as populações da praga. Entre 1984 e 1988, estas operações de combate aos enxames visavam essencialmente reduzir o nível global das populações de gafanhotos, dado que durante todo o período de presença de imagos, as culturas em geral já haviam sido colhidas e o solo arado. Tratava-se por conseguinte de uma luta preventiva destinada a proteger as colheitas da estação das chuvas seguintes. As áreas de cana-de-açúcar são evidentemente exceção, visto que podem ser atacadas pelos adultos durante toda a estação seca. O período de ocorrência de ninfas, de novembro a abril, era considerado na época o melhor para se realizar uma proteção em áreas próximas das

culturas (controle curativo). O combate aos bandos de ninfas fora das culturas era considerado muito difícil pelas razões já expostas.

Os resultados do projeto conduzido pela Embrapa e o Cirad nos anos 90 mostraram contudo que essa estratégia merecia ser reconsiderada (MIRANDA et al., 1996). Essa estratégia tinha contribuído para desmobilizar os proprietários de terra e induzi-los a considerar que qualquer operação de tratamento local era inútil, uma vez que os enxames poderiam rapidamente invadir seus campos de novo a partir de áreas remotas. De fato, este projeto de pesquisa demonstrou que o problema, pelo contrário, é claramente local. Em outros termos, os gafanhotos que representam risco para as culturas são a princípio os que nascem e desenvolvem-se na sua vizinhança imediata, num raio de apenas alguns quilômetros. Portanto, a nova estratégia a ser adotada não consiste na tentativa de uma redução global do nível das populações no estado do Mato Grosso, ou mesmo na sua erradicação. Por outro lado, a estratégia a ser adotada é a implementação do controle integrado que permite a convivência com essa espécie que ameaça o Mato Grosso desde épocas remotas, muito antes que esta região fosse assim denominada.

Trata-se, portanto, de ações pontuais e regulares para reduzir localmente o nível destas populações. Visto por esta ótica, o combate aos bandos de ninfas na estação das chuvas torna-se uma solução interessante e praticável - ainda que não seja a única – uma vez que as superfícies a serem supervisionadas e tratadas são significativamente menores. Essas áreas são de fato circunscritas às áreas de reprodução do gafanhoto próximas das zonas de culturas a serem protegidas ao invés de todo campo-cerrado. Essas áreas de reprodução, localizadas em regiões de savana sobre solo essencialmente arenoso, são bem menores. A sua localização geográfica, se era conhecida totalmente pelos autóctones, agora é conhecida com muito mais precisão graças aos resultados dos estudos cartográficos realizados no âmbito do projeto (MIRANDA et al., 1996).

No documento BIOINSETICIDA E GAFANHOTOS-PRAGA (páginas 95-97)

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