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2.2 – A APLICAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS E A IMPORTÂNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS MPES DE

CONFECÇÕES DE CAMPINA GRANDE

As condições necessárias, segundo SANTOS (2004), para caracterizar uma APL são:

• Concentração espacial da produção de bem ou serviço exportável para outras

regiões.

• A localização é uma vantagem competitiva para as firmas e atrai novas empresas

que faz crescer o APL e o torna mais competitivo.

• As principais vantagens competitivas da região não podem se resumir aos custos de

transporte, fiscais alfandegários ou de acesso e insumos básicos, mas as condições de infra-estrutura necessárias a realimentam do crescimento do APL.

• O conhecimento tácito42

, fundamental para as empresas locais, está ligado principalmente às atividades criativas ou artesanais, e associado aos fatores:

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GERTLER, (2001:2) “como na clássica relação mestre aprendiz na qual o processo de aprendizagem depende da observação, imitação, prática e correção”

• Rápida criação, difusão, comparação e teste de gestão, comercialização, processos

produtivos e tendências de produtos pelas empresas e pela mão-de-obra.

• Acesso facilitado por cooperação de empresas que possuem conhecimento

complementar.

• Proximidade cognitiva e desenvolvimento conjunto cliente/fornecedor

Ainda segundo o autor, o acesso facilitado a ativos, serviços ou bens públicos complementares, é importante para as empresas locais, disponibilizado por relações comerciais e societárias, por cooperação informal ou institucionalizada ou por entidades governamentais. A localização é fundamental para imagem mercadológica das empresas do setor, porque concentra um grupo de empresas interligadas e atraem outras no setor de serviços e a cooperação multilateral (institucionalizada) é importante para a capacidade da reação coletiva a ameaças e oportunidades, graças ao planejamento e a atuação da cooperação institucionalizada.

O autor está respaldado pelo conceito desenvolvido pela

REDESIST/UFRJ(2002)

Os APLs, são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais, com foco em um conjunto específico de atividades econômicas, que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e a interação de empresas, que podem ser desde produtoras de consultorias e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros, e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas

para: formação e capacitação de recursos humanos (como escolas técnicas e universidades); pesquisa, desenvolvimento e engenharia;

política, promoção e financiamento.

Os estudos do SEBRAE, BNDES, REDESIST/UFRJ e NETE/UFPB tratam de vantagens competitivas locacionais, APLs e economia regional, enfocando diversos tipos de fatores capazes de alavancar o desenvolvimento dos arranjos produtivos. Muitos desses fatores enfocados na teoria, podem ter uma importância fundamental para o crescimento dos APLs e principalmente para a sua transformação em Sistemas Inovativos e Produtivos Locais (SIPLs) desenvolvidos.

No entanto, a aglomeração espacial (de empresas e instituições) isoladamente não é condição suficiente para a cooperação e inovação a serem aplicadas, seja em APLs de países desenvolvidos ou subdesenvolvidos. A aglomeração e constituição de um APL indicam para o agente público a existência “em potencial” de vantagens associadas à localização de determinadas atividades naquele espaço delimitado geograficamente, mas estas vantagens potenciais podem não surgir espontaneamente e, por este motivo, torna-se importante o apoio do governo com recursos de políticas públicas que sejam suficientes para auxiliar a evolução do APL em direção à constituição de um ambiente capaz de estimular os agentes político- econômico-sociais, constituindo uma interrelação entre o território e as atividades produtivas.

Observando o comportamento da cadeia têxtil-confecções, nota-se que a mesma desempenha um relevante papel nas experiências de industrialização mundial desde o advento da Revolução Industrial, principalmente como importante absorvedora de mão- de-obra. Nas últimas décadas, os movimentos e transformações internacionais nos

fluxos comerciais, bem como na localização de plantas produtivas de têxteis-confecções entre os países e regiões, têm sido um dos focos de estudos centrados na análise de Políticas Públicas, na área do comércio, distribuição de renda inter-regional e emprego, entre outras.

Dentro desse contexto, analisaremos as características básicas da indústria de confecções localizada na Paraíba, em especial em Campina Grande43, no que se refere aos obstáculos, potencialidades, estratégias e políticas públicas direcionadas à competitividade das empresas localizadas no arranjo. Dessa forma, deve-se entender o papel do Estado e da sociedade, já que a relação entre ambos é crucial na análise e elaboração das propostas dessas políticas, a ponto de interferir no resultado podendo ou não alterar a trajetória de acordo com a visão metodológica que se adote.

Neste ponto, cabe lembrar que na relação de interação entre os agentes, o problema de informação assimétrica interfere nas formulações de estratégias, agravado pela presença intrínseca da incerteza quando se planeja atividades que se desenvolvem no tempo, principalmente as de caráter inovativo44, demonstrando que a participação estatal é imprescindível para a criação de condições necessárias ao estabelecimento de um ambiente econômico e político estável, bem como de coordenador, no sentido de contribuir para essas atividades cooperadas45.

Dentro do foco de observação do segmento da têxtil-confecções na Paraíba verificou-se que a trajetória da cadeia iniciou-se com a prosperidade decorrente das experiências bem sucedidas da cultura do algodão no estado, beneficiando principalmente o município de Campina Grande. O desempenho econômico do município historicamente esteve ligado às atividades empresariais de larga escala e

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Este trabalho é fruto de uma pesquisa desenvolvida pelo NETE/UFPB (Núcleo de Estudos em Tecnologia e Empresas) sobre o Arranjo Produtivo de Confecções em Campina Grande, em parceria com a REDESIST (Rede de Pesquisa em Sistema Produtivos e Inovativos Locais)/UFRJ.

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CHANG (1994).

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mercados mundiais, o que possibilitou desenvolvimento de uma cultura empresarial moderna em pleno sertão (KEHRLE, 2001). O beneficiamento de algodão, extração e envasamento de óleo do caroço do algodão, prensagem, têxtil, sacaria, vestuário, curtumes, calçados e outras atividades rapidamente são desenvolvidas, estimulando o surgimento de uma característica do empresariado local: a iniciativa para aproveitamento de oportunidades lucrativas.

Com o fim da prosperidade proporcionada pelo algodão houve coincidentemente a manifestação de um novo perfil de desenvolvimento da economia regional, a partir dos anos 60. Nesse período, quando se instala a maioria das grandes empresas, observou-se uma queda considerável da participação no PIB industrial de Campina Grande e concentração em torno da capital, João Pessoa. Com a entrada da década de 80, o crescimento industrial de Campina Grande caracteriza-se pela instalação de Micro e Pequenas empresas (em geral com menos de 50 empregados), sobretudo de confecções, o que a caracterizou como um dos pólos regionais neste setor46.

Com as transferências de renda governamentais (aposentadorias, pensões, salários do setor público, transferências intergovernamentais) a partir das mudanças constitucionais do final dos anos 80, toma impulso o surgimento de um novo mercado consumidor na região que tem estimulado o crescimento de setores industriais tradicionais, como confecções e calçados47. Por isso, esse movimento não pode ser desprezado no entendimento do crescimento, na década passada, nestes mercados locais e regionais, já que explica tanto o perfil de ampliação da oferta, através do surgimento de novas MPE’s, como também o perfil da demanda local de baixa e média renda.

Com isso, verifica-se o surgimento de aglomerações espaciais de MPE’s de

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BUONFLIGIO, 1994.

47

confecções em quatro municípios paraibanos: Campina Grande, João Pessoa, Guarabira e Alcantil. No entanto, os perfis destas aglomerações mostram-se distintos no que se refere ao grau de sofisticação organizacional, produtiva, tecnológica e comercial. Estes municípios podem ser tratados agregando-os em duas formas distintas de aglomerações produtivas: a cooperativa e a empresarial.

João Pessoa e Guarabira estariam mais próximas da forma empresarial de organização, entendido como aquela em que as firmas usufruem primordialmente de suas economias internas e de externalidades do mercado. Alcantil é uma típica localidade de cooperados informais e familiares (existem três cooperativas de costureiras no município). Campina Grande, por sua vez, representaria uma forma híbrida de organização, uma vez que suas empresas, embora em magnitude reduzida, adotam formas isoladas de cooperação.

Uma outra direção de argumento foi proposta por Une e Prochinik (2000)48. Utilizando a identificação da cadeia produtiva de têxteis e confecções da Região, analisaram oportunidades de investimento na cadeia têxtil da região Nordeste e chegaram à conclusão de que a “segunda maior oportunidade de investimentos na

cadeia têxtil nordestina reside na formação de clusters de vestuário próximos às grandes indústrias de fiação e tecelagem”. A visão dos citados autores é de que a

complementariedade produtiva, na cadeia têxtil-confecções, favoreceria oportunidades de investimento na etapa final (confecções) pela disponibilidade de tecidos produzidos localmente.

Uma questão a ser investigada, portanto, é buscar avaliar em que direção as estratégias competitivas foram construídas: “condicionadas pela demanda por confecções” ou “condicionadas pela oferta de tecidos”. Uma questão complementar

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seria investigar se as Políticas Públicas estabelecidas favoreceram uma ou outra direção para as estratégias empresariais.

A indústria de Confecções da Paraíba apresenta características similares à indústria nacional: concentração de MPE’s, variedade e assimetrias tecnológicas em produtos e métodos de produção, com concentração em estratos inferiores na hierarquia tecnológica, estratégias empresariais e mercado consumidor diversificados.

Um potencial dinamizador que deve ser levado em consideração é a importância da integração da cadeia produtiva para a indústria de confecções local, em particular para as MPE`s, decorrente da proximidade entre fornecedores e usuários de forma a facilitar o surgimento de um elo de informações tecnológicas, estabelecimento de parcerias empresariais e indução ao comportamento cooperativo, componente imprescindível ao sucesso de arranjos produtivos.

No entanto, segundo os levantamentos da pesquisa, as ações cooperativas são dispersas e de pouca relevância, com parcial exceção do consórcio de empresas, que embora, ainda incipiente e notadamente caracterizado por um grupo fechado que compõe o Natural Fashion (consórcio composto por oito MPE’s de confecções que baseiam suas linhas de produtos na utilização do algodão colorido como matéria-prima, explorando o “conceito” do ecologicamente correto)49, o efeito cooperativo influenciou positivamente o desempenho inovativo.

No arranjo de confecções de Campina Grande há a presença de um conjunto de agentes atuantes, sendo estes as próprias MPEs e diversos agentes não empresariais e públicos (governamentais ou não) como o SEBRAE (que dentre o seus programas se destaca o Programa de Apoio Tecnológico às Micro e Pequenas Empresas – PATME, responsável pelo financiamento de capacitação as MPEs através dos cursos na área de

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Arranjo Produtivo de Micro e Pequenas Empresas de Confecções em Campina Grande.Relatório Final de Pesquisa, UFPB-JP. (2004).

modernização tecnológica e desenvolvimento de inovações) , SENAI e o Governo estadual, através da Companhia de Desenvolvimento da Paraíba – CINEP.

Deve-se destacar as oportunidades locais que essas MPEs desfrutam, como a elevada flexibilidade no desenvolvimento de novos produtos para atendimento de variações freqüentes de tendências da moda. No agregado dessas empresas, a facilidade de entrada e saída do setor permite o surgimento de novas empresas, no intuito de atender mercados que não são viáveis economicamente para as grandes empresas, dada a sua necessidade de escala elevada de produção e exigência de padronização. Isto é um importante fator a ser considerado para a sobrevivência do contingente de MPEs.

Além disso, existe um relacionamento prático, em alguns casos, detectado em estudos preliminares50 entre as empresas locais e esses órgãos, de forma a proporcionar sinergias positivas. Assim, configura-se um ambiente propício, decorrente de práticas bem sucedidas de políticas públicas e que potencialmente poderiam vir a dinamizar e modificar estratégias empresariais conservadoras e, deste modo, encorajar a inovação e elaborar e/ou fortalecer as estratégias mais adequadas a um ambiente competitivo baseado na inovatividade. Os objetivos das políticas e estratégias empresariais, quando articulados e definidos para fins comuns, concentram-se em superar as dificuldades de limitações financeiras, falta de acesso a mercados, conhecimento limitado sobre produção e gestão datecnologia (principalmente nas micros)51.

Desta forma, um estudo desta ordem significa levantar as vantagens da localização espacial no arranjo de Campina Grande, como, por exemplo, as que decorrem da experiência industrial que a mão-de-obra local possui, seja pela tradição, seja pela existência de outras atividades industriais, como calçados e têxteis, ou ainda proximidade e atuação do SEBRAE, SENAI, CCTC, por exemplo, que disponibilizam

50

Idem. CASSIOLATO, J.E. e SZAPIRO, 2002

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ações de capacitação e treinamento. Assim, o arranjo de Confecções de MPEs de Campina Grande, demonstra ser um excelente e interessante objeto de trabalho analítico, já que não existem pesquisas e informações suficientes para este APL, o que dificulta ações emergenciais e de longo prazo.

CAPÍTULO 3

UMA ANÁLISE COMPARATIVA DOS APLS DE CONFECÇÕES DE