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5 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO: CADERNO DE ATIVIDADES

5.1 ATIVIDADES APLICADAS EM SALA DE AULA

5.1.4 Aplicação da Proposta IV

PROPOSTA IV: Depois de observarem textos falados e textos escritos, vocês vão ouvir uma gravação (áudio) de um texto falado, coletado do banco de dados do Projeto Amostra Linguística do Interior Paulista – (ALIP-SP)13. Depois de ouvir a gravação, transcrevam o áudio que ouviram. Em seguida, analisem junto com os colegas e o professor o que é possível perceber de especificidade desse tipo de texto em relação a um texto escrito que representa uma narrativa, como o exemplo a seguir:

A festa das bonecas

Sofia e suas colegas da escola combinaram de fazer uma festa das bonecas. Cada uma levaria uma bonequinha, não importando se fosse grande ou pequena, loura ou morena, o importante era que ninguém faltasse. Todos os preparativos foram feitos e o dia tão esperado chegou. A festa estava muito divertida, parecia uma grande casa onde moravam muitas amigas. Tudo ia bem até perceberem a falta de Marcela, que estava do lado de fora.

– O que você está fazendo aí, Marcela?

– Não sei se posso entrar Sofia. Minha boneca está sem vestido.

Sofia respirou fundo e teve uma grande ideia: entrou e conversou com as outras meninas. Depois de alguns minutos, elas foram até a porta e cada uma deu um vestido diferente à Marcela.

– Marcela, temos um presente para você. Sua boneca terá um pouquinho de cada uma das nossas.

Marcela recebeu muitos vestidos e sua boneca acabou tendo mais roupas para trocar que todas as outras. Alguns vestidos ficaram grandes para a boneca e nem todos combinavam muito, mas essa foi a boneca mais bem-vestida que Marcela já teve.

Que bonito esse exemplo de amizade! A presença de Marcela era mais importante que as próprias bonecas. Você teria coragem de abrir mão de alguma coisa para fazer um amigo feliz?

LEMOS, Agatha. Nosso Amiguinho, jan. 2011, p. 38. Após a análise, vamos registrar suas impressões sobre a transcrição do áudio realizada e em que se difere da narrativa apresentada. Para isso, vamos produzir uma tabela em forma de cartaz que ficará fixado na sala.

Modelo do Cartaz:

13

MODALIDADES DE REALIZAÇÃO DA LÍNGUA

TEXTO FALADO TEXTO ESCRITO

Para a realização dessa atividade IV, foi necessário um tempo maior de aulas. Gastamos 04 horas/aulas para completar sua realização. Inicialmente, a proposta de audição da fala foi apresentada aos alunos e foi solicitado que eles trouxessem, em dia marcado previamente, um fone de ouvido de casa. Na data marcada, os alunos trouxeram os fones e cada um pode ouvir, de forma individual, o áudio em um computador portátil. Dessa forma, poderiam compreender melhor o conteúdo do áudio.

A atividade foi realizada em sala de aula e à medida que iam ouvindo o conteúdo, os alunos deveriam transcrever o áudio e voltar nos trechos inaudíveis, quantas vezes fossem necessárias.

Assim, fizeram uma primeira transcrição, mas muitos tiveram dificuldades em compreender o áudio na íntegra. Alegavam estar muito baixo, com muitos ruídos e incompreensível em alguns trechos.

Ao término dessa primeira etapa, foi necessário conversar com os alunos a respeito da fala contida no áudio, quais suas características, a fim de perceber o que os alunos conseguiram apreender daquela experiência.

Percebemos que muitos, no momento da transcrição, não registravam a fala com todas as suas características, alterando, em muitos momentos, o áudio original, colocando a sua versão do que havia ouvido.

Assim, em outra aula, ouvimos o áudio. Dessa vez, de forma coletiva para que pudéssemos discutir e compreender melhor o conteúdo, de forma que íamos transcrevendo a fala. Com isso, todos iam ouvindo e falando o que tinha percebido da audição.

A segunda etapa foi realizada de forma dialógica e os alunos participaram bastante, comentavam cada trecho ouvido e transcrito, davam suas opiniões acerca das palavras reduzidas e das repetições constantes na fala da informante. Exemplo desses comentários: “Nossa, essa menina só fala assim!”, ou ainda: “Nossa! Quanto então!”. À medida que os comentários iam surgindo, era feita uma intervenção para refletirmos sobre o assunto. Foram feitas perguntas, como: se era comum acontecerem essas repetições na fala, se falávamos com repetições também, ou quais traços da oralidade presentes na fala da informante eram comuns na fala do nosso cotidiano.

Também conversamos sobre a transcrição, sobre as pausas e hesitações marcadas por reticências e os alongamentos marcados por dois-pontos duplos e ainda sobre as reduções marcadas por parênteses.

Após a conclusão dessa etapa, passamos à construção da tabela em forma de cartaz, que deveria conter as especificidades das duas modalidades da língua, falada e escrita, de acordo com as condições de produção. Nesse momento foi relembrado o texto ouvido e foi apresentado aos alunos, por meio de cópias individuais, o texto escrito, a narrativa “A festa das bonecas”, para que comparássemos os dois textos e refletíssemos sobre suas diferenças e semelhanças.

Assim, após a leitura do texto escrito, foi desenhada a tabela no quadro e os alunos eram questionados a respeito das condições de produção do texto falado e do escrito. Os discentes eram instigados a responder por meio de perguntas, como: “Como se dá a interação no texto falado? E no texto escrito? É da mesma maneira, ou é diferente? Por quê?”; e ainda: “E o planejamento, qual modalidade que permite um planejamento maior no momento da produção, o texto falado ou o escrito?”; “Em qual texto os interlocutores podem ter acesso às reações um do outro?”; “Qual texto traz uma possibilidade maior de revisão/reformulação imediata?” e “ Qual das duas modalidades é realizada de forma mais coletiva, e qual é mais individualizada?”. Vale ressaltar que os alunos eram constantemente questionados sobre o porquê das ocorrências apontadas por eles.

Após o registro das respostas no quadro, retomamos todos os aspectos levantados pelos alunos, tendo como escriba a professora. Alguns alunos confeccionaram o cartaz que foi afixado na parede da sala para servir como consulta sempre que necessário, conforme figura abaixo.

Figura 8 – Atividade de comparação entre fala e escrita14

Fonte: Alunos participantes da pesquisa, 2017

Figura 9 – Painel construído pelos alunos e afixado na sala de aula

Fonte: Alunos participantes da pesquisa, 2017

14 O quadro foi uma possibilidade de fazer com que os alunos refletissem sobre as relações que permeiam a fala e a

escrita, considerando o contexto de produção, considerando, ainda, o contínuo entre essas duas modalidades de uso da língua, conforme Marcuschi (2010).

Assim, concluímos a proposta IV e avaliamos de forma coletiva as atividades realizadas, para que pudéssemos iniciar nossas reflexões acerca dos desvios ortográficos. Os alunos foram incentivados a falarem novamente suas conclusões a respeito da relação entre fala e escrita, embasados no quadro que tínhamos construído e que estava fixado na parede para subsidiar as próximas discussões.