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A Organização Mundial de Saúde estima que grande parte da população mundial continue a depender de plantas medicinais para os cuidados primários da saúde, sobretudo nas regiões mais desfavoráveis. De fato, o consumo de produtos caseiros à base de plantas já é uma realidade assimilada não só pela indústria farmacêutica, mas também pelo poder público (LORENZI & MATOS, 2002; STASI et al, 2002; AKERELE, 1993). Tanto assim, que prefeituras de vários capitais, inclusive de Fortaleza, além de inúmeras cidades do interior, já distribuem gratuitamente estes medicamentos à população, nos postos de saúde (MATOS, 1998).

Segundo MING (1992), uma espécie muito promissora para as indústrias farmacêutica, de aromas e perfumaria, é a Lippia alba. De acordo com a lista de espécies elaboradas e publicadas pela Central de Medicamentos (CEME) para o Programa de Pesquisas em Plantas Medicinais (PPPM) do Ministério da Saúde, a L. alba é dita como uma das espécies medicinais mais utilizadas pela população brasileira (SANTOS & INNECCO, 2004) e foi incluída em projetos como “Farmácias Vivas”, da Universidade Federal do Ceará (MATOS, 1998), que visa oferecer sem fins lucrativos, assistência farmacêutica fitoterápica às comunidades carentes.

Preparados a base de L. alba (erva-cidreira) são utilizados na medicina popular para o tratamento de diversos males. No Brasil, existem vários estudos que avaliam o uso de plantas medicinais para fins terapêuticos, os quais comprovam ser a espécie L. alba bastante mencionada pela população.

Na cidade de Fortaleza, em um estudo realizado sobre o uso de preparações caseiras de plantas medicinais, BASTOS (2007) mostrou que das 32 espécies utilizadas pelos entrevistados, uma das plantas mais citadas para fins medicinais é a espécie Lippia alba (erva- cidreira) (7,7%). De acordo com esse estudo, suas folhas são usadas na forma de chá para dor de barriga, calmante, gripe, febre, dor e diarréia.

De acordo com OLIVEIRA & ARAÚJO (2007), a erva-cidreira (Lippia alba N. E. Brow) foi a segunda (14,6%) espécie de planta mais utilizada pelos idosos na prevenção ou controle da elevação da pressão arterial.

Um levantamento sobre as plantas medicinais cultivadas e usadas pelos idosos na Estratégia Saúde da Família Santo Antônio do Município de Pedras de Fogo – Paraíba (PB) indicou as 10 plantas medicinais mais usadas. A erva-cidreira foi a terceira planta mais citada

dentre os nove (45%) dos 20 entrevistados que usavam plantas para fins terapêuticos. Eram usadas as folhas frescas, após decocção, para dor de barriga, dor, gases, hipertensão, ou como calmante (SILVA et al, 2008)

Quanto ao órgão da planta utilizada e o modo de preparo como fonte terapêutica dessa espécie, destacam-se as folhas e as raízes sob a forma de infusão, decocção, maceração, compressas, banhos ou extratos alcoólicos (JULIÃO et al, 2003).

Popularmente, suas folhas são empregadas como infusão ou decocção no tratamento de doenças gástricas, diarréia, febre, asma, tosse e tranqüilizantes ou calmantes (TAVARES et al, 2005; JULIÃO et al, 2003 MATOS, 1996). Também podem ser usadas na forma de compressas para combater hemorróidas, macerada para uso local contra dor de dentes, e em forma de banhos, como febrífuga (CORREA, 1992).

Seu uso também é relatado em casos de resfriado (STASI et al, 2002), no combate a hipertensão (GAZOLA et al, 2004; STASI et al, 2002), como sedativo (STASI et al, 2002), analgésico (VALE et al, 2002), em distúrbios hepáticos, gripe, bronquite, sífilis (BRAGA et al, 2005), no tratamento de dores de cabeça (DUARTE et al, 2005) e para malária (VIGNERON et al, 2005). Algumas pesquisas confirmam o potencial farmacológico da espécie Lippia alba, o que podem explicar, pelo menos em parte, alguns de seus usos terapêuticos na medicina popular, o que também leva ao interesse de estudos, visando o isolamento de compostos responsáveis por tais atividades.

CORRE (1992) comprovou a atividade analgésica, espasmolítica, antibacteriana e peitoral a partir de suas folhas, sem que nenhum efeito tóxico tenha sido verificado em animais tratados com extratos das plantas. Misturas de óleos essenciais obtidas das folhas e flores, com cremes biológicos, comprovaram ser excelente para o tratamento de peles envelhecidas e secas, contribuindo para a coesão da célula da pele e promovendo a formação de uma barreira que regula a perda de umidade transepidérmica (ELDER et al, 1997).

PASCUAL et al, 2001 demonstraram a atividade antiulcerogênica em ratos tratados por via oral com infusão das folhas de L. alba. A infusão foi efetiva na prevenção da ulceração induzida por indometacina e, na dose testada, não causou lesão gástrica, nem modificou o pH gástrico e a acidez total.

VALE (1999) realizou um estudo comparativo entre os óleos essenciais dos três quimiotipos de L. alba e conclui que seus óleos essenciais apresentaram atividade analgésica, ansiolítica, depressor central, relaxante muscular e diminuidoras da temperatura retal. Dentre os componentes químicos dos óleos essenciais, o citral, mirceno e limoneno parecem atuar de

maneira sinérgica, sendo responsáveis pelos principais efeitos desses óleos. Já em 2002, esses mesmos autores estudando as substâncias citral, mirceno e limoneno isoladamente, demonstraram seu efeito sedativo e miorrelaxante, porém essas substâncias não apresentaram ação ansiolítica, indicando que esta atividade deve ser de responsabilidade de outros componentes do óleo essencial da planta.

Quanto a atividade antioxidante in vitro, o óleo essencial obtido por hidrodestilação exibiu um efeito similar à vitamina E e ao 2-(ter-butil)-4-methoxifenol (BHA), pelo método da oxidação do ácido linoléico em compostos carbonílicos (STASHENKO et al, 2004).

Em relação à atividade antimicrobiana, o óleo essencial extraído de toda a planta foi testado em bactérias de interesse clínico por ALEA (1997). O óleo essencial apresentou atividade principalmente sobre bactérias Gram-positivas com Concentração Inibitória Mínima (CIM) variando entre 0,3 e 0,63 mg/mL. De todas as bactérias testadas apenas a Pseudomona aeruginosa mostrou-se resistente às diferentes concentrações testadas, enquanto a espécie Gram-positiva Staphylococcus aureus teve seu crescimento inibido pela a menor dose do agente antibacteriano testada.

Um screening de 68 plantas foi realizado para verificação de atividade antimicrobiana sobre três bactérias Gram-positivas (Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes e Streptococcus pneumoniae) que causam infecções respiratórias. Dessas 68 plantas, usadas na Guatemala no tratamento de doenças respiratórias, destacaram-se as espécies Lippia alba e Lippia dulcis pela elevada atividade antibacteriana. A L. alba inibiu principalmente o crescimento do S. aureus e S. pneumoniae e moderadamente o S. pyogenes (CACERES, 1991).

Quanto sua ação antifúngica de L. alba, utilizando-se o método de microdiluição em caldo, o óleo essencial e o extrato hidroalcóolico obtido por maceração inibiram moderadamente o crescimento da Candida albicans e da C. krusei, quando nas CIM de 0,6 µg/mL e 125 µg/mL, respectivamente. No entanto, somente o extrato hidroalcóolico apresentou atividade inibitória sobre C. parapsiolisis (100 µg/mL) (HOLTEZ et al, 2002).

Em relação ao seu efeito antiviral, a fração butanólica e acetato de etila, provenientes da extração líquido-líquido do macerado etanólico da L.alba, apresentou ação contra o vírus Herpes simples tipo 1 resistente ao aciclovir e contra o vírus da pólio tipo 2, respectivamente. O screening fitoquímico realizado com o macerado etanólico detectou a presença de compostos fenólicos e flavonóides (ANDREGHETTI-FROHNER et al, 2005)

Ensaios da atividade citotóxica da espécie L.alba também foram alvos de pesquisas. COSTA e colaboradores (2004) avaliaram o efeito citotóxico de extratos brutos e concluíram que o extrato etanólico da folha mostrou maior citotoxidade frente às células HEp- 2 e o extrato clorofórmio das raízes teve um efeito maior para as células NCl-H292. Essas células foram obtidas de carcinoma epidermóide de laringe e mucoepidermóide de pulmão de humano, respectivamente.

O uso adequado da espécie Lippia alba sugere ser muito promissor e seu extensivo uso empírico vem despertando o interesse de pesquisadores em estabelecer explicações científicas para tais atividades farmacológicas, o que tem resultado na confirmação dessas atividades, bem como na detecção de outras propriedades importantes.

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