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Aplicações em Gestão de Bibliotecas

No documento Informação & informática (páginas 90-95)

Infometria e Ciência da Informação

3 Aplicações Das Técnicas Infométricas

3.1 Aplicações em Gestão de Bibliotecas

Foram escolhidos dois exemplos. Ambos demostram o interesse da aplicação de métodos quantitativos em biblio- tecas para embasar políticas de aquisição e de manutenção de acervos que pretendam produzir economia e melhoria nos serviços.

3.1.1 Seleção de uma coleção nuclear de periódicos

numa determinada área

Trata-se de uma aplicação simples da Lei de Bradford, que diz que

“se os periódicos científicos são agrupados por ordem decrescente de produtividade de artigos sobre um determi- nado assunto, eles podem ser divididos em um núcleo de periódicos mais especificamente dedicados ao assunto e diversos grupos ou zonas contendo o mesmo número de artigos que o núcleo, quando as zonas serão 1 : n : n²…” (APUD RAVICHANDRA RAO, 1983).

A partir de publicações de resumos ou mediante a análise de bases de dados especializadas – em CD-ROM ou em linha – é fácil identificar os títulos de periódico mais pro- dutivos – aqueles que publicam maior número de artigos de interesse para a área – e organizá-los em ordem decrescente de produtividade. De acordo com a Lei de Bradford, se os periódicos são subdivididos em um número P de grupos – que pode ser livremente escolhido, mas que normalmente fica entre 2 e 5 – de forma que cada grupo contenha o mes- mo número Y0 de artigos de interesse, deverá acontecer que, se o primeiro grupo contém X0 títulos de periódicos, o segun- do terá um número de títulos igual a X0 k – sendo k um nú-

mero maior que 1 – o terceiro estará formado por X0 k², e

assim sucessivamente até o último grupo, que estará integra- do por X0 k P-1 títulos. Esses dados podem ser transportados

para um papel semi-logarítmico – comprado em qualquer boa papelaria – da seguinte forma: no eixo das abscissas – eixo X em escala logarítmica – são representadas as zonas parciais dos títulos de periódico e no eixo das ordenadas – eixo Y em escala linear – a soma dos artigos contidos nos diferentes gru- pos de títulos X0 , X1 , X2 , etc.

Se a pesquisa de artigos pertinentes se estender por um período de tempo suficiente –dois ou três anos, por exem- plo – e se a área escolhida não for muito restrita, a quantida- de de artigos será significativa – algumas centenas – e o total de títulos de periódico em que esses artigos se encontram distribuídos também será significativo – algumas dezenas, ou mais. A representação gráfica dos dados será semelhante à mostrada na Figura 3. Três partes diferentes podem ser ob- servadas no traçado da linha que representa a distribuição dos artigos nos periódicos: uma parte central reta e duas cur- vas, uma no início e outra no final da linha.

Escolhendo o ponto P1 , no qual começa a parte linear da curva, traça-se Y0 P0 , Y1 P1 e Y2 P2 paralelamente ao eixo X, de forma que OY0 = Y0 Y1 = Y1Y2 . A seguir traça-se também

P0 X0 , P1 X1 e P2 X2 paralelamente ao eixo Y. Observe-se que os quatro primeiros periódicos mais produtivos (intervalo OX0, ou núcleo) fornecem cem artigos (intervalo OY0) e que para obter mais cem artigos (intervalo Y0 Y1 = OY0), ou seja, um total de duzentos artigos, seriam necessários onze dentre os títulos de periódico mais produtivos (intervalo OX1 , ou OX0 + X0 X1). Da mesma forma, para obter trezentos artigos seri- am necessários trinta e cinco dentre os títulos mais produti- vos. Em outras palavras, para passar de cem para trezentos artigos (fator 3), seria necessário passar de quatro para qua- renta títulos (fator 10).

Dito de outro modo, com uma pequena quantidade de títulos de periódico (apenas os onze títulos mais produti- vos, no exemplo da Figura 3) pode-se obter de sessenta a se- tenta por cento do total de artigos pertinentes numa área considerada, os quais são identificados em meio a um total de quarenta títulos de periódico. Naturalmente, a quantida- de de periódicos que constitui o núcleo e as zonas subsequen- tes varia de área para área, mas o princípio é sempre o mes- mo. Fica claro que numa biblioteca, num centro de docu- mentação ou num centro de análise da informação, peque- nos esforços para identificar os periódicos mais produtivos em cada área de interesse pode representar significativas eco- nomias e serviços de melhor qualidade.

No ano de 1974 o autor deste trabalho aplicou um método baseado nesses princípios para estabelecer a lista bá-

sica de periódicos brasileiros em ciências agrícolas (ROBREDO et al., 1974). Nesse mesmo ano Gomes (1974) utilizou uma metodologia semelhante para selecionar perió- dicos na área de física. Em 1984 Lima e Figueiredo (1984) retomaram o tema numa ampla discussão geral.

3.1.2 Manutenção de acervos

A Lei de Bradford não é senão um exemplo prático da chamada ‘lei do menor esforço’ – máximo proveito com o mínimo esforço, seja físico, financeiro, intelectual, etc. – tam- bém conhecida como ‘lei de 80-20’, que na área socioeconômica pode ser enunciada nos seguintes termos: poucos têm muito e muitos têm pouco. Aplicada ao acervo das bibliotecas, essa Lei foi utilizada por Trueswell (1965 apud RAVICHANDRA RAO, 1983), que chegou à conclusão de que aproximadamen- te oitenta por cento dos volumes que compõem o acervo das bibliotecas nunca foram consultados ou emprestados e que não faria nenhuma diferença desfazer-se deles. De fato, basta dedicar um pouco de tempo ao exame das fichas de emprésti- mo de uma parte dos volumes que dormem nas prateleiras das estantes das bibliotecas para verificar a veracidade dessa observação.

Eis uma questão que deveria merecer maior atenção por parte dos diretores – administradores?, gerentes? – de um grande número de grandes e médias bibliotecas. Simples análises estatísticas dos dados resultantes do controle de uso do acervo – controle esse lamentavelmente pouco praticado

nas bibliotecas brasileiras – seja por empréstimo, por solicita- ção de cópias ou especialmente por consulta em sala de leitu- ra, podem ajudar a identificar o material descartável ou, ao contrário, aquele que, muito solicitado, justificaria a aquisi- ção de novos volumes, evitando-se assim inúteis demoras no atendimento às demandas.

No documento Informação & informática (páginas 90-95)