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Aplicações no Brasil para priorização de projetos em saneamento 

3 APOIO À DECISÃO MULTICRITÉRIO 

3.5 Aplicações da literatura 

3.5.2 Aplicações no Brasil para priorização de projetos em saneamento 

No Brasil, foram realizadas algumas pesquisas para resolver o problema de priorização de projetos de saneamento. O estudo de Teixeira e Heller (2001) propõe um modelo de priorização de investimentos com ênfase em indicadores de saúde aplicados em uma companhia de saneamento. Os indicadores utilizados foram: coeficiente de mortalidade infantil, índice de cobertura dos serviços, índice de desenvolvimento humano como critérios de decisão. Nesse caso, foram utilizados múltiplos critérios (epidemiológico, sanitário, financeiro e social). Posteriormente, os autores ampliaram os critérios para: valor presente custos do projeto, valor presente líquido, população beneficiada e mortalidade infantil (TEIXEIRA; HELLER, 2003).

Os critérios de natureza epidemiológica, sanitário, social, ambiental e urbanístico foram considerados na priorização de investimentos em saneamento por Teixeira e Cardoso de Mello (2008). Para compor os critérios, foram utilizados indicadores municipais, como: taxa de mortalidade infantil, índice de cobertura dos serviços de água ou de esgotamento sanitário ou de coleta de lixo, índice de desenvolvimento urbano, grau de urbanização.

É importante observar que, nesses casos não houve aplicação de metodologias multicritério de apoio à decisão. O processo de tomada de decisão foi realizado pela ponderação dos critérios e multiplicados pelas alternativas, e as ações selecionadas foram aquelas que apresentaram maiores pontuações.

A utilização de um sistema de apoio à decisão para investimento em projetos de abastecimento de água foi considerada por Harada (2001) com o emprego do método PROMETHEE II para auxiliar na ordenação de prioridades em empreendimentos de saneamento. O autor utilizou como critérios: impacto social e ambiental, custo do investimento, população atendida, potencial de retorno do investimento, fase de avaliação junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

A utilização de metodologia multicritério no Brasil é constatada por Zuffo (1998) e Zuffo et al (2002) cujo objeto foi reabilitar, expandir e conservar a bacia do rio Cotia, afluente do rio Tietê. O conjunto de ações a serem selecionadas consistia como estratégias de reúso para a estação de tratamento de esgoto (ETE-Barueri). Foram adotados 20 critérios e nove diferentes alternativas que foram avaliadas por cinco métodos: ELECTRE II, PROMETHEE II, Programação de Compromisso, Teoria dos Jogos Cooperativos e o AHP. Entre os critérios

citam-se: econômico (benefício/custo), ambiental (acidentes, fauna, área protegida legal, aquático, vegetação natural, planície de inundação, mata ciliar), técnico (qualidade água, vazão, água subterrânea, erosão, enchentes), social (atratividade, saúde física, lazer, empregos, reassentamento, qualidade de vida, mudança de atividades).

Nos estudos de Morais e Almeida (2006), verificou-se a aplicação do método ELECTRE I para escolher em qual distrito no Estado de Pernambuco haveria investimento no sistema de abastecimento de água. Entre os critérios utilizados, encontram-se custo de investimento, qualidade de água e turismo.

No que diz respeito à política pública de saneamento, Silva (2000) propõe uma metodologia em quatro estádios e aplicação de 11 indicadores ecológicos/econômicos. Esta pesquisa contribui para introduzir uma visão ecológica na definição de políticas publicas da gestão de recursos hídricos. A pesquisa utilizou o método de avaliação de impactos ambientais Batelle- Columbus para a definição do conjunto de indicadores.

Neves (2000) aplica o método AHP para selecionar alternativas de projetos de esgotamento sanitário. Os critérios de decisão foram: financeiro referente ao empreendimento, financeiro relativo à execução, ambiental voltado para melhoria da qualidade da água, econômico, social e o efeito demonstrativo do empreendimento. Ainda para esgotamento sanitário, Oliveira (2004) utiliza a técnica de árvore de decisão para auxiliar na escolha de uma entre oito propostas de tratamento de esgoto.

Silva, Nascimento e Silva (2008) sugerem um modelo de programação linear para a hierarquização de projetos de saneamento que considera o indicador de salubridade ambiental.

O modelo procura maximizar as condições de salubridade para as comunidades beneficiadas. A escolha de sistemas de tratamento de esgoto é feita por Leoneti (2009) em que aplica o método AHP, tendo como base critérios econômicos, ambientais e técnicos.

Souza, Cordeiro e Silva (2009) aplicaram quatro métodos multicritério ( ELECTRE III, CP- Programação de Compromisso, TOSIS e PROMETHEE II) para hierarquizar quatro alternativas tecnológicas para a gestão de lodo de fossa/tanque séptico. Os critérios para a seleção das alternativas apresentam-se no quadro 3.7.

Quadro 3.7 – Critérios do sistema de fossa séptica / tanque séptico

Restrições técnicas (fase 1) Avaliação tecnológica (fase 2)

Técnica

declividade do terreno

Ambiental

sanidade

Operacional

complexidade para implantação nível máximo do remoção de carga complexidade para operações lençol freático orgânica facilidade para expansão do sistema espessura do solo geração de odor estabilidade do sistema

demanda por área necessidade de área operação e manutenção Custo

emissão de gases

Econômico

custo de implantação custo de implantação impacto na custo de desmobilização energia exigida qualidade da água destinação final

Fonte: Adaptado de Souza, Cordeiro e Silva (2009)

De acordo com os estudos, é constatada a necessidade de seleção de alternativas de projetos em saneamento no Brasil, no entanto, em apenas alguns casos, foi utilizada a metodologia multicritério, ao contrário da realidade internacional. Nota-se que os métodos multicriteriais ou técnicas de apoio à decisão estão ganhando espaço no contexto do saneamento no Brasil, o que é constatado pelo aumento nas publicações nos últimos cinco anos.

Nos estudos mencionados, observa-se a importância de fatores com dimensões sociais, ambientais e de salubridade. A preocupação social e com a saúde está estritamente ligada com o saneamento e indicadores como mortalidade infantil e índice de desenvolvimento humano (IDH) fazem parte da avaliação de tais projetos. Observa-se, também, intensa participação de fatores ambientais na avaliação de projetos de saneamento que deve ser considerada como estratégia de proteção nacional dos recursos hídricos.

De forma geral, a revisão na literatura foi importante para o mapeamento de como estão se desenvolvendo os estudos de métodos multicritérios de apoio à decisão na área de saneamento, tanto no âmbito nacional como no internacional. Foi importante analisar quais os principais critérios de avaliação se utilizam na decisão em saneamento.