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APLICABILIDADE DA METODOLOGIA PARA ÁREAS GEOGRÁFICAS NO

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA A AVALIAÇÃO DE

5.2 APLICABILIDADE DA METODOLOGIA PARA ÁREAS GEOGRÁFICAS NO

Muitos estudos acadêmicos têm sido ultimamente realizados na bacia do rio Doce. Nessa bacia hidrográfica há grande quantidade de informações disponíveis. Aplicações de tecnologias permitem a disponibilidade de dados para estudos multidisciplinares e a natureza proporcionou, na bacia do rio Doce, ambientes favoráveis à exploração de potenciais de energia pelo homem. Essa bacia guarda uma história de acontecimentos ainda sujeitos a acontecer em outras bacias brasileiras.

Atualmente a bacia do rio Doce é monitorada e controlada com suporte de informações ambientais, hidrológicas e meteorológicas. Existem 22 plataformas de coletas de dados (PCDs) meteorológicas automáticas e telemétricas, além de informações do satélite National Oceanic Atmospheric Administration (NOAA/EUA) para monitoramento do tempo e clima com transmissão de dados de satélite, telefonia e internet. Além disso, instituições públicas (INMET, IGAM, CEMIG, COPASA, ANA, CPTEC/INPE, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) participam de programas governamentais integrados com objetivos de efetuar o monitoramento da disponibilidade hídrica na região efetuando aquisição e difusão de dados. Diferente de outras bacias mais distantes dos centros urbanos, na bacia do rio Doce há muitos registros de séries hidrológicas históricas superiores a 30 anos.

Sob o fator econômico-social a ocupação antrópica da bacia hidrográfica do rio Doce se confunde com a história do Brasil. Apesar de descoberta da bacia do rio Doce em 1501 pelos navegadores portugueses, a bacia hidrográfica teve a sua ocupação iniciada, já em fins do século XVII, nas cabeceiras de seus rios. Cidades que hoje são históricas foram a porta de entrada para a ocupação da bacia. No passado chegou-se a proibir a navegação fluvial no rio Doce no intuito de evitar os ―descaminhos do ouro‖. A efetiva ocupação da região somente se deu a partir da construção da Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM), iniciada em 1903 em Vitória, Estado do Espírito Santo. Na década de 30 ocorreu a ocupação para expansão pecuária e a forte demanda por energia com fontes no carvão para as siderurgias e na madeira, como produto de exportação para a Europa pós-guerra, Estados Unidos e Japão. Ocorreu nas décadas de 30 e 40, importante processo de devastação.

Na década de 50 foi inaugurada a rodovia Rio-Bahia fazendo corredor migratório para populações no Norte e Nordeste e inchamento de cidades. Foi inaugurada a

Companhia de Aços Especiais Itabira – ACESITA e dez anos mais tarde, poucos quilômetros a jusante do rio Piracicaba, surgiu Usina Intendente Câmara – USIMINAS. Foram instaladas siderúrgicas em cidades o que propiciou o surgimento do Aglomerado Urbano do Vale do Aço. A necessidade por geração de energia de alto desempenho estava consolidada e nas décadas seguintes surgiu a exploração de potenciais hidroelétricos na bacia do rio Doce.

Nas décadas de 50, 60 e 70 usinas hidroelétricas foram construídas sem as ferramentas, tecnologias e os conhecimentos que a sociedade dispõe hoje. Tais empreendimentos exigiram das gerações de ―barrageiros‖, projetos e construções de barragens, cálculos complexos, medições e observações, estudos das propriedades e comportamento dos materiais de construção e das fundações. Esse conhecimento colocou o país em nível privilegiado em construção de hidroelétricas. As lições aprendidas e os conhecimentos adquiridos devem continuar marcando a importância para o desenvolvimento da sociedade diante das complexidades atuais e novos desafios da engenharia. Há muito que se explorar em matrizes energéticas sustentáveis. A consolidação e operação de um sistema interligado nacional de energia elétrica têm agora que ser avaliados sob novos conceitos, voltados aos parâmetros da sustentabilidade.

Na história recente, as políticas nacionais de recursos hídricos, apresentadas no final da década de 90 estabeleceram fundamentos e instrumentos para a gestão integrada. Entre os fundamentos está o de proporcionar o uso múltiplo das águas. Entre os instrumentos destacam-se os sistemas de informações. O Sistema Nacional de Informações sobre os Recursos Hídricos (SNIRH) tem o propósito de fornecer subsídios para a formulação dos Planos de Recursos Hídricos, além de reunir, divulgar e atualizar permanentemente dados sobre qualidade, quantidade, disponibilidade e demanda pelos recursos hídricos do país. Sugere-se nesse estudo que as informações são apenas parte dos instrumentos de gestão, pois há necessidade de aperfeiçoamentos de processos bem definidos, flexíveis de operação e simulação, variando conforme a disponibilidade e qualidade da informação, para aperfeiçoar o entendimento sobre os problemas analisados em todas as fases de estudo, no que se refere ao uso da água para geração de energia elétrica e interface com outros usos. O desenvolvimento das sociedades e a necessidade por energia agregam os fatores de infraestrutura, socioeconômicos e ambientais. No final do século passado, as decisões em políticas energéticas tiveram cunho eminentemente desenvolvimentista. Nos últimos anos, o Brasil e o mundo passaram por mudanças de ordem cultural, destacando-se o respeito aos direitos humanos e ao meio ambiente. As condições políticas e econômicas adversas exigem cada vez mais a compreensão das diversas multidisciplinaridades em decisões para planejamento energético.

Esse aspecto do desenvolvimento de regiões próximas aos grandes centros urbanos do Brasil, como é o caso da bacia do rio Doce, ocorreu e está ocorrendo em outras regiões do Brasil, porém, em situações e momentos diferentes. Atualmente, decisões em políticas públicas de alto impacto muitas vezes são irreversíveis para o meio

ambiente e o bem estar social. Há necessidade de maior conhecimento para tomada de decisão devido a complexidade dos novos fatores considerados.

Em muitas áreas do território brasileiro ocupações antrópicas estão ocorrendo antes dos planejamentos que aplicam tecnologias robustas por tratamento de dados e informações. As mudanças de hoje tendem a ocorrer com maior rapidez, algumas vezes são mais profundas e marcam por horizontes de tempo maiores que a capacidade de recuperação da natureza. O uso do solo ou ocupações não planejadas, devido desmatamento, exploração mineral e agropecuária, construção de obras de transportes e reservatórios, podem gerar problemas de várias ordens, e inibir a exploração sustentável do meio ambiente e o bem estar social. São necessárias, portanto, medidas de prevenção e ênfase na qualidade da decisão anterior a ação. As aplicações robustas de geotecnologias associadas aos sistemas de suporte a decisão podem ser consideradas como um aperfeiçoamento dos instrumentos para a formulação e implementação de políticas setoriais. As bases de dados multidisciplinares na área geográfica da bacia do rio Doce contêm cenários de um exemplo de uma história do desenvolvimento de regiões brasileiras. O estudo possibilitou organizar algumas informações espaciais da bacia do rio Doce e abstrair por meio de modelos a compreensão de fatores sociais, ambientais e socioeconômicos necessários à avaliação de potenciais hidroelétricos em fase de prospecção.