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APLICABILIDADE DO DIREITO DE ARENA AO ATLETA DE SURFE

Primeiramente vale lembrar que o primeiro capítulo da presente pesquisa dividiu o atleta de surfe em dois tipos. O primeiro deles é o atleta competidor. Esse atleta tem como obrigação os resultados em competições profissionais levando a marca para o topo dos pódios para que tenha visibilidade no meio esportivo. Já o

freesurfer tem apenas a obrigação de surfar, produzir vídeos e fotos, publicando em

suas redes sociais e sites relacionados ao esporte para elevar a marca no cenário desse.

Essa diferenciação torna-se necessária nesse ponto, pois dos dois tipos de atleta de surfe apenas – em tese – o competidor seria detentor do Direito de Arena segundo o que prevê a Lei nº 9.615/98 em seu art. 42:

Art. 42. Pertence às entidades de prática desportiva o direito de arena, consistente na prerrogativa exclusiva de negociar, autorizar ou proibir a captação, a fixação, a emissão, a transmissão, a retransmissão ou a reprodução de imagens, por qualquer meio ou processo, de espetáculo desportivo de que participem. (BRASIL, 1998)

Extrai-se do caput do artigo referido que só se pode negociar a captação, emissão, transmissão, retransmissão ou reprodução do direito de arena nas competições, ou espetáculos, como disciplina o artigo.

Entende-se, com isso, que apenas o atleta competidor, ou o fresurfer quando competir (o que acontece em algumas ocasiões) teria a prerrogativa do Direito de Arena.

Já no que tange ao surfista competidor, a princípio, por ele competir, caberia a possibilidade de aplicar a ele o Direito de Arena. Entretanto, como já se viu, a Lei apenas autoriza a negociação do Direito de Arena por entidades de práticas esportivas. No surfe, por sua vez, não existem tais entidades de prática desportiva poderiam ser responsáveis por essas negociações, tornando, no presente cenário do esporte, impossível a negociação referente ao Direito de Arena.

Com isso, enquanto o surfe for um esporte no qual os atletas se encaixam como autônomos, previsto no art. 28-A da Lei Pelé, não tendo contrato de trabalho assinado com entidade desportiva será impossível a negociação do Direito de Arena, sendo assim só permitida a negociação do direito de imagem desses, respeitadas as diferenças já demonstradas no presente trabalho.

5 CONCLUSÃO

No decorrer da pesquisa percebeu-se a distinção que existe entre o atleta de surfe – profissional – e os atletas profissionais de fato, visto que para o direito desportivo o atleta profissional é aquele maior de 16 anos que tem contrato de trabalho firmado com entidade desportiva. Diferente disso, o surfista por sua vez, para que seja considerado profissional em seu cenário esportivo, basta que comunique a sua federação estadual e/ou associação brasileira de surfe e, a partir daquele momento, considerar-se-á profissional aquele atleta.

O Direito de Arena deve apenas ser aplicado ao atleta profissional que se encaixa nos requisitos da Lei nº 9.615/98, ou seja, maior de 16 anos com contrato de trabalho firmado com entidade desportiva. O Direito de Arena, por sua vez, é a prerrogativa que essa entidade desportiva tem de negociar ou não a transmissão da imagem dos seus atletas com quaisquer meios de comunicação.

Esse instituto tem sua origem nas batalhas travadas entre gladiadores, na antiguidade. Tais batalhas eram travadas em lugares com o chão de areia, de onde vem a palavra arena. Já no Brasil tal instituto teve sua previsão legal na Lei de Direitos Autorais de 1973. Em 1988, com a entrada em vigor da Constituição Federal esse teve sua previsão no art. 5º e, em seguida em 1993, criou-se a Lei nº 8.672 que regulamentou o instituto em seu art. 24. Por fim, aperfeiçoou-se a referida Lei com a criação da Lei Pelé em 1998, que tratou do assunto em seu art. 42. Contudo, em 2011 houve algumas alterações nessa Lei regidas pela Lei nº 12.395 que, dentre outras alterações, confirmou a natureza do Direito de Arena como sendo civil e não trabalhista como muitos doutrinadores entendiam.

O Direito de Arena, como se viu, é um direito de imagem coletiva dos atletas. Ou seja, assim como o direito de imagem, ele também tem sua origem nos direitos da personalidade que, por sua vez, é o direito inerente a todos os seres humanos que detém uma personalidade jurídica.

O direito de imagem é quem dá razão de ser ao Direito de Arena, visto que ambos têm a mesma natureza jurídica, tendo como principal diferença que o direito de imagem é personalíssimo, ou seja, a imagem pertence apenas a si próprio podendo ser negociada apenas por esse, enquanto que a imagem do atleta, no Direito de Arena, pode ser negociada coletivamente, porém pela entidade desportiva.

O Direito de Arena é a prerrogativa que a entidade desportiva tem de negociar a imagem coletiva de seus atletas, entretanto o atleta de surfe é - em regra - autônomo, logo não detém contrato de trabalho firmado com entidade desportiva, apenas contratos de natureza civil que visam a exploração da imagem e uso do atleta para marketing, tornando, portanto, impossível a aplicabilidade do Direito de Arena aos atletas de surfe.

REFERÊNCIAS

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