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Apoio à reinserção de migrantes brasileiros/as retornados/as

No documento MIGRAÇÕES E TRABALHO (páginas 197-200)

Para muitos brasileiros e brasileiras que migraram em busca de melhores condições de vida no exterior tornou-se premente, e para muitos inevitável, a partir de 2007, a volta à Pátria. A crise provocou desemprego e os primeiros afetados são os migrantes.

O presente projeto do IMDH foi iniciado em 2007 e encerrado em 2013. Teve o objetivo de “oferecer amparo e orientação aos migrantes brasileiros que, após haver migrado e vivido um tempo no exterior, retornam ao Brasil e necessitam de um apoio, inclusive financeiro, para reintegrar-se na localidade e no contexto em que passam a residir”.

Este relato referirá uma avaliação de um conjunto de casos que, ao longo de 2010, o IMDH prestou assistência em 62 casos (no período 2007-2010, foram 245 casos), com mini- projetos de reintegração financiados pela Caritas Internacional da Bélgica. Um ano depois, foram visitados e/ou entrevistados os titulares de 16 casos. As entrevistas realizadas forne- ceram-nos indicadores de como se encontravam estes migrantes, transcorrido um lapso de tempo após seu retorno. As reflexões aqui apresentadas contemplam apenas uma pequena parte da avaliação realizada, e acreditamos que podem demonstrar elementos de análise sobre a prática do retorno assistido, como é chamado pela entidade apoiadora que o financiou.

A migração de retorno ao Brasil: O IMDH iniciou sua participação em programas de apoio a retornados em 2007. Em momentos diferentes ou simultaneamente, estes programas foram desenvolvidos com ao apoio da Organização Internacional para as Migrações (OIM), com Cáritas Internacional da Bélgica (CIB), e com Maatwerk bij Terugkeer (MBT), da Holanda.

Em geral, os projetos formulados pelas organizações mencionadas acima, visam apoiar e favorecer atividades de geração de renda de migrantes que, após haverem migrado e vivido um tempo no exterior, retornam ao Brasil e necessitam de um suporte, inclusive financeiro, para reintegrar-se na localidade e no contexto em que passarão a residir.

Nos casos acompanhados pelo IMDH, os migrantes, em sua grande maioria, dizem ter saído do Brasil em busca de trabalho e de melhores condições de vida. Mas, as condições encontradas no exterior muitas vezes não correspondem às expectativas que motivaram a emigração, e as pessoas não encontram alternativas senão retornar. Considere-se, aqui, como dito acima, a crise mundial que provocou desemprego e uma drástica redução na oferta de trabalho, sendo que os migrantes em situação regular ou não, foram fortemente afetados, acelerando e aumentando a volta ao país de origem.

A novidade no cenário migratório consiste em que estes retornados passaram por um processo de acompanhamento por instituições que viabilizaram o regresso dentro de um horizonte de recolocação produtiva na sociedade de origem (como empreendedor individual e projeto de geração de renda), ou, em outros casos, com um valor de ajuda financeira assistida tendo em vista prover as maiores urgências às pessoas em situação de vulnerabilidade.

Este relato refere-se ao conjunto de brasileiros retornados da Bélgica no decorrer de 2010, onde o objetivo central foi avaliar a situação de 16 casos, um ano ou mais após seu retorno, sendo 3 apoiados como situações vulneráveis e 13 com projetos de geração de renda/reinserção no mercado de trabalho.

Tabela – Brasileiros/as que retornaram apoiados/as pelo projeto em causa (STAVR)

Abreviação

do nome Idade

Gênero Permanência na Bélgica Estado civil Projeto (Apoio para)

M F Solt. Cas. Vulneráveis Geração de Renda

DNS 33 * 2006 a 2010 (4 anos) * * FJS 36 * 2009 a 2010 (1 ano) * * GMS 46 * 2007 a 2010 (3 anos) * * MAB 32 * 2009 a 2010 (1 ano e 1 mês) * * RPO 35 * 2009 a 2010 (1 ano e 3 meses) * * ZBAM 38 * 2005 a 2010 (6 anos) * * RDSM 37 * 2008 a 2010 (1 ano e meio) * * FSS 33 * 2009 a 2010 (1 ano e 5 meses) * * EPA 38 * 2006 a 2010 (5 anos) * * DRM 21 * 2004 a 2010 (6 anos) * * EldLP 23 * --- retorno 2010 * * ELP 32 * --- retorno 2010 * * ASSA 34 * 2006 a 2010 (5 anos) * * CNZP 58 * 2008 a 2010 (3 anos) * * NFS 28 * 2009 a 2010 (menos de 1 ano) * * MMM 22 * --- retorno 2010 * * 9 7 3 13

Gráfico – Local de destino ao retornar

Estado de Residência após retorno ao Brasil 50% 40% 30% 20% 10% 0%

Goiás: 50% M. Gerais: 38% DF/Brasília: 12%

A seguir, uma referência à situação socioeconômica antes da migração e as condições em que se encontram após seu retorno ao Brasil.

Gráfico – Situação laboral quando emigrou

Situação Laboral antes de migrar

Empregados: 56% Autônomos: 10% Desempregados: 33% A questão de fundo refere-se à situação laboral e se a mesma poderia ser um dos fatores que contribuiu para a saída do Brasil. O gráfico acima indica com clareza que a maioria estava trabalhando, seja na iniciativa privada, como funcionário no serviço público ou como autônomo. Mas é significativo que para 30% a realidade era de desemprego e baixas perspectivas de obtenção de renda.

Dentre os que se declararam empregados e/ou com alguma renda destaca-se o descompasso entre o salário/rendimentos recebidos e as necessidades inerentes à sobre- vivência. Essa situação aparece com clareza nas afirmações feitas nos Questionários de pesquisa: “estava empregada e com salário, mas recebia insuficientemente para manter a família”, “era uma contratação precária” e “tinha dívidas e não conseguia pagar”.

A migração para a Bélgica é interpretada como uma oportunidade de melhora, a pos- sibilidade de reduzir a precariedade ou mesmo de ganhar mais do que no Brasil, para pagar dívidas ou comprar a casa própria. Contudo, a atividade desenvolvida enquanto residente no exterior nem sempre correspondeu às expectativas: “mas lá só pagavam o que queriam e não cumpriam o que prometiam”, “meu esposo não conseguia mandar dinheiro para o Brasil”, “ganhava, mas não sobrava nada”. O gráfico a seguir retrata a situação laboral um ano após o retorno, vinculada ao apoio recebido para reiniciar sua vida com o miniprojeto de geração de renda que lhe foi viabilizado financeiramente.

Gráfico – Situação Laboral um ano após o retorno ao Brasil Situação Laboral atual

Autônomos: 70%

Trabalho alternativo: 30%

Não há desempregados ou sem algum tipo de ocupação laboral com rendimento, o que já é significativo, pois antes de emigrarem 30% estava desempregada. Os 30% que classificamos como trabalhos alternativos, incluem os casos em que os retornados não conseguiram implementar plenamente os projetos de geração de renda de modo a as- segurar-lhes o sustento, mas obtiveram um resultado positivo que lhe possibilita alguma renda.

Predomina a situação de trabalho autônomo (70%), resultado dos próprios projetos de geração de renda. Vale destacar que alguns relatam estarem em condições de ganho “suficiente para cumprir com tranquilidade compromissos e o sustento da família”, ou mesmo, que já foi possível avançar para um negócio maior e mais estável.

É oportuno identificar, também, quais as condições de moradia dos retornados e retornadas, a seguir demonstrada, pois a ajuda por parte dos familiares diretos (pais, irmãos, outros parentes) foi fundamental para assegurar o mínimo de tranquilidade na aplicação dos recursos recebidos e no decorrer da implementação do projeto. No horizonte está sempre a urgência e a importância de se alcançar a casa própria. Isso é fundamental para a família, e mesmo para qualquer atividade de geração de renda.

No documento MIGRAÇÕES E TRABALHO (páginas 197-200)