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Eduardo dos Santos*

No documento MIGRAÇÕES E TRABALHO (páginas 70-73)

Minhas primeiras palavras são de agradecimento ao Senhor Procurador-Geral do Trabalho, Dr. Luís Antônio Camargo de Melo, pelo convite para participar deste Simpósio Internacional sobre Migrações e Trabalho.

É para mim uma honra figurar entre palestrantes que detêm conhecimento amplo sobre os temas que hoje nos reúnem em Brasília.

Posso afirmar que o Itamaraty tem grande familiaridade com o tema migrações e trabalho, que é parte de nossas atividades cotidianas. Como sabemos todos, o fenômeno das migrações internacionais não constitui uma realidade estranha a nosso país.

Breve digressão histórica revela que, no período compreendido entre 1822 a 1949, o Brasil recebeu cerca de cinco milhões de imigrantes, na sua maioria italianos, portugueses e espanhóis, mas também alemães, japoneses, russos, austríacos, sírio-libaneses, poloneses e ucranianos.

Entre 1880 e 1903, ingressaram no Brasil 1,9 milhão de europeus, sobretudo italianos. No período seguinte, entre 1904 e 1930, outros 2,1 milhões de imigrantes ingressaram no país. A imigração japonesa, iniciada em 1908, intensificou-se nos anos de 1932 a 1935.

Após a 2ª Guerra Mundial, preocupações com a segurança nacional e com a mão de obra nacional, que inspiraram a edição da Lei 6.815/1980 (Estatuto do Estrangeiro), arrefeceram a vinda de estrangeiros para o Brasil. Ainda assim, uma onda migratória signi- ficativa de espanhóis, gregos e sírio-libaneses dirigiu-se ao território brasileiro, entre 1953 e 1960.

No sentido inverso, os primeiros grandes fluxos de brasileiros para o exterior foram registrados (i) para a Guiana Francesa, nos anos 1960, em função da construção da base espacial de Kourou, e (ii) para o Paraguai, nos anos 1970, em decorrência de política fundiária favorável adotada pelo país vizinho. Apesar desses movimentos, o Brasil permaneceu um país preponderantemente de imigração até meados dos anos 1980. Nos anos 1980, durante a chamada “década perdida”, uma forte onda emigratória levou para o exterior multidões de brasileiros.

Atualmente, cerca de 1 milhão de compatriotas vivem nos Estados Unidos, 600 mil na Europa, 200 mil na América do Sul e 190 mil no Japão. No total, aproximadamente 2,5 milhões de brasileiros vivem espalhados por todas as regiões do globo.

Essa não é, contudo, apenas uma realidade brasileira. Trata-se, como sabemos, de um fenômeno mundial.

Segundo estimativas da Organização Internacional para as Migrações (OIM), existem hoje cerca de 200 milhões de migrantes em todo o mundo. Esses migrantes enfrentam co- tidianamente os problemas mais diversos, que vão de dificuldades de inserção no mercado de trabalho nos países de residência até limitações impostas à remessa de recursos financeiros a suas famílias em seus países de origem.

A crise econômico-financeira internacional adicionou elementos perversos a essa realidade já muito dura. Sentimentos crescentes de intolerância, discriminação e preconceito tornaram os contingentes de imigrantes grupos especialmente vulneráveis em algumas sociedades. No Brasil, felizmente, mantemos uma percepção positiva do fenômeno migratório, que está na raiz da própria formação da Nação brasileira.

A natureza predominantemente transnacional das migrações tem demonstrado aos Governos que essa questão precisa ser tratada por meio de negociações regionais e multilaterais. Embora a formulação das políticas sobre migração, em si, seja prerrogativa soberana dos Estados, a complexidade dos movimentos migratórios realça a necessidade de que o tema seja objeto de cooperação internacional, com a participação crescente de organizações não governamentais, verdadeiras agências de representação de migrantes e refugiados.

Quero ressaltar que o Governo Brasileiro atribui crescente importância aos temas consulares e migratórios, que constituem vertente de cunho nitidamente social de nossa política externa. A área consular do Itamaraty trata diretamente de pessoas e de seus direitos, por meio da prestação de serviços ao público, da assistência à parcela da população brasileira que vive fora do Brasil e do atendimento a estrangeiros que desejam vir para nosso país.

Esses temas ganham relevância crescente face à renovada projeção internacional do Brasil, da situação favorável de sua economia e da melhoria das condições de vida de seu povo, fatores que abrem novas perspectivas para viagens, negócios, trabalho, estudos e outras formas de intercâmbio e cooperação, envolvendo deslocamentos entre países e re- lacionamentos entre brasileiros e cidadãos de outras nacionalidades.

A diplomacia consular brasileira desenvolve-se de diversas formas e em diferentes contextos, tendo como instrumento balizador o Decreto nº 7.214, de 15 de junho de 2010, que estabeleceu os princípios e as diretrizes da política governamental para as comunidades brasileiras no exterior.

Entre as prioridades da nossa diplomacia consular, destaco as seguintes:

• Assistir às comunidades brasileiras em países sul-americanos, sobretudo as mais carentes e em situação mais vulnerável.

• Apoiar as comunidades de maior dimensão (EUA, cerca de um milhão de brasileiros), de maior diversidade (Europa, aproximadamente 600mil) e de maior singularidade (Japão, por volta de 190 mil).

• Promover ampla modernização e informatização consular, por meio do Sistema Consular Integrado do MRE.

• Aprimorar a interlocução entre o Governo Brasileiro e seus nacionais no exterior por meio das “Conferências Brasileiros no Mundo”, do “Conselho de Representantes de Brasileiros no Exterior” e dos “Conselhos de Cidadãos e de Cidadania”.

• Coordenar-se com outros órgãos governamentais e outras institui- ções, com vistas ao atendimento das reivindicações dos Brasileiros no exterior.

• Negociar acordos internacionais, bilaterais e regionais, em benefício das comunidades brasileiras no exterior ou destinados a facilitar viagens e intercâmbios.

• Estabelecer ou fortalecer mecanismos de consultas e coordenação com outros países, especialmente sobre temas relacionados a comunidades nacionais, circulação de pessoas, serviços consulares e utilização de novas tecnologias nas áreas consular e migratória.

As atividades consulares do Itamaraty dividem-se hoje em atividades clássicas – assim consideradas as que envolvem serviços consulares tradicionais de proteção, apoio e docu- mentação de brasileiros no exterior – e as de “segunda geração”, que tratam da promoção da saúde, dos direitos trabalhistas, da previdência, da educação, da cultura, do bem-estar e do autodesenvolvimento desses nacionais. As atividades consulares de segunda geração incluem projetos destinados a comunidades mais vulneráveis ou que requerem atenção mais específica. 

As ações consulares brasileiras são orientadas pela busca de eficiência, valorização da cidadania, abertura democrática do Itamaraty às aspirações da sociedade civil brasileira no exterior, respeito aos Direitos Humanos dos migrantes e valorização da presença brasileira fora do país.

Cabe ressaltar a legitimidade que projetos e políticas consulares do Governo Brasileiro ganharam graças ao processo democrático, transparente e objetivo de registro das demandas dos brasileiros no exterior no denominado “Plano de Ação”, que busca consolidar em documento único todas as reivindicações concretas e legítimas dessa comunidade, para fins de atendimento mediante ações coordenadas com outros órgãos.

De modo a ater-me ao foco principal deste simpósio - migrações e trabalho -, darei maior ênfase em minha apresentação às ações nas áreas de apoio aos trabalhadores migrantes, desenvolvidas em benefício das comunidades brasileiras emigradas. 

A grande maioria dos brasileiros que emigrou a partir de meados dos anos 1980, o fez em busca de melhores condições de trabalho. Esses trabalhadores brasileiros aspiravam, naturalmente, a uma melhor inserção nos mercados de  trabalho nos países de destino. Essa melhor inserção ainda esbarra, contudo, em algumas dificuldades específicas.

Em primeiro lugar, o status migratório irregular obriga muitos a trabalharem em condições de informalidade, o que não lhes permite o gozo de todos os seus direitos. Em segundo lugar, o conhecimento insuficiente dos idiomas  dos países de residência e as dificuldades de acesso à informação fazem com que muitos não tenham certeza sobre os direitos trabalhistas a que fazem jus. Em terceiro, muitos emigraram antes de completarem sua educação formal e não dispõem de diplomas ou certificados que os habilitem a concorrer a melhores empregos. Lamentavelmente, essas dificuldades não terminam com seu retorno ao Brasil.

Para cada um desses problemas diagnosticados, o Itamaraty tem desenvolvido ações, que descreverei brevemente a seguir.

No documento MIGRAÇÕES E TRABALHO (páginas 70-73)