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Apontamentos sobre as técnicas utilizadas na pesquisa e a metodologia da história

CAPÍTULO I – DISCUSSÃO TEÓRICA E CAMINHOS DA PESQUISA

1.4. Apontamentos sobre as técnicas utilizadas na pesquisa e a metodologia da história

Para realizar este estudo fez-se necessário à utilização de recursos e técnicas metodológicas que possibilitassem arregimentar os dados empíricos e documentais. Após um ano de intensa coleta e análise de dados, tais como: discursos gravados em fitas K7, vídeos de campanhas, fotografias, registros documentais, consultas ao jornal local, consultas ao site do Tribunal Regional Eleitoral, entrevistas abertas com roteiro semi-estruturado, creio ter conseguido os dados necessários e suficientes para a escrita da presente dissertação.

Realizei ao todo 21 (vinte e uma) entrevistas. Para selecionar os informantes estes foram escolhidos com base nas variáveis: faixa etária, sexo, local de origem – se na zona rural ou urbana – profissão, vinculação partidária e vínculo a grupo político local. Com este feito, o intuito foi situar as falas dos agentes dentro do campo, para detectar de onde o agente fala. Percebendo, assim e, metodologicamente, conforme Bourdieu, que a linguagem não é apenas um elemento de comunicação, mas também de poder.

Foi também realizada pesquisa bibliográfica sobre o tema abordado, destacando os trabalhos de diversos antropólogos desde a chamada Antropologia clássica à contemporânea, passando por alguns estudiosos da ciência política, da sociologia, da comunicação e da filosofia.

Durante a pesquisa realizei intenso trabalho de campo, no que diz respeito à busca de informantes que pudessem indicar as pessoas que viveram nos momentos das disputas políticas existentes no município, a partir da década de 1960. Com os informantes, foi adotado também a metodologia da História Oral, visto que

constitui uma metodologia qualitativa de pesquisa voltada para o conhecimento do tempo presente, permite conhecer a realidade presente e o passado ainda próximo pela experiência e pela voz daqueles que os viveram. Não se resume a uma simples técnica, incluindo também uma postura, na medida em que seu objetivo não se limita à ampliação de conhecimentos e informações, mas visa conhecer a versão dos agentes. Permite conhecer diferentes versões sobre um mesmo período ou fato, versões estas marcadas pela posição social daqueles que os viveram e os narram. (LANG apud MENEZES, 2003, p.06)13

O pesquisador se encontra envolvido num contexto sócio-cultural que no processo de entrevistas têm-se as interações sociais, nas quais cada um dos entrevistados, a partir de sua posição dentro do campo, apresenta suas diferenças de narrativas pela posição de classe ou de gênero que ocupam. Daí decorre que “a entrevista é apenas um momento da prática de pesquisa e não se orienta por procedimentos pré-fixados e rígidos, mas trata-se de um espaço de interação entre pessoas em posições sociais diferenciadas, em que se negociam saberes, práticas e interesses”. (MENEZES, 2003, p. 06)

A entrevista, por assim dizer, defende ainda a citada autora, se constrói no envolvimento entre duas subjetividades, a do pesquisador e a do pesquisado, e que possibilita uma prática reflexiva que acompanha todas as etapas de realização da pesquisa, desde a construção do objeto até a construção do texto final.

O olhar, o ouvir e o escrever se coadunam dentro do processo de pesquisa, posto que é “nesse ímpeto de conhecer que o ouvir, completando o olhar, participa das mesmas precondições desse último, na medida em que está preparado para eliminar todos os ruídos que lhe parecem insignificantes, isto é, que não façam nenhum sentido no corpus teórico de sua disciplina ou para o paradigma no interior do qual o pesquisador foi treinado”. (Oliveira, 2000, p.21)

13 Consultar MENEZES, Marilada Aparecida. História oral: uma metodologia para o estudo da

É exatamente no que diz respeito ao ouvir que surgem alguns problemas. Um deles é que se encontram dois mundos diferentes: o do pesquisador e o do pesquisado, mesmo quando o objeto de estudo é da mesma cultura, esta questão se apresenta. Outro problema que surgiu durante a pesquisa foi o fato de nem sempre as pessoas manifestarem motivação para falar sobre o tema da política, visto que envolviam os agentes políticos no estudo ora realizado, sendo notório um forte receio, o que levou alguns dos entrevistados a desmarcarem seus agendamentos para realização das entrevistas e a assumirem o que Gerald Berreman14 denominou de controle de impressões, ou seja, “como forma de interação, a observação participante envolve sempre controle de impressões”. (BERREMAN, 1980, p.143)

Em outras palavras, nem sempre os informantes falam espontaneamente aquilo que poderia corresponder ao fato investigado. Selecionam as palavras, controlam as impressões, tentando transmitir o melhor para o pesquisador, principalmente quando este lhe é familiar. Por isso estivemos bastante atentos ao “olhar” e ao “ouvir” de como transcorreram as entrevistas e os relatos de história oral. Com tais cuidados, foi possível a aquisição de importantes e ricas informações. Mesmo com essas dificuldades, o “ouvir” é fundamental porque está relacionado a um processo de interação entre sujeitos, no espaço da observação participante. Esta participação, juntamente com os conceitos teóricos apreendidos, possibilitou a construção deste texto.

Chega-se ao momento da escrita, “o escrever”, conforme Oliveira (2000). É o momento da sistematização dos dados colhidos, é a relação direta entre o pensar e o exercício da construção do texto, não que este pensar, este ato reflexivo não se acompanhe de todo o processo. Mas só agora chega o momento em que as escritas não sistematizadas e anotadas no momento do “ouvir”, já que foram transcritas as entrevistas, serão trabalhadas pelo pensar e discutidas com as teorias ou leituras que foram adquiridas sistematicamente, assim, “o escrever passa a ser parte quase indissociável do nosso pensamento, uma vez que o ato de escrever é simultâneo ao ato de pensar”. (OLIVEIRA, 2000, p.31)

Assim e, seguindo, os passos de Bourdieu a relação de pesquisa

é uma relação social que exerce efeitos (...) sobre os resultados obtidos. Sem dúvida a interrogação científica exclui por definição a intenção de exercer qualquer forma de violência simbólica capaz de

14 Consultar BERREMAM, Gerald. “Por Detrás de Muitas Máscaras”. In: Desvendando Máscaras

afetar as respostas; acontece, entretanto, que nesses assuntos não se pode confiar somente na boa vontade, porque todo tipo de distorções estão inscritas na própria estrutura da relação de pesquisa. (BOURDIEU, 1997, p. 694)

A situação de pesquisa, nesse sentido, necessita por parte do pesquisador de uma atitude reflexiva constante, de uma vigilância epistemológica, desde o momento da entrevista até o momento da escrita, desde o olhar e o ouvir até o escrever.

Os resultados da análise dos dados, juntamente com a atitude reflexiva sobre os dados coletados e as teorias discutidas, estão presentes nos capítulos seguintes, que compõem esta dissertação.

CAPÍTULO II – HISTÓRIA LOCAL, FAMÍLIA E PODER