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1.4.1 – Apontamentos sobre o positivismo

No documento 2008JonasBalbinot (páginas 49-52)

A política positivista implantada no Rio Grande do Sul seguia as bases do pensamento de Auguste Comte96. A contribuição principal de Auguste Comte para a filosofia positivista foi adotar o método científico como base organizacional para a política da sociedade moderna industrializada. Segundo Ricardo Veléz Rodrigues:

A filosofia política positivista baseia-se no pressuposto de que a sociedade caminha inexoravelmente rumo à estruturação racional. Esta convicção e os meios necessários para a sua realização são alcançados mediantes o cultivo da ciência social. 97

Comte trabalha com a lei dos três estágios do desenvolvimento intelectual, apontando que o desenvolvimento intelectual humano passa historicamente primeiro por um estágio teológico, em que o mundo e a humanidade são explicados a partir dos deuses e dos espíritos; em seguida a explicação é feita através de um estágio metafísico, em que os esclarecimentos estavam nas essências nas causas finais nas abstrações; e evolui finalmente para o estágio positivo moderno. Este último estágio se distinguia por uma consciência das limitações do conhecimento humano. As verdades absolutas foram abandonadas, passou-se a buscar leis baseadas nas relações e nos fenômenos naturais observáveis.

A filosofia positivista de Auguste Comte alcançou sucesso no Brasil por conter uma visão reformista e dogmática, com duros postulados morais, isso atraiu estudantes que estavam descontentes com o sistema monárquico. Entretanto, no Brasil, a filosofia Comtiana foi adaptada de maneira peculiar. Aqui o positivismo assumiu traços visivelmente progressistas, conforme Sérgio da Costa Franco:

96 Isidore Auguste Marie François Xavier Comte, nasceu em 19 de janeiro de 1798, em Montpellier. Em 1814, tornou-se aluno da escola politécnica de Paris onde estudou ciências exatas, e depois, por algum tempo, trabalhou como professor. Faleceu em 5 de setembro de 1857, em Paris. Filósofo e auto-proclamado líder religioso. Foi o fundador da religião positivista, além de ter grande influência no estudo da sociologia. Escreveu inúmeros trabalhos entre eles: Curso de Filosofia Positiva, sua publicação inicia-se em 1830 e se distribui em 6 volumes até 1842. Discurso Sobre o Espírito Positivo, publicado em 1844. Sistema de Política

Positiva ou Tratado de Sociologia, onde ele institui a religião da humanidade, constitui-se de enormes

volumes produzido entre 1851 e 1854.

97 VELÉZ, RODRÍGUES, Ricardo. Castilhismo: uma filosofia da República. Brasília: Senado Federal, Conselho Editoria, 2000. p.22.

As concepções políticas do positivismo, que, na França, onde surgiram, tinham conteúdo nitidamente reacionário, no Brasil, como em outros países subdesenvolvidos, não deixaram de atuar num sentido progressista. 98

No Brasil o positivismo abriu caminhos no campo da intelectualidade, tornando possíveis os estudos nas áreas de matemática e das ciências naturais, não sendo aplicado diretamente na política a não ser no caso do Rio Grande do Sul, onde estudantes de direito, Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros entre outros, que tiveram contato com o positivismo nas suas faculdades, desenvolveram um sistema de governo baseado nas teorias de Comte. Contudo, é errôneo afirmar que o sistema de governo é baseado no positivismo ortodoxo. Segundo Sérgio da Costa Franco nem mesmo os políticos mais dedicados ao positivismo seguiam totalmente os ensinamentos de Comte.

Para Nelson Boeira o positivismo gaúcho revela uma série de omissões e deslocamentos de sua ideologia original, que buscam se adaptar à realidade do Estado:

A história do positivismo rio-grandense, como a de qualquer ideologia, é feita de omissões, compromissos, resistências, erosões e deslocamentos de sentido e ênfase. Esses movimentos regem-se, de um lado, pelas variações dos interesses materiais e políticos de seus usuários e, de outro, pelos modismos intelectuais e políticos de seus usuários e pelo confronto com seus concorrentes ideológicos. 99

No Rio Grande do Sul o positivismo foi implantado diretamente pela ação de Júlio de Castilhos frente ao PRR e ao governo do Estado, mas seu governo não se baseou unicamente na visão positivista. Sergio da Costa Franco levanta que em documento assinado na reunião da reserva em março de 1889, Júlio de Castilhos apóia diretamente a ação revolucionária contra a monarquia, o que contraria os princípios positivistas. O mesmo autor escreve que:

Tais palavras evidenciam o quanto Castilhos estava longe de ser um positivista ortodoxo. Pois os adeptos de Comte condenam a insurreição armada, e, inclusive, aquela época, o Apostolado Positivista preconizava a evolução

98 FRANCO, op.cit. p.12.

99 BOEIRA, Nelson. O Rio Grande de Augusto Comte. In: DACANAL, José H; GONZAGA, Sergius. RS:

gradual da Monarquia para a ditadura republicana, aproveitando o próprio D. Pedro como ditador.100

Em outros momentos os ensinamentos positivistas eram seguidos com mais proximidade, quando se nota que durante os governos de Júlio de Castilhos e de Borges de Medeiros, o Estado do Rio Grande do Sul interveio diretamente na economia da região norte apoiando as pequenas propriedades e desenvolvendo as estradas para o escoamento da produção, deixando de lado algumas vezes a pecuária que já estava consolidada. Percebemos que esses seguiam um pressuposto positivista de desenvolvimento equilibrado, conforme aponta Maria Antonieta Antonacci:

Conforme a concepção positivista, a política gira em torno do estabelecimento de uma conciliação entre a ordem e o progresso, com base no livre desenvolvimento da iniciativa individual. Com isso, os positivistas entenderam que o estado devia exercer uma ação reguladora sobre os grupos e classes sociais, promovendo um desenvolvimento equilibrado de todos os setores da produção. Alem disso, cabia ao estado intervir para harmonizar a existência e o uso da propriedade [...]101

Para Nelson Boeira, os positivistas gaúchos modificam o sentido de vários temas apresentados pela obra de Comte. Apresentamos aqui sua visão sobre o conceito de Estado, que sofre alterações de acordo com a conjuntura, “Nos anos que antecedem a República, os positivistas do PRR, usam Comte para defender a descentralização administrativa e discriminação de rendas.” No momento em que os positivistas ascendem ao poder sua visão da ação estatal muda tendo agora “a idéia de Estado como agente ativo na regulação da vida econômica e social.” Quando as teorias de Comte e seus seguidores explicam e endossam as decisões do PRR isto é amplamente divulgado, porém quando não se pode compatibilizar as ações governamentais com as teorias comtianas, “omite-se ou ignora-se as idéias inconvenientes.”102

Segundo Ricardo Veléz Rodrigues as teorias comtianas não foram simplesmente aceitas, mas sim passaram por um processo de adaptação, onde se enquadraram a realidade política enfrentada no período:

100 FRANCO, op.cit. p.56. 101 ANTONACCI, op.cit. p.20. 102 BOEIRA, op.cit. p.37.

[...] as peculiaridades do autoritarismo castilhista não podem ser explicadas através de simples referencias à filosofia de Auguste Comte. Castilhos inspirou- se nele, mas deu ao seu conceito de política traços inéditos, fruto da sua personalidade e das condições concretas que viveu o Partido Republicano Histórico, na luta com a antiga elite dirigente sul-rio-grandense.103

A teoria positivista se mantinha, ainda que de forma relativa por não ter sido adotada ortodoxamente, pois o PRR, precisava resistir às doutrinas concorrentes, tanto dos federalistas como dos dissidentes, com isso o positivismo recebia novas adesões e ganhava força para sua manutenção.

Essa teoria foi seguida com mais proximidade pelos republicanos históricos, pois estes tinham a necessidade de afirmar a república recém constituída, já a geração de 1907 inicia seus trabalhos políticos com a república já constituída e estabilizada podendo então fugir um pouco da influência positivista.

No documento 2008JonasBalbinot (páginas 49-52)