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Aprender a Língua Portuguesa nos Meios Digitais: (im) possibilidades

5 INTERAGINDO E DISCUTINDO SOBRE AS INFORMAÇÕES

5.2 LETRAMENTO DIGITAL, ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA

5.2.3 Aprender a Língua Portuguesa nos Meios Digitais: (im) possibilidades

Em relação à sua opinião sobre o fato de os alunos fazerem uso, em seu cotidiano, de meios digitais, em redes sociais, games, sites, blogs, para realizar atividades escolares, ser algo benéfico ou prejudicial ao aprendizado da Língua Portuguesa, A Professora apresentou uma posição dicotômica. Por um lado, entende que há possibilidades de mais leituras para os

alunos, por outro, ela entende que, em relação à escrita, os alunos não memorizam a palavra em sua forma correta, devido ao uso do corretor ortográfico. Assim, então:

No tocante à leitura, poderá ser benéfico, pois quanto mais se lê melhor. Já no que diz respeito à escrita, os meios digitais prejudicam, pois dificilmente os alunos se preocupam com o que irão escrever. O corretor de palavras pode ser um aliado para alguns que ficam atentos, mas não ajudam na memorização da palavra certa.

Nesse sentido, pode-se destacar que A Professora apresenta grande preocupação com o aprendizado da grafia correta das palavras, o que é bastante compreensível. No espaço virtual, sobretudo na emissão de mensagens via redes sociais, e-mails, chats, dentre outros, há que se considerar que o sentido das palavras, da enunciação textual, se faz mais urgente. Assim, não há como ter certeza de que a presença do corretor ortográfico seja algo prejudicial para os alunos, sobretudo se o professor conseguir planejar e realizar atividades que possam despertar um maior interesse na escrita e na leitura daquilo que o aluno acessa/utiliza nos meios digitais. Xavier (2013, p. 40) fala da existência de toda uma “retórica digital”, a qual define como sendo “a língua e outras linguagens na comunicação mediada por computador”. Tal retórica pode ser uma aliada no aprendizado da Língua Portuguesa, em todos os formatos possíveis, em todas as suas variações linguísticas, bastando que o aluno seja direcionado para seu uso crítico, em contexto de uso real e adequado da língua.

Como sugestões de atividades exitosas, já realizadas, a partir do uso de meios digitais, que possibilitaram um maior aprendizado da Língua Portuguesa, no que remete às habilidades de leitura, escrita, fala e escuta, A Professora listou as seguintes:

Vídeo aulas de Literatura associados à leitura prévia de conteúdo a ser trabalhado pelos alunos no livro didático ajuda-os a compreender melhor o assunto dado.

Peça teatral filmada por eles sobre tema em debate e depois passada em sala para apreciação geral. Essa atividade ajuda-os bastante, principalmente porque podem editar e diminui a timidez.

Fotografar placas domésticas no bairro e apresentar em sala/identificando o erro e sugerindo os acertos. Nessa atividade é possível até uma ajuda social. Já foi trabalhada a reescrita de placas, com o intuito de substituição da que apresenta erros.

Verifica-se, desse modo, que A Professora já aplicou atividades em suas aulas a partir da inserção de tecnologias digitais no ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa. Resta-lhe persistir, não sucumbir aos diversos problemas e barreiras que surgem cotidianamente no

espaço escolar. É preciso buscar formas de motivar o aluno e, sobretudo de intermediar o conhecimento (LÉVY, 2010), oportunizando-lhes múltiplos letramentos e formas de aprender e de demonstrar o que já sabe também, afinal de contas eles não são “mentes vazias”, prontos para “receber” conteúdos, como alerta Paulo Freire.

A Professora afirmou já ter participado de cursos de formação/qualificação que versassem sobre o uso de tecnologias direcionadas para a Educação. Disse já ter feito os cursos de Tecnologias de Informação e Comunicação26 (TICS) e o de Mídias Educacionais, ambos oferecidos pela Secretaria Estadual de Educação.

Entretanto, ao falar sobre o referido curso, A Professora afirmou: “As ferramentas apresentadas pelos cursos eu já conhecia”; ou seja, não houve novidades para ela, nem tampouco contribuíram diretamente para sua prática de sala de aula. E teceu algumas críticas em relação aos cursos que a rede estadual costuma oferecer aos docentes:

Estes cursos oferecidos para os docentes da rede estadual não apresentaram grau de dificuldade uma vez que grande parte do grupo fazia pouco uso de tecnologias.

Além disso, pouco pode ser utilizado em sala porque a escola em que trabalho não interessa-se por modernização nesse aspecto. Nem acesso decente à internet possui.

A Professora demonstra insatisfação, porém dessa vez em relação ao tipo e qualidade dos cursos que lhe foram oferecidos em serviço, por meio da Secretaria Estadual de Educação, os quais, para ela, não lhe oportunizaram muitos conhecimentos específicos no que diz respeito à inserção concreta das tecnologias em sala de aula. Ainda, teceu críticas sobre a falta de “modernização” da escola, sugerindo, portanto, que , enquanto instituição, não tem acompanhado as mudanças que têm acontecido na sociedade, sobretudo em relação à inserção de meios digitais na prática do cotidiano escolar, sequer oportunizando o acesso de qualidade à internet, tanto para os docentes, quanto para os alunos.

26 A Professora alude ao curso “Aperfeiçoamento em Tecnologias Educacionais”, oferecido pelo Governo

Estadual da Bahia, o qual objetivou instrumentalizar os professores no uso de Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) na prática escolar e integrou o plano de progressão na carreira de magistério, conforme a Lei nº 13.185/14, publicada no Diário Oficial do Estado, em 2/7. Atualmente, está sendo oferecido outro curso com o mesmo objetivo: “Uso Pedagógico de Tecnologias Educacionais”, conforme Portaria n. 9036/2017, publicada no Diário Oficial do Estado da Bahia, em 06 de dezembro de 2017.

5.3 ANÁLISES DOS REGISTROS DE OBSERVAÇÕES DE AULAS DE LÍNGUA